“Quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo.”
Se o alvo supremo de Deus na criação e na redenção é ter uma família que o adore com afeição fervorosa, por causa de sua beleza todo-satisfatória, então fazer parte dessa família tem de implicar que temos olhos para ver essa beleza. Não os olhos localizados em nossa cabeça, e sim o que Paulo chamou de “os olhos do… coração” (Ef 1.18). Uma pessoa que nasceu cega no sentido físico pode ver milhares de vezes mais glória no evangelho de Jesus do que uma pessoa que tem olhos perfeitos. Isso foi realmente verdadeiro em Fanny Crosby, a compositora cristã que era cega desde a infância e escreveu mais de 5.000 canções para celebrar a glória que via em Jesus. Sem olhos físicos, ela via as “grandes coisas” de Deus.
A Deus seja a glória, grandes coisas tem feito;
amou tanto ao mundo que seu Filho nos deu,
o qual deu sua vida como expiação do pecado
E abriu as portas da vida para que todos entrem.
Louvem o Senhor, louvem o Senhor,
que toda a terra ouça a sua voz!
Louvem o Senhor, louvem o Senhor,
regozijem-se os povos!
Ó vinde ao Pai por meio de Jesus, o Filho,
e a glória lhe dai, grandes coisas tem feito.[1]
O alvo de ler – sempre
Nos três capítulos seguintes, focalizaremos este alvo todo-importante da vida: ver a glória de Deus. E o que estamos procurando entender e estabelecer é expresso na terceira implicação de nossa proposta: devemos sempre ler a Palavra de Deus para ver esta dignidade e beleza supremas – a sua glória. Em outras palavras, não estou apenas dizendo que ver a glória de Deus acontece na leitura da Palavra de Deus; estou dizendo também que este deve ser sempre o nosso alvo ao ler a Bíblia. Pode haver muitas razões práticas – e boas razões – para que leiamos a Palavra de Deus. Este alvo deve vir em, sob e acima de todas as razões – sempre.
Para ver isto, consideraremos primeiro o testemunho dos apóstolos João e Paulo. João é explícito em seu interesse de que gerações posteriores vejam a glória de Cristo. E Paulo é explícito em que pela leitura do que escreveu, nós podemos ver a glória que ele viu.
Colocando a glória de Cristo à frente e no centro
O apóstolo João deixou claro que viu a sua função como um meio de ajudar as gerações posteriores. Ele sabia que os cristãos de gerações posteriores se maravilhariam de ter a mesma visão da glória de Deus que as primeiras testemunhas oculares tiveram; e isto aconteceria por meio do que ele escreveu. Ele colocou a glória do Filho de Deus na frente e no centro quando escreveu seu evangelho. O evangelho começa: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14). João mostrou como os sinais que Jesus fez tinham como alvo revelar a sua glória e que esta glória era o alicerce da fé.
Por exemplo, quando Jesus transformou água em vinho, João escreveu: “Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galileia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele” (Jo 2.11). E, outra vez, a ressurreição de Lázaro foi descrita como uma manifestação da glória de Deus: “Respondeu-lhe Jesus: Não te disse eu que, se creres, verás a glória de Deus?” (Jo 11.40).
Ver a glória de Jesus sem ver o seu corpo
E o que se pode dizer sobre as gerações seguintes que não viram o Senhor pessoalmente? Como eles veriam “a glória de Deus” e creriam? A resposta de João é que o Espírito Santo viria e capacitaria tanto a ele quanto a outras testemunhas oculares para colocarem em palavras o que viram (Jo 14.26; 16.13), a fim de que pessoas pudessem ver a glória de Cristo por lerem e, assim, crerem e terem a vida eterna. Através de sua forma de escrever, podemos ver como João pensava nisto pela maneira como ele conecta o crer sem ver. Gerações posteriores não “veem” a forma física de Jesus da maneira como as testemunhas oculares viram. Mas, apesar disso, eles podem crer e ter a vida eterna. Por quê? Por causa do que acontece quando leem o testemunho dos apóstolos. Eles veem a glória de Cristo.
Bem-aventurados os que não viram e creram. Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes [sinais reveladores de glória], porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome (Jo 20.29-31).
Portanto, a vida eterna vem por crer em Jesus. E crer vem por ler o que está escrito, porque ler o que está escrito é uma janela para a glória de Cristo.
O Espírito Santo guiou a escrita dos apóstolos com o alvo específico de tornar evidente a glória de Jesus. Em João 16.13-14, vemos que isto foi sugerido por Jesus: “Quando vier, porém, o Espírito da verdade… Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar”. A obra do Espírito nos escritos do Novo Testamento é revelar a glória de Cristo. Esta glória é vista por ler.
Este artigo é um trecho adaptado com permissão do livro Lendo a Bíblia de modo sobrenatural, de John Piper, Editora fiel.
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[1] Fanny J. Crosby, “To God Be the Glory, Great Things He Has Done” (1875); ênfase acrescentada.