Como líder de adoração, Jesus também nos conduz em nosso cantar. Observe as palavras que Hebreus cita, novamente do Salmo 22.22: “Cantar-te-ei louvores no meio da congregação.”[i]
Em uma de nossas igrejas, há um almoço às quartas-feiras seguido de exposição das Escrituras. Aguardamos imensamente por isso, porque nos dá uma oportunidade privilegiada de ensinar algo que tanto ajuda os cristãos quanto aponta Cristo aos de fora.
Em certo Natal, numa das nossas igrejas, os pastores decidiram (por maioria) que, como parte do nosso “presente de Natal” para aqueles que viessem durante a respectiva semana, cantaríamos em conjunto uma canção natalina. Porém, os pastores estavam inseguros sobre a apresentação. À medida que a data se aproximava, suas inseguranças cresceram. Contudo, pouco antes do dia da apresentação, combinamos com nosso diretor musical que ele nos acompanharia nos ensaios. O pastor mais relutante sorriu aliviado e indagou: “Quer dizer que ele vai cantar conosco?” Isso mudou tudo! Agora, não havia mais medo de sermos pegos cantando fora do tom ou desafinados. Agora poderíamos nos apresentar com certa confiança e alegria para cantar. A voz do diretor musical cobriria todas as nossas falhas.[ii] Na verdadeira adoração, Jesus está presente e lidera o canto. Cantamos juntos com aquele que diz: “Cantar-te-ei louvores no meio da congregação.” Adoramos em união com Cristo — e também cantamos em união com ele. Isso coloca a adoração em uma nova perspectiva. Quem não gostaria de cantar com Jesus? Ele faz com que o nosso canto dê prazer ao seu Pai. Seu canto de louvor cobre todas as nossas imperfeições.
Precisamos recuperar a consciência desse ministério do Senhor. Isso é o que nos encoraja a cantar com todo o coração. Jesus está no meio do seu povo dizendo: “Pai, estou na congregação. Estou liderando os louvores do teu povo. Ouve-os cantando comigo. Tu não amas ouvi-los?” Pense nisso toda vez que o culto começar em sua igreja.
Uma lembrança de uma formatura nos vem à mente. Um de nossos filhos estudou em uma universidade que ainda usava apenas latim durante a cerimônia de formatura de graduação. Um por um, os vários diretores-gerais das faculdades conduziam seus formandos (usando suas vestes de pré-formatura) para serem apresentados ao dirigente da cerimônia. Ao fazer isso, o reitor pegava representativamente um dos alunos pela mão e apresentava todos os seus alunos para a formatura: “Aqui estou eu e os filhos da minha faculdade, que apresento com convicção a vocês para a formatura.” Os alunos eram, então, levados para fora, ainda usando suas vestes de pré-formatura, para só mais tarde reaparecerem usando suas vestes de pós-formatura.[iii]
Essa não é uma imagem do ministério continuado do Senhor Jesus? Enquanto nos reunimos para adoração, ele vem para ser o líder de adoração pelo seu Espírito, o liturgista. Ele nos toma pela mão e nos leva à presença de seu Pai. Somos apenas alunos de graduação em sua escola, porém ele nos apresenta dizendo: “Pai, aqui estou eu e os filhos que tu me deste. Apresento-os a ti com a convicção de que aceitarás sua adoração e os abençoarás.”
Um dia, seremos levados por Jesus à presença do Pai. Naquele dia, usaremos vestes de formatura gloriosas. Ainda assim, a cada domingo, assim como em todas as outras ocasiões nas quais adoramos, já temos um gostinho disso.
É por isso que, mais tarde, em Hebreus, o autor faz uma comparação surpreendente entre a adoração do Antigo Testamento, cujo protótipo era a assembleia no Sinai, e a adoração do Novo Testamento:
Ora, não tendes chegado ao fogo palpável e ardente, e à escuridão, e às trevas, e à tempestade, e ao clangor da trombeta, e ao som de palavras tais, que quantos o ouviram suplicaram que não se lhes falasse mais, pois já não suportavam o que lhes era ordenado: Até um animal, se tocar o monte, será apedrejado.
Na verdade, de tal modo era horrível o espetáculo, que Moisés disse: Sinto-me aterrado e trêmulo! Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel.[iv]
Isso é o que acontece quando vamos à igreja. O Jesus ressurreto o descreve com primor quando diz à igreja em Laodiceia:
Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.[v]
Embora essas palavras tenham sido frequentemente lidas como um texto evangelístico, Jesus está, na verdade, se dirigindo a uma igreja reunida para adoração. Ele está falando sobre ir à igreja deles, talvez até mesmo sobre sua presença na Ceia do Senhor.
Quando o Senhor vem a nós dessa forma, somos levados à sua presença e o louvamos. Tornamo-nos conscientes da sua glória conforme a sua Palavra nos é ministrada e começamos a compreender que ele não é apenas o pregador da Palavra e o líder dos nossos louvores; ele é também, e supremamente, o pastor da nossa alma. Uma vez que ele sofreu na nossa carne e no nosso sangue, foi tentado e venceu, sabemos que ele é um sacerdote que compreende a nossa fraqueza. Já que ele está conosco, podemos ir até ele. Sabemos que ele é capaz de salvar completamente a todos — a qualquer um que se chegue a Deus através dele. E sabemos que ele o quer, pois nos chama de seus filhos: “Eis aqui estou eu e os filhos que Deus me deu.”[vi]
O que você está sofrendo? Como você está sendo testado? Talvez sinta que ninguém sabe aquilo por que você está passando, ninguém poderia entender, ninguém esteve no seu lugar. Você pode ser um jovem que sente que seus pais, irmãos e irmãs não o entendem e, então, diz: “Jesus nunca me entenderia. Meus pais, meus irmãos e irmãs não me entendem. Ninguém me compreende, ninguém se importa!”
No entanto, os pais de Jesus não o entendiam. Seus irmãos, irmãs e amigos — nenhum deles o entendia. “As pessoas estão contra mim”, você diz. As pessoas estavam contra ele. “Ninguém me entende.” Ninguém entendeu a ele.
Alguém que esteja lendo estas páginas pode concordar com tudo isso, mas, ainda assim, dizer: “Sim, porém minha dor é diferente.” Talvez seja a dor indescritível de ter sido abusado, molestado e possivelmente até estuprado. Mas pense no ministério sacerdotal de Jesus. Ao se tornar o sacrifício pelos nossos pecados, ele também sentiu o gosto (sim, ele podia sentir) da saliva, do sangue e do suor; ele pôde sentir (sim, sentir) as lacerações em suas costas, o abuso físico. Ele sabe o que é ser molestado, despido, espancado e, depois, exposto e humilhado em público. Ele se tornou um “homem de dores e que sabe o que é padecer”.[vii]
“Ah, mas ele não tinha pecado!”, você pode alegar. “Isso tornou tudo diferente para ele.”
Sim, isso tornou tudo diferente. Isso tornou a vergonha e a humilhação ainda mais intensas e desagradáveis para ele. Essa é a razão pela qual ele é capaz de ajudá-lo e pastoreá-lo. Ele sentiu sua fraqueza e vergonha em cada átomo do próprio ser. Mas ele permaneceu absolutamente fiel a Deus. E, assim, ele é capaz de pegar você pela mão e apresentá-lo, em todo o seu sentimento de vergonha, ao Pai celestial.
Há ainda mais no ministério continuado de nosso Senhor do que isso. Ele tornou-se como nós em todos os aspectos.[viii] Ele pode nos compreender em nossas fraquezas, porque foi tentado de todas as maneiras como nós.[ix] Mais ainda: “ele vive sempre para interceder por eles”, de sorte que “pode salvar totalmente”.[x] Isso significa que ele também pode salvá-lo “totalmente” do pior — seja lá o que isso signifique em sua vida. Ele segura seus filhos com uma mão e seu Pai com a outra. Ao se aproximar deste, diz: “Pai, eis-me aqui, e os filhos que tu me deste.”
Muitos cristãos contemporâneos passaram a gostar do hino “Diante do trono de Deus nos céus”:
Diante do trono de Deus nos céus Tenho perfeita intercessão
Do sumo sacerdote, o amor, que advoga em meu favor.
Meu nome em suas mãos está e escrito em seu coração,
E enquanto no céu ele estiver, seguro ali eu estarei.[xi]
Mas a realidade da adoração bíblica é que esse mesmo Jesus, pelo poder do Espírito, também está presente conosco.
Você já veio a Jesus, confiou nele e disse: “Meus pecados, Senhor Jesus! Tu és o único que podes libertar minha consciência culpada, quebrar a escravidão de minha alma, trazer-me à tua presença e ajudar-me a louvar, glorificar a Deus e desfrutar dele para sempre”?
Jesus fará tudo isso de uma só vez. Que Salvador!
Este artigo é um trecho adaptado com permissão do livro Nome acima de todo nome, por Alistair Begg e Sinclair Ferguson, Editora Fiel.
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[i] Hebreus 2.12
[ii] Se mencionarmos que este diretor musical em especial cantou, entre outros papéis, em óperas, bem como foi backing vocal do cantor Sting, a razão do alívio ficará clara.
[iii] N.T.: Em algumas universidades americanas, é tradição os formandos de graduação apresentarem-se para a cerimônia de formatura com um tipo de vestimenta e mudarem de vestimenta depois da cerimônia.
[iv] Hebreus 12.18-24
[v] Apocalipse 3.20
[vi] Hebreus 2.13
[vii] Isaías 53.3
[viii] Hebreus 2.17-18
[ix] Hebreus 4.15
[x] Hebreus 7.25
[xi] Surpreendentemente, o hino tem sido tão amplamente cantado no cenário contemporâneo por Vicki Cook, em inglês, que nem sempre é reconhecido como sendo um hino “tradicional”, tendo sido escrito em meados do século XIX por Charitie Lee Bancroft (1841–1892) [N.T.: A versão em português é de Daniel Almeida, Yago Martins e Vinícius Musselman Pimentel].