O trecho abaixo foi retirado com permissão do livro Teologia Afetuosa de Richards Sibbes, de Mark Dever, Editora Fiel.
Se a segurança não é para este mundo, o que dizer sobre a certeza da salvação? Prestar atenção na consciência exige que o crente não tenha certeza de sua salvação? Sibbes pergunta: “Do que adianta saber que Cristo veio para salvar os pecadores, mas ir para o inferno?”. Sibbes ensinava que o crente pode saber qual é seu estado e que é papel da consciência provar as declarações do crente de que ele está em estado de graça.
Existem dois problemas comuns relacionados à certeza da salvação do cristão. O primeiro é a falsa culpa e o segundo é a falsa segurança. Sibbes observou que às vezes confundem-se os erros da consciência com o testemunho da consciência, “quando os homens reconhecem regras que não deveriam ou quando eles erram sobre a questão e não argumentam corretamente”. Desse modo, é necessário raciocinar com a ajuda da Escritura e de amigos que são capazes de identificar o erro, se a base de uma consciência que está em paz diante de Deus é o sangue de Cristo, e não as obras meritórias.
Há também o problema da falsa segurança. Qualquer paz que a consciência parece dar precisa refletir “a obra da graça” em nossas vidas, e não uma mera segurança carnal. Cristo “primeiro […] concede justiça e depois pacifica a consciência”. Somente nesse sentido, o papel da consciência é dizer para um homem se ele está em estado de graça. A consciência deve testificar se o crente está confiando em Deus mais do que qualquer outra coisa. Embora a consciência possa ser abafada ou reprimida nesta vida, nunca se satisfaz completamente até que Deus esteja satisfeito. Desse modo, somente quando o Espírito Santo acalma a consciência é que o crente é capaz de ter a certeza do amor de Deus. Sem uma consciência assim, não é possível ter a firme esperança da salvação e do Céu.
Como a Consciência é Despertada
Com frequência, Sibbes incentivava seus ouvintes a se esforçar para ter e conhecer uma boa consciência. De que maneira um crente pode despertar uma consciência naturalmente preguiçosa? Os meios mais óbvios são a oração, a comunhão, a pregação e a reflexão. Sibbes ensinou que “olhos inflamados não conseguem suportar a luz; e que a consciência inflamada não é capaz de suportar a presença de Deus. Portanto, é bom estar sempre na presença de Deus”. Ler a Palavra de Deus individualmente ou ouvi-la sendo pregada para a comunidade são atitudes que despertam a consciência, especialmente quando fazemos um autoexame enquanto lemos e ouvimos. Contudo, os crentes também devem estimular suas consciências considerando os juízos de Deus sobre si mesmos, sobre a Igreja em outras nações e levando em conta os perigos na Igreja de nosso próprio país. Tribulações temporárias devem ser vistas como sinais espirituais; sempre que Deus abre a consciência através de castigos específicos, é para conduzir o crente ao arrependimento por pecados específicos, o que não deve ser ignorado.
A vida parecia confirmar para Sibbes que as tribulações são significativas — e que a maneira de compreendê-las é prestando atenção na consciência. Portanto, ele advertiu que “quem dorme com a consciência contaminada dorme entre feras selvagens, entre víboras e sapos. Se seus olhos estivessem abertos para enxergar isso, você estaria apavorado”. Quando há culpa na consciência, os juízos de Deus aumentam até o crente prestar atenção no veredicto da consciência sobre a questão Desse modo, a percepção que o crente tem da providência de Deus em sua consciência deve servir de base para orientá-lo.
A Consciência como uma Ferramenta de Crescimento
Sibbes ensinou que a consciência também é útil como uma ferramenta de crescimento espiritual. A consciência, mostrando-se sensível à ira de Deus, deve levar o homem a odiar o pecado e, consequentemente, ajudar em sua santificação. Do mesmo modo, a consciência mantém o cristão humilde ao mostrar sua pecaminosidade e ao lembrá-lo de pecados específicos para que sejam corrigidos.
Contudo, restaurar a tranquilidade depois de pecar contra a consciência pode ser algo difícil. O tempo e até a confissão privada a um ministro, disse Sibbes, às vezes servem para acalmar a consciência. Ao controlar a paz e o conforto do crente, a consciência também age como um guia, mostrando como se deve servir a Deus em conformidade com sua vontade e seu mandamento. Sibbes pregava que uma boa consciência não procede de uma obediência perfeita, mas de um coração sincero que se esforça em obedecer ao evangelho e guardar o pacto com Deus.
A consciência deve ser preservada dando ouvidos aos conselhos de Deus em sua Palavra e levando a consciência a uma obediência maior — embora, muitas vezes, Deus também “desperte as consciências de seus filhos, exercitando-as através de conflitos espirituais” e até mesmo de deserções temporárias.