Neste artigo, veja como a relação entre o Pai, o Filho e seus discípulos é feita por meio de sua graça manifesta em sua glória e em sua Palavra. Este artigo é um trecho adaptado de nosso novo livro À mesa com Jesus, de Sinclair Ferguson.
Cadeias de graça
Há várias cadeias ou elos que unem o Pai ao Filho, o Filho ao Pai, e os discípulos ao Pai e ao Filho. Por exemplo, o Pai ama o Filho, e o Filho ama os discípulos. O Pai envia o Filho, e o Filho envia os discípulos. Mas há duas cadeias que se destacam na oração de Jesus.
A cadeia da glória
A primeira cadeia é a “cadeia da glória”. O Pai é o Pai de infinita glória. O Filho vem ao mundo a fim de glorificar seu Pai. Por sua vez, o Pai dá glória ao Filho (Jo 17.1-5), e o Filho é glorificado pelos discípulos (v. 10). De fato, a glória que o Pai deu ao Filho, ele a dá a todos os seus discípulos (v. 22). Seu maior desejo é que eles o vejam na glória que o Pai lhe deu antes da fundação do mundo (v. 24). Tudo isso é feito pelo Espírito Santo, o outro Auxiliador que Jesus lhes mandaria da parte do Pai: “Quando vier, porém, o Espírito da verdade… ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (16.13-15).
Mas como o Espírito “anuncia” o que é de Cristo? A resposta é a segunda cadeia — a cadeia da Palavra de Deus.
A cadeia da Palavra
Jesus afirmou que parte do papel dos apóstolos (capacitados pelo Espírito) seria dar à igreja aquilo que chamamos de Novo Testamento, o qual abrange o registro do ensino de Jesus, a interpretação desse ensino e a importância de sua atividade futura. O Espírito os faria lembrar- -se dos ensinamentos de Jesus e os ajudaria a entender suas implicações. Como resultado, eles seriam capacitados a escrever os Evangelhos e os demais livros do Novo Testamento (Jo 14.26). Ao longo dos anos descritos em Atos dos Apóstolos, o Espírito os guiaria à verdade acerca de Cristo, capacitando-os a expor “a verdade em Jesus” nas cartas (Jo 16.13; Ef 4.21). Ele também lhes mostraria o que ainda estava por vir (no livro de Apocalipse e em parte das Cartas).
Agora, em sua oração, Jesus coloca essas verdades num contexto maior:
- Ele fala sobre: As palavras que o Pai deu ao Filho (17.8)
- Estas são: As palavras que o Filho deu aos apóstolos (v. 8)
- Estas são: A palavra que os apóstolos receberam (v. 8)
- E, por sua vez, esta é: A palavra que os apóstolos guardaram (v. 6)
Consequentemente, eles vieram a conhecer quem Cristo é, a crer nele como o Filho enviado pelo Pai (v. 8) e a ser odiados pelo mundo (v. 14).
Por isso, Jesus:
- ora para que: A palavra que eles receberam os santifique (v. 17)
- e ora também sobre: A palavra que eles pregarem, a fim de que outros venham a crer (v. 20)
Há um paralelo marcante entre a “cadeia da glória” e a “cadeia da palavra”:
- A glória pertence ao Pai;
- A glória é dada ao Filho;
- A glória é dada pelo Filho aos apóstolos;
- A glória é vista através do ministério dos apóstolos por todos os discípulos.
E isso acontece porque:
- A palavra pertence ao Pai;
- A palavra é dada ao Filho;
- A palavra é dada pelo Filho aos apóstolos;
- A palavra é dada por meio dos apóstolos a todos os discípulos.
Ao discutirmos a autoridade do Novo Testamento, costumamos citar “textos famosos”, como 2 Timóteo 3.16-17. Contudo, de certa forma, o que Jesus diz aqui no cenáculo é ainda mais fundamental do que esses textos: a Palavra que recebemos dos apóstolos lhes foi dada pelo Filho por meio do ministério do Espírito Santo. Por sua vez, as palavras de Cristo vieram do Pai Todo-Poderoso!
É por isso que podemos confiar na Palavra pregada pelos apóstolos. É por meio dessas Escrituras inspiradas, iluminadas e aplicadas pelo Espírito que somos guardados, santificados e, um dia, seremos glorificados. Quando lemos essas Escrituras “com o rosto desvendado, contemplando… a glória do Senhor”, “somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem”. Embora o Senhor Jesus não mencione isso em sua oração, seu ensino nesses capítulos deixa claro que isso vem da parte do “Senhor, o Espírito” (2Co 3.18). É para isso que o Novo Testamento serve e é esse o objetivo maior de nosso estudo de João 13–17: sermos transformados à imagem do Senhor. Então, mergulhemos em sua Palavra a fim de que, quando emergirmos, reflitamos, de forma mais clara e completa, a glória de Deus!