sexta-feira, 22 de novembro
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A água da vida

Muitas igrejas reformadas sofrem uma grave sequidão espiritual. No cenário atual, comparado com o de cinqüenta anos atrás, há poucas conversões a Cristo, pouca evidência de piedade pessoal e falta de entusiasmo por missões e evangelismo.

O compromisso com Cristo e sua igreja está em baixa. O que podemos fazer? Ao considerar o papel do Espírito Santo na evangelização, surgem três perguntas: 1) Precisamos do Espírito Santo na evangelização?) Devemos mencioná-Lo em nosso evangelismo? 3) Quais as atividades dEle na evangelização? A principal resposta à primeira destas perguntas encontra-se no começo da era evangélica. João Batista declarou: “Aquele, porém, que me enviou a batizar com água me disse: Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo” (Jo 1.33; ver também Lc 3.16). Há duas verdades distintas aqui. Primeira, o próprio Cristo foi capacitado pelo Espírito Santo em sua proclamação do evangelho. Como Jesus descreveu o seu ministério público? Citando Isaías 61.1-2: “O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados…”

Cumprindo a promessa

Por sua vez, os discípulos foram proibidos de pregar, até que recebessem a unção do Espírito (At 1.4-5). Paulo recordou aos crentes de Tessalônica: “O nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção” (1 Ts 1.5). Pedro resumiu o assunto quando se referiu àqueles “que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho” (1 Pe 1.12). No Novo Testamento, esta é a única maneira pela qual o evangelho pode ser verdadeiramente pregado.

A segunda verdade é que João Batista define o ministério de Cristo como a outorga do Espírito Santo sobre o seu povo. As palavras do apóstolo João não são apenas uma predição referente ao Dia de Pentecostes, são também uma afirmação poderosa sobre a missão de Cristo — “Cristo nos resgatou da maldição da lei… para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido” (Gl 3.13- 14, ênfase acrescentada). Não podemos evangelizar sem o pleno envolvimento do Espírito Santo em cada etapa.

Falando sobre o Espírito Santo

Nossa segunda pergunta é muito interessante. Devemos mencionar o Espírito Santo em nosso evangelismo?

Reconhecendo que o Espírito Santo é o cerne de todo evangelismo verdadeiro, devemos fazer menção dEle quando nos dirigimos aos não salvos?

Os incrédulos precisam ouvir sobre o Espírito Santo como parte integral da pregação do evangelho? O Novo Testamento responde “sim”. Quando Jesus se envolveu no evangelismo prático, Ele não hesitou em falar claramente sobre o Espírito Santo. Jesus disse a Nicodemos que ele tinha de “nascer… do Espírito” e ofereceu “a água viva” do Espírito Santo à mulher samaritana, no poço de Jacó, bem como às multidões reunidas na Festa dos Tabernáculos (Jo 3.5-7; 4.10; 7.37-39).

Com a mesma clareza, Pedro se referiu ao Espírito Santo no Dia de Pentecostes. “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2.38, ênfase acrescentada). E essa não foi uma “oferta limitada” que marcou o início da Nova Aliança, visto que Pedro continuou: “Para vós outros é a promessa [do Espírito], para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar”.

Décadas mais tarde, Paulo expressou o interesse de que os discípulos de Éfeso entendessem que uma posse consciente do Espírito Santo é necessária, para alguém desfrutar a segurança de salvação (At 19.1- 6).

O Novo Testamento apresenta o Espírito Santo como Aquele que dá o poder pelo qual o evangelho tem de ser pregado e como a essência do dom do evangelho. Freqüentemente, reconhecemos a primeira dessas verdades, mas raramente apreciamos a segunda.

Esperando na obra do Espírito

Nossa pergunta final é: “Quais as atividades dEle no evangelismo?”

Nossa resposta é importante porque afeta profundamente nossas expectativas, quando pregamos o evangelho de Cristo.

As obras do Espírito no evangelismo são três. Primeira, conforme já vimos, é dar poder à pregação do evangelho. Paulo testificou: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1 Co 2.4).

A segunda operação é convencer aqueles que estão mortos em delitos e pecados — convencê-los de que são responsáveis por seus próprios pecados, diante de Deus. O Senhor Jesus prometeu: “Quando ele [o Espírito] vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado” (Jo 16.8-11).

Sem entrar nos detalhes desta passagem, é claro que mentes cegas por Satanás (2 Co 4.4) não serão abertas pela persuasão ou pelo raciocínio humano. Uma obra espiritual de convicção é necessária — um abrir do coração para o evangelho. E somente Deus, o Espírito Santo, pode realizar essa obra.

Ressuscitando os mortos

A terceira operação do Espírito é, sem dúvida, trazer os mortos à vida! Ninguém pode ver ou entrar no reino de Deus, se não “nascer de novo” ou nascer do Espírito (Jo 3.1- 8). Paulo se regozijava nesta obra de regeneração do Espírito; ele disse: “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos” (Ef 2.4-5). O propósito imediato do evangelho não é reformar as pessoas ou influenciar a sociedade. Tampouco é encher o auditório da igreja.

O propósito do evangelho é comunicar vida espiritual a pecadores mortos em ofensas e pecados. Isto é algo que somente o Espírito Santo pode realizar; e Ele o faz de maneira soberana. No nível humano, talvez vejamos pouco da operação do Espírito de Deus porque não a pedimos, nem esperamos vê-la. Se o Espírito de Deus está entre nós, estejamos certos de que não impediremos a obra que Ele veio realizar. Mas, se O entristecemos com o nosso baixo nível de expectativa, Ele pode reter a sua liberalidade por algum tempo. O verdadeiro avivamento derrama “água sobre o sedento e torrentes, sobre a terra seca”. Mas isso jaz no soberano dom de Deus, e não podemos fazê-lo acontecer.

Podemos realmente preparar o solo, por meio de oração e fidelidade pertinaz a Cristo. Mas, visto que os sintomas da sequidão espiritual incluem falta de oração e negligência, estamos presos em um ciclo vicioso. Talvez tenha exagerado na figura. Há exceções e lugares em que o reino de Deus está avançando de modo admirável — embora essas chamas de avivamento não sejam bem vistas por alguns, porque estão acontecendo agora, e não no século XVIII. Mas esses acontecimentos são a exceção, e não a regra. O que podemos fazer?

Negligenciando o Espírito

Existe algo que creio podemos e devemos fazer. Devemos buscar uma maior consciência experimental do Espírito Santo e um entendimento mais profundo do ensino bíblico a respeito da sua Pessoa e obra. As igrejas reformadas, em geral, estão negligenciando estes aspectos do evangelho e da vida cristã — sem dúvida porque tememos o declive escorregadio dos excessos carismáticos.

Mas um evangelho que não tem lugar para o Espírito de Deus não é o evangelho. Também não somos verdadeiros filhos de Deus, se não somos “guiados pelo Espírito” (Rm 8.14). Estamos negligenciando o Espírito Santo. Raramente pregamos sobre a sua Pessoa e obra. Não é feita qualquer menção a Ele em nosso evangelismo — em contraste nítido com a prática do Novo Testamento. Em meio a abundante literatura evangélica reformada, há poucos livros a respeito do Espírito Santo, em nossos dias, e menos ainda a respeito de nosso relacionamento com a terceira Pessoa do Deus triúno.

O contrário é verdade no movimento carismático. As prateleiras das livrarias evangélicas gemem sob o peso desses livros! Mas, em sua maioria, não têm utilidade, porque fazem o leitor retirar a sua atenção de Cristo e agradam os desejos carnais por misticismo, emoções e “poder?.

Evitando os perigos

Um pouco de inquietação é compreensível. Um pastor carismático de nossa cidade descreveu sua chamada como “pregar o evangelho do Espírito Santo”. Mas é claro que o Novo Testamento desconhece esse tipo de evangelho — conhece somente o evangelho de Cristo — pois a obra do Espírito é glorificar a Cristo. Como disse Jesus: “Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (Jo 16.14).

Creio que foi Charles Spurgeon quem disse: “Eu olhava para Cristo, e a pomba da paz voava ao meu coração. Olhava para a pomba, e esta ia embora novamente”. Não ousamos tirar nossos olhos de Cristo, quer para encontrarmos a salvação, quer para corrermos a carreira que nos está proposta (Hb 12.2). Mas não devemos ir ao outro extremo e ignorar o Espírito Santo, pois isto significa virar as costas ao Novo Testamento. Muitos crentes ainda estão quase na condição de Atos 19: “Nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo” (v. 2).

Você recorda que essas palavras foram proferidas em resposta à pergunta de Paulo: “Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes?” Quantos evangelistas reformados ousam fazer essa pergunta em nossos dias? Sim, ela é tão relevante hoje como sempre o foi.


Autor: Edgar Andrews

Edgar H. Andrews (BSc, PhD, DSc, FInsP, FIMMM, CEng, CPhys) é professor emérito de Materiais da Universidade de Londres e um especialista internacionalmente conhecido na ciência das moléculas largas. Em 1967 ele instituiu o Departamento de Materiais da Queen Mary College, Universidade de Londres, e foi reitor de Engenharia. Publicou mais de 100 artigos e livros científicos, além de dois comentários bíblicos, e contribuiu com pesquisas nas áreas da ciência, religião e teologia. O seu livro "From Nothing to Nature" foi traduzido para dez idiomas.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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