domingo, 1 de dezembro
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O amor não é orgulhoso nem egoísta

O orgulho e egocentrismo entre as mulheres

Chega uma mulher nova à igreja. O que é esperado das mulheres que já fazem parte do corpo de Cristo? Que elas a recebam com alegria, que busquem conhecê-la melhor para acolhê-la, que a mantenham informada das programações para que ela possa se entrosar, que a apresentem à igreja, entre outras atitudes humildes e amorosas. Essa seria uma postura genuinamente preocupada com as necessidades dessa mulher, mostrando interesse em servir, seja ela já uma irmã ou não. Do lado da novata, o ideal seria chegar também com humildade para conhecer e aprender com as mulheres da igreja, compreendendo em que aspectos ela pode somar em serviço.

Porém, imagine o contrário. Você, que já está na igreja há mais tempo, fica mais preocupada consigo do que com ela. Sua primeira reação é desconfiar da novata, perguntando a si mesma como essa chegada poderá afetar você de um modo pessoal. Então, em vez de olhar para a novata como alguém a ser amada, acolhida e servida, alguém equipada com dons e talentos para que também possa servir a você no corpo de Cristo, você a enxerga como uma ameaça às suas próprias necessidades de ser grande.

Algumas vezes, o medo é de que essa mulher cante melhor do que você, que dê aulas para as crianças melhor do que você, que seja mais divertida para o grupo pequeno, que seja mais bonita, que conquiste a atenção dos rapazes e que você continue solteira. E se ela se tornar maior ou igual a você? Diante dos seus medos, seu foco é: “O que é melhor para mim? Que ela seja bem acolhida e faça parte do grupo ou que seja excluída e não volte mais?”. Assim, você se fecha e a recebe mal. Já imaginou onde isso vai parar, não é?

Você já viu isso acontecer? Bom, eu já fui a novata dessa história. Mas o pior é que, mesmo já tendo passado por isso, também fui a veterana que recebeu novatas muito mal por causa do meu egoísmo. Pela graça de Deus, eu me arrependo demais disso. Mas careço da graça de Deus diariamente, pois existem muitos outros casos em que meu orgulho e meu egocentrismo afloram. Por exemplo, quando uso os dons e talentos que Deus me deu para servir a ele e aos outros em benefício próprio ou quando tomo a glória deles para mim.

Orgulhosas e egocêntricas

Aqui está uma tendência pecaminosa contra a qual todas nós lutamos diariamente: a de sermos amantes idólatras de nós mesmas. Idolatria é o que acontece quando pegamos algo bom que Deus criou e o colocamos no lugar de Deus em nosso coração.

O amor e o cuidado que já temos por nós mesmas não são, necessariamente, um mal em si. Como vimos nos primeiros capítulos, você foi criada à imagem e à semelhança de Deus, e isso já confere valor a você e ao seu próximo. Pense, então, no valor inestimável de ser amada por Deus a ponto de ser adotada como filha, pela obra de Jesus Cristo em seu favor (cf. Gl 4.5; Ef 1.4-5). Esse valor precioso não está só em sua irmã; está em você. O que acontece nesse momento de justaposição entre “já, mas ainda não”[1] é que o pecado faz uma enorme bagunça na obediência de seu coração, causa desordem no amor e eleva seu amor-próprio[2] acima do seu amor a Deus. Consequentemente, também acima do amor ao próXimo.

Assim, você começa a viver uma ilusão de grandeza e autoexal- tação por suas próprias conquistas e realizações, sejam elas materiais, intelectuais, morais ou, até mesmo, espirituais. Nesse delírio, você deseja receber reconhecimento por sua superioridade e ser valorizada pelas outras pessoas. Esse é o orgulho, que promete enchê-la de uma opinião vaidosa e muito elevada de si mesma, mas não cumpre com sua promessa. O orgulho não preenche nem constrói nada. Você não consegue amar nem servir a ninguém além de si mesma quando está sempre focada em se exaltar acima das outras, em suprir suas próprias necessidades e em alcançar os próprios interesses. Não, o oposto do amor não é o ódio; é o egoísmo: Amar é dar (Mt 5.43, 44; Jo 3.16; Gl 2.20; Ef 5.2, 25): é estar mais interessado com o que se pode dar do que com o que se pode receber. Egoísmo é tomar: é estar mais interessado com o que se pode receber (ou pode perder) do que com o que se pode dar.[3]

Embora eu pudesse dedicar um tempo a aprofundar diferenças e semelhanças entre orgulho e egocentrismo, desejo ressaltar apenas que elas têm a mesma base: pretender ser superior às outras pessoas, o que Paulo chama de pensar sobre si mesmo além do que convém (Rm 12.3), ou intentar ser amante de si mesma (2Tm 3.2),[4] ao se considerar superior às outras pessoas, levando em consideração apenas os próprios interesses (Fp 2.3,4). O egocentrismo e o orgulho estão juntos na tenebrosa tarefa de fazer seu coração focar em si mesmo acima de Deus e acima das outras pessoas.

Quando você se coloca como o centro da própria vida, para onde suas ações e reações apontam, está cultuando a si mesma. Seu egoísmo a torna seu próprio ídolo, e você passa a viver, se mover e existir para si mesma, como adoradora de si mesma. E esse é um grande mal, contra o qual Deus se opõe, pois ele tenta trazer para si a glória que pertence apenas ao Senhor. Nas palavras de Richard Baxter: “Todo homem é um idólatra, na medida em que é egoísta”.[5]

Este artigo é um trecho adaptado com permissão do livro Unidas contra a rivalidade feminina, de Ana Paula Nunes, Editora Fiel (clique para comprar pela pré-venda).

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[1] Leia o Capítulo 3.

[2] Aqui em sentido literal.

[3] Lou Priolo, Resolução de conflitos: uma compreensão bíblica e suas implicações para a dinâmica dos relacionamentos, 1. ed. (São Bernardo do Campo: Nutra Publicações, 2016), p. 174.

[4] Algumas versões traduzem o primeiro pecado como “egoístas” (e.g., ARA, NAA, NVI), porém, literalmente, o texto diz “os homens serão amantes de si mesmos” (cf. A21).

[5] Richard Baxter, The Practical Works of Richard Baxter (Michigan: Soli Deo Gloria Publications, v. 3), p. 378. (Tradução livre.)


Autor: Ana Paula Nunes

Ana Paula Nunes é formada em Comunicação Social e pós-graduada em Política e Estratégia. Em teologia é pós graduada em Teologia Bíblica pelo CPAJ e possui cursos em Apologética e Cosmovisão Reformada no Seminário Presbiteriano de Brasília. Congrega na Igreja Presbiteriana e é editora do Literatura & Redenção e Sherlocka Holmes. Costuma escrever outros textos em sherlockaholmes.medium.com.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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