Como administrar eficazmente o comportamento das crianças
Se você testemunhar um professor muito bom em seu ofício, você notará que ele é excelente em sua profissão, não apenas por causa do que diz, mas também pelo modo como gerencia o comportamento de seus alunos. Que estratégias devemos empregar para diminuir o mau comportamento e manter as coisas em andamento?
Designe ajudantes
Certifique-se de que os ajudantes designados para uma sala incentivem ativamente as crianças enquanto o sr. Jonas ensina. Digamos que uma criança, Tiago, gira em sua cadeira. O que um ajudante pode fazer para reorientar a criança, para que o sr. Jonas não tenha que parar de ensinar? Sílvia, a ajudante, pode se aproximar e sussurrar instruções como: “Olhe para o sr. Jonas” e “Fique em sua cadeira”. Com um sorriso no rosto, ela pode tocar suavemente no ombro de Tiago e gesticular para ele olhar para o sr. Jonas.
Lembre os ajudantes de se moverem conforme necessário. Sílvia pode andar pela sala enquanto o sr. Jonas ensina. Pais e adolescentes voluntários muitas vezes ficam no fundo da sala, onde as crianças não podem vê-los. Ou, se o sr. Jonas ensina crianças mais novas e as crianças estão todas sentadas ao redor dele, como na hora da história, faça a ajudante Sílvia sentar-se entre as crianças também.
Dê dicas aos seus ajudantes para auxiliar as crianças distraídas. Imagine o pequeno Samuel chutando a cadeira da criança na frente dele. O sr. Jonas chama Marta (uma das mães ajudantes): “Você poderia ajudar Samuel com a cadeira?”. Marta pode se dirigir a Samuel em particular, para que o sr. Jonas possa continuar com a lição.
Posicione-se de forma a conseguir ver toda a classe
As crianças se safam quando o professor não está prestando atenção ou não olha para a classe. O sr. Jonas esconde o rosto em sua Bíblia enquanto lê e muitas vezes olha para suas anotações de ensino por um longo tempo. Toda vez que ele olha para baixo, ele dá a uma criança a oportunidade de se comportar mal.
Qual é a alternativa? O professor pode se posicionar de modo a fazer contato visual com todos na sala. O especialista em ensino Doug Lemov chama isso de “radar” do professor. O professor tem o hábito de fazer uma pausa e olhar a classe, percorrendo toda a sala com o olhar para ver o que cada aluno está fazendo.[i]
Você já ouviu o ditado: “Um professor tem olhos nas costas!”. Se você conhece sua anatomia, sabe que isso não é possível (exceto em Star Wars). Em vez disso, o que está acontecendo é que o professor emprega seu radar. Ele se envolve com todos na sala e verifica consistentemente a classe.[ii]
Utilize ativamente sinais não verbais para evitar o mau comportamento
Um bom professor usa o gerenciamento não invasivo para evitar o mau comportamento — contato visual, um leve aceno da cabeça ou um movimento da mão.[iii] Tiago, de sete anos, se vira e dá um soco no ombro do colega Carlos. O soco dói, e é dado para provocar uma reação. Naquele momento, o sr. Jonas tem a opção de deixar a infração de Tiago passar ou fazer algo a respeito. Todos nós já estivemos em uma aula em que o drama do mau comportamento de uma criança distrai do ensino. O sr. Jonas poderia chamar Tiago pelo nome, mas isso chamaria a atenção de toda a classe e quebraria seu fluxo de ensino.
Como este é um comportamento típico de Tiago, o sr. Jonas aponta para ele com a mão direita, estreita os olhos e cerra as sobrancelhas enquanto olha diretamente para Tiago. Seu objetivo é empregar a comunicação não verbal para corrigir o comportamento de Tiago e manter a classe avançando. Isso significa que não há ruptura em seu ensino. Ele equilibra correção e instrução simultaneamente, o que faz com que a interação com Tiago não atrapalhe o resto da classe.
Articule comandos concretos e visíveis[iv]
Um professor atencioso oferece comandos que são tangíveis e específicos, não algo vago. A ambiguidade permite que um aluno ignore as instruções ou correções de um professor. O professor também articula as coisas de uma forma que torna visível a obediência do aluno. É útil dizer: “Bíblias abertas na sua frente”, em vez de “peguem suas Bíblias”. Da mesma forma, diga algo como: “Quero ver seus gizes de cera se movendo”, em vez de: “Você deveria desenhar”.[v]
Quando o professor oferece instruções em vários passos, ele introduz com algo como: “Quando eu disser ‘já’, quero que vocês façam X, Y e Z. Já!”. Caso contrário, os alunos começarão a fazer X e esquecerão Y e Z, e tudo ficará confuso.[vi]
Corrija com os meios mais sutis, menos perceptíveis e menos invasivos possíveis.[vii] Um bom professor minimiza o drama em sala de aula. Tanto quanto possível, a correção deve ser invisível, e o ensino e as atividades em sala seguem ininterruptas. Quanto mais o professor mantém as coisas em movimento na aula, melhor. Considere os seguintes meios de correção, do menos ao mais invasivo.
Intervenção não verbal. Oferecemos este exemplo há pouco, quando o sr. Jonas se aproximou de Tiago e usou um gesto de mão e um olhar severo para colocá-lo de volta nos trilhos, sem qualquer pausa em seu ensino.[viii] Às vezes, você pode impedir uma criança de fazer o que não deveria simples- mente se aproximando e ficando ao lado dela. A correção vem da presença desse professor ao lado da criança.[ix]
Um redirecionamento de classe curto e positivo. Por “curto” queremos dizer que há uma economia da linguagem — uma declaração breve, concisa e direta ao ponto. E as instruções não são destinadas a um aluno, mas a toda a classe. Digamos que Tiago e Carlos estão brincando. Em vez de destacá-los, o sr. Jonas pode dizer: “Todos devem estar colorindo”, ou “olhem para mim, por favor”, ou “Por favor, sentem-se direito”. Isso é muito melhor do que implicar com um aluno hiperativo, chamando a atenção de toda a turma e distraindo-a da lição.[x]
Correção de grupo anônima. Isso novamente é correção sem chamar um nome específico. Em vez disso, é anônimo. O sr. Jonas comenta: “Acompanhem-me, por favor” (um redirecionamento de classe positivo). “Preciso de todos olhando para mim” (correção de grupo anônima). E se o aluno se voltar para o professor, um sinal não verbal, como um aceno de cabeça ou um sorriso, pode ajudar a reforçar o passo positivo do aluno.[xi]16 Suponha que várias crianças estejam se comportando mal ao mesmo tempo. Nesse caso, você pode parar a aula e lembrar os alunos das regras da classe dizendo algo como: “Vamos parar por um segundo para que todos possam se concentrar novamente e lembrar de não falar quando outra pessoa estiver falando”.[xii]
Correção individual privada. Infelizmente, se uma correção individual for necessária, o professor terá que interromper seu ensino se outro ajudante adulto não estiver disponível. (Lembre-se, o objetivo é manter as coisas em andamento.) Digamos que a rixa entre os alunos Tiago e Carlos continua — Carlos busca vingança pelo soco de Tiago jogando borrachas em Tiago. O sr. Jonas faz com que a turma trabalhe de forma independente ou em pequenos grupos. Ele então se aproxima de Carlos para resolver o problema. O sr. Jonas (que tem quase dois metros de altura) se agacha e usa um tom suave para corrigir Carlos. “Vamos parar de jogar borrachas e me deixe ver sua caneta trabalhando”. Uma instrução curta, concreta e visível muitas vezes resolverá a questão. Ao se abaixar, o sr. Jonas chega ao nível de Carlos em vez de pairar sobre ele. E o tom suave ou sussurro torna a conversa mais privada.[xiii]
Correção pública relâmpago. Se um professor precisa corrigir um aluno mais publicamente, ele o faz rapidamente e direciona o aluno desordeiro no comportamento positivo que ele deveria estar fazendo. E para o bem do resto dos alunos, cuja atenção é chamada para essa correção pública, o professor também dirige a atenção de todos para o comportamento que ele quer exemplificado pela classe. “Jonathan, eu preciso de você desenhando agora… Assim como eu vejo o resto da classe fazendo!”[xiv]
O professor não pode simplesmente ignorar o mau comportamento elogiando o que é bom na sala de aula. Ele precisa lidar com o mau comportamento e aparar a má conduta o mais cedo possível. É provável que o mau comportamento persista, então o professor lida com isso quando tal comportamento começa, não deixando as coisas evoluírem.[xv]
O professor sempre demonstra uma disposição graciosa, mesmo durante a correção. Ele deve ser firme e calmo, não agitado e não frustrado.[xvi]
Adicione a esta disposição graciosa um sorriso e um “por favor” e “obrigado”. Um sorriso comunica: “Estou feliz por estar aqui e tenho um plano”. Um semblante fechado comunica: “Eu não queria essa tarefa” e “Estou esperando que todos vocês se comportem mal”.[xvii]
Incluir “por favor” e “obrigado” mostra respeito e adiciona civilidade às instruções do professor. O sr. Jonas oferece instruções como: “Mãos cruza- das na sua frente, Maya”. E então acrescenta baixo: “Obrigado”. O “obrigado” reforça o comportamento positivo e restabelece o que é esperado.[xviii]
Recupere o controle da classe e ajude-os a se reorientar
Todo professor (mesmo os bons!) já experimentou uma turma bagunceira e sentiu que estava perdendo o controle sobre seus alunos. Nesse momento, o instinto de um professor pode ser pressionar, falar mais alto que as crianças e forçar as coisas a seguir em frente — mas isso não funcionará!
Uma opção melhor é desacelerar as coisas e recuperar o controle da classe, esperando os alunos. Tiago, Carlos e Maya ficam agitados. O sr. Jonas interrompe seu ensino ou a atividade de colorir e diz: “Vou esperar até que vocês estejam prontos”. Ele reafirma as regras da classe e espera pela obediência. O sr. Jonas continua repetindo isso até ficar quieto. É uma batalha de vontades. Ele espera as crianças obedecerem, o que requer paciência e determinação para recuperar o controle. Depois que a classe fica em silêncio, o sr. Jonas diz: “Obrigado por me darem sua atenção. Estou realmente animado com a nossa aula de hoje, e estou feliz que vocês estejam prontos para ouvir”. Tenha em mente que ele faz tudo isso com boa disposição. Não há necessidade de ser severo.[xix]
Outra maneira de recuperar o controle é usar um chamador de atenção, que rapidamente ganha o foco dos alunos sem custar muita energia ao sr. Jonas. O sr. Jonas ensina uma chamada e uma resposta, como: “1, 2, 3… todos olhando para mim!”. E os alunos foram ensinados a responder: “1, 2, 3… olhando para você!”.[xx] Ou ele pode dizer algo como: “Se você pode ouvir minha voz, bata palmas uma vez” (algumas crianças vão bater palmas, o que chama a atenção de outras crianças). O sr. Jonas continua: “Se você estiver ouvindo, bata palmas duas vezes” (mais algumas crianças baterão palmas). Normalmente, quando o sr. Jonas chama três palmas (ou assovios, ou batida dos pés ou outro som), ele tem a atenção de toda a classe.[xxi]
Ensinando para a vida
As estratégias de sala de aula ensinadas aqui não surgirão naturalmente em seus professores voluntários. Você precisará incentivar, treinar e reforçar essas habilidades. Porém, se você os ajudar e reforçar consistentemente essas coisas, colherá benefícios no devido tempo. Embora o ensino seja um dom para algumas pessoas, praticamente qualquer voluntário pode prender a atenção das crianças se adicionar um pouco de criatividade e implantar as estratégias que apresentamos neste capítulo.
Defina como meta preparar e fortalecer seus professores e ajudantes de classe. Dê retorno quando puder. Visite as salas de aula e veja seus professores apresentarem suas aulas. Isso proporcionará uma oportunidade de oferecer sugestões para melhorar sua apresentação e gerenciamento de sala de aula. Quando você tiver um professor experiente que efetivamente envolva as crianças, designe seus professores menos experientes como ajudantes em sua sala de aula para assistir e aprender.
Queremos remover obstáculos ao ensino da Bíblia e à apresentação das verdades do evangelho. Aprender essas estratégias eficazes de sala de aula é apenas um começo. Lembre-se, nosso objetivo final não é a ordem ou o bom comportamento, mas facilitar uma oportunidade para as crianças ouvirem e conhecerem a Deus.
Agora vamos voltar para Greg, da ilustração inicial deste capítulo. Desta vez, Gabriel espera na porta da sala de aula para pegar suas filhas Ema e Georgia para uma saída antecipada. Ele vê o sr. Jonas de pé em uma cadeira, gritando o desafio de Golias em 1 Samuel 17.10 com uma voz grave. As crianças estão envolvidas e rindo. Suas filhas nem notam que Gabriel está lá.
Em vez de tirar logo as meninas para levá-las ao casamento do tio, ele espera para permitir que o sr. Jonas termine este segmento de ensino. Gabriel percebe os ajudantes da sala de aula se movendo para manter as crianças distraídas envolvidas, as crianças levantando as mãos em vez de gritar, e o sr. Jonas comunicando o evangelho de forma eficaz. Gabriel fica do lado de fora da sala de aula e pensa: “Que grande experiência para minhas meninas!”.
O texto acima foi retirado com permissão do livro Ministério infantil, de Deepak Reju e Marty Machowski, Editora Fiel
[i] Doug Lemov, Teach Like a Champion 2.0: 62 Techniques that Put Students on the Path to College (San Francisco: Josse-Basse, 2015), p. 388
[ii] Lemov, Teach Like a Champion, p. 388
[iii] Lemov, Teach Like a Champion, p. 390, 402-403
[iv] Lemov, Teach Like a Champion, p. 394
[v] Esses exemplos foram adaptados dos exemplos em Lemov, Teach Like a Champion, p. 394
[vi] Essa dica de ensino vem de correspondência pessoal com Janaína Miller (4/1/2021)
[vii] Lemov, Teach Like a Champion, p. 395-396
[viii] Lemov, Teach Like a Champion, p. 397
[ix] Essa dica de ensino vem de correspondência pessoal com Alina Banu (4/1/2021)
[x] Lemov, Teach Like a Champion, p. 398
[xi] Lemov, Teach Like a Champion, p. 399
[xii] Essa dica de ensino vem de correspondência pessoal com Alina Banu (4/1/2021)
[xiii] Lemov, Teach Like a Champion, p. 400-402
[xiv] Lemov, Teach Like a Champion, p. 401-402
[xv] Lemov, Teach Like a Champion, p. 402-403
[xvi] Lemov, Teach Like a Champion, p. 403
[xvii] Lemov, Teach Like a Champion, p. 405
[xviii] Lemov, Teach Like a Champion, p. 404
[xix] Essa dica de ensino vem de correspondência pessoal com Janaína Miller (4/1/2021)
[xx] Esse exemplo vem de correspondência pessoal com Sarah Chen (4/1/2021)
[xxi] Essa dica de ensino vem de correspondência pessoal com Janaína Miller (4/1/2021)