terça-feira, 13 de maio
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Encontrando Jesus nas festas do Antigo Testamento

O pecado padrão da raça humana é colocarmos a nós mesmos em primeiro lugar. “É tudo a respeito de mim!” foi um slogan engraçado que vi numa camiseta. E se tornou agora a maneira de viver. A menos que pregadores e mestres da Bíblia sejam cuidadosos, a maneira como lidamos com a Escritura pode realmente alimentar esta besta. Apressamo-nos à aplicação, consumidos por esta pergunta: “Como isto é relevante para mim?”

No entanto, a Bíblia é teocêntrica, e não antropocêntrica. Ela está mais interessada em delinear os caminhos de Deus – seu caráter, propósitos e plano redentor cósmico (“Porque Deus amou o mundo de tal maneira”) do que em dar aos crentes modernos estímulos que edificarão o caráter (“Seja corajosos como Daniel; lidere como Neemias; com a fé de Abraão”).

Temos de começar por lembrar a narrativa abrangente da Escritura. A Bíblia é notável: 66 livros, dezenas de autores humanos, 1.500 anos de elaboração, vários tipos de literatura. Mas sua grande diversidade é mantida em união por um fio dourado, uma narrativa singular em três movimentos – criação, queda e redenção. Esta narrativa estabelece o contexto histórico crucial para a vinda de Jesus Cristo. Este contexto histórico apresenta caracteres, estabelece relações e define palavras-chave. Neste caso, o Antigo Testamento apresenta Jesus, define sua obra como Messias e estabelece a estrutura teológica para entendermos a redenção de Deus. Uma breve consideração de duas festas do Antigo Testamento é ilustrativa. A primeira festa é a Páscoa, a festa familiar que se baseava no êxodo. Algumas de suas características (o anjo da morte, sangue nas ombreiras, uma refeição comida às pressas) são partes bem conhecidas da história. O importante é que todas elas são sombras do Cristo vindouro.

Jesus ministrou em um contexto judaico, observando a Páscoa com seus discípulos. Mas ele se esforçou por mostrar que os costumes eram mais do que contexto; eles o definiam.

A Torá exigia que cordeiros selecionados fossem colocados à exposição pública durante quatro dias (Êx 12.3-6), para certificar-se de que eram imaculados. Jesus, depois da entrada triunfal, se apresentou a si mesmo no templo durante aquele período exato, para cumprir aquele mesmo propósito. Ele se submeteu às provas realizadas pelos fariseus, herodianos, saduceus e escribas (Mc 12.13), foi julgado diante do Sinédrio e de Pilatos e comprovou ser imaculado.

“Este é o meu corpo” e “este cálice é a nova aliança no meu sangue” são as sentenças-chave da Ceia do Senhor, mas foram proferidas durante o Sêder Pascal. Os alimentos – e o verdadeiro êxodo – se acham em Jesus.

A Páscoa era tanto uma festa familiar como comunitária. O cordeiro escolhido “para a nação” era amarrado num poste no pátio do templo às 9h da manhã, no dia da Páscoa, e imolado publicamente às 3h da tarde. Assim também aconteceu com nosso Senhor – pregado na cruz às 9h da manhã, ele morreu às 3h da tarde, assim como o animal de quatro patas morria em liturgia que concluía: “Está terminado!”

Por que esses detalhes são importantes? Porque o âmago da morte de Jesus – em contrário à teologia popular egoísta – não é meramente quanta dor física ele suportou por mim. Antes, é o que Deus realizou por meio da morte de Jesus. A resposta se acha nas figuras envolvidas na Páscoa. A história da Páscoa (Êx 12.2) começa com estas estranhas palavras: “Este mês vos será… o primeiro mês do ano”. Com a Páscoa, Deus reformula o calendário dos judeus. A antiga vida deles como escravos estava acabando, uma nova vida como filhos, começando. A morte de Jesus anunciou o mesmo, mas em uma escala muito maior. Paulo declara: “Fomos unidos com ele na semelhança da sua morte” (Rm 6.5). Mas ele também exulta: “Tragada foi a morte pela vitória” (1 Co 15.54). A morte com um “M” maiúsculo – não somente a morte física pessoal, mas o reino devastador do pecado sobre o mundo do primeiro Adão (Rm 5.12-21) – foi vencido na cruz de Cristo.

Se o reino da morte foi vencido na cruz, onde surge o novo? Surge na ressurreição de Jesus na Festa das Primícias. As origens desta festa do Antigo Testamento eram agrícolas: os primeiros feixes eram trazidos ao tabernáculo para compartilhar a bondade de Deus com os pobres e estrangeiros. Mas a festa sempre inclinava Israel o olhar para frente, anunciando o dia em que toda a vida seria novamente “muito boa”, como antes havia sido.

Paulo usa a linguagem de festa para explicar isto (1 Co 15.20). Visto que a morte de Jesus venceu a morte, também, como segundo Adão, a sua ressurreição fez surgir uma nova criação, um reino de graça (Rm 5.21). Cristo é as “primícias” deste novo mundo. Ressuscitados com ele, nós, “que temos as primícias do Espírito” (Rm 8.23), também somos as primícias da nova criação (Tg 1.18).

Portanto, a Festa das Primícias, do Antigo Testamento, é a base de uma escatologia vigorosa e prática do Novo Testamento (uma visão da era por vir).

Estes são apenas dois exemplos breves; há várias outras festas, inúmeras práticas do templo e narrativas históricas que servem para anunciar a redenção que viria em Jesus. Um evangelho moldado pela rica história do Antigo Testamento é evangelicamente muito mais convincente, porque honra a unidade coerente da Escritura. E esse evangelho produz discípulos que têm uma autoimagem mais saudável: eles resistem ao pecado padrão de colocar a si mesmos em primeiro lugar e aprendem a negar a si mesmos e seguir a Jesus.

 

Tradução: Francisco Wellington Ferreira


Autor: John R. Sittema

John R. Sittema é pastor sênior da Christ Church (PCA) em Jacksonville, Flórida. Ele também é professor visitante no Reformed Theological Seminary em Charlotte, N.C., e professor adjunto do Mid-America Reformed Seminary.

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