segunda-feira, 23 de dezembro
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mulher de Ló

Lembrai-vos da mulher de Ló

Um sinal de alerta para a igreja

O trecho abaixo foi extraído com permissão do livro Santidade, de J.C. Ryle, Editora Fiel.

 


Existem poucas advertências nas Escrituras mais solenes do que esta que aparece no início desta página. O Senhor Jesus Cristo nos diz: “Lembrai-vos da mulher de Ló”.

A mulher de Ló professava ter uma religião; seu marido era um “homem justo” (2Pe 2.8). Ela deixou Sodoma com ele no dia em que Sodoma foi destruída; olhou para a cidade que havia ficado para trás e isso contra o mandamento expresso de Deus; ela morreu no mesmo instante e transformou-se em uma estátua de sal. E o Senhor Jesus Cristo a destaca como um sinal de alerta para a igreja; Ele diz: “Lembrai-vos da mulher de Ló”.

Esta é uma advertência solene, se pensarmos na pessoa que Jesus cita. Ele não nos ordena a lembrar de Abraão ou de Isaque, ou de Jacó, ou de Sara, ou de Ana, ou de Rute. Ele aponta alguém cuja alma se perdeu para sempre. Ele conclama: “Lembrai-vos da mulher de Ló”.

Esta é uma advertência solene, se considerarmos o assunto sobre o qual Jesus está falando. Ele fala sobre a sua segunda vinda, quando virá para julgar o mundo; Ele descreve o terrível estado de despreparo em que muitos serão achados. Ele está pensando nos últimos dias, quando diz: “Lembrai-vos da mulher de Ló”.

Esta é uma advertência solene, se pensarmos na pessoa que a proferiu. O Senhor Jesus é uma pessoa cheia de amor, misericórdia e compaixão. É aquele que “não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega”. Ele podia chorar por uma Jerusalém incrédula e orar pelos homens que o crucificaram; e mesmo assim, ele acha que é bom lembrarmos das almas que se perderam. Ainda assim, Ele diz: “Lembrai-vos da mulher de Ló”.

Esta é uma advertência solene, se pensarmos nas pessoas para as quais ela foi dada pela primeira vez. O Senhor Jesus estava falando aos seus discípulos; Ele não estava se dirigindo aos escribas e fariseus, que o odiavam, mas a Pedro, Tiago e muitos outros que o amavam; mesmo assim, Jesus acha bom dirigir esta advertência a eles. Até mesmo para eles, Jesus diz: “Lembrai-vos da mulher de Ló”.

Esta é uma advertência solene, se considerarmos a maneira como foi transmitida. Ele não disse simplesmente: “Tomem cuidado para não seguir; prestem atenção para não imitar; não sejam como a mulher de Ló”. Ele usa uma palavra diferente. Ele diz: “Lembrai-vos”. Ele fala como se todos corressem o perigo de esquecer deste assunto; ele estimula nossa memória preguiçosa; Ele nos ordena a manter este exemplo diante de nossa mente. Ele exclama: “Lembrai-vos da mulher de Ló”.

Proponho que examinemos as lições que a mulher de Ló pretende nos ensinar. Tenho certeza de que sua história está cheia de instruções úteis para a igreja. Os últimos dias foram colocados diante de nós; a segunda vinda de Jesus se aproxima; o perigo do mundanismo está crescendo a cada ano na igreja. Que estejamos munidos de defesas e antídotos contra a doença que está ao nosso redor e, de algum modo, fiquemos familiarizados com a história da mulher de Ló.

Os privilégios religiosos dos quais a mulher de Ló desfrutou

Primeiro, falarei dos privilégios religiosos dos quais a mulher de Ló desfrutou. Nos dias de Abraão e Ló, a verdadeira religião salvadora era rara na terra: não havia Bíblias, nem ministros evangélicos, nem igrejas, nem folhetos, nem missionários. O conhecimento de Deus estava limitado a umas poucas famílias favorecidas; a maior parte dos moradores da terra estava vivendo em trevas, ignorância, superstição e pecado. Talvez, nem mesmo um entre cem tenha recebido um bom exemplo, uma companhia espiritual, um conhecimento completo e uma advertência clara tanto quanto a mulher de Ló. Comparada às milhares de criaturas semelhantes a ela em sua época, a mulher de Ló era uma mulher favorecida.

Ela tinha um marido piedoso; através de seu casamento com Ló, Abraão, o pai da fé, era seu tio. A fé, o conhecimento e as orações destes dois homens justos não lhe eram segredos. É impossível que ela tenha habitado em tendas com eles por um longo período, sem saber quem eles eram e a quem serviam. A religião não era apenas uma ocupação formal para eles; a fé era o princípio que regia a vida deles e a motivação principal de todas as suas ações. A mulher de Ló deve ter visto e conhecido tudo isso. Este não era um privilégio insignificante.

Quando Abraão recebeu as promessas pela primeira vez, a mulher de Ló provavelmente estava lá. Quando ele edificou um altar próximo à sua tenda, entre Betel e Ai, é provável que ela estivesse lá. Quando o seu marido foi levado cativo por Quedorlaomer e libertado através da intervenção de Deus, ela estava lá. Quando Melquisedeque, rei de Salém, veio ao encontro de Abraão trazendo-lhe pão e vinho, ela estava lá. Quando os anjos chegaram a Sodoma e advertiram seu marido a fugir, ela os viu; quando eles os tomaram pela mão e os guiaram para fora da cidade, ela estava entre os que eles ajudaram a escapar. Digo uma vez mais, esses não foram privilégios insignificantes.

Ainda assim, que efeito esses privilégios produziram no coração da esposa de Ló? Praticamente nenhum. A despeito de todas as suas oportunidades e recursos da graça; a despeito de todas as advertências especiais e mensagens recebidas do céu; ela viveu e morreu ímpia, impenitente, incrédula e sem a graça. Os olhos de seu entendimento nunca foram abertos; sua consciência nunca foi despertada e vivificada; sua vontade nunca foi trazida a um estado de obediência a Deus; suas afeições nunca foram de fato colocadas nas coisas que são do alto. Ela mantinha aquela aparência de religião por causa do costume e não por causa do que sentia; isso era um disfarce desgastado para agradar as pessoas com quem convivia, mas não provinha de nenhuma noção do seu real valor. Ela fazia o que os outros, ao seu redor, faziam na casa de Ló; ela se amoldou aos costumes de seu marido; ela não fez nenhuma oposição à religião dele; ela se entregou passivamente para seguir os passos dele; mas em todo esse tempo, aos olhos de Deus, o seu coração estava em pecado. O mundo estava em seu coração e o seu coração estava no mundo. Nesta condição foi que ela viveu e nesta condição foi que ela morreu.

Em tudo isso há muito a ser aprendido. Vejo uma lição neste texto que é da maior importância nos dias de hoje. Você vive em um tempo em que existem muitas pessoas semelhantes à mulher de Ló; venha e ouça a lição que o seu caso quer nos ensinar.

Aprenda, então, que possuir privilégios religiosos não salva a alma de uma pessoa. Você pode ter vantagens espirituais de todos os tipos; você pode viver em pleno fulgor das riquezas de oportunidades e dos recursos da graça; você pode desfrutar do que há de melhor em termos de pregações e ensinamentos; você pode habitar em meio à luz, ao conhecimento, à santidade e às boas companhias. Você pode conviver com tudo isso e ainda permanecer sem conversão e, no final, estar perdido para sempre.

Ouso dizer que esta doutrina parece muito dura para alguns leitores. Sei que muitos imaginam que não precisam de nada, senão de privilégios religiosos para tornarem-se cristãos decididos. Reconhecem que não são o que deveriam ser no presente, mas argumentam que a sua situação é difícil e as suas dificuldades são muitas. Dê-lhes um marido piedoso ou uma mulher piedosa, dê-lhes companhias piedosas ou um mestre piedoso, dê-lhes a pregação do evangelho, dê-lhes privilégios e, só depois disso, eles caminharão com Deus.

Isso tudo é um engano. É uma completa ilusão. É preciso algo mais do que privilégios para salvar almas. Joabe era o comandante do exército de Davi; Geazi era servo de Elias; Demas era companheiro de Paulo; Judas Iscariotes era discípulo de Cristo, e Ló tinha uma mulher mundana e incrédula. Com exceção de Ló, todos estes morreram em seus pecados. Foram para o inferno apesar do conhecimento, das advertências e das oportunidades e todos nos ensinam que não é só de privilégios que os homens precisam. Eles precisam da graça do Espírito Santo.

Que possamos valorizar os privilégios, mas não descansemos inteiramente neles. Que possamos desejar os benefícios deles em todas as nossas ações, mas que não os coloquemos no lugar de Cristo. Que possamos usá-los com gratidão, se Deus no-los conceder, mas cuidemos para que produzam algum fruto em nosso coração e em nossa vida. Se eles não produzem o bem, geralmente produzem dano: cauterizam a consciência, aumentam a responsabilidade, agravam a condenação. O mesmo fogo que derrete a cera, endurece o barro; o mesmo sol que faz com que a árvore viva cresça, faz com que a árvore morta seque e a prepara para ser incinerada. Nada endurece mais o coração do homem do que a familiaridade infrutífera com as coisas sagradas. Digo uma vez mais: privilégios, somente, não tornam uma pessoa cristã, e sim, a graça do Espírito Santo. Sem ela, homem algum jamais será salvo.

Aprenda, então, que possuir privilégios religiosos não salva a alma de uma pessoa. Você pode ter vantagens espirituais de todos os tipos; você pode viver em pleno fulgor das riquezas de oportunidades e dos recursos da graça; você pode desfrutar do que há de melhor em termos de pregações e ensinamentos; você pode habitar em meio à luz, ao conhecimento, à santidade e às boas companhias. Você pode conviver com tudo isso e ainda permanecer sem conversão e, no final, estar perdido para sempre.

Ouso dizer que esta doutrina parece muito dura para alguns leitores. Sei que muitos imaginam que não precisam de nada, senão de privilégios religiosos para tornarem-se cristãos decididos. Reconhecem que não são o que deveriam ser no presente, mas argumentam que a sua situação é difícil e as suas dificuldades são muitas. Dê-lhes um marido piedoso ou uma mulher piedosa, dê-lhes companhias piedosas ou um mestre piedoso, dê-lhes a pregação do evangelho, dê-lhes privilégios e, só depois disso, eles caminharão com Deus.

Isso tudo é um engano. É uma completa ilusão. É preciso algo mais do que privilégios para salvar almas. Joabe era o comandante do exército de Davi; Geazi era servo de Elias; Demas era companheiro de Paulo; Judas Iscariotes era discípulo de Cristo, e Ló tinha uma mulher mundana e incrédula. Com exceção de Ló, todos estes morreram em seus pecados. Foram para o inferno apesar do conhecimento, das advertências e das oportunidades e todos nos ensinam que não é só de privilégios que os homens precisam. Eles precisam da graça do Espírito Santo. Peço aos empregados de famílias religiosas que notem bem o que estou dizendo. É um grande privilégio viver em uma casa onde reina o temor a Deus. É um privilégio ouvir as orações da família pelas manhãs e noites, ouvir a Palavra de Deus exposta com frequência, ter um domingo sossegado e poder ir à igreja sempre. Ouvir a Palavra de Deus, observar o descanso dominical e frequentar a igreja são coisas que você deveria buscar quando está tentando arrumar um trabalho; são as coisas que realmente tornam um emprego agradável. Salários altos e trabalho fácil nunca compensarão o fato de se estar constantemente cercado pelo mundanismo, pela profanação do dia do Senhor e pelo pecado. Mas tome cuidado para não ficar contente com estas coisas e viver despreocupado; não suponha que você, com certeza, irá para o céu pelo fato de ter todas essas vantagens espirituais. Além de participar de privilégios religiosos, você precisa ter graça em seu coração. Caso contrário, no momento, você não é melhor do que a mulher de Ló.

Peço aos filhos de pais religiosos que notem bem o que estou dizendo. É um privilégio muito grande ser filho de um pai e uma mãe piedosos e ser criado em meio a muitas orações. É uma bênção receber o ensino do evangelho desde a mais tenra idade e ouvir sobre o pecado, a respeito de Jesus e o Espírito Santo, sobre a santidade e o céu, desde o primeiro momento em que podemos nos lembrar de algo. Mas tome cuidado para que você não permaneça estéril e infrutífero nos fulgores desses privilégios; acautele-se a fim de que o seu coração não permaneça endurecido, impenitente e mundano, a despeito das muitas vantagens que você usufrui. Você não poderá entrar no céu por meio dos méritos da religião de seus pais. Você precisa comer do pão da vida por si próprio e ter o testemunho do Espírito em seu próprio coração. Você precisa ter o seu próprio arrependimento, a sua própria fé e a sua própria santificação. Caso contrário, você não é melhor do que a mulher de Ló.

Eu oro para que todo cristão professo, nos dias de hoje, possa guardar essas coisas em seu coração. Nunca esqueçamos que os privilégios, somente, não podem salvar nossas almas. Iluminação, conhecimento, pregação fiel, recursos abundantes da graça e a companhia de pessoas santas, todas essas coisas são vantajosas e são grandes bênçãos. Felizes os que possuem todas elas! Entretanto, no final de tudo, existe uma coisa sem a qual os privilégios são inúteis: a graça do Espírito Santo. A mulher de Ló teve muitos privilégios, mas ela não tinha a graça.


Autor: J. C. Ryle

J. C. Ryle (1816-1900) foi bispo da Igreja da Inglaterra, em Liverpool. Conhecido por sua erudição e piedade, Ryle era também um escritor prolífico, um pregador vigoroso e um ministro fiel. Dentre suas obras, a Editora Fiel tem publicado o "Santidade" e a série de meditações nos quatro evangelhos.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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