Há alguns anos, concluí um sermão sobre a criação de filhos dizendo que nossas responsabilidades como pais finalmente terminam quando nossos filhos se tornam adultos. Depois do culto, um de nossos amigos mais velhos, Elmer, colocou o braço em meu ombro, sorriu e disse: “Jim, ninguém deixa de ser pai”. Eu não tinha ideia de quanto essas palavras seriam verdadeiras em minha vida.
Embora este livro seja uma colaboração entre Jim Newheiser e Elyse Fitzpatrick, todas as declarações em primeira pessoa são de Jim. Ao longo do livro, você também encontrará frequentemente testemunhos pessoais ou conselhos de pais como você. Essas declarações foram extraídas das experiências de aconselhamento de Jim e de entrevistas com familiares cujas histórias provavelmente se cruzam com a sua de muitas maneiras. Houve permissão para usar essas declarações, e todos os nomes e situações foram devidamente alterados.
Naquela época, nossos filhos ainda moravam conosco, mas o comentário de Elmer me fez refletir. Então, notei que ele e sua esposa, Evelyn, continuavam muito envolvidos na vida de seus filhos — e alguns tinham quase a minha idade. Por exemplo, quando um de seus filhos adoecia, Elmer atravessava o país para ficar ao seu lado e ajudar a manter seu negócio em funcionamento até que o filho se recuperasse. Ele tem outro filho que, junto com a esposa, é missionário no México, e eles visitavam o casal com frequência, ajudando em seu ministério. Além dessas viagens constantes para fora da cidade, Evelyn era envolvida com o ensino domiciliar de uma neta que morava perto dela. A vida de Elmer era a prova do que ele dissera. Ele nunca deixou de ser pai.
Meu entendimento acerca de nossas responsabilidades contínuas como pais cresceu quando li uma história no jornal local sobre uma mulher que estava comemorando seu aniversário de 105 anos. Ao falar de sua relação com os filhos, o artigo citou suas palavras: “Bem, eles não são mais crianças, mas, para mim, continuam sendo”. Seus filhos tinham 74 e 75 anos e, embora já fossem adultos havia mais de meio século, continuavam a ser as suas “crianças”. E, como aprendi, se você tem seus próprios filhos, também nunca deixará de chamá-los de “crianças”.
Ao longo dos últimos anos, minha esposa e eu vimos a entrada de nossos três filhos na fase adulta. Somos gratos pelo bom relacionamento que temos com cada um deles. Aprendemos muito vendo nossos meninos se tornarem homens, mas a verdade é que foi um aprendizado difícil para nós. Enquanto atravessávamos essa época turbulenta, com frequência eu tinha a sensação de me encontrar em mares nunca antes navegados. Tentei encontrar recursos bíblicos para nos ajudar a navegar por essa área tão pedregosa, mas não havia nada. Havia, é claro, muitos bons livros cristãos sobre a criação de filhos mais novos. Em anos recentes, também foram publicados alguns bons livros sobre a criação de adolescentes e sobre como lidar com a rebelião entre adolescentes. Mas não havia nada que abordasse os desafios específicos que eu e Caroline estávamos enfrentando — desafios que nos confrontavam como pais e que confrontavam nossos filhos como filhos adultos.
Os conflitos e as dificuldades entre os pais e seus filhos adultos não são questões entre os cristãos apenas. A revista Time produziu uma matéria de capa sobre o fenômeno social dos twixters, um termo que se refere a adultos que ainda moram na casa dos pais e que permanecem na transição entre a infância e a vida adulta. Em muitos sentidos, eles se parecem mais com crianças grandes no que se refere à administração de responsabilidades maduras. No filme Armações do amor, Matthew McConaughey retrata um típico twixter, um preguiçoso de trinta e poucos anos que finalmente leva seus pais ao desespero. Determinados a se livrar desse estorvo, eles contratam um especialista para arquitetar circunstâncias que eles esperam induzir o filho a sair de casa. Embora as coisas não tenham funcionado exatamente da maneira como haviam planejado, o filho finalmente sai de casa e o filme termina com os pais cantando alegremente: “Hit the Road, Jack”.
Há alguns meses, enquanto eu caminhava no aeroporto de Phoenix, tornou-se claro para mim que esse fenômeno twixter está se tornando parte de nossa vida diária. Eu vi um jovem vestindo uma camisa que declarava de forma ousada: “Ainda moro com meus pais”. Na hora, achei que ele só estava tentando ser engraçado, mas, então, eu me perguntei por que ele usava uma camisa assim.
A comunidade cristã está enfrentando seus próprios desafios em relação a isso, pois muitos jovens adultos, criados em lares cristãos, estão decidindo abandonar a fé. Uma pesquisa realizada pelo Grupo Barna divulgou que cerca de seis a cada dez jovens na faixa dos 20 anos que eram envolvidos com a igreja na adolescência deixaram de participar ativamente das atividades cristãs. Nos últimos anos, a primeira geração de crianças que fizeram ensino domiciliar está se formando e se tornando adulta, mas muitas delas não conseguiram atingir as altas expectativas de seus pais. Não por serem filhos que deixaram de sair de casa; é que deixaram de abraçar a fé de sua família. Reb Bradley, líder do movimento de ensino domiciliar, escreveu:
Nos últimos anos, escutei uma multidão de pais aflitos de todas as regiões do país que fizeram ensino domiciliar. Muitos eram líderes no movimento. Esses pais formaram a primeira geração de crianças somente para descobrir que seus filhos não se tornaram aquilo que eles esperavam. Muitos eram modelos de estudantes de ensino domiciliar, mas, em algum momento depois do aniversário de 18 anos, começaram a revelar que não acreditavam nos valores de seus pais. Alguns desses jovens tornaram-se adultos e deixaram a casa dos pais como rebeldes. Alguns se casaram de um modo que contrariava os desejos de seus pais, enquanto outros se envolveram com drogas, álcool e imoralidade. Eu até ouvir falar de diversos jovens exemplares que não acreditavam mais em Deus. Meus filhos adultos enfrentaram lutas que nunca achei que enfrentariam. A maioria desses pais continua perplexa com as escolhas de seus filhos porque estavam completamente confiantes de que sua maneira de cria-los filhos impediria qualquer rebelião desse tipo.
Pais bem-intencionados, que dedicaram duas décadas de suas vidas a tentar moldar os filhos, têm dificuldade para dar liberdade a seus filhos adultos, especialmente quando fazem escolhas que eles não aprovam. Que autoridade os pais têm sobre seus filhos adultos? O que os pais devem fazer quando não concordam com as decisões de seus filhos? Um pai que entrevistamos escreveu: “Por alguma razão, pensávamos que, quando nossos filhos completassem 18 anos, nossa função como pais chegaria ao fim. Pelo contrário, descobrimos que a época em que mais fomos desafiados como pais foi entre os 18 e os 23 anos… quando as crianças eram pequenas, era simples ser pai — não era fácil, mas era simples”. Outro pai escreveu: “Nunca imaginei que seria assim tão difícil”.
Além da relação com nossos próprios filhos adultos, também atuo como conselheiro bíblico no Instituto de Aconselhamento e Discipulado Bíblico (IBDC, na sigla em inglês) em Escondido, na Califórnia. Ao longo dos últimos anos, lido com uma grande porcentagem de casos que envolvem conflitos entre pais e filhos adultos. Já lidei pessoalmente com os tipos de problemas que apresento aqui. Também já vi pais que tentam controlar seus filhos adultos, tratando-os como se ainda fossem crianças incapazes de tomar, sozinhos, decisões maduras. Já ajudei famílias que estavam enfrentando conflitos por causa de escolhas relacionadas a namoro e casamento, por causa de filhos adultos que tinham problemas com dívidas ou com a lei e até conflitos relacionados ao papel que os pais devem desempenhar na vida de seus netos.
Nossas almas foram enriquecidas com o tempo que passamos aconselhando famílias parecidas com a sua. Somos extremamente gratos por elas porque vemos o poder da Palavra de Deus na vida de seu povo quando as pessoas adquirem confiança em sua vontade e experimentam as bênçãos de sua presença e sabedoria. Temos certeza de que você experimentará a mesma bênção quando aprender o significado de dizer com Elmer e conosco: “Embora às vezes seja difícil, nunca deixarei de ser pai”.
Uma coisa que aprendi em meio a toda essa dor de cabeça e todos esses conflitos é que um livro que lida com todas essas questões a partir de um ponto de vista consistentemente bíblico é muito necessário. Porque cremos plenamente tanto na infalibilidade da Escritura como na suficiência da Palavra de Deus para nos equipar para toda boa obra (2Tm 3.16–17), é provável que este livro seja diferente de todos os outros que você já leu. Este livro pressupõe que a Escritura é suficiente não somente para nos ensinar a maneira de sermos salvos, mas também para nos ajudar a estabelecer relacionamentos sábios e piedosos com nossos filhos adultos.
Existe outra característica que faz com que este livro seja único: em vez de depender de uma lista de passos previsíveis, ele apontará para a cruz e para o único Homem que tinha um Pai perfeito e era um Filho perfeito. É por causa de sua encarnação — ele realmente viveu em uma família normal, com um pai, uma mãe, irmãos e irmãs — que podemos ter a certeza de que ele experimentou cada tentação que você enfrenta agora. É por causa da vida dele sem pecado, a maneira como amou seu Pai celestial e sua família perfeitamente, que você tem acesso à presença de Deus como um filho perdoado e justificado. É por causa de sua morte na cruz, que pagou o preço por todos os seus pecados — não só os pecados grandes, mas também a forma aparentemente insignificante como você amou a si mesmo ou seus filhos mais que a Deus —, que você pode apresentar-se diante de seu Pai completamente sem pecado e completamente justo. Ele também é o seu Senhor ressurreto que conquistou a morte e o poder do pecado para libertá-lo da escravidão da antiga maneira de fazer as coisas. Você pode mudar, porque Cristo ressuscitou! E, finalmente, a mensagem do evangelho nos faz lembrar que, atualmente, Jesus Cristo está reinando como Senhor sobre todas as coisas, supervisionando, de modo soberano, tudo o que acontece em sua vida e na vida de seus filhos. Jesus Cristo também enviou o Espírito Santo para habitar em seu coração e assegurá-lo de que essas lutas não são tudo o que existe. Talvez você esteja passando por um momento de profundo sofrimento, mas nosso foco não deve estar somente nesta vida.
Embora seja verdade que a paternidade termina quando entramos na eternidade, se você é cristão, pode estar certo de que Deus nunca deixará de ser o seu Pai. Ele prometeu que nunca iria deixá-lo ou abandoná-lo; ele é o seu Pai, e isso nunca mudará. Ele sempre vai protegê-lo, sustentá-lo e perdoá-lo. Ele é o seu Pai eterno e misericordioso. Verdadeiramente, você pode descansar e enfrentar o dia com confiança. Este mundo e essas dificuldades não são tudo o que existe. Há um Pai celestial para quem você pode direcionar todas as suas preocupações e que carrega você em seu coração.