Com freqüência, alguns dizem que, “na igreja, 10% dos membros assumem 90% das responsabilidades”. Espero que isso seja um exagero, mas receio que essas palavras provavelmente são mais exatas do que alguns estão dispostos a admitir.
Uma conversa recente com um querido irmão em Cristo me constrangeu a escrever algumas palavras de consideração sobre este assunto.
Sinto constante necessidade de conselhos e de sabedoria da parte de pessoas que têm demonstrado, ininterruptamente, seu compromisso com Cristo e seu amor por Ele. Apesar disso, Deus me colocou numa posição em que outras pessoas se dirigem a mim em busca de conselho ou simplesmente para abrirem seus corações e compartilharem seus sentimentos e suas lutas.
Durante os dezessete anos em que tenho sido crente, tenho ouvido, por repetidas vezes, muitos crentes fazerem declarações como estas:
“Nunca fui convidado para desfrutar da hospitalidade da casa de nenhum irmão da igreja”;
“As pessoas parecem tão frias nesta igreja”;
“Ninguém jamais telefona para mim ou conversa comigo nos cultos da igreja”;
“Jesus não aprovaria essas ‘panelinhas’. Estou pensando em mudar de igreja”.
Um lugar de afabilidade
Talvez você já ouviu tais afirmações em sua igreja. É possível até que você já fez algumas delas! Bem, infelizmente, essas coisas sempre refletem a verdadeira experiência de uma igreja local.
Tal situação é dolorosamente infeliz, por várias razões. Primeira, isso não agrada a Cristo; não é o que Ele deseja para seu povo. Ele quer que sua igreja esteja transbordando de comunhão e hospitalidade para com todos.
Cristo deseja que sua igreja seja um lugar de intimidade e amor. Certamente, Ele não quer facções na igreja e se mostra zeloso para que nenhum membro do Corpo sinta que não está sendo amado.
Segundo, se esses elementos existem em uma igreja, torna-se extremamente difícil evangelizar e convidar outras pessoas para virem aos cultos.
Sempre que convido pessoas para virem à minha igreja, sinto intenso desejo de que elas sejam dominadas pelo amor de Cristo, por meio dos irmãos e irmãs que têm demonstrado esse amor para comigo.
Desejo não somente que elas ouçam uma mensagem clara do evangelho, mas também que experimentem e observem como o evangelho age nas vidas dos membros da igreja.
Terceiro, quero ver o crescimento e o progresso da igreja, não somente em números, mas especialmente nas coisas do Espírito. Negligenciar o amor significa que o Corpo está ferido e tem de ser curado, antes que possa crescer mais.
Por último, tal situação é triste porque, na maioria das vezes, as coisas que os crentes lamentam são verdadeiras, pelo menos no que diz respeito à experiência daquele que está lamentando.
Nosso Modelo
Então, o que dizer a pessoas que estão feridas e se abriram para você dessa maneira? Bem, eis o que eu faço. Primeiramente, esforço-me para confortar seus corações feridos. Procuro recordar-lhes que a igreja é constituída de pecadores redimidos, mas imperfeitos.
E, embora desejemos desfrutar de todas as bênçãos de participarmos de uma igreja local, não podemos encontrar consolo e confiança nas pessoas, e sim em Cristo. Temos de olhar para Jesus, a fim de que Ele seja nosso modelo e conselheiro em todas as circunstâncias.
Em seguida, eu lhes recordo as palavras do apóstolo Paulo, escritas em Filipenses 2.2-4: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros”.
Digo-lhes que a única maneira de uma igreja ser curada dessas coisas é seus membros pararem de focalizar a si mesmos. Os crentes têm de fazer para os irmãos aquilo que eles alegam os outros não estarem fazendo por eles.
Compensando
Em outras palavras, se os outros membros da igreja não o convidam para desfrutar da hospitalidade deles, convide-os à sua própria casa, não esperando receber nada em retorno (exceto vê-los motivados pelo amor de Cristo demonstrado em sua hospitalidade para com eles).
Se ninguém telefona para você, a fim de saber como você está se sentindo, telefone para eles e mostre sincero interesse pela vida deles. Observe bem os detalhes de sua conversa, de modo que você possa orar pelas necessidades e pelo crescimento espiritual deles. Encoraje-os, a fim de que sejam infectados por um amor contagiante para com todos.
Os crentes que me procuram, eu os incentivo a ler 1 Coríntios 12, onde o apóstolo Paulo fala sobre as várias partes e funções do corpo de Cristo. Utilizo minha própria incapacidade física como exemplo.
Minhas mãos e meus pés não estão realizando suas funções. Portanto, meus olhos, meus ouvidos e minha língua têm de compensar as partes de meu corpo que não estão funcionando.
Eu poderia lamentar por causa de minhas mãos e meus pés, permitindo que eles me preservassem em improdutividade e inércia. Não, isso não! Pela graça de Deus, emprego os membros saudáveis de meu corpo para compensar aqueles que são improdutivos. Desta maneira, posso ser uma pessoa produtiva e causar diferença, tanto em minha vida como na vida de outros.
A segunda milha
Aos crentes que me procuram peço que digam essas coisas para si mesmos e para sua igreja. Se gastarmos todo o nosso tempo sendo críticos para com os membros que estão negligenciando suas responsabilidades, toda a igreja sofrerá. Com certeza, ela não melhorará!
Mas, se fizermos tudo que pudermos para compensar aquilo que está faltando e andarmos a segunda milha, por utilizarmos os nossos dons e talentos, creio que a igreja florescerá. Ela refletirá a glória de nosso Deus, da maneira mais prática possível, conforme Deus tenciona que façamos.
É claro que temos de orar e fazer tudo que pudermos para nos assegurarmos de que ninguém, em nossa igreja local, está sendo negligenciado ou (o que é pior) evitado. No entanto, a triste realidade é que alguns continuarão a sentir que não são amados, enquanto outros se limitarão a viver em seu próprio conforto.
Entretanto, se nós, que reconhecemos essas coisas nos tornarmos mais e mais envolvidos com aqueles que não se sentem amados e com aqueles que são complacentes, o Espírito de Deus transformará nossas igrejas. Poderemos em breve descobrir que 100% dos membros da igreja estão cumprindo 100% das responsabilidades que Deus lhes outorgou!
Que o “Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer” (Romanos 15.13).