O mercado, o mundo diário do comércio e da atividade econômica é onde a maioria das pessoas passam a maior parte dos seus dias. Na história moderna, o mercado teve um papel único na formação do nosso mundo. A globalização transformou incontáveis mercados locais em um mercado global massivo. Avanços na tecnologia e na comunicação conseguiram unir enormes lacunas geográficas e culturais em velocidade estonteante.
Enquanto isso, a língua e as normas do mercado mudaram a maneira de se pensar e operar de outras instituições sociais, incluindo a igreja. Até a vida familiar foi moldada pelo mercado de maneira aparentemente permanente.
Ainda assim, o mercado não é uma entidade homogênea única. É um organismo complexo que desafia uma simples definição. A experiência de mercado de um encanador não é a mesma que a de um gerente de fundo de risco, e o trabalho de um banqueiro é diferente do trabalho de um professor. De fato, o trabalho acontece:
- em uma variedade de locais (desde o lar, remotamente, no ar, de um carro, em um escritório, em um cubículo, em um armazém, em um campo, no céu, no subsolo, sobre a água),
- em uma variedade de formas (freelancers, empregados, contratados, consultores, empregadores, proprietários),
- e em uma variedade de organizações (firmas, pequenos negócios, grandes corporações, franquias, exercícios, parcerias, governos, escolas, organizações sem fins lucrativos).
Portanto, conforme um pastor busca ensinar biblicamente sobre as dinâmicas do mercado, é útil que ele aprofunde a sua empatia e amplie o seu entendimento sobre as vocações representadas em sua congregação.
Então o que os pastores devem ensinar àqueles chamados para o mercado de trabalho?
1. Ensine-os como as Escrituras abordam o trabalho deles.
Um dos textos mais fundamentais para entender o trabalho é a “ordenança da criação”, onde Deus ordena a Adão: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra” (Gn 1.28). Embora seja impossível para um pastor manter-se atualizado com a sempre crescente complexidade do desenvolvimento socioeconômico desde o Jardim do Éden, ele tem a oportunidade de devotar a si mesmo a sabedoria atemporal das Escrituras. Ajudar aqueles no mercado a amar e viver a sabedoria encontrada em Provérbios vai moldar o entendimento deles do trabalho diário, e como ele pode ser usado para glorificar a Deus e servir o próximo.
2. Ensine-os a temer o Senhor.
O mercado é um local de temor. Um trabalhador pode temer seu chefe, um executivo pode temer muitos fracassos públicos e outros podem temer a instabilidade do mercado, desemprego e regulamentações governamentais. Globalização, mídia e tecnologia, tudo isso serve para ampliar a sensação de não estar no controle. Assim como a ira e o orgulho, o agir a partir do medo produz uma gama de inseguranças, pecados e falhas.
Por toda a Escritura, é ordenado ao povo de Deus que não tema. Paulo nos lembra: “Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação” (2Tm 1.7). Contudo, nos é ordenado que temamos a Deus: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9.10; Sl 111.10). Infelizmente há muitos crentes professos cuja vida de trabalho é dominada pelo medo e pela ansiedade, o que os impede de viver a sabedoria de Deus.
3. Ensine-os a orar.
Muitos cristãos não se sentem preparados para orar pelo seu trabalho, muito menos a orar no trabalho. Dado o temor que é tão excessivo no mercado, unido à hostilidade contra a fé e a prática cristã, a melhor coisa para os trabalhadores fazerem é orar. Ainda assim, os tipos de orações necessárias no trabalho não podem ser aquelas típicas orações ouvidas nas manhãs de domingo. Pastores têm a oportunidade de ensinar os cristãos como orar por coragem, contra a tentação, por integridade, para que eles trabalhem com destreza, por seus colegas, e para que Deus estabeleça a obra das suas mãos. E, em resposta às muitas bênçãos do trabalho, eles devem ser preparados para dar graças.
4. Ensine-os que seu valor último não está em sua performance.
Há uma pressão massiva no mercado para que os trabalhadores ganhem o seu sustento, atendam às suas metas e subam na carreira. Sem resistência vigilante, os cristãos podem também vir a crer que não são nada mais do que um título, um nível de responsabilidade ou uma unidade de produção.
O salmista ensina que, diferentemente do homem, Deus não nos julga como quem avalia a força de um cavalo. Mas, “agrada-se o Senhor dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia” (Sl 147.10-11). No fim do dia, nossa aprovação e identidade estão no fato de sermos adotados como filhos de Deus pela graça através da fé em Cristo — não com base em nada do que fazemos por nós mesmos.
5. Ensine-os que eles são mais do que “úteis” para a igreja local.
Existe uma sutil tendência para pastores verem os membros de sua congregação em termos da sua utilidade em auxiliar eventos ou contribuir para o orçamento da igreja. Essa tentação se torna ainda maior quando um membro é conhecido por ser talentoso em seu ofício ou bem sucedido no mercado de trabalho. Nesse sentido, pastores aplicam as mesmas pressões que os trabalhadores provavelmente experimentam de seus empregadores, líderes e supervisores durante a semana. Antes da igreja tratar de orçamentos e programas, ela trata de pessoas. Os membros de uma congregação precisam saber que eles são importantes para além de suas utilidades.
6. Ensine-os que eles não são inferiores a pastores e missionários.
Muitas igrejas, talvez inconscientemente, propagam sutilmente o mito de que pastores e missionários são mais importantes ou intrinsecamente mais santos do que carpinteiros, operadores de telemarketing ou empreendedores. A igreja pode empregar pastores e enviar missionários, mas a silenciosa maioria do trabalho do reino é feita por esses diversos chamados no mercado de trabalho. Pastores devem encontrar maneiras de discipular membros para a variedade de vocações representadas na congregação, e não apenas aqueles que estão no chamado “ministério cristão”.
7. Ensine-os a amar o que fazem e a fazerem-no bem.
É fácil amar o trabalho por algum tempo, mas quando as circunstâncias, oportunidades, relacionamentos e recompensas mudam, dificuldade e desencorajamento rapidamente se instalam. Um certo nível disso é inevitável, mas se o trabalho é dominado por um senso de pessimismo ou fatalismo, o trabalhador não fará bem o seu trabalho, ele não terá contentamento e o seu testemunho do evangelho murchará e morrerá. Crentes precisam do lembrete de Colossenses 3.23, de que em um mundo doente, eles trabalham em última instância para o Senhor. Em toda tarefa e a todo tempo, essa é a verdade que fornece a motivação para fazer todo trabalho com paixão e excelência. Pastores também enfrentam dificuldade e desânimo em seu trabalho. Mas aqueles que, em contrapartida, encontraram novas e vivas maneiras de reacender o amor por aquilo que fazem, serão capazes de compartilhar essa sabedoria com aqueles em diferentes ocupações.
Tradução: Alan Cristie