Que modo maravilhoso de concluir um evangelho. A história do Deus que desceu dos céus à terra conclui com a garantia: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28.20). Embora Jesus estivesse prestes à ascender, Mateus deseja que ouçamos que a proximidade da encarnação de Cristo continua. Ele, que é Emanuel, Deus conosco, promete viver à altura do seu nome. Jesus em breve retornaria aos céus, enquanto seus discípulos saíam pelo mundo na missão do evangelho. Mas eles não estariam seguindo caminhos separados. Jesus e seus irmãos não poderiam ser apartados pela distância entre o reino do mundo e o reino dos céus. Como poderia ser isto?
As instruções missionárias de Jesus podem ser corretamente traduzidas: “batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (28.19). Isso nos fornece uma compreensão significativa da conversão e do sinal e selo do batismo. Nossas vidas são realocadas quando somos unidos a Jesus pelo Espírito, por meio da fé. Nós somos colocados em Jesus. Assim, agora, nossa vida está “oculta juntamente com Cristo, em Deus” (Colossenses 3.3). Paulo escreve de modo enérgico acerca dessa realidade ao afirmar que o Pai “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (1.13). É como se Deus enviasse um caminhão em velocidade para nos tirar da vizinhança desagradável, maligna e arruinada do pecado para as espaçosas ruas da liberdade em Cristo. Pedro o descreve como Deus nos chamando “das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pedro 2.9). O próprio Jesus exprime essa mudança de endereço da vida de um modo ainda mais místico: “Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós.” (João 14.20). Esses versículos dão alguma textura à frase que Paulo usa com tanta frequência: nós agora estamos em Cristo.
Jesus está conosco todos os dias porque é em Jesus que eu vivo. Os crentes estão de uma vez para sempre unidos a ele. Jesus retornou aos céus e, espiritualmente, nos levou consigo. Que mistério! “E estando nós mortos em nossos delitos, [Deus] nos deu vida juntamente com Cristo […] e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Efésios 2.5-6). Sim, isso é uma realidade espiritual agora, assim como o meu corpo tão obviamente permanece aqui no chão. Um dia, é claro, a união será completada ao recebermos nossos corpos ressurretos, para que estejamos eternamente em comunhão imediata com Jesus e uns com os outros.
Entrementes, enquanto estivermos na terra, Jesus permanece conosco por meio do seu Espírito, o qual ele enviou para nós. Paulo escreve: “O amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Romanos 5.5). O Espírito é a presença pessoal de Jesus “habitando” em nós. Pelo Espírito, o Pai e o Filho fazem morada em nós (João 14.23). Os cristãos, tanto individual como corporativamente, como igreja, são uma habitação na qual a eterna troca de amor entre as pessoas da Trindade se revela. O Espírito Santo em nós nos mantém unidos a Jesus, que adentrou nos céus com seu corpo ressurreto. Ele continuamente nos eleva para vermos que a nossa verdadeira vida está lá, em Cristo.
O entendimento bíblico de que Jesus está conosco é muito diferente de qualquer ideia de que a presença de Jesus apenas serve como um proveitoso impulso para a vida que eu estou tentando construir para mim mesmo. “Estou convosco todos os dias” não significa que eu tenho uma miniatura de Jesus guardada dentro de mim para servir de inspiração em meio às minhas ambições ou para me confortar quando as coisas não acontecem do meu jeito. Em vez disso, minha pequenina vida é colocada diante da grandeza de Jesus. Ele está conosco tão profundamente porque, pelo Espírito, nós estamos em Cristo. Meu propósito na vida, então, é dirigido pela missão dele para com o seu povo.
Então, eu sou impelido para fora do meu lar aconchegante, onde eu gostaria de permanecer enquanto Jesus me confortava. Ele me envia ao meu vizinho mau-humorado para que eu lhe dê testemunho com a consciência de que Jesus o ama tanto quanto ama a mim. “Eu estou com você à medida que você o ama em mim”.
Jesus vai comigo da minha rua relativamente segura para aquele bairro violento cheio de marginais ameaçadores. “Faça uma tenda aqui”, ele sussurra, “assim como eu fiz para mim uma tenda de carne em um mundo destruído”. Isso pode significar abrir uma escola, um centro esportivo ou uma clínica médica em Seu nome.
Exatamente aonde eu não quero ir, Jesus já está lá. Ele até me envia para que eu me dedique a pessoas que irão zombar da simples menção do seu nome. Eu gostaria de evitá-las, de manter distância de polêmicas. Mas o Senhor que continua a confundir o mundo o qual veio reivindicar me lembra: “Você está em mim e eu estou enviando o meu evangelho ao mundo. Então você pode confiar que eu estou com você à medida que você se envolve nessas situações delicadas”.
Jesus está conosco todos os dias, antes de tudo e mais profundamente porque o seu Espírito nos uniu à sua vida e, portanto, à sua missão.