O pregador andou pela plataforma, olhando fixamente para a congregação. Era o momento de seu apelo semanal. Ele pediu para que respondessem levantando a mão. Nem uma única mão foi levantada. Mas ele não tinha como saber disso porque estava numa tela de projeção.
Eu me encontrava no campus mais próximo de uma igreja multilocal[1] a serviço do próprio pastor, um homem que havia recentemente me contratado para fazer um serviço de pesquisa freelance para ele. Visitar um dos seus muitos cultos a distância deveria me ajudar a “sentir” como andava seu ministério. Com certeza ajudou. Mas eu não conseguia evitar sentir que este formato de ministério não poderia ajudar o pregador a “sentir” sua congregação.
Eu não sei o que você pensa sobre transmissões por vídeo ou o crescimento do modelo de igreja com múltiplos locais de culto, mas esta experiência e outras tem somente confirmado algumas das preocupações que eu tenho sobre a desconexão entre pregador e rebanho, um dilema crescente em todos os tipos de igrejas, grandes e pequenas.
Na verdade, este dilema não está somente limitado a igrejas de múltiplos locais, com transmissões de vídeo. Pastores de igrejas de todos os tamanhos que estão crescendo continuarão a lutar para estarem familiarizados com suas congregações. E a tentação de se tornar mais e mais isolado fica maior a medida que mais complexidade é adicionada a uma igreja em crescimento.
E é claro que é possível para um pregador de uma igreja pequena ser o melhor amigo de todos em sua igreja, e é possível para pregadores de igrejas maiores conhecerem todos bem. Mas o pregador cujo ministério está se tornando cada vez mais focado na pregação e cada vez menos no pastoreio, o pregador que está se tonando cada vez menos envolvido com sua congregação está na verdade minando a tarefa para a qual está tentando devotar mais do seu tempo! Boa pregação requer pastoreio próximo.
O ministério da pregação não pode ser divorciado do ministério de cuidado da alma; na verdade, a pregação é de fato uma extensão do cuidado com a alma. Existe uma série de razões que mostram porque é importante para pastores que querem pregar de forma significativa conhecerem seu rebanho tão bem quanto podem, mas aqui destaco três das mais importantes.
1. Uma pregação significativa tem os ídolos das pessoas em mente
Quando viajo para pregar em cultos de igrejas e conferências, uma das primeiras perguntas que normalmente faço ao pastor que me convidou é “Quais são os ídolos do seu povo?”. Eu quero ser capaz não somente de chegar e “fazer meu trabalho”, mas servir este pastor e sua congregação ao falar da melhor forma que puder sobre suas esperanças e sonhos que não estão devocionalmente conectadas a Cristo como a maior satisfação deles. Infelizmente, alguns pastores não sabem como responder a pergunta.
Quando Paulo entrou em Atenas, ele viu que a cidade estava cheia de ídolos (Atos 17.16). Dito isto, ele não considerou este como um problema filosófico, mas como um problema espiritual que o entristeceu pessoalmente. Quando ele trata o assunto, faz tão especificamente, se referindo à devoção deles “ao deus desconhecido” (17.23). E sempre que Paulo se dirigiu a igrejas específicas em suas cartas, você verá que os tipos de pecados e falsidades os quais ele trata eram bem específicos. Ele não falou de modo generalizado. Ele sabia o que estava acontecendo naquelas igrejas.
Isto não significa, é claro, que você começará a constranger ou expor pessoas a partir do púlpito. Mas significa que você está tão imerso na vida congregacional para falar em termos familiares.
Até que um pastor tenha passado tempo de qualidade com as pessoas em sua congregação, os ídolos que sua pregação combaterá serão somente teóricos. Todos os seres humanos têm alguns ídolos em comum. Mas as comunidades onde as igrejas estão localizadas, a própria subcultura da congregação e os mesmo gostos e características demográficas especificas na congregação tendem a resultar em ídolos e padrões de pecado mais específicos.
Conhecer em primeira mão as esperanças mal orientadas nas finanças, carreira e família do seu rebanho o ajudará a saber como pregar. Isto o ajudará a escolher os textos certos e a ênfase certa para explicar tais textos. Isto é o que torna a pregação um ministério e não simplesmente um exercício.
2. Uma pregação significativa tem o sofrimento das pessoas no coração
Eu posso lhe dizer, em primeira mão, que minha pregação mudou depois que eu comecei a segurar a mão das pessoas enquanto elas morriam e a ouvir o coração das pessoas enquanto choravam. Até que você tenha ouvido pessoas compartilhando seus pecados, medos, preocupações e feridas o suficiente, sua pregação pode ser excelente e apaixonada, mas não será tudo o que pode ser – ressonante.
Muitos pregadores carregam o peso da Palavra de Deus para o púlpito e isto é algo bom. Receber a difícil tarefa de pregar com fervor da glória de Cristo, sentir o peso de proclamar o favor do Senhor no evangelho é uma obra nobre, digna e maravilhosa. Mas o pregador deve também sentir o peso de seu povo naquele púlpito. Ele deve subir para pregar tendo estado no vale com eles. Seu esboço deve estar borrado pelas lágrimas de seu povo.
Saber quais sofrimentos que afligem seu povo regularmente impedirá o pregador de se tornar surdo em relação a sua congregação. Ele não será descuidado em áreas sensíveis. Isto irá afetar os tipos de ilustrações que ele usa, os tipos de histórias que conta e, mais importante, a maneira como maneja a Palavra. Eu já vi pregadores fazendo piadas sobre coisas com as quais pessoas em sua congregação estão tendo que lutar. E eu já fui este pregador. Nós viemos para aliviar jugos, mas com nossas palavras descuidadas nós terminamos por adicionar peso sobre eles.
Pregador, você tem um coração genuinamente inclinado para o seu povo? Eu não quero dizer, “Você é bom com pessoas?” Eu quero dizer, você sabe o que está acontecendo na vida das pessoas de sua congregação e isso mexe com você, o aflige? Você tem chorado com os que choram? Se não, sua pregação com o tempo mostrará isso.
Pense na aflição de Moisés por causa do pecado de seu povo (Êxodo 32.32) ou nas lágrimas abundantes de Paulo (Atos 20.31, 2 Coríntios 2.4, Filipenses 3.18, 2 Timóteo 1.4). Pense, também, na compaixão de Cristo, contemplando o coração do povo (Mateus 9.36). Você pode acreditar que conseguirá trabalhar tais sentimentos sem realmente conhecer sua congregação, mas não é a mesma coisa, especialmente para eles. Não é o mesmo para eles, assim como ouvir palavras encorajadoras de um alguém exemplar não é a mesma coisa que ouvir palavras encorajadoras do seu pai. Pregador, não exponha o seu texto sem carregar verdadeiramente as cargas do seu povo em seu coração.
3. Uma pregação significativa tem o nome das pessoas em oração.
Todo pregador fiel ora sobre seu sermão. Eles oram para que a Palavra de Deus não retorne vazia (Isaías 55.11). Eles oram para que as pessoas sejam receptivas. Oram para que almas sejam salvas e vidas, transformadas. Estas são boas orações. Melhor ainda são sermões preparados e compostos com orações por João Silva e Julia Torres e pela família Carneiro nos lábios do pregador. Melhor ainda é o sermão sobre o qual se ora clamando pela salvação do Antônio Santos e pelo arrependimento do William Lira e pela cura da Maria Alice.
Paulo repetidamente fala para as pessoas sob seus cuidados que ele se lembra deles em suas orações (Efésios 1.6, 2 Timóteo 1.3, Filemon 1.4). E como ele está frequentemente mencionando nomes, sabemos que não quer dizer só de forma geral. Apesar de Paulo não ter uma congregação para pastorear de perto, mas servia na maior parte do tempo como missionário plantador de igreja, ele mesmo assim se esforçou para conhecer as pessoas para as quais ministrava a distância e procurava visitá-los o maior número de vezes que pudesse. Quanto mais deveria o pastor da igreja local desenvolver relacionamentos com seu povo! Ele deve saber seus nomes e deve levar seus nomes aos céus em oração.
É importante saber para quem você está pregando. É importante saber que a aquela irmãzinha não gosta da sua pregação. É importante saber que o aquele irmão adulador gosta demais. É importante saber que o homem na parte de trás com os braços cruzados e as sobrancelhas franzidas não está com raiva de você; esta é a maneira como ele ouve com atenção. É importante saber que a senhora que sorri e concorda com a cabeça na primeira fila tem a tendência de não lembrar nada do que você fala. Quando você sabe estas coisas, você pode orar pelo seu povo de forma mais profunda, pessoal e pastoral. E sua pregação ficará melhor. Ela será mais real. Ela virá não somente de sua mente e boca, mas de seu coração, sua alma e suas entranhas.
Eu assumo, é claro, que você está interessado neste tipo de pregação. Se você entende a pregação como simplesmente prover “recursos espirituais” para as mentes interessadas ou uma conversa para motivar os religiosamente inclinados e não como sendo levar o testemunho profético da Palavra de Deus revelada aos corações das pessoas, então você pode seguramente ignorar todos os pontos acima.
Notas:
[1] Uma igreja multilocal é uma igreja que tem os seus sermões transmitidos para vários locais diferentes ao mesmo tempo, através de transmissão via satélite, ou seja, é uma igreja única, na qual a membresia se reúne em lugares diferentes, ao mesmo tempo. Esse tipo de igreja é um fenômeno crescente nos Estados Unidos.
Tradução: Fábio Luciano
Revisão: Vinícius Musselman Pimentel