sábado, 27 de julho

Ensina-me o que significa: ‘Sim, na cruz, sempre me glorio’

Artigo adaptado do livro O sofrimento nunca é em vão, da Elisabeth Elliot.

Quando era estudante universitária, eu me aventurei na poesia, como, suponho, muitas moças adolescentes fazem a certa altura da vida. Escrevi algumas palavras que posteriormente me pareceram ser quase proféticas. De fato, não lembro exatamente se houve alguma razão específica para eu haver escrito tais palavras naquela época, porém algo me dera uma pista de que certa medida de solidão me esperava mais à frente. Foi isto que escrevi:

Quiçá nalgum dia futuro, Senhor, tua potente mão me guie a um lugar onde devo permanecer totalmente sozinha.
Sozinha, ó gracioso Amado, mas por tua causa. Devo contentar-me simplesmente ao poder ver Jesus.
Não conheço teu plano para os anos por vir, meu espírito acha em ti seu perfeito lar.
Suficiência.
Senhor, todo o meu desejo agora está diante de ti, guia-me, não importa para onde, não importa como.
Eu confio em ti.

Comecei a manter diários quando tinha cerca de 16 ou 17 anos e os tenho mantido desde então. Isso soma vários anos a esta altura. Então, fui atrás de reler alguns daqueles primeiros diários em preparação para esta mensagem. Pensei: “Bem, você sabe, é melhor eu ir até lá e ver se realmente conheço algo sobre o qual vou falar”.

Nos diários, encontrei algumas coisinhas, embora, antes, eu tenha admitido não achar que eu conheça muito, em comparação com outras pessoas. Algo que notei e considerei importante foi o fato de eu, repetidas vezes, citar hinos sobre a cruz, hinos que foram os meus preferidos em épocas distintas. Um deles, que aprendi na faculdade, dizia: “Oh, ensina-me o que significa ali ao alto tal madeiro levantado, com aquele homem de dores a sangrar e morrer condenado”. Quando éramos crianças ainda bem pequenas, um dos hinos que aprendemos em nossas orações familiares — costumávamos cantar um hino todas as manhãs, nas orações familiares — foi Jesus Keep me Near the Cross (“Jesus, mantém-me perto da cruz”).

Minha filha tem ensinado alguns desses hinos aos seus próprios filhos. Acho que nunca me esquecerei de quando vi o pequeno Jim, aos dois anos, balançando com força sua irmãzinha recém-nascida, Colleen, embalando-a naquelas pequenas redes e cantando: “Sim, na cruz, sim, na cruz, sempre me glorio; e, enfim, vou descansar, salvo, além do rio”. Ali estava aquele pequeno garoto, apenas balançando com força uma bebezinha no melhor momento de sua vida e entoando esse hino profundo sobre a cruz.

Eu poderia continuar mencionando hinos que sei de cor. Há muito tempo Beneath the Cross of Jesus (“Aos pés da cruz de Jesus”) tem sido um dos meus preferidos. Porém, enquanto me deparava com as citações em meus diários, eu pensava: “O que eu imaginava que seria a resposta às orações que eu fazia naqueles hinos? Que tipo de resposta eu realmente esperava que Deus me daria?”. Eu esperava algum tipo de revelação extraordinária? Talvez alguma nova e profunda descoberta sobre o significado da cruz? Eu esperava que Deus me tornasse algum tipo de gigante espiritual, para que eu tivesse na ponta da língua mistérios sobre os quais as outras pessoas não tinham conhecimento algum? Bem, não faço a menor ideia do que eu realmente pensava. Suponho que tudo fosse demasiadamente vago e místico na minha mente, e que eu não sabia o que Deus daria como resposta àquela oração.

Mas posso olhar em retrospectiva para esses cerca de 45 anos e ver que Deus, de fato, ainda está respondendo a essas orações. “Ensina-me o que significa ali ao alto, tal madeiro levantado”. O que é esse grande símbolo da fé cristã? É um símbolo de sofrimento. E é disso que trata a fé cristã. Ela lida de frente com essa questão do sofrimento, como nenhuma outra religião no mundo faz. Qualquer outra religião, de certa maneira, foge do assunto. O cristianismo tem, em seu próprio cerne, essa questão do sofrimento. E ela vem, a resposta às nossas orações — “ensina-me o que significa: ‘Sim, na cruz, sempre me glorio’”. A resposta vem não na forma de uma revelação, explicação ou visão, mas na forma de uma pessoa. Deus vem a você e a mim em nossa tristeza. E ele diz: “Confia em mim. Anda na minha presença”.


Autor: Elisabeth Elliot

Elisabeth Elliot (1926–2015) foi uma das mulheres cristãs mais influentes do século XX. Nascida na Bélgica, filha de missionários, ela inspirou, com sua fé corajosa, seguidoras de Cristo em todo o mundo através de suas experiências como esposa, mãe e missionária. Seu primeiro marido, Jim Elliot (1927–1956), foi morto, com outros quatro missionários, quando buscava dar testemunho de Cristo entre os Auca, atualmente conhecidos como Huaorani, no leste do Equador. Alguns anos depois dessa tragédia, Elisabeth, com sua filha ainda pequena, passou a viver entre os membros dessa mesma tribo, a fim de compartilhar com eles o precioso evangelho. Em seu retorno para os Estados Unidos, Elisabeth deu início ao seu ministério como palestrante e escritora, publicando mais de vinte livros que foram traduzidos para diversas línguas. Seu ministério continua a influenciar gerações de mulheres ao redor do mundo.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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