A grande revelação. É nisso que consistem os programas televisivos de reforma de casas. Tudo começa com uma propriedade que tem… potencial. Certamente, ela também tem problemas. As pessoas que farão a reforma fazem um plano. Inesperadamente, desafios como contrapisos apodrecidos e fundações que estão afundando aparecem ao longo do caminho. O relógio está andando. O orçamento é esticado. Uma equipe incontável de eletricistas, carpinteiros e decoradores tem trabalhado nos bastidores. Então, finalmente chegamos ao ponto que todos esperávamos: a grande revelação. No programa Do Velho ao Novo, Chip e Joanna Gaines se posicionam nos extremos opostos de dois painéis que mostram uma fotografia em tamanho real de como era a propriedade antes de começarem a trabalhar nela. Depois, os painéis são puxados um para cada lado. O que estava escondido é finalmente revelado.
Essa imagem de puxar as cortinas a fim de podermos ver aquilo em que os especialistas em reformas e suas equipes trabalharam para recriar nos ajuda a entender do que trata o livro que estamos prestes a começar a estudar. Deus esteve e está neste momento trabalhando em um reino que não somos capazes de enxergar com os olhos humanos. Porém, para que saibamos o que ele fez, está fazendo e fará para reformar o lar que ele pretende compartilhar conosco, Deus puxou a cortina e convidou João a olhar. João escreveu para nós o que viu. Apocalipse é o registro escrito de João do que ele viu por trás do véu que separa o céu e a terra. Essa é a maior de todas as grandes revelações, especialmente quando consideramos quem nos revela isso. O livro começa:
Revelação de Jesus Cristo. (Ap 1.1)
Se estivéssemos lendo esse livro em grego, ele nos diria que esse é o apokalypsis de Jesus Cristo. “Apocalipse” significa desvelamento ou descobrimento de algo que estava previamente escondido. É útil iniciar nossa jornada no livro de Apocalipse nesse ponto, pois muitos de nós chegaram a pensar que esse é um livro misterioso, um livro fechado, um livro difícil de entender — até mesmo um livro sobre o qual as pessoas parecem gostar de discutir mais do que gostam de entender ou de aplicar. Porém, evidentemente, esse livro não foi escrito para nos confundir, assustar ou dividir em campos de opinião. Ao contrário, ele foi escrito para dar aos servos de Jesus Cristo do primeiro século, bem como aos servos de Jesus Cristo que viveram em cada século desde então, a confiança no que Deus está fazendo para cumprir seus propósitos para este mundo.
Sem dúvidas, desvelar ou descobrir o que está escondido não é o que a maioria pensa quando ouve a palavra Apocalipse. A maioria pensa em Apocalipse como um evento cataclísmico que marcará o fim da vida na terra como a conhecemos. E, sim, o livro de Apocalipse efetivamente revela algumas coisas sobre a maneira como a vida na terra conforme a conhecemos chegará ao fim e dará lugar a um novo céu e uma nova terra. Entretanto, esse livro não diz respeito meramente — talvez nem principalmente — ao futuro. Ele tem algumas coisas significativas para nos revelar sobre o presente.
Para ajudar-nos a entender o que João quis dizer quando falou desse livro como um apocalipse, pode ser útil reconhecer que essa não é a primeira vez que a palavra foi usada no Novo Testamento. Jesus usou a palavra duas vezes quando declarou: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste [‘apocalipsaste’] aos pequeninos. […] Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar [‘apocalipsar’]” (Mt 11.25-27). Mais à frente no Evangelho de Mateus, lemos que, depois de Pedro afirmar que Jesus é “o Cristo, o Filho do Deus vivo”, Jesus disse que não foram carne e sangue que tinham revelado [“apocalipsado”] isso a Pedro, mas “meu Pai, que está nos céus” (Mt 16.16-17).
Quando o apóstolo Paulo buscou descrever como ele veio a entender o Evangelho, escreveu: “eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação [apocalipse] de Jesus Cristo… foi do agrado dele [Deus] revelar [‘apocalipsar’] seu filho a mim, para que eu o anunciasse aos gentios” (Gl 1.12, 15-16; NVT). Embora Paulo tivesse passado toda a sua vida estudando os rolos do Antigo Testamento, ele não foi capaz de ver quem Jesus realmente era até que Deus o revelasse — ou “apocalipsasse” — sobrenaturalmente a ele na estrada para Damasco1.
A João foi dado um apocalipse de Jesus Cristo, e, nas páginas do livro de Apocalipse, ele escreveu o que viu. Aqui, o que esteve escondido será revelado — o Cristo ressurreto e glorificado que estava escondido, as hostes angélicas e demoníacas que estavam escondidas, a hipocrisia dos falsos crentes que estava escondida, a beleza da noiva de Cristo que estava escondida, a feiura do sistema do mundo que estava escondida, o plano para a renovação de todas as coisas que estava escondido. Conforme estudarmos esse livro, descobriremos que um apocalipse pode nos revelar que algumas das coisas que pensávamos ser importantes, belas ou seguras são, na realidade, passageiras, feias e estão destinadas à destruição. Algumas coisas nas quais temos investido nossa vida, com as quais temos contado, as quais temos esperado e das quais temos dependido não são tão significativas nem oferecem tanta certeza como pensávamos. À medida que trabalhamos no livro de Apocalipse, a verdadeira natureza dessas coisas será descoberta para podermos enxergá-las através das lentes da realidade, a partir do ponto de vista do próprio céu.
1 – Tim Mackie apresenta esses usos anteriores da palavra grega apokalypsis no Novo Testamento em “Apocalyptic Please—Apocalyptic E1”, The Bible Project (podcast), 27 de abril de 2020, https://bibleproject.com/
Este artigo é um trecho adaptado do livro As bençãos do Apocalipse, de Nancy Guthrie, Editora Fiel.
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