O fogo, meus irmãos, não apenas queima e purifica, mas, como você sabe, separa uma substância da outra, sendo utilizado na química e na mecânica. O que poderíamos fazer sem o fogo? Ele refina o metal, a fim de purificá-lo. O Deus todo poderoso sabe: frequentemente somos mais purificados, em determinado momento, por intermédio de uma saudável provação do que por meio milhares de demonstrações de seu amor. É algo excelente sair purificado e perdoado da fornalha de aflição; seu propósito é nos purificar, a fim de separar o precioso do vil, o joio do trigo. E Deus, para realizar isso, se agrada em colocar-nos em um fogo após o outro. Isto me faz apreciar a ocasião em que vejo um bom homem passando por aflições, porque ensina algo sobre a maneira como Deus age no coração.
Lembro que, há alguns anos, quando preguei em Shields, próximo a Newcastle, no norte da Inglaterra, entrei em uma fábrica de vidro. Permanecendo muito atento, pude contemplar várias peças de vidro quente com diversas formas. O operário pegou uma das peças de vidro e a colocou em uma fornalha; depois, em outra; e, posteriormente, em uma terceira. Quando perguntei-lhe: “Por que você está colocando esse vidro em tantas fornalhas?”, ele me respondeu: “Colocá-los apenas na primeira ou na segunda não é suficiente; por esta razão, eu o coloquei na terceira: isso torna o vidro transparente”.
Ao afastar-me do operário, ocorreu- me que aquele acontecimento daria um bom sermão: “Ora, esse homem colocou o vidro em uma fornalha após a outra, a fim de que pudéssemos ver através dele. Oh! Que Deus me coloque em uma fornalha após outra, para que minha alma seja transparente, e eu O veja como Ele é”.
Meus irmãos, precisamos ser purificados; a nossa tendência é de querer ir ao céu em uma cama macia; mas o caminho do Rei para muitos consiste em um leito de dores e abatimento. Conforme sabemos, há várias estradas em Londres chamadas “caminhos do Rei”, e foram excelentemente construídas com pedras. Mas o caminho do Rei para o céu está repleto de cruzes e aflições.
Todos nos inclinamos a pensar bem a respeito de ser um cristão. É muito agradável falar sobre o cristianismo, até que sejamos colocados em uma fornalha após outra. “Não estranheis”, disse o apóstolo, “o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar vos”. O que preciso fazer? Ora, se estou no fogo, é por causa das minhas corrupções. Deus não fará que passemos pelo fogo, se não houver algo a ser purificado. A grande virtude é aprender a glorificar a Deus no meio do fogo. Portanto, glorificai a Deus no fogo. Quando glorificamos a Deus no fogo? Quando nos esforçamos para conseguir tal graça da parte do Senhor, a fim de que não O desonremos ao passar pelo sofrimento; portanto, glorificamos a Deus no fogo em ocasiões que suportamos, com quietude, a aflição como uma disciplina.
Glorificamos a Deus no fogo quando sofremos com paciência. É algo terrível alguém dizer, assim como Caim: “É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo”. Mas a linguagem de uma alma que glorifica a Deus no fogo é esta: “Senhor, Senhor, posso eu, um homem pecador, reclamar por causa do castigo de meus pecados?” É glorioso ser capaz de afirmar, assim como aquele homem a respeito de quem, diversas vezes, um de seus amigos me falou que, encontrando-se dilacerado pela dor, gemia durante toda a noite por causa de sua enfermidade, mas clamava: “Senhor, estou gemendo; Senhor, estou gemendo; mas, Senhor Jesus, apelo a Ti, pois sabes que não estou resmungando”. Glorificamos a Deus no fogo, quando, apesar de sentirmos dor e tristeza, ao mesmo tempo dizemos: “Senhor, eu mereço isso e dez vezes mais do que isso”. Também glorificamos a Deus no fogo quando, de fato, estamos completamente persuadidos de que Ele não há de colocar-nos no fogo, exceto quando isso coopere para nosso bem e redunde em sua glória.
Glorificamos a Deus no fogo quando dizemos: “Senhor, não permita que o fogo se apague até que remova todas as minhas escórias”. Então, nós O glorificamos quando almejamos que o fogo nos seja benéfico e não se apague, e nossa alma pode clamar: “Eis-me aqui, Senhor Deus, faze comigo o que te parecer agradável; sei que não terei uma aflição sem que Tu me concedas o consolo e me faças saber porque contendes comigo”.
Glorificamos a Deus no fogo quando demonstramos contentamento para dizer: “Não sei o que Ele está fazendo comigo agora; todavia, depois o saberei”. Explicamos para nossos filhos de dois anos de idade porque as coisas acontecem; é claro que não. E pensamos que Deus as explicará para nós? Os discípulos perguntaram: “O que este homem está fazendo? – Cristo respondeu: Que tenho eu contigo? Segue-me”. Glorificamos a Deus no fogo quando nos contentamos em andar pela fé e não pelo que vemos.
Glorificamos a Deus no fogo quando não murmuramos em desagrado, mas submetemo-nos humildemente à vontade dEle. Uma pessoa humilde não anda em rebeldia e mau humor. Mas, existem pessoas de coração tão endurecido que nem chegam a se expressar. Quando aquela terrível notícia foi trazida a Eli, o que disse ele? “É o SENHOR; faça o que bem lhe aprouver”; que meus filhos sejam mortos; o que acontecer é Ele quem o está fazendo; apenas, Senhor, salve minha alma.
Glorificamos a Deus no fogo, quando no meio deste podemos entoar sublimes louvores a Ele. Os filhos de Israel glorificaram o Senhor; o cântico dos três rapazes na fornalha ardente é um louvor agradável! Assim também são todos os louvores produzidos em meio ao fogo. .Oh! Todas as obras do Senhor, louvai-o e exaltai-o para sempre!. Portanto, glorificamos a Deus no fogo quando nos regozijamos nele e não apenas pensamos mas também reconhecemos que isso é o melhor; quando somos capazes de agradecer a Deus por nos fustigar e quando podemos bendizê-Lo e expressar-Lhe nossa gratidão por não ter nos abandonado, afirmando: “Deixai os sozinhos”. Isto é glorificar a Deus no fogo. “E não somente isto”, disse o apóstolo, “mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança”. Neste mundo, glorificamos a Deus no fogo quando exercitamos humildade, paciência e resignação, aprendendo a desconfiar cada vez mais de nós mesmos, obtendo um profundo conhecimento de nossa própria fraqueza e da onipotência e da graça de Deus. Somos felizes quando podemos olhar para trás e declarar: “Fui capacitado a glorificar a Deus no fogo”.
Bem-aventurados são os que já passaram pela fornalha de Cristo! Felizes, os que já experimentaram as aflições de Cristo em suas almas! Creio que muitas almas já disseram: .Ó Senhor Jesus, ajuda-nos a glorificar- Te em quaisquer aflições que, por Teu agrado, enviares e em quaisquer fornalhas que, por Teu deleite, nos colocares.. Então, cantaremos .A Igreja Triunfante. Muito melhor do que o fazemos agora; veremos Jesus pronto a ajudar-nos quando estivermos na fornalha da aflição. Oh! Que este pensamento faça todo pecador afirmar: .Com a ajuda de Deus, eu me tornarei um verdadeiro cristão; com a ajuda de Deus, se tiver de passar pelo fogo, estarei ardendo de amor por Cristo. E direi: .Senhor, seja glorificado por arrebatar-me como um tição da fornalha de Satanás!… Seja este o clamor de todos os corações!