domingo, 17 de novembro
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A inerrância da Escritura Sagrada – parte 1

O escrito de Moisés possui a mesma autoridade que o escrito de Deus

Este artigo é o primeiro recurso selecionado para a Semana da inerrância bíblica do Ministério Fiel e Voltemos ao Evangelho, uma semana onde estamos, juntos com a igreja verdadeira, proclamando a inerrância, suficiência e autoridade da Bíblia, que é a Palavra de Deus. Aqui no blog do Ministério Fiel postaremos uma série de artigos (A inerrância da Escritura Sagrada), tendo este como o primeiro, acerca da perspectiva histórica da inerrância bíblica, começando pela redação inicial com Moisés até chegar nos tempos modernos em que estamos.


A doutrina da inerrância das Escrituras Sagradas afirma que os sessenta e seis livros do Antigo e do Novo Testamento são a Palavra de Deus escrita, razão pela qual não contêm erro na totalidade de seus ensinamentos. Esse é o ponto de vista sobre as Escrituras que encontramos na própria Bíblia. E tem sido o ensino histórico da igreja desde seus primeiros dias, embora a palavra inerrância se tenha tornado popular em seu ensino apenas no século XIX. A doutrina provém do fato de que tanto o Antigo como o Novo Testamento apresentam uniformemente as Escrituras como as próprias palavras de Deus. Sendo as palavras de Deus, as Escrituras não podem ensinar qualquer coisa que seja falsa, porque Deus não pode ensinar o que é falso. As Escrituras têm de ser tão confiáveis e fiéis quanto Deus mesmo o é:

“Porque a palavra do Senhor é reta, e todo o seu proceder é fiel” (Sl 33.4)

O escrito de Moisés possui a mesma autoridade que o escrito de Deus

Os primeiros textos bíblicos a serem escritos tiveram origem no tempo do êxodo do Egito; e relatam a aliança do Senhor com seu povo. Moisés recebeu ordem para escrever as palavras de Deus depois da batalha com Amaleque (Êx 17.14-16). Moisés registrou também as palavras de Deus dirigidas a seu povo no monte Sinai (Êx 24.4; 34.27), como Deus guiou o povo no deserto (Nm 33.2) e tudo que Deus revelou até o tempo da morte de Moisés (Dt 31.24). Moisés ordenou que o “Livro da Lei” fosse colocado junto à arca da aliança, dentro do Lugar Santíssimo (Dt 31.26). A arca continha as duas tábuas de pedra nas quais foram escritos os Dez Mandamentos, escritos pelo dedo de Deus (Êx 31.18; Dt 9.10).

A justaposição do livro escrito por Moisés e das duas tábuas de pedra escritas por Deus é bastante significativa. Mostra que o escrito de Moisés possui a mesma autoridade que o escrito de Deus. Isso é confirmado quando Deus comissiona Josué: “Tão somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo  tudo quanto nele está escrito” (Js 1.7-8). As palavras escritas por Moisés são as palavras que Deus ordenou. No fim de sua vida, Josué renovou a aliança com Deus e deu ao povo estatutos e preceitos  adicionais, escrevendo as palavras no Livro da Lei (Js 24.25-26). Depois, ele tomou uma pedra e  a erigiu como testemunha da aliança, porque a pedra “ouviu todas as palavras que o Senhor nos tem dito” (v. 27). As palavras escritas por Josué eram, portanto, as palavras que o Senhor havia falado.

Essa identificação permeia o Antigo Testamento. Esdras “era escriba versado na Lei de Moisés, dada pelo Senhor, Deus de Israel” (Ed 7.6). Na grande assembleia convocada por Neemias, Esdras leu “o Livro da Lei de Moisés, que o Senhor tinha prescrito a Israel” (Ne 8.1). Esse livro é chamado posteriormente “o Livro da Lei de Deus” (Ne 8.18). O livro é tanto a lei de Moisés como a lei de Deus (Ne 8.8). No oráculo final do profeta Malaquias, o Senhor diz: “Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe prescrevi em Horebe para todo o Israel, a saber,  estatutos e juízos” (Ml 4.4). O que Moisés escrevera, Deus o reivindica como sua própria Palavra.

Moisés não foi o único profeta levantado por Deus. Samuel também escreveu em um livro os direitos e deveres do reino, colocando-o diante do Senhor (1Sm 10.25). O Senhor também falou “por intermédio do profeta Aías, seu servo” (1Rs 14.18), e do profeta Jeú (1Rs 16.12). O rei Ezequias ordenou o culto no templo de acordo com “o mandado de Davi e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã; porque este mandado veio do Senhor, por  intermédio de seus profetas” (2Cr 29.25). Jeremias  recebeu ordem para escrever num livro todas as palavras que o Senhor lhe falara (Jr 30.2; 36.2). Ele ditou as palavras a seu escriba, Baruque, e, quando esse livro foi lido no templo, o povo ouviu “todas as palavras do Senhor, naquele livro” (Jr 36.11). O que Baruque escrevera, por ditado de Jeremias, era, na verdade, as palavras de Deus.

O Novo Testamento e os escritos da Palavra de Deus

O Novo Testamento apresenta o mesmo ponto de vista sobre a Escritura Sagrada. Mateus nos diz que o Senhor Jesus nasceu de uma virgem para cumprir “o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta” (Mt 1.22; cf. 2.15). Jesus cita Gênesis 2.24 e identifica as palavras como de Deus (Mt 19.4). Pedro diz que tinha de se cumprir “a Escritura que o Espírito Santo proferiu anteriormente por boca de Davi” (At 1.16). Em seu sermão no dia de Pentecostes, Pedro cita palavras faladas “por intermédio do profeta Joel” como palavras que o Senhor “diz” (At 2.16, 17). Pedro afirma que Deus predisse os sofrimentos de Cristo pela boca de seus profetas (At 3.18, 21). Em Atos 4.24-26, Pedro cita o Salmo 2 como as palavras do Soberano Senhor, “que disseste por intermédio do Espírito Santo, por boca de Davi, nosso pai, teu servo” (v. 25).

Ao falar aos judeus incrédulos em Roma, Paulo prefaciou a citação de Isaías 6.9-10 com as seguintes palavras: “bem falou o Espírito Santo a vossos pais, por intermédio do profeta Isaías” (At 28.25). Quando Paulo pregou o evangelho aos tessalonicenses, deu graças a Deus por haverem recebido “a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes” (1Ts 2.13). Paulo esperava deles o mesmo respeito por sua palavra escrita e os conjurou a lerem sua carta na igreja (1Ts 5.27).

Em Hebreus 1, várias citações do Antigo Testamento são introduzidas como palavras faladas por Deus. E, nesse mesmo livro, versículos do Salmo 95 são citados como aquilo que “o Espírito Santo” diz (3.7). Pedro ensina que a palavra do Senhor Jesus dada por meio dos apóstolos tem autoridade idêntica à palavra falada pelos profetas (2Pe 3.2). Além disso, ele coloca especificamente as cartas de Paulo entre as Escrituras (2Pe 3.16). Portanto, o Novo Testamento trata as palavras das Escrituras como as próprias palavras de Deus, dadas por meio dos profetas e dos apóstolos pelo Espírito Santo. A identificação das palavras das Escrituras com as palavras de Deus se deve à maneira sobrenatural pela qual as Escrituras chegaram à existência. Pedro explica isso plenamente: “Nenhuma profecia da Escriura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.20-21). As palavras são realmente humanas e têm as características distintivas de seus autores. Mas as palavras não são apenas de origem humana, porque “homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”. As palavras são verdadeiramente palavras de Deus, embora dadas por meio de autores humanos.

O mover do Espírito Santo foi não somente sobre os autores humanos, mas neles e por meio deles, para comunicar as palavras que foram escritas. Por essa razão, Paulo diz: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16-17). Enquanto Pedro fala sobre o processo pelo qual os autores humanos foram “movidos pelo Espírito Santo”, Paulo fala sobre o produto resultante, as próprias Escrituras, como “sopradas por Deus” (gr., theopneustos). O “sopro” de Deus produziu o próprio texto da Escritura. É por essa razão que os teólogos falam em inspiração verbal. 

Esse ponto de vista dos pais da igreja primitiva persistiu na Idade Média. Tomás de Aquino, considerado o maior dos teólogos medievais, afirma concisamente: “O autor da Escritura Sagrada é Deus”. John Wycliffe, a “Estrela da Alva da Reforma”, escreveu: “De fato, visto que toda a Escritura é a palavra do Senhor, nenhum outro testemunho poderia ser melhor, mais certo ou mais eficaz. Porque, se Deus, que não pode mentir, falou algo em sua própria Escritura, que é, ela mesma, o espelho de sua vontade, então isso é verdadeiro”.

A inerrância pode ser vista desde os primeiros textos bíblicos escritos, que tiveram origem no tempo do êxodo do Egito; e relatam a aliança do Senhor com seu povo.

Este artigo é uma adaptação de um dos muitos recursos teológicos da Bíblia de Estudo da Fé Reformada, Editora Fiel.

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Autor: Mark Ross

Mark Ross é deão e professor associado de teologia sistemática no Erskine Theological Seminary, situado na Carolina do Sul, EUA. Ele também é diretor do Institute for Reformed Worship.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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