O trecho abaixo foi extraído do livro Lendo a Bíblia de Modo Sobrenatural, de John Piper, da Editora Fiel.
Uma das perguntas mais importantes, abrangentes e persistentes de minha vida adulta tem sido: como eu vivo a vida cristã de tal modo que eu esteja realmente fazendo o viver, e, apesar disso, outra pessoa – o Espírito Santo – esteja fazendo o viver em e por meio de meu viver? O capítulo anterior nos mostrou que isto é, de fato, o que significa viver a vida cristã. “Trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1Co 15.10). Mas a pergunta é: como? O que eu faço realmente para obedecer 1 Pedro 4.11: “Se alguém serve, faça-o na força que Deus supre”? Como eu sirvo, vivo ou leio na força de outro? Ou seja, como eu realizo o milagre que Deus causa?
Descobri que precisava de uma estratégia simples que me ajudaria a viver desta maneira, a cada hora, à medida que enfrentasse os desafios da vida. Parece-me que a resposta para a pergunta de como viver desta maneira pode ser resumida em cinco passos, que podem ser guardados na memória com a ajuda do acrônimo AOCAA. Eu o tenho usado muito frequentemente quando leio ou prego a Bíblia. Eu sabia que precisava da ajuda de Deus para vencer meu embotamento e ver o que realmente está na Palavra de Deus (Ef 1.18). Sabia que precisava do poder divino na pregação, se mudanças que glorificam a Cristo tinham de acontecer na vida das pessoas (1Co 2.4). Por isso, a pergunta sobre como ler e pregar na força de outro se tornou especialmente importante nesses pontos de minha vida.
Resumo de AOCAA
O meu alvo neste capítulo é fazer uma breve apresentação do que significa AOCAA. Em seguida, procurarei mostrar como a primeira letra, A (admitir a necessidade de ajuda), se relaciona com o ato natural de ler a Bíblia de modo sobrenatural. Depois, nos capítulos subsequentes, lidaremos com as outras letras.
Viver o acrônimo AOCAA é como eu procuro andar “no Espírito” (Gl 5.16). Ou, sendo específico, é como eu busco ler a Bíblia “pelo Espírito”, ou seja, lê-la de modo sobrenatural.
A – admitir
Eu admito que sem Cristo nada posso fazer.
Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer (Jo 15.5).
A humildade abre milhares de janelas
O – orar
Eu oro por ajuda de Deus, por qualquer tipo de ajuda de que necessito.
Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á (Mt 7.7).
Nada tendes, porque não pedis (Tg 4.2). Invoca-me no dia da angústia (Sl 50.15).
C – confiar
Eu confio numa promessa específica de Deus que é apropriada à minha situação ou numa promessa geral que abrange muitas situações. Por exemplo, antes de levantar-me para pregar, posso confiar nesta promessa:
Assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia (Is 55.11).
Ou: Não sois vós os que falais, mas o Espírito (Mt 10.20).
Ou, mais genericamente, posso lembrar este versículo favorito e confiar nele:
Eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel (Is 41.10).
Ou: Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra (2 Co 9.8).
Ou: O meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades (Fp 4.19).
A – agir
Eu ajo em obediência à Palavra de Deus, esperando que Deus aja em, sob e por intermédio do meu agir, de modo que o fruto seja decisivamente o agir dele. Eu pratico o milagre, mas Deus é a causa decisiva:
Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento (1Co 3.6-7).
Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor (Fp 2.12).
Trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo (1Co 15.10).
Se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis (Rm 8.13).
A – agradecer
Agradeço a Deus por qualquer coisa que vier. Eu lhe dou a glória.
A humildade abre milhares de janelas
Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo (Ef 5.20).
O que me oferece sacrifício de ações de graças, esse me glorificará (Sl 50.23).
Fiquei emocionado em descobrir, muito tempo depois de começar a usar o acrônimo AOCAA que J. I. Packer recomendou um processo quase idêntico de viver a vida cristã. Ele escreveu sobre a busca de santidade – que é o que significa a vida cristã. Packer a chama santidade agostiniana, porque o grande teólogo africano foi bem-sucedido nela: A atividade que o ensino da santidade agostiniana encoraja é intensa, como mostram as carreiras de homens santos prodigiosamente ocupados como o próprio Agostinho, Calvino, Whitefield, Spurgeon e Kuyper; mas não é nem um pouco autoconfiante. Em vez disso, ela segue esta sequência de quatro estágios. Primeiro, como alguém que deseja fazer todo o bem que puder, você observa que tarefas, oportunidades e responsabilidades se lhe apresentam. Segundo, você ora por ajuda nestas coisas, reconhecendo que sem Cristo não pode fazer nada – nada frutífero (Jo 15.5). Terceiro, você vai à obra com boa vontade e um coração elevado, esperando ser ajudado como pediu. Quarto, você agradece a Deus pela ajuda recebida, suplica perdão para os fracassos no percurso e pede mais ajuda para a tarefa seguinte. A santidade agostiniana é santidade de trabalho árduo, baseada na repetição contínua desta sequência.
O primeiro e o último passo de Packer (veja o que precisa ser feito; peça perdão por fracassos) estão além de meus cinco passos. Entendi seu primeiro passo como pressuposto. Seu último passo é bom conselho. (Sinta-se à vontade para criar um novo acrônimo, se puder torná-lo funcional!) Mas as outras sugestões que Packer faz são as mesmas cinco que eu faço:
(1) reconheça que você não pode fazer nada sem Cristo; (2) ore por ajuda; (3) faça o trabalho; (4) espere ser ajudado; (5) agradeça a Deus.