O altar da oferta queimada era uma das características mais visíveis no pátio do tabernáculo e, posteriormente, no templo de Jerusalém. Por estar posicionado entre a entrada do pátio e o acesso que levava ao Santo Lugar do santuário, ninguém poderia chegar à presença de Deus sem primeiro passar por esse altar de tamanho considerável. Sua localização central é significativa, pois lembrava aos adoradores israelitas que o acesso a Deus dependia da eficácia dos vários tipos de sacrifícios apresentados. Esses sacrifícios eram essenciais para garantir que pessoas pecaminosas e contaminadas pudessem se aproximar, com segurança, da presença santa de Deus.
Para compreender a função do altar localizado fora do santuário onde Deus habitava, é útil observar que os rituais de expiação associados ao altar do tabernáculo e, posteriormente, no templo se originaram no Monte Sinai, quando os israelitas entraram em um relacionamento único de aliança com Deus.
Ao chegar ao Monte Sinai, os israelitas eram expressamente proibidos de subir a montanha (Êx 19.12-13). O monte Sinai foi separado como sagrado, havia um limite demarcado em torno dele para evitar que as pessoas subissem. Somente a Moisés foi permitido subir; qualquer outra pessoa que tentasse fazer isso seria morta.
Isso mudou, no entanto, depois que Deus fez um pacto (ou tratado de amizade) com o povo. Quando todo o povo afirmou seu compromisso de obedecer ao pacto da aliança, cujas condições são descritas nos dez mandamentos (Êx 20. 2 -17) e no Livro da Aliança (Êx 20. 22-23.33) – representantes dos israelitas puderam atravessar os limites do monte e subir, com Moisés, parte do caminho para o monte Sinai. Ao fazê-lo, eles experimentaram uma visão extraordinária de Deus (Êx 24. 9-11). Ainda que a visão deles fosse limitada, eles testemunharam que “sob seus pés havia uma pavimentação de pedra de safira, que se parecia com o céu na sua claridade” (v.10). Eles não apenas viram algo do esplendor majestoso de Deus, mas celebraram seu novo relacionamento de aliança com ele banqueteando-se na montanha (v.11).
É importante ressaltar que antes que os representantes do povo pudessem subir a montanha para adorar ao Senhor “de longe”, no Monte Sinai, eles tinham que oferecer sacrifícios em um altar de pedra recém-construído no sopé da montanha (v. 4-5). Neste altar, os israelitas apresentaram a Deus dois tipos distintos de sacrifício: holocaustos e ofertas pacíficas. Interessante notar que essa é a primeira menção, na Bíblia, de ofertas pacíficas.
Logo após esse evento inicial onde foi selada a aliança, os israelitas construíram o tabernáculo, uma tenda muito ornamentada projetada para ser tanto uma morada para Deus como uma “tenda de reunião” onde as pessoas poderiam se aproximar de Deus. Para facilitar esta última função, certos israelitas foram santificados como sacerdotes. Surpreendentemente, o processo pelo qual eles foram consagrados se assemelha ao que aconteceu quando a aliança foi ratificada no Monte Sinai. Mais uma vez, foram apresentadas a Deus, ofertas queimadas e ofertas pacíficas (29.15-34).
O ritual para tornar os sacerdotes santos assume um significado adicional quando percebemos que, para os israelitas, o tabernáculo era, entre outras coisas, uma miniatura do Monte Sinai. As três partes do complexo do tabernáculo representavam diferentes partes da montanha. O Lugar Santíssimo pode ser comparado ao topo da montanha; o lugar santo comparado à encosta da montanha e o pátio com seu altar de bronze representava o sopé da montanha. Assim como os representantes do povo tinham que ser consagrados através de sacrifícios em um altar antes de subir ao Monte Sinai, os sacerdotes tinham que ser consagrados antes de entrar no Lugar Santo.
Com base no que é dito em Êxodo 29 sobre a consagração dos sacerdotes levíticos, as ofertas queimadas e pacíficas alcançavam uma série de resultados. Aqueles que ofereceram os sacrifícios foram resgatados do poder da morte; o animal funcionava como um substituto, tomando o castigo que deveria vir sobre os sacerdotes. Quando eram cobertos com sangue retirado do sacrifício, eram limpos da contaminação do pecado. O sangue do altar era então borrifado sobre os sacerdotes para santificá-los. Finalmente, tendo sido consagrados, os adoradores deviam comer a carne consagrada do sacrifício.
Após a consagração inicial, os sacerdotes ainda deveriam apresentar a cada dia dois holocaustos, um de manhã e outro ao pôr do sol (29. 38-43). Esses sacrifícios diários, que reproduziam o que aconteceu quando a aliança foi selada, permitiam que os sacerdotes se aproximassem de Deus.
A ratificação da aliança no Monte Sinai foi uma ocasião única, mas fornece uma ilustração importante do que deve acontecer para permitir que as pessoas cheguem com segurança à presença de Deus. O altar do holocausto enfatiza a necessidade de expiação sacrificial e consagração, porém, no Antigo Testamento, sacrifícios de animais apenas figuravam o templo celestial, e esses sacrifícios precisavam ser repetidos diariamente. A morte sacrificial de Jesus é um sacrifício perfeito, de uma vez por todas. Na cruz, Jesus Cristo resgata, purifica e santifica aqueles que confiam somente nele pela fé. Somente aqueles que foram santificados por Cristo podem aproximar-se de Deus sem medo.
Tradução: Paulo Reiss Junior.
Revisão: Vinicius Musselman Pimentel.
Original: The Altar of Burnt Offering.