domingo, 28 de abril

Memorize a mente de Deus

Talvez você já tenha ouvido a argumentação pela memorização das Escrituras uma centena de vezes.

Você está convencido de que os benefícios seriam incalculáveis, e que não deve haver melhor uso do seu tempo do que esconder a palavra de Deus em seu coração e guardá-la para uso futuro. Mas você já tentou várias vezes e nunca conseguiu fazer a mágica funcionar.

Talvez a ideia de memorizar as Escrituras traga de volta algum sentimento que você não consegue esquecer, de uma memorização mecânica na escola, ou eventualmente você deu de ombros e culpou a memória ruim por suas falhas. Você sabe que seria maravilhoso ter estocado um tesouro das Escrituras ou um arsenal de armas para o uso do Espírito. Mas se tudo está voltado para guardar para algum tempo futuro incerto e tem pouco a ver com o dia de hoje, você provavelmente não sente muita urgência em relação a isso.

Mas talvez um avanço possa vir com uma simples mudança de perspectiva. E se a memorização das Escrituras realmente tem a ver com o hoje? Pelo menos por um minuto, esqueça décadas no futuro; deixe de lado a ladainha de revisões diárias de textos previamente memorizados; abandone a mentalidade de construir um estoque ou formar uma pilha, pelo menos como motivação principal. Em vez disso, concentre-se no presente. A memorização das Escrituras, no que tem de melhor, tem a ver com alimentar sua alma hoje e mapear sua vida e mente na própria vida e mente de Deus.

Molde sua mente para hoje 

É muito bom armazenar tesouros brilhantes e armas afiadas para uso futuro, mas se você é feito do mesmo material que eu, achará muito fácil adiar a memorização das Escrituras quando todo dia parece já ter seu próprio mal (Mt 6.34). Talvez a descoberta de que você precisava para finalmente fazer algum avanço seja simplesmente aplicar esta linha da Oração do Senhor à memorização da Bíblia: O pão nosso de cada dia dá-nos hoje (Mt 6.11).

Quando aprendemos as Escrituras de cor, não estamos apenas memorizando textos antigos e de relevância duradoura, mas ouvindo e aprendendo a voz do próprio Criador e Redentor. Quando memorizamos versos da Bíblia, estamos moldando nossas mentes no momento para imitar a estrutura e a mentalidade da mente de Deus.

A boa teologia forma nossa mente de uma maneira geral para pensar os pensamentos de Deus conforme ele pensa. Mas a Escritura memorizada molda nossa mente, o mais humana e especificamente possível, para imitar as dobras e vincos da mente de Deus. A teologia nos leva ao estádio; a Escritura memorizada, ao vestiário do time.

E assim a memorização da Bíblia não apenas nos prepara para um dia qualquer que talvez usemos um versículo memorizado para aconselhar, testemunhar ou lutar contra o pecado; antes, também contribui poderosamente no presente para nos tornar o tipo de pessoa que anda no Espírito hoje. Ela contribui agora mesmo para que você seja renovado “no espírito do vosso entendimento” (Ef 4.23) e transformado “pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2). Isso não apenas pode ser acessível a nós para futuras decisões e lutas contra a tentação em vários contextos, mas o próprio ato de memorizar as Escrituras, conforme entendemos e nos envolvemos com o significado do texto, muda nossas mentes no presente para nos fazer o tipo de pessoa que “experimenta qual é a vontade de Deus”.

Memorizar as palavras de Deus hoje, então, não é apenas um depósito em uma conta para amanhã, mas um ativo trabalhando por nós agora mesmo.

Alguns chama de “Meditação”

Observe a ressalva acima: “conforme entendemos e nos envolvemos com o significado do texto”. Ou seja, devemos inundar o processo de memorização com o hábito da graça e a arte perdida que discutimos no capítulo 3: a meditação.

Não há necessariamente nada da nova era ou transcendental na meditação. A boa e velha versão recomendada em toda a Bíblia é pensar profundamente sobre algumas verdades da boca de Deus, e repassá-las em nossa mente por tempo suficiente para sentirmos seu significado em nosso coração e até mesmo começar a vislumbrar sua aplicação em nossa vida. Fazer com que a meditação funcione em conjunto com a memorização das Escrituras influencia muito em como conduzimos o árduo processo de memorização. Por um lado, isso nos faz desacelerar. Podemos memorizar as coisas muito mais rápido se não pararmos para entender e ponderar. Mas a mera memorização traz pouco benefício; a meditação traz muito. Quando levamos a meditação a sério, procuramos não apenas compreender o que estamos memorizando, mas também nos demoramos no texto e o sentimos, e até começamos a aplicá-lo à medida que memorizamos.

Quando buscamos a memorização das Escrituras com meditação, não estamos apenas armazenando para transformação posterior, mas desfrutando de alimento para nossa alma hoje e experimentando a transformação agora. E quando o foco é mais alimentar e moldar, a revisão constante é menos importante. Textos uma vez memorizados e depois esqueci- dos não são uma tragédia, mas uma oportunidade de meditar novamente e moldar sua mente ainda mais.

Redefina sua mente nas coisas do Espírito

Outro benefício importante hoje, não apenas no futuro, é como a memorização da Bíblia com meditação redireciona nossa alma para as ocupações do dia. É uma forma de reajustar nossas mentes “nas coisas do Espírito” e então se inclinar para o Espírito (Rm 8.5), que é “vida e paz” (Rm 8.6).

A junção de meditação com memorização nos ajuda a obedecer ao comando de Colossenses 3.2: “Pensai nas coisas lá do alto” (Cl 3.2). Isso nos prepara para o dia “conferindo coisas espirituais com espirituais”, ao invés de andar como “o homem natural” que “não aceita as coisas do Espírito de Deus” (1Co 2.13-14). E, quando nos reajustamos nas coisas do Espírito, moldando nossas mentes com as palavras de Deus, o resultado é simplesmente notável. Paulo pergunta com Isaías: “Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir?” E responde com esta revelação surpreendente: “nós, porém, temos a mente de Cristo” (1Co 2.16; cf. Is 40.13).

A mente de Cristo é sua

Em outras palavras, o apóstolo tem duas respostas para a pergunta: “Quem conheceu a mente do Senhor?” A primeira está implícita na pergunta retórica de Romanos 11.34: “Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?” Resposta: Ninguém. Sua mente está infinitamente além da nossa. “Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Rm 11.33). Nenhum ser humano pode conhecer completamente a mente de Deus.

Contudo, Paulo dá esta segunda resposta em 1 Coríntios 2.16: “nós temos a mente de Cristo”. À medida que não apenas lemos e estudamos as Escrituras, mas as entendemos e então meditamos e as memorizamos, cada vez mais “temos a mente de Cristo”, sendo conformados à sua imagem. Não podemos conhecer a mente de Deus completamente, mas podemos fazer um progresso real em graus. E há poucas maneiras de imprimir a mente de Deus em nossa mente como a memorização, com meditação, do que ele disse tão claramente nas Escrituras.

O trecho acima foi retirado com permissão do livro Hábitos Espirituais, de David Mathis, Editora Fiel


Autor: David Mathis

David Mathis é pastor assistente do Pastor John Piper na Bethlehem Baptist Church e do ministério Desiring God em Minneapolis, Minnesota, EUA.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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