domingo, 17 de novembro
Home / Artigos / 2 aspectos da ordenação ministerial: importância e tempo

2 aspectos da ordenação ministerial: importância e tempo

Na maioria das denominações ou igrejas, aqueles que têm cargos importantes são reconhecidos quando são designados para um ofício. As questões diante de nós são: como devemos entender a importância desse ato e quando ele deveria ser realizado?

A importância da ordenação

Para que discutamos a importância do reconhecimento público de uma pessoa que tem cargo importante, precisamos olhar para os diferentes termos usados no Novo Testamento para descrever esse processo. Lemos em Atos 14.23 que Paulo e Barnabé “elegeram presbíteros” em cada igreja em várias cidades da Ásia Menor. O termo grego traduzido para “eleger” é cheirotonço, que é composto das palavras “mão” (cheir) e “estender” (teinô). No grego clássico, a palavra significava “escolher” ou “eleger”, originalmente ao levantar a mão. Atualmente, entretanto, o elemento da “mão” se tornou uma metáfora morta”#1”.

Assim, no grego bíblico, cheirotonço simplesmente significa eleger alguém para um ofício ou designar alguém para uma tarefa específica. A única outra ocorrência do verbo no Novo Testamento é encontrada em 2Coríntios 8.19, onde um irmão bem apresentado foi “eleito pelas igrejas” para acompanhar Paulo em sua jornada. Está claro nesses termos que cheirotonço significa designar ou eleger alguém para uma posição#2. Não obstante, no grego da era patrística, veio significar novamente “ordenar com a imposição de mãos”. Por causa desse uso posterior, alguns intérpretes leem esse significado no Novo Testamento e mantém que Paulo e Barnabé ordenavam homens para o ofício de presbítero pela imposição de suas mãos, indicando algum tipo de reunião especial de autoridade ou poder eclesiástico. Apesar da imposição de mãos ser geralmente associada com o apontamento de presbíteros, o autor transmite tal significado por usar um termo diferente. Por exemplo, quando Lucas quer falar da imposição de mãos, ele usa o verbo epitithçmi mais o nome “mão” (cheir) (Atos 6.6; 8.17, 19; 9.12, 17; 13.3; 19.6; 28.8; veja também 1Timóteo 5.22). Outros alegam que a palavra cheirotonço significa “votar” no contexto de Atos 14.23. Apesar de ser um significado possível do verbo, não é provável que seja baseado no contexto. Paulo e Barnabé elegeram, não votaram, os presbíteros da igreja.

O outro verbo usado para transmitir a ideia de “eleger” é encontrado em Tito 1.5 quando Tito é exortado por Paulo para “constituíssem [kathistçmi] presbíteros em cada cidade”. Em ambas situações, no grego clássico e no grego bíblico, kathistçmi é usado com o significado de eleger alguém para um ofício. Por exemplo, Jesus perguntou a alguém: “quem me constituiu juiz ou partidor entre vós?” (Lucas 12.14). Também lemos acerca de como o Faraó demonstrou favor a José: “que o constituiu governador daquela nação e de toda a casa real” (Atos 7.10).

A imposição de mãos é geralmente associada com a eleição ou comissionamento de alguém para um ofício específico ou tarefa. Os sete que foram escolhidos para servir a igreja para aliviar as responsabilidades dos apóstolos foram apresentados “perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos” (Atos 6.6). Na igreja de Antioquia, o Senhor escolheu Barnabé e Paulo para realizar uma tarefa especial: “Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram” (Atos 13.3). Em outro contexto, Timóteo é exortado por Paulo para não negligenciar o dom que foi dado a ele “mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério”#3 (Atos 14.4). Deveria ser notado que ali o corpo inteiro de presbíteros impôs suas mãos e elegeu Timóteo para o serviço e não somente um presbítero ou bispo. Finalmente, Paulo adverte a Timóteo: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos” (1Timóteo 5.22). Apesar de Paulo não especificar a designação pública de alguém para o ofício de presbítero, o contexto lida exclusivamente com presbíteros#4.

Oração e jejum também são associados com a seleção e eleição de líderes. Os apóstolos seguiram o exemplo de Jesus que orou toda noite antes de escolher seus 12 discípulos, os apóstolos (Lucas 6.12-13). Depois que a igreja selecionou os sete, lemos que os apóstolos oraram “impondo-lhe as mãos” (Atos 6.6). Similarmente, quando Barnabé e Paulo foram eleitos como missionários, a igreja jejuou, orou e então os enviaram (Atos 13.3).

O Novo Testamento nunca usa a palavra “ordenar” (no sentido moderno e técnico) em conexão com um líder cristão que é designado para um ofício#5. Assim, geralmente leva a um mal-uso do termo “ordenar” em nosso contexto moderno, se alguém tiver em mente o conceito bíblico de eleição pública ou designação para um ofício. Hoje em dia, a palavra “ordenar” carrega consigo a ideia de que uma graça especial é transferida através do ato de impor as mãos. Diferente da tradição episcopal que alega que a autoridade do ofício vem do bispo e é passada para quem é eleito pela imposição de mãos, a autoridade do ofício vem de Deus, que chama e concede dons a homens para liderar sua igreja (Atos 20.28; 1Coríntios 12.28; Efésios 4.11). O Novo Testamento não ensina que aqueles escolhidos para liderar a igreja são “ordenados” para um ofício sagrado e sacerdotal. Ele não ensina que somente os chamados “ordenados” homens do clero possuem o direito de pregar, batizar e conduzir a Ceia do Senhor, ou pronunciar uma benção.

É o dever da igreja reconhecer aqueles a quem Deus separou para essa importante tarefa. Grudem comenta: “Se alguém é convencido que a igreja local deveria selecionar presbíteros, então pareceria apropriado que a igreja que elegeu aquele presbítero – não um bispo externo – deveria ser o grupo que outorga o reconhecimento externo da eleição ao designar a pessoa em um ofício ou ordenar o pastor”#6. Strauch adverte contra o entendimento da eleição de presbíteros à luz do sacerdócio do Velho Testamento:

“Presbíteros e diáconos não são eleitos para um ofício sacerdotal especial ou uma ordenação clerical santa. Em vez disso, eles estão assumindo ofícios ou serviços de liderança entre o povo de Deus. Deveríamos ser cuidadosos para não sacralizar essas posições mais do que os escritores da Bíblia o fazem. O Novo Testamento nunca acoberta a designação de presbíteros em um mistério ou ritual sagrado. Não há rito sagrado para realizar ou cerimônia especial para cumprir. A eleição de presbíteros não é um santo sacramento. A eleição não confere graça especial ou fortalecimento, nem faz alguém se tornar padre, clérigo ou homem santo no momento da designação.”#7

O tempo da ordenação

É comum que as pessoas recebam o título de “pastor” sem terem sido ordenadas. Porém, se a análise acima estiver correta, então ser um “pastor” da forma correta (ou diácono) é ser “ordenado” no sentido de ser designado publicamente para esse ofício. A ideia de separar o título do ato público de comissionamento não é achada na Bíblia. Presbíteros não são eleitos para um ofício depois de se tornarem presbíteros. Mas ao se tornarem presbíteros, eles são eleitos para o ofício.

Assim, ser eleito para o ofício de presbítero implica que um homem possui as qualificações bíblicas, tem sido chamado por Deus, tem sido aprovado pela congregação e consequentemente tem sido reconhecido publicamente como aquele que possui o ofício. Não necessariamente implica que ele trabalha de tempo integral para a igreja ou foi para o seminário. Em vez disso, significa que Deus tem chamado e dotado uma pessoa para a liderança humilde da igreja. Também é sem precedente bíblico chamar alguns líderes da igreja de “pastores” antes da ordenação e então “reverendo” ou “ministro” depois da ordenação.

Sumário

Presbíteros deveriam ser “ordenados” se pela ordenação nós simplesmente queremos dizer reconhecimento público de alguém para um ofício e ministério particular. Talvez um termo mais apropriado e bíblico seria “eleição” ou “comissão”. A eleição para um ministério era geralmente acompanhada por oração, jejum e imposição de mãos. Esses atos públicos atraem a atenção para a seriedade e importância da eleição. Ademais, presbíteros deveriam ser eleitos tão logo quanto assumissem seus ofícios.

Notas:

#1. Portanto, é improvável que o verbo signifique “ser eleito pelo voto popular”. Veja J. M. Ross, “The Appointment of Presbyters in Acts xiv. 23,” Expository Times 63 (1951): 288–89; Strauch, Biblical Eldership, 137–39.

#2 Para um uso similar, veja Philo, De Specialibus Legibus 1.14.78.

#3 Mais tarde, Paulo indica que o dom foi dado a Timóteo através da imposição das suas mãos, o que provavelmente indica que Paulo estava distante do conselho de presbíteros mencionado em 1Timóteo 4.14.

#4 A imposição de mãos também é encontrada em conexão com aqueles que recebiam o Espírito (Atos 8.17, 19; 19.6) e aqueles que recebiam cura (Atos 9.12, 17; 28.8)

#5 Banks, por exemplo, escreve: ”Ordenação, como conhecemos, não aparece simplesmente nas epístolas paulinas” (R. Banks, “Church Order and Government”, in Dictionary of Paul and His Letters, eds. Gerald F. Hawthorne, Ralph P. Martin, and Daniel G. Reid [Downers Grove, IL: InterVarsity, 1993], 135).

#6 Grudem, Systematic Theology, 925.

#7 Strauch, Biblical Eldership, 285.


Autor: Benjamin L. Merkle

Benjamin L. Merkle é Professor Associado de Novo Testamento e Grego no Southeastern Baptist Theological Seminaryem Wake Forest, Carolina do Norte, EUA. É o autor de 40 Questions about Elders and Deacons (Kregel, 2008, sem tradução em português) e Why Elders? A Biblical and Practical Guide for Church Members (Kregel, 2009, sem tradução em português).

Parceiro: 9Marks

9Marks
O ministério 9Marks tem como objetivo equipar a igreja e seus líderes com conteúdo bíblico que apoie seu ministério.

Ministério: Ministério Fiel

Ministério Fiel
Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

Veja Também

pregação expositiva

A idolatria à pregação expositiva e a falta de oração

Veja neste trecho do Episódio #023 do Ensino Fiel os perigos da frieza espiritual e idolatria a conceitos, como por exemplo, à pregação expositiva.