O texto abaixo foi extraído com permissão do livro Hábitos Espirituais, de David Mathis, Editora Fiel
Bênçãos que experimentamos especialmente no contexto da adoração comunitária.
Não quero deixar você sem saber quais podem ser algumas dessas “graças e bênçãos” da adoração comunitária. Certamente muitas outras poderiam ser citadas, mas aqui estão cinco dessas bênçãos que experimentamos especialmente no contexto da adoração comunitária.
Despertamento
Frequentemente, chegamos para a adoração comunitária com uma sensação de neblina espiritual. Durante as dificuldades da semana, a dureza da vida real no mundo decaído pode nos desorientar para a realidade final e para o que é realmente importante. Precisamos limpar nossas mentes, recalibrar nossos espíritos e reacender nossos corações lentos. Mencionamos acima como Martinho Lutero achou a adoração comunitária poderosa para despertar seu fogo espiritual: “Em casa, em meu próprio lar, não há calor ou vigor em mim, mas na igreja quando a multidão está reunida, uma chama é acesa em meu coração e ocupa seu espaço”.
Melhor do que Lutero, porém, é a experiência do salmista inspirado. No Salmo 73, ele começa se desesperando com a prosperidade de seus pares ímpios (v. 2–15). Mas a névoa se dissipa ao entrar conscientemente na presença de Deus: “Em só refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim; até que entrei no santuário de Deus e atinei com o fim deles” (Sl 73.16-17).
Ele estava em guerra. A neblina espiritual era densa. Mas a vitória veio no contexto da adoração, o que levou a esta expressão culminante de louvor: “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre” (Sl 73.25-26). Percebi essa verdade em minha vida mais vezes do que posso contar. Em vez de ficar longe da adoração comunitária quando nos sentimos espiritualmente apáticos, o que precisamos mais do que nunca é exatamente o despertar da adoração. Quando nossos corações menos sentem, é quando mais precisamos lembrar nossas almas: “Quanto a mim, bom é estar junto a Deus” (Sl 73.28).
Segurança
Um segundo benefício é a dinâmica da comunidade, que significa não apenas satisfazer nossos bons desejos de pertencimento e compartilhar a missão (comunhão), mas também fornecer um catalisador para nossa segurança.
Embora possamos admirar figuras como Atanásio e Lutero, que aparentemente se colocaram sozinhos contra mundum (“contra o mundo”), devemos lembrar que Deus disse que não é bom ficarmos sozinhos (Gn 2.18). Esses heróis foram produto de dias terríveis e, inevitavelmente, suas histórias foram diluídas na memória coletiva da história distante. Nem Atanásio nem Lutero ficaram realmente sozinhos, mas faziam parte de comunidades fiéis que promoveram e fortaleceram suas crenças, que do contrário seriam impopulares.
Assim também é conosco. Não fomos feitos para ficar sozinhos, sem companheiros. Mesmo em tempos tão difíceis como os de Elias, Deus deu a ele sete mil que não haviam abandonado a verdade (1Rs 19.18). Deus nos criou para a comunidade — e a chamou de “igreja”; fazer parte dessa grande comunidade local e global é de grande importância para garantir, não apenas que não estamos nos enganando sobre a credibilidade de nossa profissão de fé, mas também que sabemos verdadeiramente em quem cremos (2Tm 1.12).
E a adoração na igreja local nos aponta para a adoração da igreja universal, e indica que Jesus tem um povo feito de muitas nações, e que um dia incluirá todas as nações (Ap 7.9).
Crescimento
A adoração comunitária também desempenha um papel indispensável em nossa santificação — nosso crescimento progressivo em sermos conformados à imagem de Jesus (Rm 8.29). A adoração comunitária é para nossa edificação, exortação e consolação em geral (1Co 14.3); mas também, ao contemplamos Jesus unidos, todos nós “somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem” (2Co 3.18).
O crescimento cristão não é apenas algo que extraímos como aplicação do sermão e então trabalhamos em nossas vidas naquela semana. Como diz Tim Keller, a santificação pode acontecer “na mesma hora” quando nos sentamos para ouvir a pregação do evangelho e nos engajamos na adoração comunitária. Há momentos — que Deus nos dê muitos deles — em que o Espírito Santo usa a Escritura lida, a oração feita, o coro cantado ou a verdade pregada para chegar diretamente ao ponto de nossa necessidade. A adoração comunitária não apenas orienta nossa caminhada cristã, mas nos cura ou nos transforma naquele momento.
Quando participamos da adoração comunitária, Deus ama não apenas mudar nossas mentes, mas mudar irresistivelmente nossos corações ali mesmo.
Aceitar a liderança de outra pessoa
Uma distinção importante entre a adoração pública e a “adoração privada” de nutrição bíblica pessoal e da oração é o papel de nossa iniciativa. A adoração comunitária nos lembra que nossa fé é fundamentalmente receptiva, e não de iniciativa própria. Nas devocionais particulares, conduzimos a nós mesmos, em algum sentido. Na adoração comunitária, somos levados a aceitar a liderança de outros.
Na adoração individual, estamos ao volante, em certo sentido. Decidimos que passagem ler, quando orar, o que orar, quanto tempo demorar na leitura bíblica e meditação, que canções ouvir ou cantar, que verdades do evangelho pregar para nós mesmos e que aplicações considerar. Mas na adoração comunitária, nós respondemos. Nós seguimos. Outros pregam e oram e selecionam as canções e escolhem quanto tempo permanecer em cada elemento. Estamos posicionados para receber.
Fazer tais escolhas em nossos devocionais pessoais é algo maravilhoso, mas também é bom praticarmos o envolvimento com Deus quando alguém diferente está tomando as decisões. A adoração comunitária exige que nos disciplinemos para responder, e não apenas buscar a Deus em nossos próprios termos. É uma oportunidade de valorizar sermos liderados, em vez de sempre assumir a liderança.
Alegria acentuada
Por último, mas não menos importante, está a experiência intensificada de adoração no contexto comunitário. Nossa própria reverência é acentuada, nossa adoração aumentada, nossa alegria duplicada quando juntos adoramos a Jesus.
Como diz o provérbio sueco, alegria compartilhada é alegria dobrada. Na adoração comunitária, as “graças e bênçãos” que desfrutamos exclusivamente não são apenas o despertamento, a segurança, o crescimento e a aceitação da liderança dos outros, mas também a alegria acentuada de adoração e temor mais profundos, mais ricos e maiores, pois nosso deleite em Jesus se expande à medida que nós o engrandecemos junto com outros. O segredo da alegria na adoração comunitária não é apenas o esquecer de si mesmo — ou, para colocar de forma positiva, a preocupação com Jesus e sua glória — mas também a feliz consciência de que não estamos sozinhos ao satisfazer nossas almas nele.
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