domingo, 17 de novembro
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6 razões que fazem a membresia aberta parecer correta

Para muitos cristãos hoje, parece quase óbvio afirmar que nenhum cristão verdadeiro deve ser excluído da membresia da igreja porque foi “batizado” quando infante, e não como crente. Argumentar contra isso parece limitado e arbitrário. Mas, por quê? Este é o assunto que vou expor aqui.

Na sequência, esboço seis razões por que a membresia aberta parece, de maneira intuitiva, a mais correta, e a membresia fechada, da mesma forma, a errada. Tento mostrar por que esses fatores não devem decidir a questão de forma precipitada.

Este capítulo prepara o terreno para assegurar que obtenhamos um plano suave e nivelado, e então construir um caso bíblico e teológico para o motivo pelo qual o batismo é necessário para a membresia.

Seis razões que fazem a membresia aberta[1] parecer correta

Primeiro, deixe-me ressaltar que não estou afirmando que nenhum desses seis fatores explica o motivo pelo qual um defensor da membresia aberta sustenta esta posição. Também não estou acusando ninguém de deixar a emoção ou o instinto conduzir a sua teologia, embora eu entenda que é um perigo do qual todos precisamos nos proteger neste debate. Em vez disso, ofereço algumas razões para que esta posição seja tão plausível hoje, e registro algumas críticas sobre essas estruturas de plausibilidade.

Assim, este capítulo é um exercício de análise crítica dos aspectos da cosmovisão evangélica predominante, da cultura geral que a dissemina e das pressões únicas que os batistas sentem por causa de ambas. É uma tentativa de ajudar o peixe a notar as condições da água em que vive, e que para ele são as mais adequadas.

As seis estruturas de plausibilidade para a membresia aberta que gostaria de contestar são: (1) A cultura atual de tolerância; (2) um pêndulo se movendo entre a disciplina da igreja e as divisões denominacionais; (3) o DNA cooperativo dos evangélicos; (4) essencialismo evangélico; (5) o avanço do secularismo e a necessidade de união; (6) ninguém gosta de ser o excluído. Essas seis estruturas de plausibilidade interligam-se de muitas maneiras, algumas das quais examinarei enquanto prosseguimos.

1.    A cultura da tolerância

Não é uma grande revelação dizer que a nossa cultura valoriza a tolerância, ou talvez eu deva dizer “tolerância”. Por outro lado, no Ocidente existe hoje uma preocupação generalizada pelos direitos dos indivíduos, liberdade da opressão e igualdade de tratamento diante da lei. Tudo isso é uma bênção, um presente da graça perfeita de Deus. Por outro lado, a própria tolerância ironicamente tornou-se um regime opressivo e hostil. Como diz D. A. Carson:

“Embora algumas coisas possam ser ditas a favor da nova definição, a triste realidade é que essa nova tolerância contemporânea é intrinsecamente inerente. É cega para suas próprias deficiências porque erroneamente pensa que detém a moral elevada; não pode ser questionada porque se tornou parte da estrutura de plausibilidade do Ocidente. Pior, esta nova tolerância é socialmente perigosa e certamente debilitante intelectualmente.”

Quando a tolerância se torna absoluta, passa a ser pecado excluir alguém de qualquer coisa por qualquer motivo. É claro que os cristãos se opõem a essa tolerância totalitária de inúmeras formas, uma vez que servimos a um Deus que tanto julga como salva e, de fato, salva através do julgamento. No entanto, seria tolice presumir que a cultura mais ampla de tolerância não ajustou a nossa bússola moral.

Mas qual a relação disso com a exigência do batismo para a membresia? Nossa cultura considera praticamente qualquer ato de exclusão injusto. Portanto, a menos que exercitemos deliberadamente os músculos morais que a nossa cultura nos inclina a negligenciar, deixar alguém de fora da membresia de uma igreja por algo aparentemente tão trivial quanto o batismo parecerá não apenas intolerante, mas mesquinho.

Além disso, o regime de tolerância enfraqueceu o próprio conceito da palavra, ao passo que a tolerância não pode coexistir com qualquer grau de desaprovação. Por exemplo, se você desaprova a homossexualidade por motivos morais, você é intolerante, e ponto final. Transferindo para o nosso debate eclesiológico, essa tolerância instintiva torna a membresia fechada uma opressão, e não uma consequência justa de discordância baseada em princípios. As gerações anteriores de cristãos podiam tolerar as opiniões uns dos outros, como era comumente dito, “apertando as mãos sobre cercas baixas”. Mas a tolerância moderna não ficará satisfeita até que as cercas caiam completamente. Somente a aceitação e a aprovação completas farão isso.

Desta forma, um motivo para que a exigência do batismo para a membresia pareça intuitivamente intolerante, é que muitos de nós absorveram uma noção redefinida de tolerância. Porém, assim como não podemos permitir que a acusação de intolerância de nossa cultura determine nossa ética sexual, não devemos permitir que um julgamento semelhante nos prejudique contra a exigência do batismo para a membresia. Se você quer argumentar em bases bíblicas que exigir o batismo para a membresia é divisivo, assim seja. Abordarei esses argumentos no devido tempo. Por enquanto, basta observar que os conceitos de tolerância culturalmente herdados não devem se antecipar a uma discussão bíblica sobre as qualificações para a membresia da igreja local. Se algo cheira intolerante, é possível que fale mais sobre nosso senso de tolerância do que sobre a coisa em si.

2.    Um pêndulo se movendo entre Disciplina e Divisões Denominacionais

Um segundo fator que contribui para um apelo intuitivo à membresia aberta é um pêndulo histórico se movendo entre os Batistas da Convenção do Sul e outros evangélicos acerca da disciplina da igreja e das divisões denominacionais. Como

Gregory Wills habilmente narra em seu livro Democratic Religion, a disciplina da igreja era uma característica definidora das igrejas Batistas do Sul durante a maior parte do século XIX. Desvios da verdade e da santidade requeriam correção, e, em alguns casos, correção pública. E o pecado impenitente ou escandaloso resultava na excomunhão – exclusão da igreja. Como Wills documenta, as igrejas batistas na pré-guerra civil da Geórgia excomungaram quase 2% de seus membros todos os anos, porém cresceram mais que o dobro da taxa da população. No entanto, após a Guerra Civil, a disciplina da igreja declinou até praticamente desaparecer da vida batista do sul no final do século XIX.

Em que sentido esse declínio é um pêndulo? Eu penso que ao longo do período dos escritos de Will, os batistas mudaram de muito rígidos para muito negligentes, de exclusivos demais para inclusivos demais. É possível perceber isso em duas frentes relacionadas, a primeira delas é a moral. Os primeiros batistas do Sul, junto com os presbiterianos e metodistas, excomungavam os membros por dançar, o que era visto como uma “diversão vã”. No entanto, à medida que a dança se tornava cada vez mais popular, especialmente entre os jovens, as igrejas se tornaram mais hesitantes em excomungar seus membros por esse motivo. Acrescente à mistura uma preocupação crescente com eficiência e progresso, e o resultado foi que a prática exclusiva da disciplina da igreja, foi discretamente descartada. E, nos últimos cem anos, a disciplina da igreja continuou a desaparecer até o ponto em que, até recentemente, encontrar uma igreja que a praticava era como entrar no Jurassic Park. Se disciplinar por dançar pode ter sido muito rigoroso, abandonar totalmente a disciplina é a definição de extrema negligência.

Esta negligência à disciplina da igreja, que caracteriza não somente os Batistas do Sul, mas a maioria das igrejas evangélicas de hoje, é um fator muito importante para que a membresia aberta simplesmente pareça correta. Se não temos o hábito de excluir ninguém da igreja por qualquer motivo, por que excluiremos por causa do batismo? Se um adúltero pode ficar, por que manter um pedobatista fora? Uma outra frente na qual os Batistas do Sul talvez estejam se movendo de exclusivos demais para inclusivos demais, é a questão das divisões denominacionais. Batistas do Sul consistentemente excomungaram membros que procuravam se unir a igrejas presbiterianas ou metodistas, já que “deixar uma igreja batista era deixar a fé”. Esses batistas consideravam que permitir que um membro se juntasse a um desses corpos era “endossar os erros de outras denominações”. Contudo, na década de 1920, seguindo o exemplo anterior de suas contrapartes do Norte, a maioria dos Batistas do Sul simplesmente retirou alguém do rol de membros quando eles se juntaram a outra denominação, ao invés de excomungá-los.

Hoje, é mais fácil morrer do que tirar seu nome do rol de membros de uma Igreja Batista do Sul. Entre outras coisas, isso quer dizer que as igrejas Batistas do Sul de hoje normalmente não têm um grande interesse em saber para que tipo de igreja os membros que saem estão indo, e se estão indo para alguma.

Embora a relação possa ser distante para alguns, os credobatistas americanos contemporâneos são todos, em algum sentido, descendentes de batistas anteriores, seja do Norte ou do Sul. Com isso em mente, acredito que as atitudes atuais sobre a unidade da igreja e a comunhão pegam a mesma trajetória e a levam adiante. Enquanto os batistas anteriores viam os distintivos eclesiásticos como dignos de excomunhão, os credobatistas contemporâneos relutam em torná-los uma condição para a membresia. Após gerações de guerra interdenominacional, os credobatistas contemporâneos são cautelosos em erigir quaisquer limites entre as igrejas. Em suma, uma transição semelhante ocorreu com divisões denominacionais e disciplina. O fato de essas duas questões terem mudado na mesma direção praticamente ao mesmo tempo deve ao menos nos fazer parar e pensar.

Tanto a antiga exclusividade quanto a nova inclusão têm seus problemas. A posição anterior dos Batistas fracassa, por desconsiderar um irmão genuíno, ainda que errante. Excomungar alguém em questões de batismo e governo é implicar que as visões Presbiteriana ou Metodista sobre esses assuntos são equivalentes à heresia, que são incompatíveis com uma profissão cristã. E os batistas do século XIX alegaram que, por causa de sua doutrina falsa do batismo, as “igrejas” presbiterianas e metodistas não eram verdadeiras igrejas. Os batistas contemporâneos estão certos em rejeitar o raciocínio que implica que presbiterianos não são cristãos e suas congregações não são igreja.

Todavia, acredito que o pêndulo se moveu para longe demais. Se os batistas anteriores se recusaram a reconhecer um corpo presbiteriano como uma igreja verdadeira, alguns batistas contemporâneos parecem sentir que é errado termos igrejas separadas. Se os batistas mais antigos eram rápidos demais para chamar os Presbiterianos de anátemas, alguns batistas de hoje são rápidos demais para jogar nossos distintivos ao mar.

Considere uma reação comum à Conferência bienal “Together for the Gospel”, cujos líderes incluem ministros batistas, presbiterianos e não-denominacionais. Um dos objetivos da conferência é mostrar a unidade que esses irmãos podem desfrutar no evangelho. No entanto, muitos consideram tal unidade uma farsa, uma vez que esses homens não podem se sentar juntos à mesa do Senhor. Em outras palavras, a unidade parcial não é unidade. No entanto, Ligon Duncan, o presbiteriano do grupo, está feliz por ter comunhão com os batistas que não o admitem na Ceia do Senhor:

Eu aprecio a convicção de um batista que (…) argumenta vigorosamente que as pessoas que não foram batizadas como adultos crentes não são batizadas e, portanto, não devem ser bem-recebidas na membresia e na Ceia da igreja porque, nos dias de hoje, isso não soa bem para muitas pessoas. Somos inclusivos. Este Batista que não me deixa entrar em sua igreja é o Batista com quem eu quero ter comunhão. Em resposta a este exemplo específico, bem como ao contexto histórico mais amplo, considero que a unidade deve ser fundamentada na verdade. A unidade entre os cristãos é um bem e um dever, mas esse dever vem com condições. Não devemos nos unir com os falsos irmãos (1Co 5.11). Não devemos ter nada a ver com aqueles que pregam um evangelho diferente (Rm 16.17; 2Jo 10–11). Portanto, a união não é um comando geral, um imperativo categórico. Para isso há uma condição, que é a verdade.

Aqueles que dizem que o tipo de união do “Together for the Gospel” é uma farsa, estão simplesmente levantando a questão. Em vez disso, primeiro precisamos perguntar: dado um desacordo convicto sobre as questões que afetam a constituição de uma igreja, até que ponto a unidade é possível? Se a unidade não é fundamentada na verdade, ela ocorre às custas da verdade. E a unidade que sacrifica a verdade não é uma unidade cristã.

Os Batistas do Sul não são os únicos que passaram de extremamente rigorosos a extremamente negligentes, de exclusivos demais para indiscutivelmente inclusivos demais. Se perdemos o hábito de excluir os pecadores não arrependidos da membresia, tornar o batismo uma condição para ela parecerá triplamente estranho. E se os nossos antepassados batistas talvez tenham construído as paredes denominacionais muito altas, estamos relutantes até mesmo em construí-las, mesmo quando os blocos de construção são convicções bíblicas sobre assuntos de importância inescapável para as igrejas locais.

Para muitos, uma certa postura prática sobre a unidade da igreja é simplesmente aceita como determinação, não necessitando de justificação. No entanto, assim como muitas igrejas estão recuperando corretamente a prática da disciplina na igreja, também devemos dar nova atenção aos distintivos da igreja que podemos ter lançado com muita rapidez ao mar.

3.    DNA cooperativo dos evangélicos

A terceira razão para que a membresia aberta pareça intuitivamente correta é que a cooperação interdenominacional está ligada ao DNA dos evangélicos. Na medida em que se pode falar do evangelicalismo como um movimento, a expressão mais recente desse movimento foi decisivamente moldada pelo surgimento do que foi então chamado de “novo evangelicalismo” no pós-Segunda Guerra. Esses “novos evangélicos” construíram um ethos cooperativo como base de seu movimento em reação ao hiperseparatismo do fundamentalismo do qual emergiram. Como tal, eles enfatizaram os fundamentos evangélicos que eles tinham em comum e não os distintivos eclesiásticos que os dividiam. Isto deu forma concreta à grande quantidade de instituições para-eclesiásticas que surgiram após a guerra e definiram a paisagem do evangelicalismo por décadas: Fuller Seminary, NAE, Youth for Christ, Campus Crusade for Christ, Inter-Varsity Christian Fellowship, entre outros. E ainda que muito tenha mudado em setenta anos de história evangélica, a trajetória básica da cooperação, do terreno comum e do ativismo para-eclesiástico ainda permanece.

Um evangelicalismo que prioriza as “doutrinas centrais” e opera extensivamente através de organizações para-eclesiásticas tem pouca paciência para os distintivos da igreja que causam divisão. Ainda que não tenham essa intenção, os cristãos criados neste contexto podem ver quaisquer fontes de divisão como distrações contraprodutivas da missão real. Como tal, a membresia aberta se encaixa perfeitamente no ethos evangélico contemporâneo. De forma negativa, dividir “o que não é essencial” tornou-se um pecado fundamental para o evangelicalismo. Fechar a porta da igreja para pedobatistas que concordam conosco sobre praticamente todas as outras doutrinas? Não é esse o tipo de divisão que nos fez mudar da casa dos nossos pais fundamentalistas para escapar?

Uma armadilha desse tipo de pensamento é que ele define a identidade cristã em termos de algum “movimento” nebuloso, e não em termos de igreja local. E não há capítulo e versículo para o “evangelicalismo”, mas há muitos para a igreja local. A igreja local é onde nós cumprimos o “uns aos outros” bíblico. É o primeiro lugar onde provamos nosso amor a Cristo amando seu povo (1Jo 4.19–21). É onde nos submetemos e imitamos os presbíteros piedosos (1Ts 5.12; Hb 13.7, 17). É o corpo – eu diria o único corpo – que tem autoridade para declarar ao mundo quem pertence ou não ao reino de Cristo (Mt 16:18-19; 18:17-20). É onde celebramos as ordenanças do batismo e da Ceia do Senhor. A igreja local é a base para o discipulado cristão e a Grande Comissão. Se as prioridades bíblicas para as igrejas locais conflitarem com o que promoverá um “movimento”, as igrejas devem ajustar o movimento em vez de vice-versa.

É claro que isso está relacionado à nossa discussão anterior sobre um pêndulo na questão das divisões denominacionais. A mudança da separação fundamentalista para a cooperação evangélica é em si mesma uma oscilação de um pêndulo que espelha a trajetória Batista do Sul nas divisões denominacionais. E pouquíssimos evangélicos têm pensado seriamente sobre se esse movimento do pêndulo é de fato uma hipercorreção.

4.    Essencialismo evangélico

Uma quarta estrutura de plausibilidade da membresia aberta é o essencialismo evangélico que nosso DNA cooperativo nutre naturalmente. Por essencialismo evangélico, quero dizer o impulso de reduzir nossos compromissos doutrinários ao mínimo que é “essencial para a salvação” e prestar pouca atenção em qualquer outra coisa, muito menos causar divisão por outros motivos. Às vezes, a categoria “doutrinas essenciais” abrange uma gama ligeiramente mais ampla de crenças consideradas necessárias para preservar o próprio evangelho. Em suma, a inspiração e a inerrância da Escritura, a divindade de Cristo, a Trindade, a expiação substitutiva, a justificação pela fé somente, e a exclusividade e segunda vinda de Cristo tendem a fazer o corte. Muitos de nós, porém, destinam todo o resto para uma velha e empoeirada prateleira no sótão marcada como “não essencial”.

Por que somos essencialistas? Primeiro, porque a cooperação tende a exercer pressão para minimizar as diferenças. São raras a humildade e a graça para estabelecer uma parceria próxima, ainda que com fortes discordâncias. Um teste crucial de parceria é como você lida com as diferenças, e ignorá-las não é a marca de um relacionamento próspero. Em todo caso, nosso instinto cooperativo como evangélicos pode nos levar a pensar: “Se os homens bons discordam sobre uma doutrina, quão importante ela pode ser? Certamente não é importante o suficiente para dividirem-se.” Contudo, se o desacordo entre os evangélicos professos exclui a possibilidade de usar uma doutrina para qualquer uso prático, em breve ficaremos sem nenhuma doutrina que possamos efetivamente usar.

Outra razão pela qual somos essencialistas é que, em um grau ou outro, todos nós absorvemos de nossa cultura uma mentalidade profundamente pragmática. Os americanos modernos, e muitos de nossos vizinhos em todo o Ocidente pós-industrial, valorizam a eficiência. Para nós, o que importa é o que funciona. Se um compromisso doutrinário não parece ter um retorno prático imediato, descartamos isso, como se simplesmente excluíssemos um e-mail que não contenha “item de ação” aparente.

Uma razão final pela qual somos essencialistas é que reagimos de forma exagerada àqueles que ficam obcecados por questões que pouco importam. Vemos um cara com dois metros de gráficos de escatologia na parede do escritório e dizemos: “Não, obrigado. Eu só me importo com o evangelho.” É claro que o equilíbrio é importante. Se você pegar gripe, não aja como se estivesse sofrendo um ataque cardíaco. No entanto, se você foi ao seu médico com sintomas de gripe, você não gostaria de ouvir: “Não me envolvo em questões secundárias. Decidi tratar apenas ataques cardíacos.” Equilíbrio não significa ignorar completamente as doutrinas secundárias, mas colocá-las em seu devido lugar. O essencialismo evangélico pressupõe a membresia aberta como certa, já que entende o batismo como um item na lista de doutrinas “não essenciais” que não devem causar divisões. Para um essencialista, exigir o batismo para ser membro de uma igreja é nada menos do que elevar o batismo acima do evangelho. Se você concorda com o evangelho, mas deixa que o batismo atrapalhe a comunhão da igreja, então, por padrão, você tem suas prioridades fora de sintonia.

O problema básico com esse tipo de essencialismo é que o evangelho não é a única coisa que Deus nos diz em sua Palavra. O evangelho é o centro das Escrituras, o objetivo, o batimento cardíaco e muito mais. No entanto, o evangelho não é tudo o que Deus tem a dizer. As chamadas “questões secundárias” importam por si mesmas porque são importantes para Deus. Portanto, buscar obedecer fielmente aos mandamentos de Deus sobre questões secundárias não representa uma ameaça inerente aos problemas primários. Não é uma ameaça à sua saúde que você não apenas coma direito e se exercite, mas também use fio dental antes de dormir.

Além disso, o batismo não está desconectado do evangelho. Em vez disso, como veremos, o batismo é uma figura do evangelho e desempenha um papel na sua confirmação para o cristão, para a igreja e para o mundo. Dizer que precisamos sacrificar o batismo em prol do evangelho é como dizer que eu preciso negligenciar meus filhos para amar minha esposa. Assim, as chamadas “questões secundárias” são frequentemente importantes não apenas por direito próprio, mas também pelo papel de apoio que desempenham na preservação e propagação do próprio evangelho.

5.    O avanço do secularismo e a necessidade de união

Outra razão pela qual a membresia aberta é particularmente atraente hoje é que o secularismo continua o seu avanço militante, empurrando os cristãos evangélicos para mais longe das margens da sociedade. Numa cultura em que os cristãos são cada vez mais vistos como inimigos do bem comum, o batismo parece um peixe terrivelmente pequeno para ser frito. Não deveríamos estar procurando por alguma maneira possível de manter uma frente unificada? Não devemos valorizar trabalhar juntos mais do que brigar sobre quem está certo no batismo?

Para algumas igrejas, essa questão pode afetar sua sobrevivência. No Reino Unido, congregações pedobatistas e batistas da mesma cidade, ocasionalmente se fundiram porque, por conta própria, nenhuma delas podia pagar um pastor. Da mesma forma, se uma igreja batista pudesse apoiar apenas um ministério do evangelho em tempo integral aceitando membros pedobatistas, não serviria ao evangelho simplesmente flexionar o batismo? Isso não é um mal menor do que permitir que uma igreja fracasse por causa da insistência obstinada em princípio?

Claro, isso simplesmente levanta a questão. O batismo é ou não necessário para a membresia da igreja. Se não for, não devemos exigi-lo para a membresia se estamos cercados pelo secularismo ou escondidos no que resta do “Cinturão da Bíblia”. E se for, então devemos confiar que Deus é capaz de construir uma igreja de acordo com o projeto que ele mesmo escreveu. “Flexionar” um princípio em prol dos resultados pressupõe que finalmente está em nosso poder fazer a igreja crescer. No entanto, se você puder simplesmente apertar um botão que resulte no crescimento da igreja, então esse “crescimento” nunca será do tipo que realmente importa. Por isso, o crescimento e a força de uma igreja dependem da bênção soberana de Deus do começo ao fim. Não devemos ter medo de obedecer a um princípio bíblico que parece limitar o tamanho de nossas igrejas. E não devemos pensar que descartar um princípio bíblico resultará no tipo de crescimento que Deus está procurando. Certamente devemos nos esforçar por uma frente comum à medida que o secularismo se fecha ao nosso redor. No entanto, não devemos idolatrar a unidade. Se a unidade exige que sacrifiquemos uma convicção bíblica, é nosso conceito de unidade que precisa ser repensado, e não nossas convicções.

6.    Ninguém quer ser o “excluído”

A última estrutura de plausibilidade para a membresia aberta que eu quero contestar é que ninguém gosta de ser o homem estranho excluído. O que quero dizer é que essa questão coloca os batistas em uma posição única e pouco invejável. Para muitos de nossos irmãos pedobatistas, nossa postura tradicional sobre essa questão parece inexplicavelmente exclusiva. Dentro da tradição protestante tradicional, somos os únicos que têm a ousadia de sair por aí excluindo todos os outros das nossas igrejas só porque achamos que eles não estão batizados. Os batistas traçam uma linha mais estreita em torno da comunhão da igreja do que qualquer outra denominação. E o que nos dá o direito de fazer isso? Então nós, batistas, somos o homem estranho, e ninguém gosta de ser esse cara. Uma coisa é ser intolerante por ser cristão, e esse é um fardo que todos podemos suportar juntos. Mas ser chamado de intolerante com o batismo começa a fazer com que a membresia aberta pareça bastante atraente. Lidarei com essa questão mais detalhadamente no capítulo 9, quando responder a argumentos contra a exigência do batismo para a membresia. Por enquanto, farei apenas duas observações. A primeira é que, se o credobatismo é verdadeiro, os que são “batizados” como bebês não foram batizados. O batismo infantil, portanto, não é algum tipo de versão defeituosa do batismo, como um braço quebrado ainda é um braço. Em vez disso, o batismo infantil simplesmente não é batismo. Novamente, isso significa que nós, batistas, achamos que uma grande porção do mundo cristão não é batizada, ao passo que ninguém contesta que somos batizados. A assimetria aqui é apenas uma consequência necessária de nossas visões diferentes sobre o batismo. Para ser franco, isso não deveria nos surpreender.

Segundo, os pedobatistas que nivelam essa acusação são culpados precisamente do mesmo exclusivismo que condenam. Praticamente todas as igrejas pedobatistas exigem o batismo antes de receber os novos membros, contudo eles entendem que o “batismo” infantil é o batismo legítimo. Então poderíamos virar a mesa. Leitores pedobatistas, supondo que vocês tenham ficado incomodados depois que lhe mostrei a porta, considere a situação do Quaker evangélico ou membro do Exército da Salvação que quer se juntar à sua igreja. Ele acredita no mesmo evangelho que você. Ele vive uma vida piedosa. Você está convencido de que ele é um crente genuíno. Ele entende que foi batizado, pelo Espírito, na conversão, tornando desnecessário um ato de batismo nas águas. O que poderia justificar mantê-lo fora da sua igreja? Por que você bateria a porta na cara dele em razão de um desacordo de segunda ordem? Ele não está deliberadamente desconsiderando o mandamento do Senhor – longe disso. Com base em sua interpretação das Escrituras, ele está absolutamente convencido de que foi fiel ao ensinamento de Jesus. Então, por que você insiste em fazer do batismo uma condição para a membresia da igreja quando claramente não é essencial para a salvação?

Eu entendo que nós, batistas que defendemos a membresia restrita, não estamos fazendo nada diferente do que praticamente toda Comunhão Pedobatista faz com alguém que acredita ser batizado, mas que a igreja está convencida que de fato não é. Os resultados parecem diferentes, mas o princípio é o mesmo. Então, a acusação de divisão pode doer, mas não se sustenta.

Hora de começar a construir

Dediquei um bom espaço deste livro preparando o terreno porque esse debate tende a gerar calor emocional em excesso. Os ânimos normalmente não se exaltam quando se trata da autoria de Hebreus, mas quando exigimos batismo para a membresia da igreja a história é diferente. Portanto, neste capítulo, tentei desconectar algumas das fontes desse calor, além de abrir o caminho para meus argumentos, chamando a atenção para o apelo instintivo da membresia aberta. Este capítulo não substitui a dedicação aos argumentos da membresia aberta, todo o capítulo 9 é dedicado a essa tarefa. Em vez disso, procurei abordar reflexos intuitivos mais do que argumentos fundamentados. Se uma posição parecer errada, é fácil ignorar os argumentos a seu favor. Então, antes de expor o que eu acho que são argumentos convincentes em favor de exigir o batismo para a membresia na igreja, eu tentei garantir que não o rejeitássemos pelos motivos errados. Agora que o terreno está limpo, é hora de começar a construir. Primeiro, lançamos a fundação: uma teologia do batismo (uma boa parte dela).

[1] Membresia- aberta tem usado “não foi batizado de maneira apropriada” ou “não foram batizados  como entendemos a ordenança” para evitar se referirem às pessoas que eles admitem na membresia como “não batizados”.


Autor: Bobby Jamieson

Bobby Jamieson é editor assistente do Ministério 9Marks, nos EUA.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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