Um Senso da Eternidade
Quando Deus criou Adão e soprou em suas narinas o fôlego da vida, Adão se tornou uma alma vivente. No íntimo daquela alma vivente havia a marca de Deus, porque o homem fora criado à imagem e semelhança de Deus. O homem sabia que existia um Deus e sentia desejo por Ele. E isso não mudou mesmo depois da Queda. O próprio fato de que Adão e Eva se esconderam com vergonha demonstra que eles não tinham dúvidas sobre a realidade de Deus e de que eram responsáveis por seu ato diante do Criador. A eternidade, que é outra maneira de afirmar que existe algo mais depois da morte, predominava na mente deles. Nunca encontramos uma pessoa na face da terra que não creia em coisas mais elevadas, ou seja, nas coisas que estão mais além. A Bíblia nunca tem de provar que Deus existe, visto que pela graça comum de Deus, um senso da eternidade se encontra estampado na mente e no coração da humanidade.
Suprimindo Deus
O apóstolo Paulo escreveu: “E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável”. Por meio dessa afirmativa, Paulo estava querendo dizer que o homem havia trocado a verdade pela mentira, a verdade de Deus por um deus falso. Nossa sociedade deu um passo mais além, pois está ocupada em subtrair da mente humana a eternidade e o conhecimento de Deus. Não se pensa nem se planeja para a eternidade; tudo que se pensa ou se planeja tem de ser para esta vida. Tem se atribuído a Deus completa irrelevância.
Em seu livro O Conhecimento de Deus, A. W. Tozer afirmou: “A história da humanidade provavelmente demonstrará que nenhuma pessoa se elevou a um nível maior do que o de sua própria religião, e que nenhuma religião jamais tem sido maior do que seu próprio conceito a respeito de Deus”. Qual é a religião de nossa cultura atualmente? A resposta é o “eu” ou o próprio “homem”, o homem criado à imagem do homem. Um estudo de nossa sociedade não começa com Deus, e sim com o homem; e termina com ele.
Lord Denning afirmou em 1989: “A lei tem de possuir um fundamento religioso”; mas em nossos dias predomina a lei natural, a aplicação da biologia evolucionária. Nosso sistema jurídico, nossa vida familiar, nossos relacionamentos sociais todos são influenciados não simplesmente por uma mentalidade antiDeus, mas também por uma mentalidade Deus-não. Nossa arte e nossa literatura, to- das retratam a completa irrelevância de Deus. A tragédia é que os crentes estão acompanhando a espiral descendente dessa moralidade Deus-não. Os crentes novos estão seguindo o culto da coabitação; os casamentos dos crentes estão sendo destruídos. Pessoas supostamente evangélicas não vêem qualquer erro no desenvolvimento de afeições e relacionamentos homossexuais; e tais pessoas tentam provar isso pela Bíblia. Pouco a pouco, estamos sendo sugados à moralidade sem fundamento de nossa sociedade e estamos suprimindo Deus de nossas mentes.
A Eternidade no Coração do Homem
Até o século XX, o cristianismo, mesmo o falso cristianismo, compelia a sociedade a pensar sobre Deus. A evidência disso está no fato de que nossa melhor literatura e alguns de nossos grandes músicos foram influenciados por um conhecimento de Deus. Não estou dizendo que essas pessoas eram todas cristãs, embora algumas delas realmente fossem, mas, apesar disso, elas foram influenciadas pela Bíblia e pelo cristianismo e tinham a eternidade em sua mente. Mesmo Charles Dickens escreveu para seus filhos um livro sobre a vida de Cristo. A primeira metade do século XIX esteve repleta de miséria, crime e vergonha humana. O comércio de escravos estava em seu auge, sendo rivalizado apenas pelo transporte cruel de homens, mulheres e crianças para a escravidão branca na Austrália e Tasmânia. As crianças eram colocadas nas minas e nas chaminés; os operários sustentavam suas famílias com apenas quarenta e cinco centavos de libra por semana. Todavia, apesar dessa situação, mesmo os mais corrompidos e cruéis retinham o conhecimento de Deus e da eternidade.
Recentemente, li algo sobre as pessoas que eram transportadas da Austrália, incluindo um homem que foi acusado de insultar seu senhor. O homem admitiu, no julgamento, que freqüentemente desejava matar seu senhor. Mas o que o fazia retroceder? Sua resposta foi: “Eu não me importava de ser enforcado por causa dele, mas não desejava ir para o inferno por causa dele”. Quantos assassinatos hoje são impedidos devido ao fato de que os potenciais assassinos temem o inferno?
A Influência da Bíblia
Por que o conhecimento de Deus, uma consciência da eternidade e uma crença no inferno prevaleciam naqueles dias? Por mais de quinhentos anos, o poder da Igreja de Roma do- minou nossa sociedade. Ela era culpada de erro em suas crenças e práticas; todavia, ninguém duvidava da realidade de Deus e da eternidade. Então, apareceram os pobres pregadores de Wycliffe que cobriram todo o nosso país [Inglaterra] com o conhecimento das Escrituras, de tal maneira que Thomas More reclamou que não se podia encontrar dois homens em uma estrada, sem que um deles não fosse um seguidor de Wycliffe. Mais tarde, a reforma, que foi um avivamento do cristianismo bíblico, varreu todo o país. Quando nosso povo, novamente, afastou-se das verdades bíblicas, os puritanos tentaram transformar a nação, para que nesta houvesse um povo da Bíblia, e restaurar o senso da eternidade. Quando a nação, mais uma vez, afastou-se das Escrituras nos anos da restauração da monarquia, no século XVIII, Deus derramou seu Espírito através daquilo que ficou conhecido como o Avivamento Evangélico. Durante mais de meio século, Deus usou homens como Howell Harris, Daniel Rowlands, John Wesley, George Whitefield e outros, para vivificar a alma da nação. Thomas Carlysle, escrevendo no início do século XVIII, descreveu assim a Inglaterra: “Estômago bem vivo, e alma extinta”. Não tenho certeza de que ele estava certo nessas duas afirmativas; mas a tragédia, eu creio, é que elas são verdadeiras em nossos dias!
A sociedade está perdendo rapidamente o senso da eternidade; e uma das razões para isso é que nós, crentes, não estamos vivendo com a eternidade em nossa mente. Não estamos trabalhando sob a luz da eternidade, nem vivendo no gozo e na antecipação da eternidade. Estamos tão destituídos do senso de eternidade quanto o mundo ao nosso redor. Nós a cantamos em nossos hinos, falamos sobre ela em nossas orações, ouvimos a seu respeito nos sermões, mas ela não está em nossa alma; a eternidade não faz parte da urdidura e da trama de nossa vida.
A Presença de Deus no Avivamento
Eu creio que necessitamos de avivamento nacional proveniente do Espírito Santo, porque o avivamento sempre coloca de volta a eternidade na mente dos homens e das mulheres. No avivamento, podemos pregar sobre a morte, e as pessoas a sentirão; podemos pregar sobre o inferno, e as pessoas o sentirão. Precisamos conhecer a presença de Deus no avivamento.
Eis a descrição de acontecimentos que se deram em Comber, uma pequena cidade que dista quinze quilômetros de Belfast, quando Deus varreu Ulster em 1859.
“Toda a cidade e os arredores marcaram aquelas palavras; toda a cidade e os arredores foram despertados. Muitos não descansaram de maneira alguma na primeira noite, e durante vários dias grande número de pessoas foi incapaz de realizar seus deveres habituais e se dedicaram quase incessantemente ao estudo das Escrituras, a cantar e a orar; e, no primeiro mês, com apenas três exceções, dentre elas, eu mesmo, o pregador que estou relatando, não conseguiram ir para cama antes do amanhecer.”
Observem que toda a cidade e os arredores estavam cônscios da eternidade. Quando Deus se manifesta através de um avivamento, mesmo aqueles que não são convertidos são tocados e se tornam cientes da eternidade.
O avivamento é uma conscientização da presença de Deus. Em Herrnhut, região do Conde Zinzenorf, no verão de 1727, Deus se manifestou repentinamente entre aquele pequeno grupo de refugiados; e lemos que entre eles houve “um senso da proximidade de Cristo”. Em Pion Giang, na Coréia do Norte, em 1907, “a sala ficou repleta da presença de Deus’. Em Yarmouth, na costa leste da Inglaterra, em 1921, o jornal Yarmouth and Gorleston Times relatou no dia 10 de novembro: “Deus se tornou bastante próximo”. Quando foi que o jornal de sua cidade veiculou palavras como estas?
Uma das principais características do avivamento é um solene temor. Em Cambuslang, na Escócia, somos informados sobre “a glória espiritual desta solenidade”; e, novamente, em 1934, em Lewis: “A solenidade destes cultos inspirava temor”. Robert M. M’Cheyne escreveu a respeito de uma reunião na igreja, em Dundee, em 1839: “Todos os ouvintes se encontravam curvados para frente, em uma postura de atenção extasiada”. R. B. Jones, no país de Gales, em 1904, falou sobre “todo o lugar sentir-se reverente pela glória de Deus”. Essas experiências, os homens e as mulheres nunca esquecem, mesmo que não sejam convertidos. Repentinamente, eles são alertados em relação à eternidade e ao inferno.
Aviva a Tua Obra, ó Senhor!
Portanto, o que desejamos muito em nossa nação, quando oramos por um avivamento? Com certeza, não anelamos pela vindicação de nossa igreja, de nossa denominação ou de nossa teologia. Desejamos muito que Deus restaure aquele senso da eternidade, o senso que progressiva, sistemática e sucessivamente temos removido de nossa mente. Oramos por aquilo a respeito do que o profeta Ezequiel falou: “E eis que, do caminho do oriente, vinha a glória do Deus de Israel; a sua voz era como o ruído de muitas águas, e a terra resplandeceu por causa da sua glória”. Precisamos que a voz de Deus seja ouvida, para que a glória de Cristo seja vista em seu povo e que a eternidade seja trazida de volta à mente e ao coração dos homens. Anelamos ver Jesus Cristo sendo honrado, amado e exaltado em nossos dias.
Como crentes, precisamos lembrar: tudo que fazemos é feito à luz da eternidade. Pregamos, pensamos, trabalhamos e evangelizamos à luz da eternidade. Nos deitamos à noite e acordamos no outro dia à luz da eternidade. E, quando Deus colocar de volta a eternidade em nossa mente e em nosso coração, isso pode começar a despertar toda a nação que nos cerca.
Devemos orar para que Deus se agrade em abrir os céus e derramar seu Espírito em um avivamento; pois somente então a eternidade estará de volta à agenda e o povo saberá que existe um Deus. Ainda que nem todos serão salvos, todos conhecerão a eternidade e saberão que Deus é real. Que esta seja a nossa realidade nesse novo milênio!