Eu pastoreio uma igreja comum em uma extraordinária parte do mundo. Minha cidade, Ras Al Khaimah, fica nos Emirados Árabes Unidos. Trata-se de um lugar extraordinário, porque está situado perto da extremidade da Península Arábica, e há cinco anos o xeique governante concedeu terra para a construção de uma igreja evangélica aqui.
Ainda assim, a igreja que foi plantada aqui é comum. Felizmente, o que marca nossa igreja é o que caracterizaria qualquer igreja fiel em qualquer parte do mundo.
Então, se você chegou a este artigo procurando uma nova técnica ou dicas sobre como desenvolver e fortalecer o seu “negócio”, ficará desapontado. Como a igreja é a demonstração da sabedoria de Deus, devemos ter cuidado para que nossos trabalhos em busca de seu crescimento e saúde não derivem da sabedoria do homem, mas de Deus. As finalidades centradas em Deus são realizadas pelos meios dados por Deus.
Portanto, plantador de igrejas, antes de fazer qualquer outra coisa, você deve priorizar essas três: paciência, oração e pregação.
Paciência
Entre as muitas ilustrações que encontramos na Escritura para o trabalho do ministério, um princípio comum é a necessidade de paciência na obra do reino. Pense no semeador que semeia a sua semente (Marcos 4.14; Tiago 5.7).
Desde o início, os cristãos sempre foram caracterizados como pessoas que esperam, como muitos de nossos pais “morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe” (Hebreus 11.13). Servimos ao Deus que vê o fim desde o início, que recebe uma glória particular ao usar o que parece pequeno e inexpressivo para este mundo e, lentamente, fazê-lo crescer em algo surpreendente, o que só pode ser explicado pelo seu poder (Zacarias 4.10; Mateus 13.31-32). Entre outras coisas, o drama da história redentora provará definitivamente que Deus foi incrivelmente paciente tanto com as suas criaturas quanto com a sua grande obra de salvação.
À medida que pensamos na plantação de igrejas, devemos nos recusar a avançar rapidamente quando apraz ao nosso Deus se mover lentamente. Embora isso possa não se encaixar no estilo de nossa cultura e tempos, cremos que a mudança profunda e duradoura que está enraizada no evangelho não acontece durante uma noite. Sim, nosso Deus concede progressos e avivamentos. Mas para que esses momentos sejam genuínos e duradouros, eles devem vir nos termos de Deus e por seus caminhos.
A paciência pastoral exige que trabalhemos pela fé, confiando que nosso Deus sabe como propagar e proteger o evangelho melhor do que nós. Por exemplo, quando um pastor amigo meu começou a trabalhar em sua nova igreja, a congregação ainda não estava pronta para receber os ensinamentos da Bíblia sobre os presbíteros. Ao invés de apressar a igreja para onde eles “precisavam” estar, ele esperou pacientemente — por dez anos! Ele sabia que seria errado dividir a igreja sobre essa questão, então liderou ensinando e orando até que a igreja estivesse pronta. Agora, essa igreja está prosperando sob a sua liderança e com muitos frutos.
Plantadores de igrejas, priorizem a paciência.
Oração
Charles Spurgeon chamou a reunião de oração de “a usina de força da igreja”. Se essa reunião é boa para a igreja, certamente será boa para o plantador de igrejas.
De todos os bons esforços que os apóstolos poderiam ter feito na igreja primitiva, tanto “quando os discípulos cresciam em número” quanto quando houve conflito entre os helenistas e os hebreus sobre a negligência das viúvas, o que eles fizeram? Eles se dedicaram “à oração e ao ministério da palavra” (Atos 6.1, 4). A oração foi fundamental para a escolha dos primeiros diáconos (Atos 6.6), a evangelização (Atos 4.31), a libertação de Pedro da prisão (Atos 12.5, 12), a força em meio ao sofrimento e a prisão (Atos 16.25), a saúde da igreja de Éfeso e de seus líderes (Atos 20.36) e a obra geral de Deus no avanço do evangelho.
Se a sua visão para plantar uma igreja não inclui um compromisso com a oração pública e privada, sua visão precisa ser corrigida. Quando a “sabedoria” nova e inovadora é mais valorizada do que a sabedoria das eras, estamos nos sujeitando sutilmente à astúcia humana e, portanto, diminuindo a nossa necessidade urgente de orar pelo poder de Deus. Se nossos esforços para plantar igrejas não são atendidos por uma oração constante, disciplinada e privada, então, por que razão devemos pensar que nossas igrejas irão além da nossa geração e continuarão nas futuras?
O problema de confiar muito em técnicas, modelos ou métodos de plantação de igrejas que fazem sentido em um momento cultural específico é que nosso momento cultural em breve passará e cederá lugar a outro. Então, se você planta a sua igreja enquanto confia em toda a sabedoria que este momento cultural atual pode lhe oferecer, saiba que ela está propensa a desaparecer com o passar do tempo.
Considere, em vez disso, como agrada a Deus expor a sabedoria deste mundo em sua loucura (1 Coríntios 3.19). Não sendo visto por este mundo, um compromisso constante com a oração é visto pelo nosso Deus que se agrada não somente em ouvir, mas também em agir.
Plantadores de igrejas, priorizem a oração.
Pregação
Enquanto o apóstolo Paulo padecia em uma prisão romana esperando ser executado pelo Estado, ele precisou considerar com atenção o conselho que deveria dar a Timóteo sobre o futuro da igreja. De todos os conselhos que ele poderia ter dado, pode nos surpreender que ele tenha se restringido à pregação: “prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não” (2 Timóteo 4.2). Paulo depositou o futuro da igreja jovem, emergente e mesmo incipiente na proclamação da Palavra de Deus.
Quando você pensa sobre a plantação de uma igreja, será evidente que você é totalmente dependente da Palavra para edificar a igreja? A verdadeira igreja é edificada sobre a Palavra de Deus com pregação correta. Se isso não é o que está edificando principalmente a sua igreja, então talvez você precise perguntar se realmente plantou uma igreja.
Do início ao fim, as Escrituras deixam claro que Deus tem uma glória particular quando é evidente que a Palavra está criando e reunindo um povo. Dedicar tempo e atenção à pregação deixa claro onde a igreja está centrada. E, quando uma congregação se assenta sob a Palavra pregada, isso faz uma afirmação de que, no meio de um mundo em oposição a Deus, essa Palavra precisa ser ouvida e precisamos nos humilhar diante dela. Nós, com alegria e cuidado, nos submetemos à Palavra de Deus revelada para conhecermos e fazermos conhecido o Deus que se revela na Palavra.
Então, plantadores de igrejas, priorizem a pregação, percebendo que enquanto o fazem, se entregam aos meios biblicamente seguros que o próprio Deus prometeu abençoar no tempo.
Conclusão
Nos últimos quatro anos e meio, tenho trabalhado para plantar uma igreja bíblica em uma parte do mundo que precisa desesperadamente de um testemunho do evangelho. Embora seja um lugar extraordinário para plantar uma igreja, o trabalho de plantação tem sido bastante comum. Embora a igreja deva sempre estar se reformando, a reforma ocorre de modo ruim quando a sabedoria revelada da Escritura é marginalizada para dar espaço à sabedoria pragmática mais recente.
Assim, plantadores de igrejas, enquanto pacientemente “pregam e oram, amam e permanecem”, verão que suas igrejas foram plantadas no solo fértil que produz frutos bons e duradouros.
Tradução: Camila Rebeca Teixeira
Revisão: André Aloísio Oliveira da Silva
Original: The Priority of Patience, Prayer, and Preaching in Church Planting