quarta-feira, 24 de abril

Simplesmente faça a próxima coisa

Artigo adaptado do livro O sofrimento nunca é em vão, da Elisabeth Elliot.

Há uma antiga inscrição, ouvi dizer, gravada numa casa paroquial na Inglaterra, em algum lugar do litoral — uma inscrição saxã que diz: “Faça a próxima coisa”. Não conheço uma receita mais simples para a paz, para o alívio da pressão e da ansiedade, do que essa palavra de sabedoria tão prática e tão “pé no chão”. Faça a próxima coisa. Isso me ajudou a ultrapassar mais agonias do que qualquer outra coisa que eu poderia recomendar.

Quando descobri que meu marido estava morto, eu tinha ido à base aérea missionária num lugar chamado Shell Mera, no limite da floresta, para estar com as outras quatro esposas enquanto esperávamos alguma notícia sobre nossos maridos. E, quando, finalmente, chegou a notícia de que todos os cinco homens haviam sido mortos com lanças, então, é claro, nós tínhamos decisões a tomar. Voltaríamos aos nossos postos na floresta ou faríamos alguma outra coisa?

Decidi voltar ao meu posto na floresta. Jamais considerei qualquer outra opção, pois, para início de conversa, eu já era uma missionária mesmo antes de me casar com Jim Elliot, antes mesmo de ficar noiva de Jim Elliot. Então, nada havia mudado no que diz respeito ao meu chamado missionário. Mas eu tinha de voltar para um posto no qual não havia nenhum outro missionário e tentar fazer, sozinha, o trabalho que dois de nós vínhamos fazendo juntos. Então, não era como se eu não tivesse nada para me manter ocupada.

Eu tinha uma escola de cerca de quarenta meninos para supervisionar. Eu não era a professora, mas, em certo sentido, estava no comando da escola. Eu tinha uma igreja recém-plantada, com cerca de 15 crentes batizados sem uma Escritura em suas mãos, e eu deveria ser a pessoa a realizar a tradução. Eu tinha uma turma de alfabetização com cerca de 12 meninas, a quem eu estava ensinando a ler em sua própria língua, para que, afinal, elas pudessem aprender a ler a tradução da Bíblia, na qual eu estava trabalhando simultaneamente. Eu tinha um bebê de dez meses para cuidar. Eu tinha os milhares de detalhes de como manter um posto na floresta, como aprender a operar um gerador a diesel, aplicar medicações corretamente e realizar partos nas horas vagas.

Eu realmente não tinha tempo para me sentar, refestelar-me com pena de mim mesma e afundar num lamaçal de autopiedade. Eu fiz a próxima coisa. E sempre havia uma próxima coisa depois dela. E eu descobri muitas vezes na vida — como, por exemplo, de novo, depois da morte do meu segundo marido — o simples fato de que, embora vivesse numa casa bastante civilizada, eu tinha pratos para lavar. Tinha o chão para limpar. Tinha as roupas para lavar. Essa foi a minha salvação.

Alguns anos atrás, eu tive o privilégio e o prazer de cuidar de quatro dos meus netos, enquanto os pais deles estavam longe numa viagem e haviam levado consigo o quinto filho, então recém-nascido. Essa foi a única vez que eu tive a oportunidade de fazer isso. Meus netos moram no sul da Califórnia, e eu moro no nordeste. Então, eu estou entre as avós solitárias, e não entre as avós esgotadas. Ao fim do primeiro dia, minha filha teve a consideração de me ligar à noite. Ela disse: “Bem, mamãe, como você está?”, ao que respondi: “Bem, elas são crianças maravilhosas, são muito obedientes e tudo o mais. Mas eu não sei se vou aguentar os próximos quatro dias”. Eu estava cansada, para dizer o mínimo. Eu tinha de fazer a pergunta que minha filha de fato não gostaria que eu fizesse: “Como você consegue?”. Pois, a cada minuto do dia, eu pensava: “Estou o dia inteiro correndo cada segundo para fazer o que precisa ser feito, mas a minha filha tem um bebê de colo que lhe exige mais seis horas do dia”. E eu não parava de pensar: como ela consegue? Como ela consegue?

Então, eu tive de lhe perguntar. Eu sabia que ela não gostaria que eu o fizesse. Mas eu disse: “Val, como você consegue?”. Ela riu ao telefone e disse: “Mamãe, eu apenas faço o que a senhora me ensinou, anos atrás. Eu faço a próxima coisa”. Ela me disse para não pensar em todas as coisas a serem feitas. E que apenas fizesse a próxima coisa. Então, segui seu conselho e nós passamos os quatro dias seguintes — não apenas pela média, mas com louvor. Mas foi a aceitação que me capacitou a fazê-lo, pois eu, de fato, acreditei que aquilo não era uma casualidade.


Autor: Elisabeth Elliot

Elisabeth Elliot (1926–2015) foi uma das mulheres cristãs mais influentes do século XX. Nascida na Bélgica, filha de missionários, ela inspirou, com sua fé corajosa, seguidoras de Cristo em todo o mundo através de suas experiências como esposa, mãe e missionária. Seu primeiro marido, Jim Elliot (1927–1956), foi morto, com outros quatro missionários, quando buscava dar testemunho de Cristo entre os Auca, atualmente conhecidos como Huaorani, no leste do Equador. Alguns anos depois dessa tragédia, Elisabeth, com sua filha ainda pequena, passou a viver entre os membros dessa mesma tribo, a fim de compartilhar com eles o precioso evangelho. Em seu retorno para os Estados Unidos, Elisabeth deu início ao seu ministério como palestrante e escritora, publicando mais de vinte livros que foram traduzidos para diversas línguas. Seu ministério continua a influenciar gerações de mulheres ao redor do mundo.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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