quinta-feira, 26 de dezembro
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Jesus, aquele que fala a verdade

A mitologia popular em torno de Jesus nos assegura que ele nunca confrontou ninguém, nunca fez ninguém se sentir desconfortável nem julgou o estilo de vida de ninguém. Jesus amou a todos, o que significa para muitos que ele aceitava as pessoas como elas são. Jesus foi um campeão da diversidade, eles imaginam. Jesus veio para estabelecer uma comunidade inclusiva na qual todos os povos de todos os tipos seriam abraçados e que ninguém, quaisquer que fossem suas tendências, seria excluído.

Jesus, de fato, estabeleceu uma igreja desprovida das categorias mundanas pelas quais os povos são separados em campos opostos. Ele é o cabeça de uma nova humanidade, “um novo homem” com “um só corpo”, estabelecendo “paz” tanto para os “que estavam longe como para os que estavam perto” (Ef 2.15-17). Isso significa que Jesus pretendia que as categorias religiosas e morais desaparecessem? O amor, que significa aceitação e inclusão, suprime a verdade? Vejamos alguns exemplos.

A mulher samaritana junto ao poço está ansiosa para ter acesso à água viva que Jesus oferece. No entanto, quando ela pede por isso, Jesus traz à tona o assunto desagradável de seu marido; na verdade, ela teve cinco, sem contar o homem com quem está vivendo (Jo 4.15-18). Ai. Momento embaraçoso. Alguém poderia pensar que a maneira como Jesus lidou com a situação parece carecer de sutileza. No entanto, para que ela se beneficiasse da obra salvadora de Jesus, para que ela se tornasse discípula – se filiasse à igreja, como podemos dizer –, ela precisava abandonar seu estilo de vida, e o confronto sobre seus hábitos morais foi necessário. Jesus priorizou a verdade ao invés da conveniência.

Jesus poupa a mulher apanhada em adultério da fúria de uma turba hipócrita. Ele se recusa a condená-la, mas depois diz a ela “vai e não peques mais” (8.11). Ele identifica sua escapada extraconjugal como pecado e diz a ela para parar. Ele não desculpa suas escolhas morais. Ele não aceita sua contribuição para a diversidade. Ele implicitamente avisa a ela que a continuação de seu caminho atual terminará na destruição de sua alma. Por quê? Porque, se ela deseja ser salva, ela deve se arrepender. A verdade teve prioridade sobre os seus sentimentos.

O jovem rico deseja ter certeza de que herdará a vida eterna. Ele é um “bom homem”. Por seu próprio testemunho, ele guardou todos os mandamentos. Jesus, como é dito explicitamente, “amou-o”. Jesus ainda disse: “Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me” (Mc 10.21). Palavras duras. Exigência sem precedentes. Jesus percebeu que ele tinha um ídolo em seu coração, o qual deveria ser exposto se quisesse ser salvo. Fazer isso magoou os sentimentos? Sim. O jovem rico estava “triste”? Sim. A exigência de Jesus o excluiu? Sim. “Ele foi embora” (v. 22). Jesus suavizou o golpe? Não, ele “dobrou a aposta”. Ele comparou a salvação dos ricos a um camelo passando pelo fundo de uma agulha — impossível para o homem, possível apenas para Deus (vv. 23–26). A verdade tinha prioridade sobre a provável ofensa.

A evidência, além desses três exemplos, sugere que Jesus não gastou muito tempo se preocupando em criar um ambiente confortável para almas sensíveis. Ele confrontou o pecado. Quando um dos intérpretes da lei reclamou que Jesus estava insultando os fariseus, Jesus novamente “dobrou a aposta”, dizendo: “Ai de vós também, intérpretes da lei!” (Lc 11.45–52). Muito estava em jogo para abrandar a verdade. Quando advertido por outros de que seu ensino era “duro”, Jesus não se desculpou. “Isto vos escandaliza?”,ele perguntou (Jo 6.61). Ele disse com naturalidade sobre aqueles que não acreditam: “Ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido” (v. 65). Isso não quer dizer que Jesus fosse insensível ou desinteressado pela fraqueza dos outros. Pelo contrário. Quando Jesus olhou para as multidões de pessoas confusas e sem entendimento, ele as viu como “aflitas e exaustas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9.36). Ele “teve compaixão delas” e começou a ensinar-lhes muitas coisas, curando os enfermos e alimentando os famintos (Mt 15.32–39; Mc 8.2–10). No túmulo de Lázaro, João nos diz que Jesus ficou “profundamente comovido em seu espírito e muito perturbado” e que “Jesus chorou”, lamentando-se com os parentes de Lázaro, que choravam (Jo 11.33, 35.38).

Embora Jesus fosse cheio de compaixão, a verdade era a prioridade. Ainda que não fosse indiferente aos sentimentos, ele interagia com outras pessoas como alguém que sabe que somente a verdade do evangelho é o que salva. A verdade, ele ensinou, “vos libertará” (Jo 8.32). A missão de Jesus era “dar testemunho da verdade” (18.37). Sessenta e seis vezes no Novo Testamento o evangelho é identificado simplesmente como “a verdade”, com o artigo definido, a única verdade. Por mais que a verdade possa fazer os outros se sentirem incomodados, por mais ofensiva que a verdade possa soar aos ouvidos dos incrédulos, por mais que a verdade possa parecer inoportuna, Jesus sempre falou a verdade, e nós também devemos.

Publicado originalmente em Ligonier Ministries.

Tradução: Melanie de Bessa. Revisão: Pedro Henrique Lima de Oliveira.


Autor: Terry L. Johnson

Rev. Terry L. Johnson é ministro sênior da Igreja Presbiteriana Independente em Savannah, GA. Ele é o autor de The Case for Traditional Protestantism and Reformed Worship.

Parceiro: Ministério Ligonier

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