É fácil para líderes eclesiásticos olharem apenas para sua esquerda ou apenas para sua direita em busca de evitar os erros dos outros. Algo que aprendi vendo Tim Keller é a importância de olhar para ambas as direções. Consequentemente, o homem sempre parece ter uma “terceira via” para oferecer.
Quando o tópico se volta para filosofia ministerial ou práticas eclesiásticas, tem sido a tendência dos escritores do 9 Marcas como eu olharem para a esquerda em direção às leves tendências do evangelicalismo padrão. Isso é uma resposta ao evangelicalicalismo da minha juventude, que era constantemente ansioso em evitar se afastar muito para a direita em direção a algum tipo de fundamentalismo autoritário.
Muitas coisas na vida são binárias e não há uma terceira opção. Mas acredito que há erros na direita e na esquerda da filosofia bíblica de ministério. Na esquerda estão os erros do pragmatismo, e na direita estão os erros do autoritarismo. O que é mais chocante para mim é o que eles têm em comum.
Irmãos gêmeos
À primeira vista, eles aparentam ser bem diferentes. Pragmatismo é flexível. Ele diz: “Vamos tentar isso, ou isso, ou isso!”. Autoritarismo é rígido. Ele diz: “Faça o que eu lhe disse, agora!”. Pragmatismo respeita a autonomia e o papel do consentimento, mesmo se as coisas ficarem um pouco confusas. Autoritarismo respeita a ordem, a eficiência e a realização. Certamente, o pragmatismo e o autoritarismo não são gêmeos idênticos.
Mesmo assim, são irmãos gêmeos. Olhe além da superfície e você encontrará um número surpreendente de semelhanças:
Ambos, o pragmatismo e o autoritarismo, são fixados em resultados.
Ambos definem sucesso pela mudança externa ou visível, portanto sujeitam seus métodos a qualquer variedade de padrões para medir o fruto visível.
Ambos dependem da engenhosidade humana para terem seus trabalhos realizados. Eles confiam em cérebros, força bruta ou beleza para cumprir seus fins. O braço forte de alguém. O charme de outra pessoa.
Na área do ministério cristão, diferente do autoritarismo, o pragmatismo não assume que há uma “forma certa” de fazer as coisas, mas que Deus deixou essas coisas para nós. De modo envergonhado, ele conclui: “Minha maneira é boa como qualquer outra, eu acho”. Mas isso, ironicamente, não está totalmente fora de relação com a maneira do autoritarismo: “Minha forma ou sai fora!”. Ambos podem subestimar a “maneira de Deus”.
Preste atenção a qualquer sermão pragmático (“Sete passos para um casamento saudável”) ou para um sermão autoritário (“Arrependa-se, senão”). O que você poderia ouvir?
- Ambos exploram a carne (quer pelo medo ou pelo apelo ao apetite) para motivar ações em vez de apelar para o novo homem no evangelho.
- Ambos começam com imperativos da Escritura, não os indicativos do que Cristo cumpriu.
- Ambos impõem pesados fardos sobre a vontade, fazendo tudo que podem para fazer a vontade escolher corretamente, à parte de uma consideração de onde a vontade tem suas raízes plantadas – nos desejos do coração. Vergonha e moralismo são as ferramentas favoritas de ambas metodologias.
- Ambos requerem conformidade externa em vez de arrependimento do coração. Fazendo assim, criam fariseus.
- Ambos ultrapassam as fronteiras que a Bíblia tem dado permissão para ir, quer ao expandir o escopo da adoração corporativa e da missão cristã, quer ao dispor ordens onde elas não existem. Ambas rotas validam a consciência onde o evangelho não valida.
- Ambos são impacientes e querem ver decisões serem feitas “hoje!”. Como eles não reconhecem que decisões possuem sua fundação em última instância nos desejos do coração, eles se sentem bem-sucedidos onde quer que produzam uma decisão correta, sendo essa decisão forçada e manipulada ou não.
- Ambos confiam em sua própria força em vez de descansar no Espírito pela fé.
Agora, não há nada intrinsecamente errado em confiar nas sabedoria e força humanas para alguns fins, particularmente quando há uma ausência de revelação divina. Como você promove sua cafeteria? Como ganhar nos jogos de futebol? Com manter os dentes saudáveis?
Porém, quando se trata de ministério cristão, o principal erro do pragmatismo e autoritarismo é sua confiança em métodos naturais para cumprir fins sobrenaturais. Tomando emprestado de Paul David Tripp e Timothy Lane, eles prendem maçãs nas árvores em vez de regar e cuidar das árvores.
Uma terceira via: a palavra do evangelho e o Espírito de Deus
Como você alimenta e rega as árvores? Isso nos leva à terceira via. Ministérios cristãos confiam completamente na palavra do evangelho de Deus e no Espírito de Deus.
O ministério evangélico possui os seguintes atributos:
- Ele é pela fé. Ele crê que o Espírito de Deus sempre tem poder para transformar, e que ele irá fazê-lo se ele assim determinar.
- Ele descansa na palavra do evangelho de Deus. A verdadeira mudança acontece quando os olhos do coração de uma pessoa se abrem para a verdade da palavra do evangelho de Deus, a aceitando e abraçando. Eles veem sua verdade por si mesmos. Não é força ou beleza que os atraem, mas Deus e sua Palavra.
- Ele reconhece o papel da autoridade: Jesus tem autoridade, a palavra do evangelho de Jesus tem autoridade, a igreja de Jesus e seus líderes têm autoridade. Mas cada uma dessas autoridades é diferente e possuem diferentes mandatos, prerrogativas, jurisdições e sanções. E o ministério evangélico é muito sensível a essas diferenças, nunca confundindo uma autoridade com outra.
- Ele ajuda pessoas a considerar o que elas realmente desejam antes de dizer a elas o que devem fazer.
- Ele apela a cristãos na base no seu lugar no evangelho, não na força da sua carne. Um pastor cristão ou conselheiro não deveria dizer coisas como: “espero mais de você” ou “você é melhor do que isso”. Em vez disso, ele irá dizer: “Você percebe que você estava morto e foi ressuscitado com Cristo? Você é uma nova criatura. Agora, o que isso deveria significar?”. Uma autoridade cristã dará as ordens (por exemplo, 2Tessalonicenses 3.6, 10, 12), mas essas ordens serão adotadas em virtude da membresia no evangelho. Ela apela para as novas realidades do Espírito. Os imperativos deveriam sempre seguir os indicativos daquilo que Cristo tem dado.
- É excessivamente paciente e tenro, sabendo que somente Deus pode dar crescimento (1Coríntios 3.5-9). Um cristão imaturo pode precisar andar cem passos antes de chegar à maturidade, mas um pastor sábio raramente exige mais de um ou dois passos. Nosso exemplo nisso é Jesus. Ele diz: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma” (Mateus 11.29). Tomar seu jugo é se tornar um discípulo. É aprender. Mas ele é gentil e humilde em seu coração e seu jugo é leve e suave (11.29-30).
- Ele também deseja traçar linhas e fazer demandas que sabe que não podemos encontrar. Um bom doutor não somente faz questões cuidadosamente, mas identifica o câncer quando o vê. Da mesma forma, uma igreja ou um presbítero não deveriam usar sua autoridade para obscurecer as realidades do Evangelho de Deus, mas para iluminá-las. O poder das chaves, por exemplo, é para ser usado exatamente para esse fim.
Em resumo, o ministério cristão funciona pelo poder do Espírito e da Palavra, não pelo poder da carne.
Mas à semelhança de uma abordagem pragmática, ele faz apelos às pessoas. Pede por seu consentimento. Reconhece que um ato verdadeiro de fé não pode ser coercitivo.
Entretanto, à semelhança de uma abordagem autoritária, ele reconhece que Jesus é o rei e possui autoridade. Verdadeiras ações da fé não procedem de atores autônomos, mas manipulados. Em vez disso, pessoas devem se submeter amorosamente à sua palavra como rei.
O ministério cristão ama e confronta. Ele honra e desafia. Mais do que qualquer coisa, talvez, ele fala… e espera…
Tradução: Matheus Fernandes
Revisão: Yago Martins
Original: The Twin Temptations of Pragmatism and Authoritarianism