Sua Divindade
Assim como a humanidade de Jesus Cristo, concebida pelo poder do Espírito Santo, não poderia ser conhecida sem o testemunho das Escrituras, também a sua divindade, considerando-se que ele nasceu de uma mãe humana, não poderia ser conhecida, senão pelo testemunho da mesma Palavra inerrante. Sua concepção pelo poder do Espírito Santo já é suficiente para deixar entendido que ele não era um homem comum, e a declaração de que, em consequência disso, ele seria chamado “Filho de Deus” capacita a mente humana a conceber o fato de que ele era possuidor da natureza divina. Os semideuses, de acordo com os pagãos, tinham uma natureza intermediária entre deuses e homens. Porém, temos visto que Jesus Cristo foi, segundo o testemunho das Escrituras, verdadeiramente homem; e precisamos, agora, apelar para esse mesmo testemunho para saber se ele era também verdadeiramente Deus.
As provas bíblicas da divindade de Jesus Cristo são abundantes.
Os nomes de Deus são atribuídos a Jesus Cristo
“O Verbo era Deus” (Jo 1.1). Esse testemunho do discípulo amado era muito importante, porque seu desígnio era informar-nos quem era o seu divino Mestre. João abre a sua primeira epístola apresentando Jesus Cristo como “a vida eterna, a qual estava com o Pai, e nos foi manifestada” (1Jo 1.2), e inicia o seu evangelho apresentando-o como o Verbo que estava com Deus e era Deus. Os versículos seguintes claramente mostram que esse “Verbo tornou-se carne na pessoa de Jesus Cristo. O mesmo escritor, em outro lugar, ainda mais uma vez, atribui o nome Verbo a Jesus Cristo (Ap 19.19). Ora, não é incrível que o evangelho começaria com uma declaração que tem levado seus leitores de todas as eras a crer que Jesus Cristo é Deus, se ele fosse apenas um simples homem. Para nenhum propósito teria o apóstolo dito: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1Jo 5.21), se os seus próprios ensinamentos são tais que inevitavelmente conduzam à idolatria. A sua linguagem é usualmente simples e direta. Nesse caso, entretanto, é preciso uma interpretação distorcida do ensino para não concluir que Jesus é Deus. João escreveu de modo que possamos crer em Jesus e, crendo, ter vida em seu nome (Jo 20.31). Porém, se ele escreveu de modo a levar-nos ao pecado da idolatria, nossa fé, então, é para morte, e não para vida.
“O qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre” (Rm 9.5). Cristo é aqui chamado Deus; não em algum sentido subordinado, mas acima de todos e bendito para sempre. Esse mesmo versículo reafirma a sua possessão da natureza humana: “deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos”. Em contraste a isso, sua divindade é distintamente trazida à vista. O que ele era, segundo a carne, não é tudo o que ele era; antes, muito mais do que isso, ele era sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Toda a crítica que tem sido aplicada deixa claro e decisivo o testemunho desse texto.
“Senhor meu e Deus meu!” (Jo 20.28). Essas palavras de Tomé são uma breve, mas expressiva declaração de sua fé e foram assim recebidas por seu Mestre: “Porque me viste, creste?” Igualmente, a revelação do verdadeiro caráter de Jesus Cristo à mente de Natanael trouxe a sua declaração de fé: “tu és o Filho de Deus” (Jo 1.49). Também, a confissão de Tomé foi suscitada pelo descortinar do caráter do seu Salvador em sua mente. Tomé e Natanael foram ensinados pelo mesmo Espírito que revelou o caráter de Cristo a Pedro (Mt 16.17). Todos os três tiveram sua declaração de fé aceita e publicamente aprovada. Se Cristo não era Deus, ele deveria corrigir o seu discípulo, livrando-o da idolatria.
A divindade de Cristo é também ensinada em Hebreus. “O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre” (Hb 1.8). Nesse trecho, como no primeiro capítulo de João, o escritor inspirado está determinadamente afirmando quem Jesus era. Ele o apresenta como superior aos profetas, por quem Deus outrora falara aos pais; maior do que os anjos, como sendo o próprio objeto da adoração angélica; finalmente, completa o seu raciocínio com citações do Antigo Testamento, nas quais ele é chamado Deus e Senhor, e a criação dos céus e da terra lhe é atribuída, sendo que ele permanece para sempre. Se ele não era Deus, o escritor estava enganado.
A esses vários textos, nos quais o nome “Deus” é atribuído a Jesus Cristo, podem-se acrescentar os seguintes: “igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28); “aquele que foi manifestado na carne” (1Tm 3.16); “estamos no verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20); “cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm 14.12, comparado com o verso 11); “aquele que estabeleceu todas as coisas é Deus” (Hb 3.4, considerado em conexão com o seu contexto, que mostra que o Filho é a pessoa subentendida).
Muitas outras passagens podem ser citadas como exemplos pertinentes, se a tradução comumente usada no idioma inglês pudesse ser levemente corrigida, tais como: “a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus” (Tt 2.13); “a graça de nosso Deus e Senhor, Jesus Cristo” (2Ts 1.12); “no reino de Cristo e Deus” (Ef 5.5), isto é, daquele que tanto é Deus quanto Cristo; “perante o Deus e Cristo, Jesus” (1Tm 5.21); “fé igualmente preciosa na justiça de nosso Deus e Salvador, Jesus Cristo” (2Pe 1.1). Essas retificações na tradução não foram feitas arbitrariamente, e sim em harmonia com as regras gramaticais do original grego, tal como o uso do artigo, antecedendo dois substantivos ligados por uma conjunção.
O trecho acima foi extraído com permissão do livro Manual de Teologia, de Dagg, Box Dagg, Editora Fiel (em breve).