Este artigo foi extraído do livro Medos do Coração, de Trillia Newbell.
O medo do homem e o julgamento
O medo do homem quase sempre termina com o julgamento sobre os outros, porque nós começamos a supor que conhecemos as motivações, pensamentos, caráter e intenções da outra pessoa. Alguém esquece de responder um e-mail, então você presume que não é uma prioridade e que a pessoa é egoísta. Acontece que ela estava de férias. Você passa por alguém no corredor, e a pessoa não acena, então você deduz que ela não gosta de você ou é mal-educada. Acontece que a pessoa não a viu. Você convida alguém para fazer alguma coisa, e ela gentilmente recusa, então você presume que ela está decepcionada com você. Ocorre que ela apenas não quer participar ou está doente ou ocupada. Não importa, na verdade, o que a outra pessoa pensa ou faz, porém a nossa obsessão com a preocupação relacionada ao que as outras pessoas pensam sobre nós nos leva a julgar de maneira pecaminosa.
O medo do homem e o autoesquecimento
Os falsos pensamentos que nos levam a julgar os outros são uma forma de orgulho capaz de ser remediado somente pelo que Tim Keller chama de “a humildade que brota do evangelho”. Conforme ele explica em seu valioso livro Ego Transformado :
A humildade do evangelho mata a necessidade que tenho de pensar em mim. Não preciso mais ligar as coisas à minha pessoa. Essa humildade dá fim a pensamentos como: “Estou nesta sala com essas pessoas. Isso faz com que eu seja bem visto por elas? Estar aqui me faz bem?”. A humildade baseada no evangelho significa que não relaciono mais cada experiência e cada conversa à minha pessoa. Na verdade, deixo de pensar em mim mesmo. É a liberdade que vem do autoesquecimento. [1]
É o descanso bendito que somente o autoesquecimento nos oferece.
A preocupação com o que os outros pensam é orgulho. Talvez, você anseie ser respeitada. Talvez, você odeie a ideia de ser mal-entendida (Ah! Como penso nisso!). Seja o que for, trata-se de orgulho, e nós sabemos que Deus se opõe aos soberbos (Tg 4.6).
Todo cristão verdadeiro almeja a humildade que brota do evangelho. Nenhuma de nós deseja permanecer onde está – queremos ser transformadas à semelhança de Cristo. Os cristãos não desejam desobedecer a Deus e entristecer o Espírito Santo. Além disso, não é divertido ser consumida por aquilo que você acha que a outra pessoa pensa. Keller compartilha o segredo para o doce esquecimento que encontramos no evangelho:
Você já notou que é somente no evangelho de Jesus Cristo que o veredito é dado antes de desempenharmos nossas ações? […] No cristianismo, o veredito leva ao desempenho. Não é o desempenho que leva ao veredito. No cristianismo, no momento em que cremos, Deus afirma: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Vejamos também Romanos 8.1 que diz: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. No cristianismo, assim que cremos, Deus nos imputa as ações perfeitas de Cristo, seu desempenho, como se fossem nossas e nos adota como filhos. Ou seja, Deus pode nos dizer exatamente o que disse a Cristo: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo”. [2]
O veredito do “muito bem” está dado, e, como resultado, você e eu damos início à corrida da fé, despojando-nos do julgamento e do medo do homem. Mesmo, lamentavelmente, fracassando no futuro, esforçamo-nos ainda assim. Afinal, o “muito bem” de Deus motiva e inspira uma vida consagrada para a sua glória.
Eu gostaria de poder dizer que a luta contra o medo do homem e contra a tentação de julgar as outras pessoas é fácil, mas não é. No entanto, podemos estar certas de que Deus realmente completará a boa obra que começou em nós (Fp 1.6). Trata-se de uma caminhada de fé, uma corrida em direção à linha de chegada, a qual nos fará passar da luta contra o pecado e contra a tentação para a glória. Um dia, nós estaremos com o nosso Salvador, adorando a ele por toda a eternidade. Nunca mais adoraremos o ídolo do homem.
Notas:
[1] Timothy Keller, Ego Transformado: A humildade que brota do evangelho e traz a verdadeira alegria (São Paulo: Vida Nova, 2014), 34.
[2] Estou retratando Keller, Ego Trasnformado: A humildade que brota do evangelho e traz a verdadeira alegria (São Paulo: Vida Nova, 2014), 42.