Quando avaliamos o chamado para o ministério pastoral, a primeira questão que um homem deve perguntar é: Eu sou piedoso?
Os requisitos morais para um pastor são claramente especificados em 1 Timóteo 1.1-7, que diz:
“Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja. É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo. Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo.”
Se você é como a maioria das pessoas, a lista de qualidades pode parecer longe de ser alcançada. À primeira vista, essa passagem, juntamente com a passagem de Tito 1, parece deixar rapazes medianos fora de questão! Quem possivelmente consegue viver de acordo com tais requisitos?
Aqui estão duas coisas a considerar ao pensar sobre essa passagem. Primeiro, a maioria das qualidades que são listadas nessas passagens são, na verdade, mandamentos a todos os crentes, de certa maneira. Todo o cristão é chamado a ser “temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro” e “não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento”, e que governe bem a própria casa “criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito”. Não é como se pastores e presbíteros não podem se embebedar, enquanto outros crentes são livres para encher a cara como universitários na balada[1] !
Aqui está o meu ponto: o homem chamado ao ministério não é um tipo de super cristão que vive sob um código de conduta superior. Ele simplesmente é um homem chamado, dotado de dons que o capacitam a liderar o povo de Deus e com a graça que o permite ser um exemplo.
A segunda coisa a respeito dessa passagem é que o homem chamado pode acabar se aproximando dessas passagens com um padrão inflexível que demanda conformidade e pune desobediência. Se você se sente dessa maneira a respeito dessas passagens, você precisa entender algo muito importante: O chamado de Deus sobre um homem transmite a graça necessária para a piedade exigida.
Deixa-me explicar isso um pouco mais. Em 1 Timóteo 3 e Tito 1, nós vemos extraordinárias evidências da atividade de Deus precedendo toda clara evidência de chamado. Contudo considere o modo como Paulo usa o termo “seja” em 1 Timóteo 3.2. O bispo deve ser irrepreensível, temperante, sóbrio, modesto etc. O tempo presente permanece por toda a lista. Paulo não está apresentando uma lista de alvos a serem alcançados. Pelo contrário, ele está falando de qualidades que já estão presentes. Elas são pré-condições para um presbítero, não eventuais resultados a serem aguardados.
O que isso quer dizer, então? Que a graça de Deus está operando em certos homens a produzir certos tipos de vida. Identificar um homem chamado é primariamente observar graça já operante na vida de um homem. A graça radiando através da vida de um homem é um indicador de que ele é chamado.
Pode alguém atingir as qualificações do ministério pastoral? Sim, porque o chamado de Deus transmite graça. Se você é chamado, pode confiar que Deus já começou a trabalhar em você.
Notas:
[1] Literalmente, como garotos de fraternidade. Pensei em colocar “membros de DCE” ou “moradores de república estudantil”, mas ficaria ofensivo aos crentes que participam de DCE ou moram em repúblicas, num generalismo bobo. Preferi uma adaptação, já que não existem fraternidades no Brasil.