Os cristãos às vezes caem em tentação e se desviam de seu compromisso com Cristo. Se você é cristão há algum tempo, provavelmente já testemunhou essa triste realidade. Talvez tenha visto um irmão se apegar romanticamente a uma pessoa incrédula em seu local de trabalho. Em vez de responder a perguntas difíceis de seus amigos cristãos, ele para de se reunir com a igreja completamente. Ou talvez tenha visto uma irmã cristã introvertida passar por provações em casa. Em vez de buscar a ajuda de que precisa em sua igreja pelo desejo de seguir a Cristo, ela busca o conforto do isolamento. Talvez você tenha visto a ganância e a ambição consumirem gradualmente um cristão até que seu amor por Cristo tenha sido marginalizado.
Quer você tenha visto cristãos errantes, quer você seja um deles, Jesus tem algumas palavras muito importantes para você considerar em Mateus 18.10-20. Nesta passagem, Jesus nos ensina sobre a disposição de Deus em relação aos cristãos errantes e como todo cristão, não apenas os pastores, deve buscar as ovelhas perdidas e chamá-las ao arrependimento.
Contexto
À medida que procuramos entender Mateus 18.10-20, é útil observar o que está acontecendo em todo o capítulo. Mateus 18 contém alguns dos ensinamentos mais amados de Jesus: seu ensinamento sobre tornar-se como uma criança (Mt 18.1-4) e a parábola da ovelha perdida (18.10-14). Curiosamente, esses amados ensinamentos estão ao lado de um dos mais desafiadores e controversos ensinamentos de Jesus: suas instruções sobre disciplina na igreja (Mt 18.15-20).
Mas as parábolas não são organizadas aleatoriamente, como se Jesus apenas colocasse alguns ensinamentos devocionais calorosos ao lado de instruções técnicas não relacionadas sobre os fundamentos da organização da igreja. Em vez disso, Mateus 18 apresenta Jesus nos ensinando duas coisas: o caráter de Deus para com os cristãos perdidos e as ações que os cristãos devem tomar uns para com os outros.
No relato de Mateus sobre a parábola da ovelha perdida, Jesus enfatiza a disposição do pastor para com as ovelhas errantes. Aprendemos que Deus não deseja que suas ovelhas se percam e morram (“Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos”, Mt 18.14). Ele deseja que as ovelhas abandonem sua peregrinação e sejam resgatadas do perigo, acolhidas por ele de volta ao aprisco, com os braços abertos.
Como esse amor de Deus por suas ovelhas perdidas se expressa na vida real? Através da igreja (18.15-20). E começa com membros comuns da igreja, como você e eu (18.15).
Aplicação
Então, como sabemos quando outro membro da igreja está perdido? Como os buscamos?
Em primeiro lugar, para saber se outro membro da igreja está perdido, devemos conhecê-lo. Se você acha que não conhece os membros de sua igreja o suficiente para saber se eles estão nessa condição, considere essas ideias práticas:
- Esteja presente quando sua igreja se reúne aos domingos de manhã e quando se reúne em outros horários (por exemplo, escola dominical para adultos ou o culto de oração no meio da semana). Chegue mais cedo e fique um pouco depois. Seja intencional em conhecer aqueles que por acaso se sentam ao seu redor. Pergunte sobre o que primeiro os trouxe à igreja. Pergunte-lhes como o sermão os impactou e como eles planejam responder ao que ouviram. Veja se eles têm algum pedido de oração.
- Ore pelos membros usando o diretório de sua igreja. Talvez envie um e-mail ou ligue para aqueles por quem você está orando durante a semana, para perguntar se eles têm algum pedido ou necessidade especial de oração.
- Sirva no ministério infantil. Tenha interesse na vida de quem trabalha no ministério de crianças e na vida dos pais das crianças.
- Junte-se a um pequeno grupo se sua igreja os tiver. Comprometa-se a ir regularmente e fazer amizade com as pessoas do grupo.
- Familiarize-se com os outros irmãos consultando o diretório de membresia de sua igreja e convidando as pessoas para jantar ou tomar um café. Quando você estiver com eles, conheça seus testemunhos e descubra seus desafios para crescer em Cristo no presente momento.
- Tome a iniciativa na procura de novos membros à medida que se juntam à sua congregação, dando-lhes as boas-vindas à família da igreja. Convide-os para almoçar, se puder, e chame-os para o seu pequeno grupo e para participar do estudo bíblico ou da reunião de oração com você.
Quanto mais você conhece as pessoas em sua igreja é mais provável que você saiba quando elas começarem a se perder. Mas isso não é tudo! Quanto mais você conhece as pessoas em sua igreja é mais provável que sua pergunta, convite ou e-mail provoque uma conversa que os impedirá de se dispersarem.
Respondendo aos que estão distantes
Como você pode ajudar alguém a seguir a Cristo quando tal pessoa está se distanciando por causa do pecado?
Em primeiro lugar, ministre o evangelho da graça para eles. Lembre-lhes do amor de Deus pelas ovelhas perdidas e se ofereça para apoiá-los no arrependimento. “Eu gostaria de ajudá-lo com isso. Como posso servi-lo melhor na busca de Cristo agora mesmo?” Ore por eles e acompanhe-os. Leve-os com você para um pequeno grupo ou convide-os para jantar, talvez até encorajando-os a compartilhar sua luta com outros para que possam ampliar seu apoio na igreja. Ofereça-se para ler com eles um livro que aborde o problema com o qual estão lutando. Muitas vezes, os cristãos perdidos respondem muito bem a esse tipo de amor e apoio. Em tais casos, você ganhou seu irmão (18.15) e deve alegremente (18.13) consolá-lo e recebê-lo de braços abertos.
Contudo, se ficar claro que um membro da igreja está flertando com o pecado e sua busca individual por ele não funcionar, não desista. Não devemos dizer: “Bem, tentei falar e ele simplesmente não quis ouvir. Gostaria que ele se afastasse do pecado, mas não depende de mim, é entre ele e Deus. Preciso deixá-lo seguir”. Não, o coração do Pai por suas ovelhas perdidas é persistente; seu amor é infalível. Se nossa tentativa de ganhar um cristão perdido falhar, devemos envolver mais cristãos nessa busca (18.16).
Nesse ponto, devemos ter cuidado para nos proteger contra fofocas. Não devemos envolver os outros a menos que tenhamos certeza de que a ovelha amada está perdida e já recusou nossa busca. É importante compartilhar sua preocupação apenas com aqueles que já têm um relacionamento com o membro da igreja em questão. Na verdade, muitas vezes é melhor deixar o cristão perdido saber que você vai compartilhar sua preocupação com os outros.
Na maioria dos casos, este segundo estágio deve incluir um presbítero. Porque se nossos esforços individuais e de pequenos grupos para buscar uma ovelha perdida falharem, os presbíteros devem liderar a igreja nessa busca. Devemos continuar buscando as ovelhas errantes até que toda a igreja esteja envolvida no esforço (18.17a, “dize-o à igreja”). Este é o amor perseverante de Deus por suas ovelhas perdidas.
Se o perdido continua a correr perigo (18.17) “e, se recusar ouvir também a igreja”, então esta deve discipliná-lo em amor, procedendo com sua exclusão (18.17b). Mesmo assim, devemos buscá-lo como fazemos com nossos vizinhos, familiares e colegas de trabalho incrédulos (ou seja, “gentios e publicanos”).
Conclusão
Querido cristão, em Mateus 18.10-20 Jesus não está meramente chamando pastores ou líderes de igreja para resgatar ovelhas perdidas. Ele chama cada membro da igreja. Em outras palavras, ele chama você.
Há muitas razões pelas quais os cristãos às vezes deixam de buscar as ovelhas perdidas. Talvez você não esteja em posição de buscá-las porque você mesmo está perdido. Talvez não haja outros cristãos procurando você porque você nunca se comprometeu com uma igreja. Talvez ninguém saiba que você está vagando porque você nunca deixa ninguém o conhecer.
Será que você está lendo esse artigo agora porque Deus deseja que você não continue perdido? Irmão, irmã, saiba como é ser uma ovelha conhecida. Comprometa-se com uma igreja cristã que se comprometerá com você. Dedique-se a conhecer outros membros da igreja — e ser conhecido pelos membros da igreja — para que vocês possam demonstrar o amor de Deus juntos, buscando ovelhas perdidas.
Publicado originalmente em 9 Marks.
Tradução: João Costa. Revisão: Renan A. Monteiro.