Artigo adaptado do livro Homens de Verdade, da Editora Fiel.
À medida que fui me familiarizando cada vez mais com as Escrituras, aprendi sobre duas palavras que resumem muito melhor como um homem deve viver: “cultivar” e “guardar”.
Juntas, essas duas palavras servem como um resumo do mandato da Bíblia para o comportamento masculino. Os homens são chamados para ser homens, cumprindo sua vocação diante de Deus neste mundo: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar” (Gn 2.15). De fato, nossa vocação na vida é simples assim (embora não seja fácil): devemos nos dedicar a cultivar/construir e guardar/proteger tudo que for colocado sob nossa responsabilidade.
O que exatamente essas duas palavras significam? Vamos tomar alguns instantes para olhar mais de perto. Neste artigo veremos a primeira e no próximo a segunda.
Cultivar: trabalhar como um jardineiro
Primeiro, vamos considerar avad, o termo hebraico traduzido em Gênesis 2.15 como “cultivar”. Essa é uma palavra extremamente comum no Antigo Testamento, e pode aparecer como um verbo ou um substantivo. Como verbo, geralmente significa “trabalhar”, “servir”, “cultivar” ou “realizar atos de adoração”. Como substantivo, costuma indicar “servo”, “oficial” ou “adorador”. Como o contexto de Gênesis 2 é o Jardim do Éden, devemos primeiro considerar como avad se aplica no sentido agrícola. Adão foi chamado por Deus para preparar e cultivar o jardim, para que ele crescesse e gerasse abundância de frutos. Assim, o comando para “cultivar” está associado ao mandato anterior de ser fecundo e encher a terra (Gn 1.28).
O que faz um jardineiro para que seu jardim cresça? Ele cuida do jardim; ele o cultiva. Ele planta sementes e poda galhos. Ele cava e fertiliza. Seu trabalho torna os seres vivos mais fortes, belos e exuberantes. Enquanto trabalha, ele é capaz de contemplar e ver que realizou coisas boas. Existem fileiras de árvores altas, ricos campos de trigo, vinhedos abundantes e canteiros coloridos de flores.
Meu trabalho de verão favorito na faculdade era trabalhar para um paisagista. Todos os dias, íamos de carro ao local de trabalho — em geral, a casa de alguém — para plantar árvores, construir muros de jardim e colocar fileiras de arbustos. Era um trabalho difícil, mas gratificante. O que eu mais gostava era de olhar no retrovisor quando íamos embora e ver que tínhamos feito algo bom e que iria crescer.
Segundo a Bíblia, esse tipo de trabalho descreve uma das duas principais plataformas da vocação de um homem. Não que todos os homens devam literalmente trabalhar como jardineiros; antes, somos chamados a “cultivar” qualquer “campo” que Deus nos tenha dado. Os homens devem ser plantadores, construtores e cultivadores. A vida de trabalho de um homem deve ser gasta realizando coisas, geralmente como parte de uma empresa ou de outro grupo de pessoas. Devemos investir nosso tempo, nossas energias, nossas ideias e nossas paixões em trazer coisas boas à existência. Um homem fiel, portanto, é aquele que se dedicou a cultivar, construir e criar.
Veja a vida profissional de um homem cristão, por exemplo: a nossa vocação para o trabalho significa nos investirmos na realização de coisas de valor. Os homens deveriam usar seus dons, talentos e experiências para obter sucesso em causas que (se forem casados) tragam provisão para suas famílias. Isso pode ser qualquer coisa que conquiste um bem. Um homem pode fazer óculos, realizar pesquisas científicas ou gerenciar uma loja; os exemplos são quase infinitos. Mas, em cada caso, nosso mandato para o trabalho significa que devemos dedicar-nos a construir coisas boas e alcançar resultados dignos. Não há nada de errado em um homem que trabalha simplesmente para ganhar um salário, mas o cristão deseja corretamente que seu trabalho traga mais do que dinheiro para si mesmo e sua família. Os homens cristãos também devem desejar cultivar algo digno para a glória de Deus e o bem-estar de seus semelhantes.
Certamente, nosso “jardim” inclui não apenas coisas, mas também pessoas. Precisamos reconhecer que o chamado do homem para cultivar significa que devemos nos envolver com o coração das pessoas colocadas sob nossos cuidados: as pessoas que trabalham para nós, aquelas que ensinamos e mentoreamos, e mais especificamente nossas esposas e filhos. Os dedos de um homem devem estar acostumados a trabalhar no solo do coração humano — o coração daqueles a quem ele serve e ama — para que ele consiga realizar parte do trabalho mais valioso e importante desta vida.
Esse mandato bíblico de cultivar, aqui com ênfase em desenvolver e cuidar, destrói um grande equívoco em relação aos papéis de gênero. Fomos ensinados que as mulheres são as principais cuidadoras, enquanto os homens devem ser “fortes e silenciosos”. Mas a Bíblia chama os homens a serem cultivadores, e isso inclui ênfase significativa em cuidar do coração daqueles que estão sob nossa responsabilidade.
Um marido é chamado a nutrir sua esposa emocional e espiritualmente. Esse não é um ato secundário de seu chamado como marido, mas é fundamental e central para seu chamado masculino no casamento. Da mesma forma, um pai é chamado a ter o propósito de lavrar e nutrir o coração de seus filhos. Qualquer conselheiro que tenha lidado com questões da infância pode lhe dizer que poucas coisas são mais prejudiciais a uma criança do que o afastamento emocional de seu pai. Há uma razão pela qual tantas pessoas estão paralisadas por causa de seu relacionamento com os pais: Deus deu o chamado primário de provisão emocional e espiritual aos homens, e muitos de nós falham em executá-lo bem.
É através do braço masculino ao redor do ombro ou de um tapinha nas costas que Deus concede acesso mais rápido ao coração de uma criança ou de um empregado. Homens que procuram viver o Mandato Masculino serão provedores.