domingo, 13 de outubro
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Batismo na Terra Santa

O batismo como sinal de uma nova criação

¹³ Por esse tempo, dirigiu-se Jesus da Galileia para o Jordão, a fim de que João

o batizasse. ¹⁴ Ele, porém, o dissuadia, dizendo: Eu é que preciso ser batizado

por ti, e tu vens a mim? ¹⁵ Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por enquanto, porque,

assim, nos convém cumprir toda a justiça. Então, ele o admitiu. ¹⁶ Batizado

Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de

Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. ¹⁷ E eis uma voz dos céus, que

dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. (Mateus 3.13-17)

Antes de nos determos no texto bíblico, gostaria de resumir os temas principais do Evangelho de Mateus. Temos quatro evangelhos na Bíblia. Os três primeiros, os chamados Evangelhos Sinóticos, recebem essa designação por estarem em harmonia quanto à maneira como apresentam os relatos dos principais eventos relacionados à vida de Jesus (ainda que também tenham suas diferentes abordagens e ênfases). Entre os Sinóticos, a importância peculiar de Mateus reside no fato de ter sido escrito por um judeu e destinado também para judeus. Essa é a razão para ele usar tantas citações do Antigo Testamento. A própria estrutura do Evangelho de Mateus foi meticulosamente elaborada para emular a Torá, isto é, os cinco primeiros livros do cânon bíblico. Já que os escritos de Moisés, que formam a base da Bíblia toda, são cinco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), Mateus estrutura seu Evangelho ao redor de cinco grandes discursos de Jesus (capítulos 5–7, 10, 13, 18, 24–25). Os leitores judeus originais que lessem o primeiro Evangelho presumivelmente seriam capazes de perceber a conexão que Mateus faz entre os cinco discursos de Jesus com os cinco livros da Torá. 

A maneira como Mateus estrutura o seu relato ainda possui outras ligações interessantes com os livros de Moisés. Por exemplo, em Mateus 5–7, Jesus prega em um monte; em Êxodo, Moisés recebe a Lei em um monte. Moisés profetiza que viria alguém semelhante a ele (Dt 18.15), e Jesus, no Sermão do Monte, faz afirmações como: “Ouvistes que foi dito [por Moisés]… Eu, porém, vos digo…” (Mt 5.21-48). No entanto, em momento algum, Jesus rompe com o que Moisés dissera por ordem divina no passado. Antes, ele confirma e aprofunda as palavras de Moisés. “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir” (Mt 5.17), disse Jesus. Essa atitude evidencia que não há uma ruptura absoluta entre o Antigo Testamento e o Novo, mas, em muitos sentidos, uma continuidade.

Após o Sermão do Monte, em Mateus 8–9, temos uma série de 11 milagres (embora alguns eruditos contem apenas nove). A função dessa seção pode ser mostrar que a manifestação do poder de Deus durante o ministério terreno de Jesus é ainda maior do que o poder que ele demonstrou durante a libertação de Israel do Egito, ao enviar dez pragas sobre a terra do faraó. Mesmo se seguirmos a contagem daqueles que enxergam apenas nove milagres em Mateus 8–9, ainda pode haver uma relação com o relato de Êxodo, uma vez que a décima praga foi a morte dos primogênitos, enquanto o maior milagre no Evangelho de Mateus seria justamente o décimo, a ressurreição do Primogênito de Deus.

Assim, ao estruturar dessa maneira seu Evangelho, Mateus quer que percebamos que Jesus traz para os seus seguidores um novo êxodo, uma libertação ainda maior e mais poderosa do que aquela que Deus efetuou no Egito. Além disso, sendo um libertador maior que Moisés, Jesus é capaz de levar o seu povo a entrar na terra e herdá-la, ao contrário de Moisés. Em suas bem-aventuranças, Jesus afirma que “os mansos […] herdarão a terra” (Mt 5.5). Moisés é retratado como o homem mais manso da Antiga Aliança (Nm 12.3), mas, mesmo assim, não herdou a Terra Prometida. Ele apenas a contemplou de longe (Dt 34.1-5). Agora, porém, na Nova Aliança, Jesus promete a todos os seus seguidores, marcados pela mansidão, uma terra literal de paz. Jesus, que é mais “manso e humilde de coração” do que Moisés (Mt 11.29), levará o seu povo a herdar o que Moisés não foi capaz de fazer o seu povo herdar. 

Em suma, o que Mateus faz em seu Evangelho é mostrar que Jesus recapitula todos os eventos importantes do Antigo Testamento, mas com um poder muito maior. Em outras palavras, à medida que Jesus reconstitui seu povo e chama os gentios para fazerem parte dele, os seus seguidores experimentam uma salvação e libertação muito mais poderosa do que o povo de Deus experimentou nos dias de Moisés.

O batismo como sinal de uma nova criação

O batismo de Jesus no Rio Jordão deve ser compreendido dentro dessa estrutura que Mateus elabora. O primeiro evangelista, como vimos, quer que conectemos a história que ele conta com a Torá. Uma ligação óbvia do relato do batismo de Jesus pode ser feita com a narrativa da criação do mundo em Gênesis 1. Mais uma vez, o Espírito paira sobre as águas, enquanto se ouve a voz poderosa de Deus Pai. Mateus deseja que enxerguemos o batismo de Jesus como uma espécie de recriação. Antes de ensinar e anunciar o Reino de Deus, Jesus faz questão de ser batizado, a fim de sinalizar a chegada da nova criação.

Por consequência, quando nós, seguidores de Jesus, somos batizados, não o fazemos simplesmente para nos afiliar a uma igreja ou instituição, mas para indicar a nossa entrada no Reino de Deus, a nova criação que começou em Jesus. No presente, já podemos experimentar o poder do mundo vindouro, na medida em que fomos libertos do pecado, do diabo e do mundo. Não estamos mais sob o poder das trevas, ainda que elas ainda possam nos influenciar. No futuro, contudo, quando o plano de Deus for consumado, provaremos de maneira plena a glória, as virtudes e as excelências do Reino de Deus, quando a criação tiver sido completamente restaurada e todo mal tiver sido expurgado dela. O batismo é justamente o sinal dessa nova criação em Cristo Jesus, uma marca permanente da nova realidade de Cristo em nós.

No filme Gladiador, o general Maximus Decimus Meridius é traído e tem sua família assassinada. Ele é capturado e vendido como escravo para ser um gladiador. Quando em sua cela, pega uma pedra e começa a rasgar seu ombro, exatamente no local onde estavam tatuadas quatro letras: SPQR, sigla para Senatus Populus Que Romanus, isto é, O Senado e o Povo Romano — um emblema de que Maximus pertencia a Roma. No entanto, ninguém pode tirar a marca de Deus de nossas vidas: o batismo. Apesar de padecermos todo tipo de sofrimento, temos a marca permanente de Deus em nós, o emblema que indica que pertencemos a Cristo para sempre e que temos parte na nova criação.

Todos os discursos e milagres que se seguem no Evangelho de Mateus estão ligados a esse ato batismal inicial, o qual nos lembra que, em Cristo, tudo está se fazendo novo. Todos os que estão unidos a Jesus já são novas criaturas (2Co 5.17) e estão sendo recriados à imagem do próprio Cristo (Cl 3.9-10), a fim de que sejam capazes de herdar uma nova terra, completamente isenta de pecado. O batismo é, portanto, a marca que nos garante que somos herdeiros da Terra Santa restaurada. Nós somos os mansos que, conforme a promessa de Jesus, a herdarão e viverão nela para sempre. Conduzidos por um líder maior que Moisés, entraremos nessa terra e jamais seremos exilados dela.


O artigo acima é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Meditações na Terra Santa, de Franklin Ferreira e Jonas Madureira, em breve disponível pela Editora Fiel.

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Autor: Franklin Ferreira

Franklin Ferreira é bacharel em Teologia pela Universidade Mackenzie e mestre em Teologia pelo Seminário Batista do Sul (RJ). Diretor do Seminário Martin Bucer e consultor acadêmico de Edições Vida Nova, Franklin é co-autor do livro “Teologia Sistemática” e autor dos livros “Servos de Deus” (Fiel) e “A Igreja Cristã na História” (Vida Nova).

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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