sábado, 21 de dezembro
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Por que igrejas se desviaram dos meios comuns da graça e da simplicidade do culto apostólico representados em Atos 2.42?

Não faça coisas estranhas

“Quer dizer que você trabalha para 9Marks, hein? As opiniões deles sobre a igreja não são meio radicais?”

Já ouvi isso antes, mas ainda não sabia como conduzir essa conversa estranha.

Explicar por que eu acho que a política do Novo Testamento é prescritiva? Não, muito inebriante. Mostrar como os reformadores defenderam essas mesmas doutrinas? Não, muito nerd. Optei por algo mais simples. 

As coisas estranhas que fazemos

As igrejas fazem muitas coisas estranhas. Algumas dessas esquisitices são estranhas demais. Alguns anos atrás, um pastor no leste de Kentucky decidiu que as tradicionais “águas batismais” eram muito mansas para seu gosto, então ele começou a mergulhar os novos convertidos em piscinas de cerveja. Na providência de Deus, enquanto escrevia este mesmo parágrafo, um amigo me enviou um vídeo do YouTube que mostra um pregador instruindo sua congregação a tirar as meias e agitá-las sobre suas cabeças enquanto ele improvisava uma música sobre como Jesus estava girando ao redor deles.

Claro, a maioria dos pastores e igrejas são sensatos o suficiente para evitar tais exibições ostensivas de estranheza. Todavia, temos muita estranheza bem-intencionada e respeitável por aí. Nós abandonamos o canto congregacional, o trocando por performances artísticas. Afirmamos ser o “povo da cruz”, mas projetamos nossos cultos em torno do triunfalismo, prosperidade e alegria ininterrupta. Ansiamos por atos de adoração que sirvam ao sentimentalismo ao invés de direcioná-los à nossa necessidade de crer no Evangelho e de nos arrepender.

“Nós não somos radicais”, eu disse, “nós basicamente encorajamos as igrejas: ‘Ei, não façam coisas estranhas!’”

A maior parte das igrejas nos Estados Unidos ainda tem em seu núcleo os elementos profundos e simples de adoração modelados pela igreja primitiva: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações (At 2.42). No entanto, em muitas igrejas, esses simples atos de adoração foram incrustados por anos de tradições acumuladas, tradições que mascaram a bela simplicidade dos meios comuns da graça.

Por que fazemos coisas estranhas?

Por que igrejas se desviaram dos meios comuns da graça e da simplicidade do culto apostólico representados em Atos 2.42? Aqui estão algumas razões.

  1. Nós perdemos nosso apetite pela majestade de Deus.

David Wells observa em seu livro God in the Wasteland:

Hoje, o problema fundamental no mundo evangélico não é a técnica inadequada, organização insuficiente ou música antiquada; aqueles que querem desperdiçar recursos da igreja enfaixando esses arranhões não farão nada para estancar o fluxo de sangue que está derramando de suas verdadeiras feridas. Hoje, o problema fundamental no mundo evangélico é que Deus repousa muito inconsequentemente sobre sua igreja. Sua verdade é muito distante, sua graça é muito corriqueira, seu julgamento é muito benigno, seu evangelho é muito fácil e seu Cristo é muito banal. (p. 30)

Os meios comuns da graça desafiam nossa auto-obsessão e nossa busca inalcançável por uma realização emocional positiva. Eles fixam nossa atenção como foco de laser na majestade de Deus ― majestade que tanto encanta quanto aterroriza. Isso força nossos atos de adoração a uma postura de “reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hb 12.28-29).

  1. Perdemos nosso apetite pela eclesiologia.

Muitas vezes as igrejas se desviam dos meios comuns da graça simplesmente porque nunca consideraram que a eclesiologia molda o ministério, mesmo aquilo que fazemos nas manhãs de domingo. Deus não nos autorizou a planejar nossos cultos ou nosso ministério de acordo com nossas preferências. Em vez disso, ele disse que o que fazemos em nossos atos de adoração deve representar quem somos como igreja.

  1. Cultivamos um apetite por entretenimento e “emoções positivas”.

Os meios comuns da graça são apropriadamente assim nomeados ― eles são “comuns”. Não há nada chamativo ou atraente sobre eles. Em um mundo dimensionado no espetacular mundo Marvel, é fácil ficar inseguro e pensar que esses meios comuns simplesmente não funcionam. Além disso, os meios comuns da graça resistem às nossas tentativas de arquitetar certas reações emocionais específicas na congregação. Afinal, excluindo os meios comuns da graça, é bastante fácil projetar um culto que produza uma reação emocional específica da congregação.

No entanto, os meios comuns da graça nos colocam eu um lugar de submissão aos propósitos de Deus para a congregação ― propósitos que às vezes incluem lamento pelo pecado, tristeza pela perda ou solenidade pelo custo do discipulado.

Como parar de ser estranho

No coração desse diagnóstico está o fato de que grande parte da igreja abraçou a perspectiva do mundo sobre a cruz ― nós, entretanto, a consideramos como loucura. Os meios comuns da graça abraçam a loucura da cruz, eles a colocam à frente e no centro de tudo o que fazemos.

Abraçar os meios comuns da graça como uma abordagem suficiente e abrangente para o ministério não é meramente chegar às conclusões teológicas corretas, é uma questão de coração. Nós realmente confiamos que Deus pode trabalhar através dos meios comuns que ele ordenou, ou acreditamos que nossa criatividade pode suprir o que falta aos meios comuns?

Nas Escrituras, as tentativas de “ajudar a Deus” geralmente se desviam. Basta perguntar a Abraão e a Sara como seu plano mestre de obter uma semente por meio de Agar funcionou. Eles aprenderam da maneira mais difícil que “o que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo 3.6). Com frequência, pensamos que podemos produzir frutos espirituais fora dos meios comuns da graça. Todavia, o que conseguimos fazer é Ismael; só Deus faz Isaque.

Durante anos, o ministério IX Marcas tem estado com o protestantismo histórico defendendo os meios comuns da graça. Não há nada radical nessa proposta. Na verdade, ela está de acordo com a convicção protestante central de que nos relacionamos com Deus pela fé, e somente pela fé. Quando nos entregamos à simplicidade do culto apostólico e aos meios comuns da graça, vivemos pela fé, confiando que Deus cumprirá o que prometeu fazer ― e fará isso de uma maneira que garanta que ele receba o crédito, não nós. Então, não faça coisas estranhas. Deus age no ordinário.


Autor: Sam Emadi

Sam Emadi é pastor da Hunsinger Lane Baptist Church, em Louisville, KY, EUA.

Parceiro: 9Marks

9Marks
O ministério 9Marks tem como objetivo equipar a igreja e seus líderes com conteúdo bíblico que apoie seu ministério.

Ministério: Ministério Fiel

Ministério Fiel
Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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