Nos próximos capítulos, olharemos mais profundamente para o medo, suas causas e consequências. Vamos considerar o que a Bíblia diz sobre o motivo de nos tornarmos temerosas e como podemos superar os nossos medos. Mas, primeiro, vamos analisar o lado físico dessa emoção. Como todas as nossas emoções, o medo é experimentado tanto em nossa mente quanto em nosso corpo, causando reações físicas intensas.
Fisicamente, o medo é uma reação ao perigo percebido. Porque Deus nos amou, ele nos criou com a capacidade de respondermos rapidamente a situações de perigo. Aqui está um exemplo: imagine que você acabou de perceber que o seu carro parou em uma estrada de ferro. Você ouve um apito, levanta a cabeça e vê que um trem está se aproximando. Assim que esses fatos são registrados em seu cérebro, o seu corpo entra automaticamente em intensa atividade. O seu cérebro recebe o aviso de que o perigo é iminente e ordena que o seu corpo libere rapidamente uma série de hormônios, incluindo a adrenalina. Uma vez que esses hormônios são liberados na corrente sanguínea, certas mudanças físicas acontecerão imediatamente. Seus músculos ficarão tensos para prepará-la para a ação. Sua frequência cardíaca e respiração serão aceleradas para lhe fornecer oxigênio e força extra. Mesmo a sua visão e audição se tornarão mais aguçadas. Seu pé, então, apertará o pedal do acelerador até o chão, e você se moverá mais rapidamente do que jamais imaginou ser possível. Todas essas mudanças acontecerão imediatamente, em um instante.
Sempre que nos encontramos confrontadas com o perigo, é fácil percebermos como a graça de Deus se revela até na forma como fomos criadas. Os atributos físicos que ajudam a nos proteger do perigo são verdadeiramente um bom presente, não são?
O projeto de Deus para o nosso corpo é incrível, como o Salmo 139.14 diz: “por modo assombrosamente maravilhoso me formaste”. Deus nos presenteou com essas habilidades físicas para que pudéssemos sobreviver em um mundo, às vezes, perigoso.
Você notou que eu disse que o medo é uma reação a um perigo percebido. Eu propositadamente defini medo dessa forma porque às vezes nossas mentes percebem ou imaginam um perigo que não existe. Todo mundo já experimentou a sensação de acordar de um pesadelo com o coração batendo forte e a respiração acelerada. Nessas ocasiões, o perigo ao qual o nosso corpo está reagindo está inteiramente em nossa mente. Apesar disso, o nosso corpo reage como se tivéssemos enfrentado uma ameaça real. Como você pode ver, nossas mentes afetam os nossos corpos de formas muito poderosas – e Kathryn reconhecia isso.
O medo de Kathryn de que pudesse vomitar no shopping era irracional. Mesmo o seu medo sendo infundado, seu corpo não era capaz de diferenciar entre alarmes falsos e verdadeiros. Ele simplesmente respondia da maneira que era para ele responder. Não importava o fato de o perigo não ser legítimo. Sempre que ia ao shopping, ela tinha medo de experimentar todas as mudanças físicas que ela temia, e o seu medo a fazia sentir-se enjoada e a convencia de que, provavelmente, ela perderia o controle e constrangeria a sim mesma. Entende? Ela, na verdade, tinha medo de ficar com medo.
Não apenas o nosso corpo responde ao medo preparando-nos para evitar ou atacar o perigo; também há momentos em que a nossa química corporal nos influencia de formas mais sutis. Se estamos ocupadas com várias coisas ou se nos acostumamos a viver sob altos níveis de estresse, algumas vezes não notaremos as mudanças acontecerem. Não saberemos o que está se passando em nossos corpos até que algum incidente ocorra e torne isso evidente.
Ops! Perdoe-me, Minhas Ansiedades Estão Aparecendo
Meu marido Phil e eu vivemos em San Diego, Califórnia, uma cidade na fronteira dos Estados Unidos com o México. Fizemos muitas viagens para o México, e eu sempre temi a passagem da fronteira de volta para os Estados Unidos. Nessa fronteira mais atravessada do mundo, as filas são quase sempre longas, e a espera para chegar até o posto de controle é tediosa e desgastante.
Em uma ocasião específica, quando meu marido e eu estávamos atravessando de volta para os Estados Unidos, ambos tivemos uma grande surpresa. Parte da rotina dos policiais que ficam na fronteira é fazer duas perguntas aos viajantes: “Qual é a sua cidadania?” e “O que você está trazendo do México?”. Phil e eu respondemos “americana” para a primeira pergunta, e então eu respondi “fruta” para a segunda. Você não pode imaginar o choque que tivemos com a minha resposta! A razão da minha resposta era porque não havíamos trazido nenhuma fruta do México, e sabíamos que trazer frutas pela fronteira era ilegal. Nós dois apenas ficamos lá, horrorizados, espantados e boquiabertos. Finalmente me recompus e disse: “Quero dizer… nada”. Felizmente, o oficial apenas olhou para mim como se eu fosse louca e acenou para que passássemos. A caminho de casa, Phil ficou olhando para mim pelo canto do olho – acho que ele pensou que sabia onde estava o verdadeiro abacaxi!
Nesse incidente levemente cômico, eu não sabia o quão temerosa e estressada eu estava em relação a atravessar a fronteira até que minhas ações me tornaram consciente disso. Foi esse incidente que abriu meus olhos para o meu nervosismo desnecessário na fronteira e também para a minha cegueira em relação ao meu estado emocional verdadeiro.
O Círculo Vicioso
O medo não afeta apenas o seu corpo e o seu comportamento, mas o contrário também é verdadeiro. Se você for uma pessoa com uma predisposição a reagir de forma temerosa, você estará mais propensa a experimentar os sintomas físicos do medo se beber muita cafeína, comer muito açúcar, não se exercitar ou não descansar o suficiente.
Se você geralmente se sente estressada com as suas responsabilidades ou temerosa com a sua vida, você não se sentirá confortável relaxando e, provavelmente, não reservará tempo para comer ou exercitar-se adequadamente. A incapacidade de relaxar ou dormir de maneira saudável aumentará a sua sensibilidade ao alarme e ao perigo, fazendo com que mais adrenalina seja liberada em seu corpo, o que, por sua vez, pode trazer ainda mais problemas para dormir. Beber cafeína para superar a sensação de cansaço e lentidão causada pela falta de sono simplesmente agravará o problema.
A partir dessa breve descrição, é possível enxergar a facilidade com que o medo pode iniciar um círculo vicioso de pensamentos descontrolados, respostas físicas, imaginações e cuidados negligenciados com o corpo que podem servir para trazer ainda mais medo e respostas físicas intensificadas. É fácil ver como os resultados do medo podem criar mais medos, levando à escravidão total.
Este artigo é um trecho adaptado com permissão do livro Vencendo medos e ansiedades, de Elyse Fitzpatrick, Editora Fiel.
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