domingo, 22 de dezembro
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Lei e graça

O cristianismo é sobre regras ou é sobre relacionamento?

O texto abaixo foi extraído com permissão do livro Dez mandamentos para a vida, de Jen Wilkin, Editora Fiel.

 

Talvez você já tenha ouvido a seguinte declaração: “Cristianismo não é sobre regras, mas sobre relacionamento”. Essa é uma ideia que tem contado com popularidade nas últimas décadas, pois as mensagens evangelísticas enfatizavam cada vez mais o relacionamento pessoal com Deus, possibilitado pela graça que perdoa nossos pecados contra a lei divina. De muitas maneiras, essa abordagem evangelística busca resolver o problema de relações públicas que registrei aqui, trocando o rabugento Deus da lei do Antigo Testamento pelo compassivo Deus da graça do Novo Testamento.

Assim, lei e graça passaram a se opor entre si como inimigas quando, na verdade, são amigas. O Deus do Antigo Testamento e o Deus do Novo Testamento foram colocados em oposição quando, na verdade, são o mesmo. Deus não muda. Sua justiça e sua compaixão sempre coexistiram, assim como sua lei e sua graça. Nisso reside nosso esquecimento. Em vez de vermos o pecado da transgressão da lei como uma barreira para o relacionamento com Deus, temos considerado, regularmente, a própria lei como a barreira. Chegamos até mesmo a acreditar que as regras impedem o relacionamento. Então, o cristianismo é sobre regras ou é sobre relacionamento? A fé cristã é totalmente sobre relacionamento. Mas, ao mesmo tempo que essa fé é pessoal, também é comunitária. Somos salvos para ter um relacionamento especial com Deus e, desse modo, também um relacionamento especial com outros crentes. O cristianismo é sobre o relacionamento com Deus e as outras pessoas — e, porque essa afirmação é verdadeira, o cristianismo também é, inequivocamente, sobre regras, pois as regras nos mostram como viver nesses relacionamentos. Em vez de ameaçar o relacionamento, as regras o tornam possível. Sabemos que isso é verdade na vida cotidiana. Imagine que você seja um professor substituto em uma escola de nível básico. Qual turma do jardim de infância você prefere acompanhar: aquela que conta com regras estabelecidas e respeitadas afixadas no quadro de avisos ou a turma que não conta com essas regras? As regras garantem que a autoridade ali seja honrada e que aqueles que estão sob o seu comando levem em consideração os interesses dos outros, da mesma forma que levam em conta os seus próprios. Sem regras, nossas esperanças de um relacionamento saudável desaparecem em pouco tempo. Jesus não colocou as regras e os relacionamentos de lados opostos. Foi ele quem disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”.

Os cristãos têm sido ensinados, por boas razões, a temer o legalismo — a tentativa de ganhar favores por meio da obediência à lei. O legalismo é uma praga terrível, como fica bem evidente no exemplo dos fariseus. Mas, em nosso zelo para evitar o legalismo, às vezes esquecemos os muitos lugares em que a beleza da lei nos é exaltada, tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento. Bem-aventurado, diz o salmista, aquele cujo prazer está na lei do Senhor. Embora o legalismo seja uma praga, o cumprimento da lei é uma virtude abençoada, como se vê no exemplo de Cristo.

Devemos amar a lei porque amamos Jesus e porque Jesus amou a lei. Ao contrário da crença comum, os fariseus não eram amantes da lei; eram amantes de si mesmos. Por isso Jesus diz que, a menos que nossa justiça exceda a dos escribas e fariseus, nunca entraremos no reino dos céus (Mt 5.20). Legalismo é apenas justiça externa, praticada para obter favores. Legalismo não é amor à lei, mas é a própria forma de transgredir a lei, distorcendo-a para seus próprios fins.

Quando as Escrituras condenam a transgressão da lei — como ocorre repetidas vezes e de forma veemente —, condenam tanto aquele que ignora a lei como aquele que a abraça para fins de justiça própria. Observe as palavras do apóstolo João: “Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei” (1Jo 3.4). A própria definição de pecado é a rejeição da lei. O que, então, é o cumprimento da lei?

O cumprimento da lei é a semelhança de Cristo. Obedecer à lei é assemelhar-se a Jesus Cristo. Enquanto o legalismo constrói a justiça própria, o cumprimento da lei constrói a justiça. A obediência à lei é o meio de santificação para o crente. Servimos ao Cristo ressurreto, “o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade [transgressão da lei] e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tt 2.14).

Portanto, é minha ardente esperança que este livro aumente seu zelo. Existem boas obras a fazer pelo povo de Deus, não a partir da ansiedade para ganhar seu favor, mas a partir do deleite, porque já o temos. Esse favor é nossa liberdade, uma liberdade da escravidão mais bem-compreendida quando nos lembramos de seu prenúncio muitos anos atrás, no tempo das Dez Palavras.

 

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Autor: Jen Wilkin

É palestrante, escritora e professora de estudos bíblicos para mulheres. Ela tem organizado e liderado estudos para mulheres nos lares, na igreja e em contextos paraeclesiásticos. Jen e sua família são membros da Village Church, na região de Dallas.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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