Muitos de nós já temos ouvido o termo “Sul Global”, que tornou-se famoso pelo livro de Philip Jenkins: “A Próxima Cristandade: A Vinda do Cristianismo Global” [Em inglês, The Next Christendon: The Coming of Global Christianity], e estamos bem cientes da mudança que se observa na forma como Deus está levantando uma igreja mais etnicamente diversificada. Desde o berço do Cristianismo no Oriente Próximo à sua gradual propagação na Europa, no Reino Unido e através da América do Norte, mais recentemente estamos testemunhando um crescimento significativo da igreja na África, na Ásia e entre os crentes da América do Sul.
Autores como Jenkins e Mark Noll têm indicado que o Cristianismo é mais dominante em áreas onde a população cristã é maior (numericamente) e, portanto, mais influente. Essa mudança pode ser traçada através da história, à medida que grupos de pessoas, vivendo em diferentes partes do mundo, têm-se ajuntado em comunidades e exercido influência no desenvolvimento da teologia e na estratégia para compartilhar o evangelho, o que tem levado à consequente mudança que estamos observando.
Essas comunidades eram, e sempre têm sido, geográficas e, principalmente, da mesma etnicidade. Isto é, até recentemente quando, então, estamos vendo o emergir de uma nova comunidade globalizada que não tem limites geográficos. Alimentados pelo acesso à internet, muitos estão usando ferramentas como Facebook e Youtube para se conectarem e compartilharem uma experiência comunitária, não somente com seus “amigos” próximos, mas também com seus “amigos” em outras nações. Ferramentas, como Google Translate, têm sido igualmente instrumentos para fazer com que esses relacionamentos cresçam, a despeito das barreiras geográficas, culturais e de idioma. Jovens crentes, ansiosos por crescer em seu conhecimento de Deus e conectar-se com outros crentes de igual convicção, inundam os websites comoDesiring God, The Gospel Coalition, ou, no caso do Brasil, blogs como Voltemos ao Evangelho, Iprodigo, Renato Vargens, Temporas Mores e muitos outros.
Recentemente o Brasil tornou-se o segundo país mais “conectado” por meio do Facebook no mundo, com 49.958.180 de usuários. Nos últimos três meses o volume de usuários do famoso site de relacionamentos cresceu 5.35% no Brasil, ganhando mais de 2.000.000 de novos usuários. O brasileiro gasta em média 23 horas por semana na Internet, comparadas com apenas 6 horas semanais na televisão. Sua atividade principal é a mídia social e os vídeos. Estas estatísticas reforçam a necessidade do uso desses meios como ferramentas para engajar a igreja de uma maneira global e equipar a nova onda de futuros missionários que, certamente, não serão apenas os norte americanos. De acordo com Todd Johnson, do Gordon Conwell Theological Seminary, o Brasil tornou-se a segunda maior nação no envio de missionários, com 34.000 missionários enviados em 2010. Ainda que este número seja consideravelmente menor do que o número de missionários enviados pela América do Norte, o fato demonstra uma tendência que não podemos ignorar. É importante notarmos que grande parte do mundo Muçulmano está mais aberto aos brasileiros, porém fechado para os norte americanos.
Enquanto vemos um tremendo crescimento na Igreja do “Sul Global”, parece uma tendência que a este crescimento lhe falta profundidade teológica e, consequentemente, é movido por todos os ventos de novas doutrinas. Ainda que os vídeos do Youtube ajudem, eles não são suficientes! A igreja no mundo todo ainda volta-se para a América do Norte e Europa, tendo em vista seus séculos de história e tradição cristãs. Todavia, é encorajador notar que hoje, muito desses “Campos Missionários” do passado estão produzindo líderes eclesiásticos que rapidamente estão ganhando voz em seus respectivos grupos. John Piper o expressa melhor com estas palavras: “Não assuma que nós podemos fazer a obra missionária melhor e sozinhos. Acordem para a existência da igreja global”.
Hoje, estamos testemunhando ainda outra mudança na propagação global do Evangelho. Deus está usando a igreja no Brasil em seu plano de redenção como nunca antes. No entretanto, “se havemos de ser tão efetivos quanto possível, em algum ponto teremos que fazer a transição, de um povo que recebe, a um povo que envia. Uma igreja capaz de dar sacrificadamente. Deixem-me explicar:
Quando meus pais chegaram a este amado solo em 1952, eles faziam parte de uma grande migração missionária da Europa e da América do Norte, que, com muito sacrifício trouxe o Evangelho a esta terra. Os missionários o puderam fazer porque muitos dos seus amigos e familiares se sacrificaram para ajudá-los a vir. Igrejas e denominações, igualmente proveram os fundos para esse esforço missionário, mas, mesmo então, a maior parte de seu apoio financeiro veio de pessoas com recursos medianos, e que se sentiram pessoalmente responsáveis pelas missões mundiais. Se o Brasil tiver de ser protagonista na sagrada chamada de pregar o evangelho a todos os povos, isso acontecerá através da obediência daqueles vocacionados para ir ao campo e daqueles que enviam. É chegado o tempo de o indivíduo, a família, a igreja cristã envolver-se num compromisso sério, dedicado e sacrificial de investimento em missões.
Agora que o Brasil começa este novo capítulo em sua história, lembremo-nos de orar pela igreja global, de associar-nos a ela e, humildemente, ouvirmos uns aos outros quanto às características diferentes que cada um apresenta. Recordo-me das palavras emocionantes ditas pelo Pastor Piper: “Existem três tipos de pessoas: aquelas que VÃO, aquelas que enviam e aquelas que desobedecem”. Se havemos de obedecer, temos de procurar as oportunidades para envolver-nos na causa global de missões, preparar aqueles que deverão ser enviados, e dar como nunca antes o fizemos.