A forma como lidamos com o dinheiro revela o que nosso coração valoriza. A Bíblia tem muitas passagens que nos instrui sobre o tema dinheiro. Neste artigo, separamos 10 versículos-chave sobre o ensino da Bíblia acerca do dinheiro com comentários adaptados da nossa Bíblia de Estudo da Fé Reformada com Concordância.
1. Números 3.48-49
“E darás a Arão e a seus filhos o dinheiro com o qual são resgatados os que são demais entre eles. Então, Moisés tomou o dinheiro do resgate dos que excederam os que foram resgatados pelos levitas.”
Os primogênitos israelitas do sexo masculino têm de ser redimidos, devotando-se aos levitas para o serviço de Deus. Dá-se dinheiro para redimir o excesso do número dos primogênitos do sexo masculino (vv. 46-49).
2. Provérbios 3.9–10
“Honra ao Senhor com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão fartamente os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares.”
Honra é ter alguém em alta conta.
O poeta se move do geral (riqueza material) para o específico – bens… primícias – (a melhor parte da riqueza de alguém). Honrar a Deus com o uso correto de coisas materiais expressa gratidão por seu favor e reconhece que ele controla a ordem natural e seus processos.
Os três produtos básicos para o agricultor israelita da antiguidade eram
cereal, vinho e óleo (Dt 11.14; 12.17; Os 2.8; Jl 2.24). Celeiros cheios de cereal e lagares cheios de vinho simbolizam prosperidade em todos os níveis.
3. Jeremias 9.23-24
“Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; a porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.”
Sabedoria, força e riqueza são as coisas naturais em que os seres humano pecaminosos depositam sua confiança. Mas nenhuma delas pode resistir ao derramamento da ira de Deus.
Em última análise, ter sabedoria é conhecer pessoalmente a Deus, e não de modo abstrato. O cristão se gloria na cruz de Jesus Cristo (1Co 1.18-31).
Essas três qualidades do Senhor: misericórdia, juízo e justiça, são reveladas e praticadas na aliança.
Nota teológica: Conhecimento de si mesmo e conhecimento de Deus
Há uma dependência mútua entre nosso conhecimento de nós mesmos e nosso conhecimento de Deus. Tão logo eu tomo consciência de mim como pessoa, compreendo que não sou Deus; sou uma criatura. Eu tenho uma data de nascimento, um momento no qual minha vida começou na terra. Por ocasião da minha morte, a lápide não anunciará a eternidade como meu ponto de partida.
Minha consciência de ser uma criatura impele meu pensamento de volta ao meu Criador ou “para cima”, ao meu Criador. Não posso contemplar Deus ou qualquer outra coisa fora de mim mesmo se não estou, antes de tudo, consciente de mim mesmo. Não posso assimilar plenamente o que eu mesmo significo se não entendo a mim mesmo em relação a Deus. Portanto, em última análise, a antropologia, o estudo da humanidade, é uma subdivisão da teologia, o estudo de Deus.
A crise da humanidade moderna está na ruptura entre a antropologia e a teologia, entre o estudo dos seres humanos e o estudo de Deus. Quando nossa história é contada de forma isolada ou divorciada da história de Deus, torna-se, realmente, “uma história contada por um idiota, cheia de barulho e fúria, sem significado algum”. Quando somos considerados sem referência a Deus, tornamo-nos uma “paixão inútil”, como declarou o filósofo Jean-Paul Sartre.
O que é uma “paixão inútil”? Uma paixão é um sentimento intenso. A vida humana é marcada por sentimentos intensos, incluindo paixões como amor, ódio, temor, culpa, ambição, cobiça, inveja, ciúme, entre inúmeras outras. Na condição de criaturas, temos sentimentos profundos a respeito de nossas vidas. A questão nos persegue: todos esses sentimentos são inúteis? Todos os nossos esforços e cuidados são apenas um exercício de futilidade, uma excursão de vaidade?
O significado de nossa vida está em jogo. Nossa dignidade está em risco. Se os seres humanos são considerados sozinhos, à parte do relacionamento com Deus, então eles permanecem sozinhos e são insignificantes. Se não somos criaturas feitas por Deus e a ele relacionadas, somos acidentes cósmicos. Nossa origem é insignificante, e nosso destino é igualmente insignificante. Se surgimos do lodo acidentalmente e, por fim, nos desintegramos em um vazio ou abismo de nada, então vivemos entre dois polos de insignificância absoluta. Somos piores do que nada, totalmente desprovidos de valor e dignidade.
Atribuir dignidade a um ser humano temporariamente, ou seja, entre os polos de uma origem sem significado e de um destino sem significado, implica render-nos a um sentimentalismo infundado. E iludimos a nós mesmos com autoengano.
Nossa origem e nosso destino estão vinculados a Deus. O único significado supremo que podemos ter deve ser teológico. A pergunta que fazemos é a mesma que o salmista fez: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres e o filho do homem, que o visites? Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste” (Sl 8.3-5).
Ser criado por Deus é estar relacionado a Deus. Esse relacionamento inevitável garante que não somos ruído ou sentimento inútil. Na criação, recebemos uma coroa de glória. Um coroa de glória é uma tiara de dignidade. Com Deus, temos dignidade; sem Deus, somos nada.
4. Marcos 10.21–23
“E Jesus, fitando-o, ao amou e disse: Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me. Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades. Então, Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!”
10.21 o amou. A ordem final de Jesus emana do desejo sincero de ver esse homem livre da ilusão da autojustiça e da escravidão a sua propriedade.
Só uma coisa te falta. O amor que o jovem sentia pelas riquezas (v. 22) e a recusa em renunciar a elas para seguir Jesus mostram que ele transgredia o maior de todos os mandamentos: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Dt 6.5; ver Mt 22.37). Com a ausência da justiça total que Deus requer, ele mesmo se condena.
Quão dificilmente entrarão… os que têm riquezas, essa dificuldade não se deve ao fato de as riquezas serem más ou de desqualificarem os que as possuem; ocorre que os ricos são tentados a depender de suas riquezas para sua segurança, tornando difícil para muitos deles admitir sua necessidade de Deus (ver 1Tm 6.9, 17).
5. Mateus 25.20–23
“Então, aproximando-se o que recebera cinco talentos, entregou outros cinco, dizendo: Senhor, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que ganhei. Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. E, aproximando-se também o que recebera dois talentos, disse: Senhor, dois talentos me confiaste; aqui tens outros dois que ganhei. Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.”
6. 1 Timóteo 6.7–10
“Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.”
Paulo pode estar aludindo à expressão de submissão de Jó à árdua providência de Deus, quando a riqueza e a família lhe foram tiradas.
O desejo por riqueza, assim como a busca por proeminência (3.6, 7), e a resistência obstinada à verdade (2Tm 2.25-26) armam uma cilada, que oculta o perigo letal por trás de suas aparências encantadoras.
7. Provérbios 11.28
“Quem confia nas suas riquezas cairá, mas os justos reverdecerão como a folhagem.”
Quando as possessões são vistas como algo que garante a vida, Deus é excluído, bem como as relações com os outros. O resultado é uma vida de qualidade diminuída.
8. Eclesiastes 5.10–14
“Quem ama o dinheiro jamais dele se farta; e quem ama a abundância nunca se farta da renda; também isto é vaidade. Onde os bens se multiplicam, também se multiplicam os que deles comem; que mais proveito, pois, têm os seus donos do que os verem com seus olhos? Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco, quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir. Grave mal vi debaixo do sol: as riquezas que seus donos guardam para o próprio dano. E, se tais riquezas se perdem por qualquer má aventura, ao filho que gerou nada lhe fica na mão.
O pregador contrasta o insaciável amor ao dinheiro com o contentamento do labor honesto (1Tm 6.6-10): ama o dinheiro… Doce é o sono.
A busca do Pregador começou com vaidade (1.14) e agora termina com vaidade.
O Pregador pondera as tragédias das riquezas não usadas e perdidas. Aquilo que não é perdido em más aventuras deve ser deixado para trás na morte. Sem a perspectiva eterna, o labor terreno parece ser em vão.
A ideia de que o labor da vida é improdutivo, apresentada aqui como uma pergunta retórica, é afirmada de modo direto em 2.11.
A expressão “debaixo do sol”, que ocorre 26 vezes em Eclesiastes, é sinônimo de “debaixo do céu” e “sobre a terra”, referindo-se a vida tal como afetada adversamente pela queda (Introdução: Características e Temas Principais). O equivalente de Paulo é ”deste mundo perverso” (Gl 1.4, ARA). Sob a perspectiva de “debaixo do sol”, a vida é frequentemente frustrante e inexplicável. Em contraste, sob a perspectiva da ressurreição, o labor da vida não é em vão (Jo 6.27-29; 1Co 15.58).
9. Lucas 12.19–21
“Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite e pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus.”
De forma irônica, porém não surpreendente, tanto a cega complacência do fazendeiro em suas pompas como o lúgubre desespero do outro, privando-o da esperança futura (Is 22.12-14; 1Co 15.32), evocam a mesma resposta autoindulgente (cf. Lc 16.19-31).
O plano do fazendeiro de conservar sua colheita farta parece prudente e sábio, como o conselho que José deu ao Faraó do Egito (Gn 41.33-36; Pv 6.6-8). Todavia, ele exibe néscia miopia, depositando seu senso de segurança nos recursos materiais. Ele esquece que sua responsabilidade é para com Deus, o único que sustenta a vida, impõe a morte e lança os idólatras no inferno (v 8).
Acumular riqueza para com Deus acarreta generosidade para com os pobres (14.12-14; 16.1-13, 19-31). Expressar fé dessa maneira equivale a “acumular tesouros no céu” (Mt 6.19-21).
10. Provérbios 28.19–27
“O que lavra a sua terra virá a fartar-se de pão, mas o que se ajunta a vadios se fartará de pobreza. O homem fiel será cumulado de bênçãos, mas o que se apressa a enriquecer não passará sem castigo. Parcialidade não é bom, porque até por um bocado de pão o homem prevaricará. Aquele que tem olhos invejosos corre atrás das riquezas, mas não sabe que o há de vir sobre ele a penúria. O que repreende ao homem achará, depois, mais favor do que aquele que lisonjeia com a língua. O que rouba a seu pai ou a sua mãe e diz: Não é pecado, companheiro é do destruidor. O cobiçoso levanta contendas, mas o que confia no Senhor prosperará. O que confia no seu próprio coração é insensato, mas o que anda em sabedoria será salvo. O que dá ao pobre não terá falta, mas o que dele esconde os olhos será cumulado de maldições.
Uma observação das condições na sociedade hebraica, e não uma atitude constante de todos os servos (cf. 18.23 e nota). As aplicações educacionais da sabedoria estão em vista aqui, com o reconhecimento de que nem todas as disposições podem ser alteradas apenas por palavras ou argumentos.
Naquilo que talvez seja uma leitura melhor, a Septuaginta traduz como “por fim ele causará tristeza”. Os servos que não são corrigidos e disciplinados serão fonte de tristeza (v. 19).
O pecado do orgulho não permite ao insensato beneficiar-se da sabedoria de outra pessoa.
A sabedoria reconhece a função especial dos governantes em manter a boa ordem e, assim, ser agentes do governo de Deus (21.1, nota). Também reconhece a fraqueza dos governantes humanos. Aqui, o suplicante busca tratamento especial que envolve injustiça. O único caminho seguro para a justiça é buscá-la no Senhor.
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