A confiabilidade plena da Escritura
Herman Bavinck, que precedeu G.C. Berkouwer, professor de R.C. na Universidade Livre, relembrou seu tempo em Leiden como aluno. Todo o corpo docente de lá se rendera ao feitiço da alta crítica. Bavinck relembrou tristemente que fora a Leiden para receber pão mas, em lugar de pão, recebeu pedras. R.C. também recebera pedras. Ele sabia o que era pregado nos púlpitos, porque recebeu dessa pregação. Sabia o que era ensinado em algumas das faculdades denominacionais, porque lhe fora ensinado. Sabia que havia uma dieta frequente de pedras que estava sendo oferecida e parecia que ainda havia mais por vir. Também era desconcertante a sutileza dos mais novos argumentos contra a inerrância, o que significava que desafios à inerrância estavam impactando colegas evangélicos — evangélicos que deve- riam saber melhor.
Na conferência, R.C. expôs a Declaração de Ligonier, escrita por ele e assinada por todos os proponentes. Em um parágrafo a declaração afirma:
Cremos que as Escrituras Sagradas do Antigo e Novo Testamento são a Palavra de Deus inspirada e inerrante. Afirmamos que a Bíblia, dada originalmente pelos agentes de revelação, é infalível e consideramos isso um artigo essencial de fé, com implicações para toda a vida e prática de todo o povo cristão. Ao lado dos grandes pais da história cristã, declaramos a nossa confiança na total confiabilidade das Escrituras, asseverando que toda opinião que lhes atribui um grau de inerrância menor do que total está em conflito com o testemunho da própria Bíblia, em geral, e com o ensino de Jesus Cristo, em específico. Motivados por obediência ao Senhor da igreja, nos submetemos irrestritamente a seu ponto de vista quanto à Escritura Sagrada.
A declaração começa com uma referência ao argumento básico de Warfield e dos princetonianos. Warfield argumentava que se a inspiração é verdadeira, então a inerrância é a conclusão apropriada. De maneira mais sucinta: se há inspiração, então há inerrância. Se a Bí- blia é a Palavra de Deus, soprada por ele (inspiração), então a Bíblia é verdadeira (inerrância), porque Deus não pode errar. A Declaração de Ligonier afirma que a inerrância é coerente com a ortodoxia histórica e com o entendimento da Bíblia a respeito de si mesma, especificamente com o ponto de vista de Cristo sobre a Escritura. A declaração termina com uma afirmação de submeterem-se “irrestritamente” à Escritura.
Eram os anos 1970, a era da “ética situacional” de John Fletcher. Ele havia publicado Situation Ethics: The New Morality (Ética Situacional: A Nova Moralidade) em 1966. Fletcher declarou ousadamente: “A moralidade de uma ação depende da situação.” O relativismo corre descontroladamente. Além disso, houve uma erosão das instituições em que as pessoas confiavam, visto que a América esteve envolvida no escândalo Watergate (de 1972 a 1974). Isso fez emergir outra linha errada de atitude em relação à autoridade. Como alguém sabe o que é certo? E como alguém faz o que é certo? Essas perguntas cruciais precisam ser respondidas com base em um fundamento sólido.
Os primeiros anos da década de 1970 foram um tempo de crise ética. No centro de estudo, R.C. e outros professores confrontavam diretamente assuntos, questões e desafios éticos. R.C. se preocupava profundamente a respeito de como as pessoas viviam, como elas viviam o agora mesmo, por causa das consequências eternas. R.C. entendia que a vida de desobediência não é uma vida digna. A vida de obediência, é a única maneira de sabermos se uma cosmovisão e uma ética abrangente do mundo e da vida são corretas e convincentes é se a base dessa cosmovisão e dessa ética é correta e convincente. Pensar sobre como viver neste mundo foi o que produziu a doutrina da Escritura sustentada por R.C. Ele queria que a igreja soubesse que há um fundamento seguro e firme para doutrina e vida, teologia e ética, estudar e conhecer Deus, bem como obedecer a Deus e adorá-lo em tudo da vida. Uma Escritura autoritária é a chave. A partir dessa base, você pode oferecer, por meio de pregação ou de palestras, pão e não pedras.
O Centro de Estudo Vale Ligonier abordava muitos assuntos, mas nenhuma era mais importante do que o estudo da Bíblia. R.C. enfatizava que ler a Bíblia é uma coisa, estudar a Bíblia é outra coisa, e obedecer à Bíblia é ainda outra coisa muito diferente. O argumento seguia uma sequência lógica:
O trecho acima foi extraído com permissão do livro R.C. Sproul – Uma biografia, Stephen J. Nichols, Editora Fiel