Este artigo faz parte da série Versículos-chave.
Todas as seções de comentários adaptadas da Bíblia de Estudo da Fé Reformada com Concordância, Editora Fiel.
João 1.14
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.
O clímax da reivindicação do prólogo é “o Verbo se fez carne”. Para alguns dos contemporâneos de João, o espírito e o divino eram completamente opostos a matéria e carne. Outros criam que os deuses visitavam a terra disfarçados de seres humanos (At 14.11). Aqui, porém, um abismo é transposto: a eterna Palavra de Deus não se parece simplesmente com um ser humano, mas se fez carne em plena realidade. Ele tomou para si uma completa e genuína natureza humana. Ver nota teológica “A Deidade de Cristo”, na p. 1851.
“Habitou” significa “fincou sua tenda”. Isso indica não só a natureza temporária da moradia terrena de Jesus, como também guarda relação com um termo que lembra o antigo tabernáculo de Israel, onde Deus residiu no meio de seu povo (Êx 40.34-35).
Sua “glória” é contemplada, mesmo quando Deus estava no deserto (Êx 16.1-10; 33.18-23), no tabernáculo (Êx 40.34, 35) e, mais tarde, no templo (1Rs 8.1-11). Poderia também haver uma referência à transfiguração, já que João, juntamente com Pedro e Tiago, deu testemunho dela (Mt 17.1-5). Moisés rogou que o Senhor o deixasse contemplar sua glória, mas só pôde vislumbrar suas costas (Êx 33.18-23). “Glória” se aplica supremamente a Deus, o Criador e Governante do universo, aquele diante de quem todos os joelhos hão de se dobrar. O Filho tem a glória divina por direito (17.5). Os reformadores declararam sua fé com o mote soli Deo gloria (glória somente a Deus).
A expressão “do unigênito do Pai” traduz uma palavra grega singular. Alguns estudiosos argumentam que a palavra grega significa “único” ou “um de um tipo”. Ver Hebreus 11.17, que se refere a Isaque como “unigênito” de Abraão ou filho “único”, ou seja, o filho da promessa, que era diferente no sentido dos demais filhos de Abraão. O termo aponta explicitamente para a eterna geração do Filho na Trindade (ver 3.16; e “o único [gerado] de Deus” em 1.18). cheio de graça e de verdade. Essas palavras correspondem aos termos do AT que descrevem a soberana misericórdia de Deus, que são traduzidos por “longanimidade e fidelidade” (Gn 24.27; Sl 25.10; 26.3; Pv 16.6). Quando Moisés viu a glória de Deus no Sinai, ouviu o Senhor proclamar seu próprio nome como o Deus compassivo, que é “clemente, longânimo e grande em misericórdia e fidelidade” (Êx 34.6), uma autodescrição divina que é reiterada na Escritura tardia (Ne 9.17; Sl 86.15; 103.8; 145.8; Jl 2.13; Jo 4.2). A Palavra se fez carne manifesta plenamente o gracioso caráter de Deus, que faz uma aliança e mantém essa aliança.
Hebreus 1.1-2
Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.
1.1-4 O prólogo apresenta os dois períodos de tempo do falar de Deus a seu povo: “outrora” (v. 1) e “nestes últimos dias” (v. 2). A vinda do Filho marca o período como os “últimos dias” da salvação prometida por meio dos profetas (Jr 23.20; Os 3.5; Mq 4.1; cf. 1Co 10.11).
Um tema importante em Hebreus é “Havendo Deus… falado” (2.2, 3; 4.12; 6.5; 11.3; 12.25). muitas vezes. A natureza fragmentada da revelação profética mostrava sua incompletude, assim como a repetição dos sacrifícios de animais mostrava que não eram capazes de remover a culpa (10.1). de muitas maneiras. Essas maneiras incluíam visões, sonhos e falas proféticas (Nm 12.6-8, aludido em 3.5).
A revelação “pelo Filho” é qualitativamente superior à revelação dada por meio dos profetas. Moisés, o maior dos profetas, era apenas um servo na casa de Deus. Cristo está acima da casa de Deus “como Filho” (3.6). O Filho também fala, como faziam os profetas, mas fala como o Filho, cuja revelação é final.
A supremacia do Filho, herdeiro de todas as coisas, será revelada no final da história, porque “tudo foi criado… para ele” (Cl 1.16). Ele é o Primogênito (v. 6), o herdeiro preeminente, cujos inimigos serão postos sob os seus pés (v. 13, citando Sl 110.1). Os “últimos dias” foram inaugurados por Jesus, a começar pelo cumprimento da profecia de Salmos 2, de que o Filho de Deus herdaria as “nações” e a “terra” (Sl 2.7, 8). Como filhos adotados de Deus, por meio de Jesus Cristo, somos também herdeiros (v. 14; 6.12, 17; cf. Gl 4.6, 7; Rm 8.14-17). pelo qual também fez o universo. A supremacia do Filho foi manifestada no alvorecer da história, porque “tudo foi criado por meio dele” (Cl 1.16). A palavra grega traduzida como “universo” é literalmente “eras” (também “universo” em 11.3) e salienta os sucessivos períodos de história na ordem criada. Os versículos 10-12 citam Salmos 102.25-27 como testemunho do papel do Filho na Criação e de sua permanência eterna, em contraste com o universo criado.
Isaías 9.6
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz;
As boas-novas são o nascimento (menino… filho) de Jesus Cristo. Os quatro nomes reais expressam suas qualidades tanto divinas como humanas, dando a certeza de que ele é realmente “Emanuel” (7.14).
Os verbos “nasceu… deu” são coerentes com sua humanidade e deidade, respectivamente.
Ele carregará (o governo está sobre os seus ombros) o fardo de governo e autoridade (cf. 22.22).
“Maravilhoso” (Maravilhoso Conselheiro) pode ser traduzido mais acuradamente por “miraculoso”, porque descreve tipicamente as poderosas obras de Deus. A função de um conselheiro é prover sabedoria (Jr 18.18). O Rei vindouro possuirá sabedoria divina.
Como um guerreiro: “Deus Forte”, Deus protege seu povo (10.21; Dt 10.17; Jr 32.18). Essa virtude de poder divino é atribuída ao Rei vindouro. Quanto à importância deste versículo na interpretação da passagem das setenta semanas, ver nota em Daniel 9.27.
O Rei vindouro “Pai da Eternidade” possui eternidade divina: ele é desde tempos antigos e não precisará de um sucessor para seguir seus passos (cf. 2Sm 7.13; Mq 5.2). Os reis da antiguidade referiam-se a si mesmos frequentemente como os pais de seus súditos. Esse nome revela o cuidado divino e eterno que o Rei vindouro terá por seu povo.
Seu governo “Príncipe da Paz” trará paz divina à terra (2.4; 11.6-9; Sl 72.7; Zc 9.10; Lc 2.14).
Gálatas 4.4-5
Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.
O tempo estabelecido pelo Pai (v. 2), “a plenitude do tempo”, “os fins dos séculos” (1 Co 10.11), quando as promessas de Deus se realizam em Cristo.
Seu Filho eterno, enviado (Deus enviou seu Filho) para ser nascido de mulher. Assim, Paulo admite a existência pré-encarnada e a deidade intrínseca de Cristo.
Embora Cristo fosse sem pecado (2Co 5.21), ele nasceu “sob a lei”, não somente como alguém obrigado a cumpri-la, mas também como alguém identificado com pecadores que estavam sob a maldição da lei. A morte de Cristo nos livrou dessa maldição (3.10-14); e sua perfeita obediência é o fundamento de sermos declarados justos (Rm 5.15-21; 2Co 5.21; Fp 3.9; Hb 10.5-10).
O conceito de redenção “para resgatar” vem da instituição da escravidão. Tanto no mundo romano como no mundo judaico, um escravo podia comprar sua liberdade (ou outra pessoa podia comprá-la por ele), pagando um preço de redenção a seus donos. O preço de nossa redenção foi pago pelo Pai no sangue de seu Filho (1Pe 1.17-19) e pelo Filho ao dar sua vida como um resgate por muitos (Mt 20.28). Por meio disso, Deus pagou o preço de resgate a si mesmo.
“Os que estavam sob a lei” não somente judeus, circuncidados sob a lei de Moisés, mas também gentios; pois ambos que estavam sob a maldição da lei de Deus em Adão (3.13, 14; Cf. Rm 5.12-21). a adoção de filhos. Paulo falara sobre o povo de Deus debaixo da lei como seus filhos, mas filhos que não tinham privilégios maiores que os de escravos (vv. 1, 2; cf. Êx 4.23; Is 1.2; Os 11.1). Por que Israel foi chamado “filho”? Talvez porque fossem identificados com Adão, o primeiro filho de Deus (p. ex., Lc 3.38), em sua tarefa de subjugar a terra e refletir a glória de Deus em toda a terra (Gn 1.28; sobre a entrega desse mandamento para Israel, cf. Gn 28.14 em Is 54.3; Êx 1.7, 12, 20; 19.5, 6). Tanto Adão como Israel foram filhos desobedientes, mas Cristo, como o último Adão e o verdadeiro Israel, foi o Filho fiel de Deus. Paulo descreve agora a única maneira pela qual os filhos se tornam membros plenos da família, não mais filhos menores, mas plenamente adotados, com todos os privilégios que acompanham o fato de serem herdeiros da promessa do Senhor. Deus sela nossa adoção ao nos dar o Espírito de seu Filho (Rm 8.9-17). Paulo está falando aqui particularmente do privilégio que pertence aos crentes sob a nova aliança. Cristo foi declarado “Filho de Deus com poder” (Rm 1.4); portanto, aqueles que creem nele e são unidos com ele, por meio de seu Espírito, compartilham dessa identidade. Mas, visto que Cristo é o Filho de Deus não apenas funcionalmente (como Adão e Israel deviam ser), mas também ontologicamente (ou seja, ele é o Filho divino), os crentes podem ser identificados com a filiação funcional de Cristo apenas por adoção, e não por parentesco original.
1 Timóteo 1.15-17
Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna. Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!
A expressão “Fiel é a palavra e digna de toda aceitação” chama a atenção para um ponto importante. No Novo Testamento, ela se acha apenas nas Epístolas Pastorais (3.1; 4.9; 2Tm 2.11; Tt 3.8).
A afirmação “para salvar os pecadores” sucinta e abrangente da missão de Cristo em sua encarnação, focalizada nos propósitos redentores de sua morte e ressurreição, merece comparação com afirmações semelhantes do Novo Testamento, incluindo João 3.16, Gálatas 4.4, 5; e Hebreus 10.5-10.
A expressão “eu sou o principal”, literalmente, “eu sou o primeiro”. Essa não é uma caracterização apenas de sua vida como perseguidor blasfemo e violento antes de sua conversão. Antes, à medida que Paulo vai crescendo em Cristo, à medida que o Espírito Santo o vai conformando à pureza de seu Salvador, ele também se torna cada vez mais consciente de sua própria pecaminosidade.
Deus concede a todos que creem em Cristo não somente “vida eterna”, mas também vida em toda a sua plenitude (cf. 4.8; 6.12, 19; 2Tm 1.1, 10; Tt 1.2; 3.7).
Tito 3.4-7
Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.
Paulo associa nossa salvação (v. 5) “Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor” à obra realizada por Cristo em seu primeiro advento.
Os vocábulos “benignidade” e “amor” enfatizam que nossa salvação é tão somente pela graça.
A salvação é pela graça de Deus, não pelas obras do crente “não por obras de justiça… mas segundo sua misericórdia” (v. 6; Ef 2.8-9; 2Tm 1.9).
As palavras de Paulo no v. 3 “nos salvou” mostram do que o crente foi salvo.
A purificação espiritual “o lavar” da qual o batismo é sinal e selo (1Co 6.11; Ef 5.26).
Ambas as palavra “regenerador e renovador” caracterizam o “lavar”. “Regenerador” fala da nova vida que começa quando uma pessoa chega à fé em Cristo (Jo 3.3, 5; 1Pe 1.3, 23). Na operação da salvação, a regeneração precede a fé. Não podemos ver, nem entrar no reino de Deus, se, em primeiro lugar, ele não mudar nosso coração (Jo 3.3, 5). O termo “renovador” está intimamente relacionado ao novo nascimento; significa a completa transformação da vida de uma pessoa e começa quando ela é regenerada (Rm 12.2; 2Co 5.17). Ver nota teológica “O Novo Nascimento”, na p. 1857.
O Espírito aplica às pessoas a graça de Deus que é estendida em Cristo (Jo 3.5, 6). Note o trinitarianismo dos vv. 4-6. Deus (Pai) nos salva, por meio da regeneração e da renovação do Espírito, que é derramado em nós por meio de Cristo.
Declarados justos “justificados” diante de Deus (Rm 4.5; Gl 3.4).
“Por graça” tem o sentido de que por nós mesmos (vv. 3-4), nunca poderíamos ser justos diante de Deus. A ênfase dos vv. 3-7 é que a justiça vem somente pela graça, e nós a recebemos somente pela fé exclusivamente em Cristo (Rm 3.21-26).
O propósito de Deus em estender sua graça aos pecadores (herdeiros) não é somente salvá-los do julgamento eterno, mas também torná-los parte de sua família por meio de adoção e, assim, herdeiros de suas promessas (Rm 8.17; Gl 3.29; 4.7).
Zacarias 9.9
Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta.
Essa importante profecia do Antigo Testamento encontra cumprimento tanto na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Mt 21.1- 11; Jo 12.12-16) como em seu reino messiânico (v. 10, nota).
Um título comum “ó filha de Sião” que designa o povo e a cidade santa de Deus, personificando-a como uma mulher jovem (Is 1.8, nota; 62.11; Sf 3.14).
O descendente real de Davi (teu Rei) prometido repetidas vezes (2Sm 7.12-14; Sl 132.11; Is 9.7; 11.1-5; Jr 23.5, 6; 33.15-22; Ez 34.23, 24; 37.24, 25).
“Montado em jumento” é um sinal de sua vinda em paz, mais do que um sinal de humildade. As pessoas ricas montavam jumentos nessa época (Jz 10.4), mas os cavalos eram a montaria preferida para as atividades militares.
João 3.16
Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Alguns têm insistido que Deus enviou Jesus para morrer, a fim de tornar a salvação possível a todos, sem exceção. Não obstante, Jesus deixa claro que a salvação daqueles a quem o Pai lhe deu não é uma mera possibilidade, mas, sim, uma certeza absoluta. Todos aqueles a quem o Pai escolheu virão a Cristo, o qual deu sua vida somente por suas ovelhas, e não pelos que não foram escolhidos desde a fundação do mundo (6.37-40; 10.14-18; 17.9). A questão central que gira em torno de “o mundo” é que a obra salvífica de Cristo não se limita a um só tempo ou lugar ou povo (os judeus), mas se aplica aos eleitos do mundo inteiro, não importa a era em que vivam ou sua etnia. Além disso, em João, “o mundo” frequentemente se opõe a Deus (1.10; 7.7; 17.17; 15.18, 19), de modo que a maravilha do amor de Deus é exibida na indignidade de seu objeto. Os que não recebem o remédio que Deus preparou em Cristo perecerão. Permanece verdadeiro que todo aquele que crê em Cristo não morrerá (ser separado de Deus), mas viverá na presença de Deus para sempre. Ver nota teológica “A Bondade de Deus” na p. 991.
Filipenses 2.7-8
Antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.
Cristo removeu de si mesmo ou sua deidade ou sua identidade como Deus. Em vez disso, o Filho de Deus acrescentou à sua pessoa a natureza humana, sem renunciar a qualquer de seus atributos divinos. A expressão significa que ele humilhou a si mesmo (v. 8), não perdendo seu ser divino, mas abraçando desonra ao se tornar humano. O caráter de seu “autoesvaziamento” é definido em três expressões que se seguem (“assumindo… tornando-se… reconhecido em”). Ver Introdução: História de Interpretação e nota teológica “A Humanidade de Cristo”, na p. 2279.
“A forma de servo” ou seja, de um escravo. Essa linguagem expressa vividamente a disposição de Cristo em se privar do gozo da glória de seu status e identidade divinos (v. 6, nota). Embora continuasse a ter essa glória, chegando até mesmo a revelar seu esplendor aos discípulos de vez em quando (por exemplo, Mt 17.1-8), Cristo a ocultou em carne humana durante seu ministério terreno, a fim de salvar seu povo dos pecados deles.
Cristo é verdadeiramente Humano “em semelhança de homens”. “Semelhança” significa mais do que similaridade. Para morrer (v. 8), ele tinha de ser completamente humano. Ao mesmo tempo, Paulo faz uma distinção importante entre Cristo e outros seres humanos. De uma forma diferente deles, Cristo não tem pecado (2Co 5.21; cf. Rm 8.3). E, no que diz respeito à sua natureza divina, ele permanece transcendente sobre a realidade criada. Não pode e não deixará de ser uma pessoa divina, com uma natureza divina, mesmo em sua humilhação.
A aparência de Cristo “em figura humana” como homem não era uma ilusão. Ele se revelou por meio de uma natureza humana genuína e completa, unida com sua natureza divina em uma única pessoa.
Ele possui todos os atributos essenciais da humanidade, embora, diferentemente de nós, nunca tenha pecado (cf. 1Pe 2.21-25).
“A si mesmo se humilhou” aqui, a linguagem é análoga à expressão “a si mesmo se esvaziou”, no v. 7. Cada ato decorre do livre exercício da vontade de Cristo.
“Obediente” ou seja, submisso à vontade do Pai (Hb 10.5-9) é mais importante para aquele que é igual ao Pai (v. 6) do que para qualquer outra pessoa. As palavras de Paulo abrangem toda a vida de obediência de Cristo, ao mesmo tempo que enfatizam a suprema expressão de obediência: sua morte.
A essa altura, a ênfase está na disposição de Cristo em sofrer a mais vergonhosa das Mortes “de cruz”, e não na importância expiatória do evento (cf. Rm 3.21-26).
Isaías 7.14
Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel.
A palavra hebraica “virgem” ocorre sete vezes no Antigo Testamento. Significa uma jovem em idade de casamento, que, nos antigos povos de Judá e Israel, era normalmente uma virgem (Gn 24.43). A Septuaginta traduz a palavra hebraica por uma palavra grega específica que significa “virgem”. O Novo Testamento entende que o cumprimento final da promessa de Isaías é a virgem Maria (Mt 1.23).
Emanuel, “Deus conosco”. A promessa de Deus de salvar, abençoar e proteger seus filhos. As identidades da virgem e do filho têm sido assunto de discussão considerável, e existem três interpretações principais. Primeira, alguns acham que a profecia se cumpriu exclusivamente no tempo de vida do próprio profeta. Alguns desses intérpretes, especialmente judeus do século II d.C., entenderam que a profecia significava a esposa de Acaz e seu filho, Ezequias (2Rs 18.2). Mas, como Jerônimo (400 d.C.) ressaltou, Ezequias já era nascido. Outros identificam a mulher como a esposa de Isaías ou uma mulher desposada com ele (8.3). O filho é, portanto, o filho de Isaías, Rápido-Despojo-Presa-Segura. Mas a palavra hebraica traduzida por “virgem” não seria usada normalmente para se referir a uma mulher que já fosse mãe (de Um-Resto-Voltará, 7.3). Se isso significa uma noiva do profeta, então precisamos admitir que sua primeira esposa faleceu antes dessa profecia. Além disso, essa interpretação exige que o filho tenha dois nomes diferentes: “Deus está conosco” (Emanuel) e “Rápido-Despojo-Presa-Segura” (cf. 8.3). Nesse caso, o ponto de cumprimento imediato seria que a presença de Deus com seu povo traz julgamento e salvação. Segunda, à luz do Novo Testamento, a interpretação cristã tradicional identifica o filho diretamente com o Messias, um personagem divino cujo nascimento está além da natureza (e, por isso, da mesma ordem miraculosa como a do sinal referido no v. 11). Essa abordagem iguala o filho chamado “Emanuel” com a criança que possui os títulos de Deus em 9.6 e com o “rebento” do capítulo 11. De acordo com Mateus, a virgem é Maria e o filho é Jesus Cristo (Mt 1.22, 23). No entanto, o v. 16 parece exigir que o nascimento seja iminente.
Uma terceira interpretação é considerar a profecia duas etapas: uma realização imediata, mas parcial, nos dias de Isaías, e uma posterior e definitiva no nascimento de Jesus Cristo, que garante o trono de Deus para sempre. A dificuldade que permanece é determinar o cumprimento parcial. Alguns optam pelo nascimento do filho de Isaías Rápido-Despojo-Presa-Segura (8.1-3), enquanto outros entendem a referência inicial como a uma mãe adolescente de nome não identificado, que ouve e crê nas promessas de Deus e, por isso, chama seu filho de “Deus está conosco”, apesar das circunstâncias ameaçadoras. Sua fé contrasta com a conduta do rei Acaz, o filho de Davi que se recusa a crer totalmente na promessa de Deus; mas um nascimento natural fica aquém da natureza radical do sinal previsto no v. 11.