Caro Thomas,
Recebi sua carta sobre a palavra hedonismo e a maneira como a uso na frase “Hedonismo Cristão”. Eu realmente não quero que você fique confuso. Mas fico feliz que você tenha ficado surpreso – surpreso o suficiente para lembrar o que ouviu e confuso o suficiente para efetivamente escrever sua carta.
Isso é parte do porquê eu uso a palavra hedonismo. Faz com que as pessoas cocem a cabeça, pensem e escrevam cartas. Tentarei explicar por que uso a palavra hedonismo – que basicamente significa “uma vida dedicada à busca do prazer”. Mas primeiro, vamos começar com uma história.
Suponha que você tenha um irmão de 10 anos chamado Joe, que acha que você é a melhor coisa do mundo. Ele te admira. Ele acha que você é legal. Ele adora passar tempo com você. E ele gosta de pescar. Seu aniversário está chegando e você realmente quer fazê-lo feliz com um presente especial.
Então você faz alguns trabalhos avulsos pelo bairro, ajudando pessoas que estão trabalhando em seus jardins, para poder ganhar dinheiro extra e comprar uma vara de pesca e uma caixa de equipamento própria. Mas para torná-lo especial você coloca uma nota na caixa de equipamento que diz: “Este é um certificado de promessa de que vou levá-lo para pescar o dia todo no sábado após o seu aniversário. Só você e eu.”
Você ganha o dinheiro, compra os presentes, embrulha-os e coloca a nota dentro da caixa. Em seu aniversário, Joe abre os pacotes e ama a vara e a caixa de equipamento. Então ele abre a caixa e encontra sua nota. Ele desdobra e lê. “Uau”, diz ele, “esse é o maior de todos! Tom, eu amei a vara e a caixa de equipamento. Mas o dia todo com apenas você e eu – pescando! Uau!”
E suponha que você sorriu e disse: “O prazer é meu, Joe. Na verdade, não consigo pensar em nada que me faria mais feliz neste sábado do que passar o dia com você”.
Então o rosto de Joe fica vermelho. A alegria deixa o seu coração. E ele bufa: “É o seu prazer! Nada te deixaria mais feliz! Então é tudo sobre você! É tudo sobre o que te faz feliz! Você é muito egoísta”!
Você fica atordoado com essa reação. Sem palavras.
A razão pela qual você está atordoado e sem palavras é que isso nunca aconteceria. Joe nunca responderia dessa maneira. Por que não? De fato, você disse: “O prazer é meu”. Você disse: “Não consigo pensar em nada que me deixaria mais feliz”. Mas você e eu sabemos que Joe nunca ficaria chateado com isso. Ele nunca trataria você como se estivesse sendo egoísta.
Por quê? Porque quando você encontra seu prazer em passar um tempo com Joe, você o honra. E ele sente isso. Você o trata como especial. Você diz: “Há algo em você que me faz querer estar com você”.
Honre a Deus, desfrutando-o
Aqui está a principal questão à qual quero chegar: sua busca por sua felicidade ao sair com Joe chama a atenção para o valor de Joe, não para o seu ego. Isso valoriza Joe – não você. Sua felicidade em passar tempo com Joe é centrada em Joe, não centrada em seu “eu”. Joe sente isso. Ele recebe como presente. Ele não se sente usado. Ele se sente amado.
Thomas, aqui está o ponto: essa história é uma parábola de como você deve se relacionar com Deus. O hedonismo cristão ensina que você deve buscar sua maior e mais longa felicidade em conhecer a Deus e estar com Deus. Quando você faz isso, Deus é honrado. Você estará dizendo a Deus: “Não consigo pensar em nada que me faça mais feliz neste sábado (ou para a eternidade) do que passar o dia (ou sempre) com o Senhor”. Deus não vai chamá-lo de egoísta se você se sentir dessa forma! Ele se sentirá honrado. Ele vai chamar isso de adoração.
De fato, o modo como eu resumo o hedonismo cristão é que Deus é mais glorificado em você quando você está mais satisfeito nele.
Você vê para onde isso leva? Isso leva à exigência de que você e eu não só podemos, mas devemos ser tão felizes quanto pudermos em Deus. Porque é isso que o honra. Sim, é uma exigência bíblica! “Agrada-te do Senhor” (Sl 37. 4). “Alegrai-vos no Senhor” (Sl 32.11; Fp 3.1).
Alegre-se no Doador, Não Apenas nas suas Dádivas
Mas note cuidadosamente que o objetivo é nos alegrarmos “no Senhor”, e não primeiramente em suas dádivas. Nele como pessoa, não como um distribuidor de presentes nos quais nos alegramos mais do que nele próprio. Isso é chamado de idolatria. O Hedonismo Cristão não tem como objetivo ter Deus como um mordomo – alguém para quem você toca uma campainha quando quer que ele lhe traga alguma coisa.
Isso seria como dizer a Joe: “O que eu realmente quero no próximo sábado é que você faça o almoço, reme o barco, coloque meus anzóis na água, recolha os peixes e limpe tudo quando terminarmos”. Em outras palavras, “Eu realmente não quero passar tempo com você como pessoa. Eu só quero seus serviços”. Muitas pessoas tratam Deus dessa maneira. Mas isso não é cristianismo. Não é hedonismo cristão.
O hedonismo cristão diz o seguinte: Busque o seu prazer com todas as suas forças, a saber, o prazer em Deus como pessoa. Torne-se o tipo de adolescente que acha Deus mais desejável do que qualquer outra coisa. E quando você apreciar qualquer outra coisa – como pizza, futebol, música ou amigos – deixe que tudo isso seja o gatilho para uma alegria maior em Deus. Assim essas coisas não se tornam ídolos. Tornam-se provas da bondade, misericórdia e excelência de Deus – provas de que é o próprio Deus quem satisfaz.
Plenitude para sempre
Ok, agora podemos abordar a palavra hedonismo. Quando eu estava no décimo ano, eu tinha um “Webster’s Collegiate Dictionary”. Ele definia o hedonismo como “viver para o prazer”. Hoje uma pesquisa no Google me leva a esta definição: “a busca incessante pelo prazer”. Ambos são o que quero dizer com o hedonismo: Viver para – buscar implacavelmente – o prazer.
Naturalmente, a palavra é frequentemente usada para descrever uma vida dedicada ao prazer pecaminoso. Ou às vezes é usada para descrever um modo de pensar sobre a vida onde se decide o que é certo apenas pelo prazer que pode dar. Eu não quero dizer nenhuma dessas coisas.
Quando coloco a palavra cristão após ela e a chamo de hedonismo cristão, quero dizer que os prazeres mais fortes e mais longos só podem ser encontrados em Deus por meio de tudo o que Jesus fez ao morrer por nós, ressuscitar e governar sobre o mundo. A Bíblia diz que isso é, de fato, o que encontramos quando encontramos a Deus: “Na tua presença há plenitude de alegria; na tua destra, delícias perpetuamente”. (Sl 16.11).
Melhor que a vida
Ao usar a palavra hedonismo, quero que o mundo se sente e diga: “Sério?” Thomas, seus amigos não-cristãos provavelmente acham que conhecem o caminho para os melhores prazeres. Eles não conhecem. O caminho do prazer pecaminoso leva apenas à destruição. Deus nos ama demais para nos deixar seguir por esse caminho sem nos avisar: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma”. (1Pe 2.11). A Bíblia os chama de “prazeres transitórios” (Hb 11.25). Eles não são os melhores. E eles não duram.
Os prazeres que temos em Deus, agora e para sempre, são realmente melhores do que o mundo tem a oferecer, mesmo em seus melhores e mais inocentes momentos. “Mais alegria me puseste no coração do que a alegria deles, quando lhes há fartura de cereal e de vinho”. (Sl 4.7).
Sem Brincadeiras
Thomas, chegou um momento em minha vida quando fui atingido pela verdade de que Deus ordena que eu seja mais feliz nele do que em qualquer outra coisa. Quero dizer, fui atingido, surrado, detonado. Foi maravilhoso e assustador. Maravilhoso, porque eu sabia que queria perseguir minha felicidade. E assustador porque eu sabia que precisaria de um milagre na minha vida se quisesse desfrutar mais de Deus do que de comida, televisão, esportes e amigos.
Desde então, eu tenho procurado encontrar palavras para mostrar como a vida cristã é impactante, chocante e radical. Não é um modo de vida fácil ou confortável. É extremamente ameaçador para aqueles que querem apenas brincar de igreja enquanto continuam amando as dádivas de Deus mais do que a Deus. A palavra hedonismo é a forma que encontrei para confrontar esses falsos cristãos. Se eles tropeçam em minhas palavras, eles podem tropeçar na ilusão na verdade.
Espero que isso o ajude, Thomas. Eu o admiro por escrever. Quando eu tinha a sua idade eu não gostava de ler, assim, eu poderia estar cometendo um erro em pensar que você pudesse gostar de ir mais fundo no assunto do hedonismo cristão. Mas, se for esse o caso, escrevi uma versão condensada do meu grande livro. São apenas 96 pequenas páginas. É chamado “Plena Satisfação em Deus”. Eu acredito que é fiel ao que a Bíblia ensina. E, claro, sua autoridade final é a Bíblia. Eu não sou.
Se você o ler, eu oro para que ele coloque você em uma peregrinação ao longo da vida em descobrir que “Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração… São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos”. (Sl 19. 8, 10).
Tradução: Paulo Reiss Junior.
Revisão: Filipe Castelo Branco.
Fonte: Isn’t ‘Hedonism’ a Bad Word?