quarta-feira, 1 de maio

A história de duas cidades

Babilônia destruída

Nos capítulos finais da Bíblia, fica mais claro do que nunca que a Bíblia é a história de duas cidades. Nesses capítulos finais, testemunhamos a destruição final da Babilônia, a cidade dos homens, assim como a tão esperada entrada do povo de Deus na verdadeira e permanente cidade de Deus, a Nova Jerusalém.

Babilônia, a cidade dos homens, é acolhedora em suas idolatrias, atraente em sua beleza, inebriante em seus prazeres e pujante em seus projetos. Mas é também enganadora quanto ao seu destino. Seu destino é a destruição final. Cristo voltará e porá um fim à influência da Babilônia e à perseguição da Babilônia ao povo de Deus. Tudo de que a Babilônia se vangloria — sua beleza, suas riquezas, seu poder, sua qualidade de vida —, tudo desaparecerá para sempre, derretendo-se no fogo do juízo de Deus. Tudo o que a Babilônia promete a pessoas como eu e você — o conforto que o dinheiro possibilita, a relevância que o sucesso possibilita —, tudo será arrancado. Por causa desse juízo iminente, ouvimos Deus chamando seu povo:

Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos […] (Ap 18.4)

Não se iluda com a ideia de que essa passagem de Apocalipse se dirige a uma geração futura. Esse é o chamado de Deus a você e a mim, agora mesmo, hoje. Por enquanto, vivemos na Babilônia, a cidade dos homens, mas precisamos viver aqui com nossas malas arrumadas e nosso coração pronto para sair dela e viver para sempre na cidade de Deus, quando ouvirmos nosso verdadeiro Rei nos chamar. Somos chamadas a viver na tensão de estar no mundo, sem ser do mundo. Você sente essa tensão?

Como estrangeiras e exiladas, “[aspiramos] a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha [de nós], de ser chamado o [nosso] Deus, porquanto [nos] preparou uma cidade” (Hb 11.14-16). A história da cidade que se desenrola de Gênesis a Apocalipse nos convida a colocar nosso coração na cidade de Deus, a fincar nela nossas raízes, a investir nela nossa vida e a encontrar nela nosso lar, na Nova Jerusalém, que permanecerá para sempre.

A Nova Jerusalém

Um anjo deu ao apóstolo João uma prévia dessa cidade. Ele viu “a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus” (Ap 21.2). Nós não retornaremos ao jardim. Em vez disso, estamos rumando para uma cidade-jardim. Deus se apropriou “justamente daquilo que fora criado com o propósito de exclui-lo” — a cidade — e a está transformando num lar para seu povo, um lar ainda melhor que o Éden.[i] Em vez de gananciosos por mais, como foram Adão e Eva, todos os que viverem nessa cidade estarão plenamente satisfeitos. Em vez de temermos a presença de Deus como Caim temeu, teremos prazer nela. Em vez de conspirarem para afrontar e desobedecer, como fizeram os habitantes de Babel, os habitantes da Nova Jerusalém conspirarão sobre como glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.

Essa cidade não será o resultado de esforço humano; será a cidade na qual Abraão pôs seu coração, a cidade com fundamentos cujo arquiteto e edificador é Deus. Seus muros e fundações terão os nomes das doze tribos e dos doze apóstolos. Em outras palavras, essa cidade será edificada sobre as promessas do evangelho feitas aos patriarcas e sobre o evangelho proclamado pelos apóstolos (Gl 3.8).

Virá o dia em que moraremos na melhor cidade para se viver. Na verdade, essa cidade abarcará o mundo inteiro (Ap 21.12). A tohu wabohu estará gloriosa e completamente preenchida com vida radiante e rico relacionamento. Ela ultrapassará toda e qualquer cidade atualmente encontrada em qualquer lista das melhores cidades para se viver. Será a cidade mais limpa na qual alguém jamais morou. Coisa contaminada jamais entrará nela (Ap 21.27). Nela, servirão a melhor comida e o melhor vinho que alguém já provou, “um banquete de carnes suculentas e vinhos envelhecidos” (Is 25.6, NAA). Em vez de festas que duram dias, a celebração nunca terá fim (Hb 12.22). Ela não terá apenas um passado reluzente, mas brilhará com a glória de Deus pela eternidade futura (Ef 2.7). Ela não apenas será sem nevascas, sem poluição e sem caos; ela será sem lágrimas, sem morte, sem noite (Ap 21.4; 22.5). Suas ruas não serão apenas limpas; elas serão de ouro (Ap 21.21). Nessa cidade eterna, desfrutaremos uma aparentemente infindável riqueza de coisas para fazer e infindáveis revelações das belezas e perfeições de Deus.

Essa será a cidade sobre a qual os salmistas cantaram. Com efeito, veja o que o Salmo 87 tem a dizer sobre quem habitará essa cidade. É, de fato, muito surpreendente:

Fundada por ele sobre os montes santos, o Senhor ama as portas de Sião mais do que as habitações todas de Jacó. Gloriosas coisas se têm dito de ti, ó cidade de Deus!

Dentre os que me conhecem, farei menção de Raabe e da Babilônia; eis aí Filístia e Tiro com Etiópia; lá, nasceram. E com respeito a Sião se dirá:

Este e aquele nasceram nela; e o próprio Altíssimo a estabelecerá. O Senhor, ao registrar os povos, dirá: Este nasceu lá. (vv. 1-6)

O salmista está cantando que a cidade de Deus será habitada por pessoas fisicamente nascidas na cidade dos homens, mas que renasceram espiritualmente na cidade de Deus. Pessoas de Raabe, que é uma referência ao Egito e significa “arrogante” em hebraico, adentrarão a cidade de Deus em humildade. Pessoas da Babilônia, a cidade da confusão, terão clareza sobre quem Jesus é. Pessoas da belicosa Filístia desfrutarão a paz com Deus. Pessoas da cobiçosa cidade de Tiro encontrarão sua satisfação em Deus. Pessoas da remota e espiritualmente ignorante nação da Etiópia ouvirão as boas-novas e correrão em direção a essa cidade, para nela estabelecerem seu lar. Dir-se-á de todos cujos nomes foram registrados pelo próprio Deus antes da fundação do mundo: “Este nasceu aqui”.[ii] Aproxima-se o dia em que todos os que se apegaram a Cristo entrarão pelos portais feitos de pérola. Não importará se você nasceu na Cidade do Kansas, Toronto, Jacarta, Hong Kong, Moscou, Nairóbi, Bogotá ou Sidney. Você terá chegado de seu exílio na Babilônia para estabelecer sua morada na Nova Jerusalém. Aqueles que estiverem esperando no portão procurarão seu nome no Livro da Vida do Cordeiro. E, ao encontrarem seu nome no livro, apontarão para você e dirão: “Esta nasceu aqui”. Então, olharão em seus olhos e dirão com um sentimento comum de alívio e alegria: “Bem-vinda ao lar”. Isso não a faz querer cantar?

Ó filhos de Sião, Honrai o Rei dos Reis

Louvor em alta voz cantai, Louvor em alta voz cantai

Em breve ao Céu ireis, Em breve ao Céu ireis

Sião é a nossa Santa e Gloriosa Cidade;

Também perene morada Dos salvos em Cristo Jesus

Erguei-vos, ó cristãos, Marchando sem cessar,

Até herdardes lá no além, Até herdades lá no além,

Sião, o eterno lar, Sião, o eterno lar

Sião é a nossaSanta e Gloriosa Cidade;

Também perene morada dos salvos em Cristo Jesus.[iii]

Este artigo é um trecho adaptado com permissão do livro Ainda melhor que o Éden, de Nancy Guthrie, Editora Fiel.


[i] G. K. Beale, repetidamente, descreve o novo céu e a nova terra como uma “cidade-jardim sob a forma de um templo”, em The Temple and the Church’s Mission: A Biblical Theology of the Dwelling Place of God (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2004).

[ii] Pergunto-me se Jesus estava pensando no Salmo 87 quando disse a Nicodemos, um orgulhoso cidadão da Jerusalém terrena: “Em verdade, em verdade, te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3).

[iii] Isaac Watts, “Marchando para Sião”, Hinário Adventista nº 550.


Autor: Nancy Guthrie

Nancy Guthrie ensina na Christ Presbyterian Church, em Nashville, TN, EUA. É palestrante ativa em conferências teológicas e autora de diversos livros.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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