segunda-feira, 23 de dezembro
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10 coisas que você precisa saber sobre o perigo da mídia

1. A mídia nos alimenta com um fluxo interminável de espetáculos que captura a atenção humana e atrai o olhar da coletividade

Um espetáculo é um momento do tempo, de duração variada, no qual um olhar coletivo se fixa numa imagem, situação ou evento específicos. Um espetáculo é algo que captura a atenção humana, um instante em que nossos olhos e cérebros focam e se fixam em algo projetado para nós.

Numa sociedade como a nossa, fundamentada no ultraje, espetáculos são muitas vezes controvérsias — o último escândalo no esporte, no entretenimento, na política. Uma faísca é acesa, ganha força, torna-se uma chama que viraliza nas redes sociais e incendeia os murais de notícias de milhões de pessoas. Isso é um espetáculo.

Quanto mais rápida se torna a mídia, tudo é passível de tornar-se um espetáculo: um pequeno deslize ao falar em público, um comentário passivo-agressivo de uma celebridade, uma cena de hipocrisia política. Muitas vezes, os espetáculos mais virais nas mídias sociais são narrativas maliciosas que, depois, revelam ser rumores sem fundamento e fake news.[1]

Seja verdade, mentira ou ficção, um espetáculo é sempre algo visível que atrai o olhar da coletividade.

2. A mídia quer algo de você.

O mundo real à nossa volta se dissolve, não porque nossos espetáculos sejam falsos ou “fake”, mas porque temos o poder soberano sobre um cardápio de incontáveis opções de espetáculos. Nós controlamos tudo. Nosso cetro é o controle remoto. E, nesse bufê de opções digitais, perdemos de vista os contornos que dão forma à nossa existência corporal. Tornamo-nos cegos para aquilo que não podemos controlar.

Já não somos nós que buscamos novos espetáculos; novos espetáculos nos buscam e se apresentam a nós sem exigir mais que um toque na tela — ou menos que isso. Com a função de reprodução automática, os vídeos são exibidos, terminam, e então o próximo da lista começa automaticamente. O recurso de avançar automaticamente para o próximo episódio só aumenta a nossa farra no Netflix.

Poucos de nós têm contabilizado os impactos dessa cultura televisiva para a nossa atenção, volição, empatia e identidade.

3. A mídia desperta nosso apetite insaciável pela glória.

Por que buscamos espetáculos? Porque somos humanos — configurados com um insaciável apetite para ver a glória. Nosso coração busca esplendor ao mesmo tempo em que nossos olhos vasculham por grandiosidade. Não podemos evitar.

“O mundo anseia por deslumbramento. Esse anseio foi criado para Deus. O mundo o procura sobretudo nos filmes”[2] — assim como no entretenimento, na política, em crimes reais, em fuxicos de celebridades, em guerras, em jogos ao vivo. Infelizmente, somos enganados com muita facilidade a desperdiçar nosso tempo naquilo que não acrescenta nenhum valor à nossa vida. A isso Aldous Huxley chamou “o quase infinito apetite humano por distração”.[3] Seja por coisas inúteis ou proveitosas, nossos olhos são insaciáveis.

4. A publicidade pode levar você a hábitos perigosos.

Espetáculos de publicidade constroem hábitos poderosos em nós e nos tornam compradores incansáveis em busca do poder de mudar nossa própria vida e nosso entorno com mais uma ida ao shopping.

A massa amorfa do ego autônomo recebe a promessa de uma nova identidade na forma de um exoesqueleto novinho em folha — um novo bem de consumo para nos completar e nos dar uma forma no mundo, para moldar a identidade que desejamos projetar para os outros. Assim, tornamo-nos consumidores autoconsumidos — compradores autônomos cuja vida recebe novo contorno e nova forma pelo próximo produto que acrescentamos ao nosso carrinho de compras da Amazon.

5. A mídia quer moldar nossa identidade.

A imagem é nossa identidade e nossa identidade é inevitavelmente moldada por nossa mídia. Para usar a sugestiva linguagem de Jacques Ellul ao falar sobre filmes, nós escolhemos nos entregar vicariamente às vidas que vemos nas telas e que jamais poderíamos experimentar pessoalmente. Escapamos para vidas que não são nossas e nos acomodamos à experiência de outros. Vivemos dentro de nossas simulações projetadas — dentro das promessas e possibilidades de nossas celebridades mais queridas.

Na era do espetáculo, abandonamos os contornos sólidos de nossa existência corporal — nossa concha —, a fim de encontrarmos nossa própria forma e definição enquanto vivemos dentro de uma vida de abstração conduzida pela mídia. E, por podermos viver inteiramente dentro do mundo das nossas imagens (consumidas e projetadas), perdemos nossa identidade e nosso lugar na comunidade. Perdemos a percepção do que significa estar dentro do corpo que Deus atribuiu e formou para nós.

6. Nossa atenção está sendo explorada pela mídia digital.

Smartphones possibilitam que a indústria da atenção mire em nossas pequenas lacunas de foco, aqueles momentos em que transitamos entre tarefas e deveres. Nossa atenção pode ser um tanto flexível, o bastante para preencher cada lacuna de silêncio em nossos dias, mas, no fim das contas, ainda é um jogo de soma zero. O tempo de concentração de que dispomos a cada dia é limitado e, agora, cada segundo da nossa atenção pode ser alvo da indústria, transformado em mercadoria.

Nossa atenção é voluntariamente estilhaçada num milhão de pedaços, guiada por nossas necessidades impulsivas, capturada em nossos perfis digitais e, então, explorada pelos mercadores do espetáculo.

7. Nossa vida de oração está em perigo.

Sim, existem aplicativos e alarmes para nos lembrar de orar. É bom usá-los. Porém, na era digital, intervalos de nove segundos de atenção se dissipam em meio a quatrocentos módulos de espetáculo por hora de Snapchat — um caos espiritual concebido não a serviço da alma, mas a serviço dos mercadores de atenção. Nossa atenção é finita, mas nosso chamado à oração persistente é claro. É hora de sermos honestos. O pior de nossos hábitos compulsivos pelas mídias sociais está preenchendo nossos dias por completo e corroendo nossa vida de oração.

8. A mídia pode cegá-lo para a glória de Cristo e diminuir seu zelo pelo Senhor.

Alimentar-se de mídias pecaminosas irá anular suas santas afeições. Sem dúvida. Mas empanturrar-se de um excesso de mídias moralmente neutras também irá depredar seu zelo afetivo. Cada um de nós precisa aprender a proteger prazeres superiores fazendo guerra contra deleites inferiores.[4] Nossos programas, filmes e games nos seduzem para que nos entreguemos às telas, um vício em vídeo o qual Wallace chamou de “um impulso religioso distorcido”, uma entrega de si que deveria estar reservada apenas para Deus, uma dedicação idólatra da alma a uma mídia incapaz de nos amar de volta.[5]

Nós, humanos, não apenas temos hábitos — nós somos hábitos, disse Jonathan Edwards.[6] Portando, a verdade é que a maior parte de nossa vida não é primeiro deliberada no nível consciente e depois atuada. Antes, a única esperança para a santificação dos nossos hábitos e amores é o Espírito. Ele precisa despertar o seu poder transformador bem dentro de nós e abrir nossos olhos para contemplarmos o esplendor de Cristo.

9. Seu problema é interno, não externo.

Quando Deus “pôs a eternidade no coração do homem”, ele fez do coração algo espaçoso, faminto e incansável (Ec 3.11). Anseios pecaminosos despertam a lascívia em todas as nossas faculdades, inclusive nossa visão — pois “os olhos não se fartam de ver” (Ec 1.8). Assim como o inferno e a sepultura engolem e nunca se fartam, “os olhos do homem nunca se satisfazem” (Pv 27.20).

Os olhos lascivos da humanidade comem, comem, comem, e nunca ficam cheios. Os olhos mundanos passeiam, incitados por um anseio eterno, em busca de algum novo espetáculo para trazer paz, descanso e alegria. Mas a saciedade nunca vem, vai minguando mais e mais.[7] A raiz do perigo não é o brilho do mundo, mas o pecado dentro de nós. Olhos desenfreados percorrem incansáveis pela terra, famintos por alguma nova empolgação. E, até que o inferno e a sepultura sejam engolidos, os olhos do homem continuarão olhando para os espetáculos do mundo em busca de algo que eles jamais encontrarão.

10. Você se tornará o que você vê.

O alerta do pastor David Platt é necessário: “Você não se torna parecido com Cristo sentando-se à frente da TV a semana inteira. E você não se torna parecido com Cristo navegando na internet a semana inteira. Você não se torna parecido com Cristo ao encher a sua vida com coisas deste mundo. Você se torna como Cristo quando contempla a glória de Cristo e expõe a sua vida, momento a momento, à glória dele”, tudo isso por meio da revelação de Deus na Escritura.[8]

Para fixarmos nossa mente no Espetáculo de Cristo, somos chamados a uma disciplina pessoal que é totalmente estranha a este mundo, estranha até mesmo a nossas próprias inclinações naturais. Aprendemos um novo discurso divino — uma língua estranha de glória invisível — à medida que a Escritura alimenta nossos novos apetites pelo Salvador. Nosso novo apetite nos conduz para Cristo. Nenhum outro fator distingue tão claramente o apetite do cristão do apetite do mundo por espetáculos fabricados.

Artigo adaptado do livro A Guerra dos Espetáculos, de Tony Reinke, futuro lançamento da Editora Fiel.

[1] Robinson Meyer, “The Grim Conclusions of the Largest-Ever Study of Fake News”, theatlantic.com, 8 mar. 2018.

[2] John Piper, twitter.com, 12 abr. 2017.

[3] Aldous Huxley, Brave New World Revisited (New York: Harper & Row, 1958), 35 [edição em português: Regresso ao admirável mundo novo (Belo Horizonte: Itatiaia, 2000).

[4] Uma rivalidade que parece incongruente, como bem capturado na pergunta retórica de Neil Postman: “Quem está pronto para pegar em armas contra um mar de distrações?”. Neil Postman, Amusing Ourselves to Death: Public Discourse in the Age of Show Business (New York: Penguin, 2005), 156.

[5] David Lipsky e David Foster Wallace, Although of Course You End Up Becoming Yourself: A Road Trip with David Foster Wallace (New York: Broadway Books, 2010), 82.

[6] “Em outras palavras, seres criados não possuem hábitos, mas são hábitos e leis. Edwards escreveu que “a essência [de uma alma] consiste em poderes e hábitos”. Resumo de Sang Hyun Lee’s in Kenneth P. Minkema, Harry S. Stout, Adriaan C. Neele, eds., The Jonathan Edwards Encyclopedia (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2017), 271.

[7] 1Jo 2.15-17.

[8] David Platt, “Unveiling His Glory”, sermão, 16 mar. 2008, radical.net.


Autor: Tony Reinke

Tony Reinke é autor de livros e escritor e apresentador do Ask Pastor John no Desiring God.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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