As categorias de respostas do coração de uma pessoa que busca ajuda pastoral através do aconselhamento oferecem uma forma de avaliar o que uma pessoa adora. Esse ímpeto natural de adoração será direcionado para Deus ou para inúmeros deuses rivais: a afirmação de aceitação social, a satisfação de realização profissional, a segurança de um relacionamento, o conforto de um estilo de vida mais tranquilo. Sobre o que uma pessoa tende a falar, a quem ela é atraída, como gasta o seu tempo – em resumo, como seu coração responde à vida – são questões de adoração. Os pastores devem pensar no aconselhamento não primariamente como uma tentativa de corrigir problemas, mas como uma tentativa de reorientar a adoração, de coisas criadas para o Criador, por meio do evangelho de Jesus Cristo.
Aqui estão dois cuidados importantes que devem ser tomados quando você explora a situação de uma pessoa e as respostas de seu coração. Primeiro, não seja apressado ou simplista em rotular o que o coração da pessoa está adorando. Você não está à caça de um ídolo, como se essas coisas pudessem ser rotuladas facilmente. Um viciado em vídeo games, de trinta e quatro anos, não está adorando seu Xbox. Uma adolescente sexualmente ativa não está adorando seu namorado. Como os deuses da fertilidade cananeus aos quais os israelitas eram tão inclinados, estes objetos são meios de atingir algo mais. Israel estava enamorado não de uma peça de madeira esculpida, mas do que pensavam que o deus lhes poderia dar: fertilidade, riqueza, prosperidade, segurança, aceitação, perpetuidade de gerações – em outras palavras, a vida nos termos deles mesmos. Os israelitas queriam todos estes benefícios à parte de seu Criador. Por isso, o verdadeiro problema do povo de Israel era que eles rejeitavam a Deus para seguir a vida sem ele.
O viciado em vídeo games está usando o Xbox como um objeto para atingir várias possibilidades: o significado de realizar grandes feitos, um escape das dificuldades da vida real ou apenas o prazer da estimulação do impulso. Em qualquer que seja a combinação, ele está procurando a vida sem o governo de Deus. A adolescente sexualmente ativa está usando seu namorado para atingir várias possibilidades: um senso de aceitação num relacionamento, aceitação em um grupo de colegas, escape de uma família não amorosa, talvez o simples prazer do sexo. Estas são questões de adoração que são mais profundas do que o objeto na superfície.
Segundo, quando uma pessoa vai até você em busca de ajuda, não suponha que ela está totalmente consciente do que a motiva. Pessoas podem ter motivos, desejos e até crenças das quais não estão plenamente cientes. Nem todo aspecto da atitude de uma pessoa é resultado de determinação consciente e imediata. Não estamos necessariamente concordando com a teoria do inconsciente prevalecente em algumas psicologias. Estamos apenas salientando que pessoas têm diferentes graus de consciência de seus desejos, crenças e intenções. O aconselhamento desenvolve frequentemente o discernimento de uma pessoa quanto ao seu próprio coração, ajudando-a a ser mais consciente de por que pensa, sente ou age de certas maneiras.
Por que estamos mencionando esta segunda advertência? Ela nos guarda de cair no erro de simplesmente admoestar pessoas. Frequentemente, a exortação direta não é o lugar onde devemos começar. Um marido tomado de raiva pode pensar que está apenas irado por causa do assunto da última briga – ou seja, uma discordância quanto às finanças. Identificar seu ídolo como dinheiro e repreendê-lo por sua raiva não funcionará. Você tem de ajudá-lo a se tornar mais consciente das coisas que ele crê a respeito de sua esposa (que ela é materialista ou desrespeitosa), das coisas que ele quer (liberdade para fazer o que lhe agrada) e de outras maneiras pelas quais sua ira se expressa (comentários sarcásticos, falta de cordialidade para com a esposa).
O que este homem precisa é de instrução paciente e de um trabalho exploratório que ilumine seu coração. Isto leva tempo. Você não quer apenas dizer-lhe quais são os seus ídolos e, depois, admoestá-lo a adorar a Deus, em vez dos ídolos. Não suponha que as pessoas são verdadeiramente conscientes do que motiva seus sentimentos e comportamento. Admoestação é necessária, porém é mais eficiente quando alguém se torna consciente do que está fazendo e de por que o está fazendo.
Estas advertências a respeito de como abordar um coração adorador o ajudará a lidar com pessoas de maneiras apropriadas à condição em que estão. Paulo disse em 1 Tessalonicenses 5.14: “Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos”. Paulo nos encoraja a agirmos com discernimento em nossa abordagem com pessoas que têm problemas diferentes. Pessoas ociosas precisam de advertência. Pessoas tímidas precisam de encorajamento. Pessoas fracas precisam de ajuda. Os duvidosos precisam de esperança. Os tolos precisam ser repreendidos. Os que sofrem abusos precisam de segurança. Os entristecidos precisam de consolo. E a lista poderia prosseguir.
Aquele que é paciente em toda conversa de aconselhamento está sendo “longânimo para com todos”. O crescimento espiritual demanda tempo, e isso exige paciência tanto do conselheiro quanto do aconselhando. Tenha em mente o quadro maior e a visão de longo prazo. O aconselhamento pode durar poucas sessões, mas o crescimento espiritual deve seguir por toda a vida (Fp 1.6; 2.12-13). Nosso alvo abrangente é construir infraestrutura espiritual na vida de pessoas, e não somente estancar vazamentos. À proporção que aumenta a conscientização das pessoas quanto a seu próprio coração, assim também cresce a sua fé em Cristo, para que se tornem mais semelhantes a Cristo no decorrer de cada dia.
Ofereça remédios redentores
Finalmente, ofereça remédios redentores. Muito do seu trabalho no passo anterior consistiu em descobrir como o coração está adorando. Neste passo seguinte, encorajamos uma pessoa a adorar a Deus em sua situação específica. Como ela está reagindo às dificuldades em sua vida? Ela tem fé em Deus ou colocou sua esperança em qualquer outro objeto? Nenhuma estratégia que um pastor utilize pode induzir uma pessoa a adorar. Somente Deus pode compelir a adoração no coração. E, embora haja um mistério aqui, algumas coisas são claras na Escritura.
– Relacionar-se corretamente com Deus só acontece pela fé (Rm 1.16-32).
– A fé vem pelo ouvir a Palavra de Cristo (Rm 10.17)
– A Palavra de Cristo é proclamada por agentes humanos (Rm 10.14-16).
A fé é um dom de Deus, mas Deus escolhe usar pessoas para anunciar sua Palavra como instrumento para incitar a fé. Você pode pensar em aconselhamento como algo que envolve proclamação padronizada da Palavra de Deus como um meio de produzir fé em Cristo, para que o coração possa adorar corretamente. Este é o seu alvo: promover a fé que resulta em adoração sincera que exalta a Cristo, apesar das circunstâncias.
Isto não significa que, depois de haver obtido um senso do problema, você apenas começa a pregar para os aconselhados, em vez de falar com eles. O aconselhamento é menos semelhante a um sermão e mais semelhante a uma conversa. Temos sentido a mesma tentação que você sente em aconselhamento – dizer às pessoas o que está errado em sua vida e o que a Palavra de Deus diz e, depois, conduzi-las para fora do gabinete. Por favor, não faça isso. Não pregue para elas, fale com elas.
No entanto, é uma conversa que tem o propósito de instruir. Afinal de contas, você é um pastor. Estude a Escritura com os aconselhados, pense em maneiras de aplicá-la à situação espiritual deles e faça planos concretos com os quais se comprometerá. Ensine-os a partir do texto, especialmente quando há incompreensão ou má interpretação. Talvez você não saiba que uma reclamação razoavelmente comum dos que buscam conselheiros profissionais é que não recebem orientação suficiente a respeito de como lidar com seus problemas. Os pastores não devem também proceder desta forma. Devem, antes, ser canais da sabedoria de Deus para pessoas sofredoras e pecadoras.
Dependendo da pessoa e da situação, o pastor pode empregar inúmeras estratégias redentoras quando sugerir uma solução.
Que Deus nos ajude na tarefa de ajudar pessoas!
Trecho do livro: “O Pastor e o Aconselhamento“, por Jeremy Pierre & Deepak Reju.