Mark Dever observa, no blog “The Gospel Coalition”, que:
Desde a Queda, a trajetória da história humana não redimida – a Cidade do Homem – está sempre na Bíblia para julgamento (o Dilúvio, Babel, Canaã, Egito, Jerusalém, Babilônia, Roma e depois Apocalipse 19). (Não tão universal quanto a gravidade, mas aparentemente tão inevitável quanto, em sua tendência geral.)
Para uma visão abrangente do pastor e sua relação com sua comunidade, leia o artigo completo aqui. Outros adotariam a visão contrária e sugeririam que a Nova Terra terá com ela uma cultura humana nova e melhorada e, portanto, os cristãos e as igrejas deveriam engajar-se na renovação cultural no aqui e agora. A questão final é:
A nossa cultura é “resgatável” e deve a igreja estar envolvida nesta chamada “redenção cultural”?
Aqueles que procuram engajar-se nessas questões, pelo menos nos EUA, estão se envolvendo em diferentes “campos”. Nós temos:
Proponentes dos Dois Reinos. (Deus está trabalhando através da igreja e não devemos nos envolver muito profundamente com a cultura mundana e moribunda).
Proponentes “Transformacionistas”. (A igreja deve estar ativa na busca da redenção da cultura enquanto nos movemos para o fim dos tempos).
Proponentes “Contraculturalistas”. (A igreja permanece como um modelo claro do reino de Deus e, como tal, é uma voz profética contra a cultura mundana predominante).
Proponentes da relevância cultural. (Os cristãos devem procurar onde Deus está presente na cultura e afirmar isso).
Obviamente, acabei de simplificar em uma sentença o que muitas vezes é um debate confuso, altamente polarizado e emotivo, entre as várias visões evangélicas, teológicas e denominacionais. Acho muito difícil colocar-me nessa lista. Na verdade, à medida em que envelheço, acho essa cultura geral dos cristãos de “rotularem” uns aos outros mais e mais inútil, e se houver alguma coisa útil nos pontos acima, estou mais inclinado aos números 1, 3 e 4. Acredito que nosso trabalho, como igreja, é glorificar a Deus, pregar o evangelho e fazer discípulos. Ao fazer isso – compartilhando nossas vidas e vivendo em comunhão, interagindo com nossos vizinhos, buscando o bem de nossas comunidades carentes e vivendo claramente vidas “culturalmente contrárias” – as pessoas serão atraídas a Cristo pelo Espírito Santo, nascidas de novo e, com o tempo, pessoa por pessoa começará a causar impacto na comunidade. A renovação da comunidade será, portanto, o subproduto da pregação centrada no evangelho e das igrejas saudáveis. Quem sabe o que fazer que o faça!
É útil, para esta discussão, olharmos para a história de muitas igrejas na Escócia e no Reino Unido, à medida que procuravam envolver-se ou não com sua cultura nos últimos trinta anos. Muitas igrejas, acreditando que o mundo estivesse indo para o inferno a passos largos, se concentraram em pregar a Cristo, resgatando pecadores arrependidos e deixando o resto por sua própria conta. Outros, acreditando que os cristãos têm um papel a desempenhar quanto ao fato de que Deus vai finalmente renovar todas as coisas no fim dos tempos, procuravam envolver-se mais com a cultura circundante. O perigo, para o primeiro grupo, é cair em uma forma de separatismo, para o último, escorregar para uma certa acomodação cultural. Na verdade, vejo o legado de ambas as posições nas comunidades habitacionais carentes em toda a Escócia e ele se mostra de duas principais formas.
1. Aqueles que historicamente lutaram pela pureza doutrinária e teológica à custa do envolvimento cultural (por medo de diluir o evangelho) e agora encontram-se à margem das comunidades, com congregações envelhecidas e moribundas. Eles têm o evangelho, mas não têm ninguém para pregá-lo. Eles se adaptaram à sua cosmovisão de “nós contra o mundo” e, infelizmente, estão deixando gerações sem nenhum indício sobre as boas novas de Jesus. As pessoas não estão indo mais à igreja e a igreja não está indo às pessoas. Temos uma espécie de “impasse mexicano” espiritual onde cada lado vai, mais e mais, endurecendo o coração contra o outro à medida que o tempo passa. Uma parte acredita que a igreja seja um lugar cheio de julgadores inutilmente “bem-intencionados” e antiquados, a outra observa o mundo se destruir por causa de sua impiedade e pecaminosidade. Enquanto isso, a desolação e a confusão espiritual vão acontecendo nas comunidades carentes onde temos restos de congregações moribundas ou onde elas nem existem mais.
Por outro lado, aqueles que procuraram se adaptar e se “engajar” com a cultura, em detrimento das verdades bíblicas, tendem a ser muito conscientes socialmente, mas, ironicamente, também têm as mesmas congregações envelhecidas e moribundas. Essas “igrejas” (se podemos chamá-las assim) são vistas como pouco mais que agências de serviço social, eles não veem “lados”, mas consideram todos como filhos de Deus e a igreja como uma força para o “bem” na comunidade. O mundo os vê como um meio para um fim, mas não como sal e luz e, certamente, tampouco, como um desafio para suas almas. A igreja, neste caso, é vista como mais orgânica do que organizada, uma igreja “sem paredes” se você preferir. O resultado são as mesmas igrejas vazias como as dos nossos amigos acima. As mesmas congregações morrendo sem causar nenhum impacto espiritual real em sua comunidade.
Infelizmente, ambos os grupos estão perdendo, com as vítimas reais sendo as mesmas pessoas que deveriam estar sendo alcançadas com as boas novas de Jesus Cristo. Enquanto o mundo cristão tem traçado suas linhas de batalha teológica sobre cultura e contextualização, almas vivas têm (e em grande número), de cima abaixo de nossa nação, perecido por falta de um testemunho concreto do evangelho nas comunidades carentes em conjuntos habitacionais.
2. Devido a essa inversão dos fatos, grande parte do trabalho de evangelismo e desenvolvimento comunitário está sendo realizado, nas comunidades carentes, por uma combinação de agências governamentais e organizações para-eclesiásticas. Muitos desses grupos que visitam escolas em comunidades carentes, ministram aulas de Educação Religiosa, dirigem clubes e tentam alcançar jovens para Cristo, são em grande parte (embora nem sempre) independentes das igrejas locais, e sem quaisquer metas e objetivos reais de longo prazo para combater a “crise congregacional” que enfrentamos hoje. E como poderíamos culpá-los quando a igreja local está morta ou não fazendo seu trabalho (seja por falta de ânimo ou simplesmente porque é incapaz)?
A única maneira, na minha opinião, de reverter essa tendência em nossas comunidades habitacionais é plantar novas igrejas e / ou renovar as já existentes.
Seja para onde for que essa discussão nos leve, é um fato incontestável o de que as comunidades habitacionais precisam de igrejas saudáveis e centralizadas no evangelho para reverter essa situação. Por quê? Aqui estão três razões rápidas:
Uma congregação local dá um sólido e consistente impulso aos esforços evangelísticos formais. Uma comunidade de crentes bíblicos, cristãos que proclamam o Evangelho e que vivem corretamente no coração de uma comunidade é uma apologética muito mais poderosa do que um testemunho eventual.
Uma congregação local oferece um lugar para a “prestação de contas” espiritual daqueles que trabalham no campo. Já encontrei muitos obreiros da igreja (especialmente os jovens) que têm pouca ou nenhuma responsabilidade espiritual para com a igreja local e, ou foram “queimados”, ou correm o risco de se queimarem tentando lidar com os rigores de um ministério de linha de frente em comunidades habitacionais carentes. Os obreiros do evangelho precisam da responsabilidade espiritual e disciplina que o ser membro de uma igreja local traz.
Uma congregação local oferece um contexto em que jovens convertidos e crentes podem crescer juntos no discipulado e na comunhão. Assim, evita-se o problema da “tentativa e erro” de pessoas que caem de paraquedas na comunidade, tentando alcançar as pessoas para, logo depois, deixa-las “ao sabor do vento” até que um próximo obreiro volte à comunidade. A igreja local tem a responsabilidade de evangelizar, discipular, nutrir e preparar as pessoas para adorar e servir ao Deus Vivo em suas respectivas comunidades.
O que precisamos, desesperadamente, é de uma igreja local que glorifique a Deus, crendo na Bíblia, pregando o evangelho, discipulando ativamente, vivendo de forma saudável a comunhão cristã, servindo e amando uns aos outros. É isso que vai causar impacto em uma comunidade carente, até mesmo um pequeno e unido grupo de irmãos e irmãs pode promover a renovação cultural e comunitária. Não porque esse seja o seu objetivo, mas porque isso é a consequência do poder do reino em ação. Ore por nós, pois através de nossa iniciativa do 20schemes, procuramos trazer de volta a luz do evangelho para lugares escuros através da revitalização e plantação de igrejas nessas comunidades.
Quem sabe, talvez, o Senhor esteja chamando você para vir e nos ajudar nessa tarefa?
Tradução: Paulo Reiss Junior.
Revisão: Filipe Castelo Branco.
Fonte: Should We Seek To Redeem The Culture Of Housing Schemes?