Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia
do Senhor; ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos
a seus pais, para que eu não venha e fira a terra com maldição.
Malaquias 4.5-6
Nosso desafio enquanto peregrinamos pela Terra Santa é conectar os lugares que visitamos com a vida de nosso Salvador. É natural, então, que a maioria de nossas meditações se baseie em textos do Novo Testamento. Desta vez, no entanto, inspirados pelo local onde estamos, o Monte Carmelo, intimamente relacionado à história do profeta Elias (cf. 1Rs 18), meditaremos brevemente sobre a passagem veterotestamentária acima, a qual conecta essa grande figura da história de Israel com Jesus, o protagonista da história bíblica. O nosso texto une o Antigo Testamento ao Novo. Com efeito, existe uma continuidade entre as duas grandes seções da Bíblia. No que diz respeito à aliança, ao reino e vários outros temas que estão presentes em ambas as partições da Bíblia, a mensagem do Antigo continua no Novo.
Elias foi um dos maiores profetas do Antigo Testamento, atuando especialmente no Reino do Norte (lembre-se de que, como vimos no capítulo anterior, as tribos de Israel se dividiram após a morte de Salomão). O Reino do Sul tornou-se a sede da dinastia de Davi, mas o reino do Norte, onde imperou uma grande instabilidade política, foi comandado por diversas casas reais ímpias. Uma sucessão de reinados desastrosos (do ponto de vista religioso) conduziu a nação à idolatria e à sua consequente destruição. Elias exerceu o seu ministério profético num momento crítico da história de Israel, quando Acabe e Jezabel desempenhavam um dos reinados mais funestos da história da nação.
Outro profeta, Malaquias, que viveu alguns séculos depois, deixou claro como os antigos relatos bíblicos a respeito daquele que aniquilara os profetas de Baal prenunciavam a manifestação de uma nova era. Malaquias é o último livro do Antigo Testamento, escrito no período pós-exílico. O profeta inicia seu livro falando da eleição de Judá — Deus graciosamente escolheu Jacó, mas rejeitou a Esaú. A terra de Edom, habitada pelos descendentes de Esaú, estava destinada a ser um deserto, mas Deus cuidaria de Jacó por causa de sua aliança e de seu irretratável amor eletivo (Ml 1.1-5).
A profecia registrada em Malaquias 4.5-6 previa que Deus, um dia, enviaria o profeta Elias novamente aos filhos de Israel, inaugurando o “grande e terrível Dia do Senhor”, o dia em que Deus vindicaria o seu povo e se vingaria dos seus inimigos. O Novo Testamento consistentemente constata que essa profecia concernente ao envio de Elias se cumpriu em João Batista (Mt 11.14; 17.10-13). Isso não quer dizer, evidentemente, que João Batista fosse uma reencarnação de Elias — afinal, Elias sequer morreu (2Rs 2.11) —, mas que, como explica Lucas, João seria aquele que, “no espírito e poder de Elias”, converteria “o coração dos pais aos filhos, converter[ia] os desobedientes à prudência dos justos e habilitar[ia] para o Senhor um povo preparado” (Lc 1.17).
A bênção e a maldição do dia do Senhor
Quando colocamos essa passagem de Malaquias no contexto maior da fé bíblica, o Dia do Senhor começa com a vinda de nosso Salvador e termina no dia do Armagedom. Trata-se, portanto, de uma era. Assim, podemos afirmar que já vivemos no chamado “Dia do Senhor” profetizado por Malaquias e tantos outros profetas, visto que, para nós, a etapa final da história já teve início com a conclusão do ministério terreno de Jesus. O profeta Elias, representado por João Batista, já veio e anunciou a chegada iminente do Dia do Senhor. Esse dia (isto é, essa era) realmente foi inaugurado com a vinda daquele para quem João apontou, a saber, Jesus. Para nós, porém, esse dia é motivo de preocupação ou de alegria? Fazemos parte do povo que é salvo ou dos povos que são condenados nessa ocasião?
A mentalidade hebreia, concreta e prática, não é como a dos gregos, muito mais afeita a reflexões metafísicas e abstratas. Para que o Dia do Senhor seja um canal de bênção e salvação, precisamos fazer parte da comunidade pactual. Entretanto, como podemos saber se somos membros da aliança graciosa que o único Deus estabeleceu com seu único povo, de maneira que não sejamos feridos com a maldição que, conforme Malaquias, o Dia do Senhor traria? O próprio texto responde com uma evidência muito concreta, mostrando que os pais cujo coração se convertesse aos filhos e os filhos cujo coração se convertesse aos pais seriam poupados da condenação trazida pelo Dia do Senhor.
Quando, entre os membros de uma família, impera aquela paz que vem do alto, é possível constatar que estão conectados uns aos outros nessa aliança graciosa que Deus firmou com o povo que salvará.
Essas pessoas deram ouvidos à mensagem de Elias/João Batista, de maneira que estão preparadas para o Dia do Senhor. Por outro lado, esse dia é temível para aqueles que estão fora do pacto, aqueles que não conseguem vivenciar essa paz familiar presente na Nova Aliança. Precisamos sempre nos lembrar da importância da família dentro da aliança de Deus, herança que recebemos dos hebreus. Por vezes, queremos salvar nosso país e o mundo, mas não nos atentamos para nossos familiares mais próximos. No fim, as questões mais importantes são as mais básicas.
Diante desse texto de Malaquias, devemos fazer uma autoavaliação para nos certificarmos de que estamos mesmo dentro da Nova Aliança. Os nossos corações estão quebrantados e convertidos aos nossos filhos e pais? Estamos realmente voltados para aqueles que estão mais próximos a nós? Em caso positivo, nós acolhemos em nós a mensagem de Malaquias, a mensagem de que já estamos na Nova Aliança e a desfrutamos, de sorte que fazemos parte do grupo para o qual o Dia do Senhor é motivo de intensa alegria, e não de preocupação. Se, contudo, esses relacionamentos familiares restaurados ainda não são uma realidade em nossas vidas, é tempo de nos reconectarmos com a aliança, pedindo ao único Senhor que converta nossos corações genuinamente. Caso contrário, nossa jornada por Israel seria inútil, já que nosso alvo não é apenas trazer informações sobre a história e a geografia desse país, mas vivenciar o impacto que a própria Escritura Sagrada pode causar em nós nesse território.
Em 2 Coríntios 2.15-16, Paulo diz que a mensagem de Deus é de misericórdia e de juízo, de vida e de morte. Por isso, diante do Dia do Senhor, temos apenas duas opções: ou estamos debaixo da misericórdia, vivenciando relacionamentos restaurados, no contexto do Pacto da Graça, ou estamos debaixo da ira, esperando a severidade do juízo final, que encerrará o período que a Bíblia chama de Dia do Senhor.
O artigo acima é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Meditações na Terra Santa, de Franklin Ferreira e Jonas Madureira, em breve disponível pela Editora Fiel.
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