Há alguma parte das Escrituras tão popular e tão erroneamente citada como as palavras de Mateus 7.1 (“Não julgueis, para que não sejais julgados.”)? Estas palavras têm sido adotadas como um fundamento para uma abordagem permissiva e sem criticismo da vida, de uma mentalidade “tudo é aceitável”, que nunca forma, e muito menos expressa, uma opinião desfavorável das coisas ou das pessoas. Pessoas que nunca têm tempo para Jesus estão prontas a citar estas palavras — a fim de silenciar aqueles que são antiquados demais por usar termos como “pecado” e “erro”. “Não julgueis” é o porrete que ataca os padrões éticos e os transforma em confusão improdutiva. Até os crentes sentem-se freqüentemente intimidados, ao pensar que o Senhor nos está proibindo, com estas palavras, de formular vereditos morais. Durante casos de disciplina na igreja local, há poucas ocasiões em que este versículo não é mencionado, como forma de protesto da parte de uma das ovelhas.
Julgamento — bom ou mau
Um momento de reflexão deve nos mostrar que tal interpretação é absurda. Nesta passagem, o próprio Cristo exige que façamos julgamentos. “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas… Acautelai-vos dos falsos profetas… Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.6, 15, 16). Ele nos ordena que julguemos “pela reta justiça” (Jo 7.24). E Paulo esperava que os membros da igreja julgassem “os de dentro” (1 Co 5.12). As pessoas hoje estão à deriva, sem bússola, nos mares do “não fazer julgamentos”. Precisamos mais do verdadeiro julgamento nos tribunais, mais de fibra moral nos governos e, acima de tudo, mais discernimento crítico entre o povo de Deus. Nosso Senhor certamente não estava nos exortando à ingenuidade. O que Ele queria dizer? Estava nos advertindo a respeito do julgamento errado — um espírito insensível e condenador que incorre na ira de Deus. É uma tentação particular para aqueles que realmente se preocupam com o certo e o errado, que têm padrões éticos elevados e aceitam com seriedade a chamada à santidade. Ao nosso redor, existem muitas coisas dignas de condenação. Algumas coisas devem ser condenadas, por amor ao nosso próximo e por causa da glória de Deus. Mas temos de acautelar-nos de julgar da maneira que Cristo proíbe.