sexta-feira, 22 de novembro
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O custo da obediência

O amor absoluto

A grande paixão da vida de Amy Carmichael era o amor absoluto, o que significava obediência absoluta. A oração de Jeremy Taylor era sempre a oração dela: “Senhor, torna-me todo amor; e todo o meu amor, obediência; e faze que minha obediência seja ininterrupta.”

Esse foi o espírito que ela procurou instilar nos membros do Aglomerado Cintilante. A questão das joias ilustra a seriedade deles. Joias, uma palavra que incluía todos os colares, pulseiras e anéis (para o nariz, orelhas, tornozelos, bem como para os dedos) de ouro ou prata eram, em Tinnevelly, os elementos mais importantes na aparência de uma mulher. “É um costume lindo”, Amy escreveu, “e o achávamos normal. Os membros de nosso grupo usavam a quantidade habitual. É considerado parte do vestir delas.” Sua importância, porém, ia muito além de beleza. Mulheres eram mais ou menos vendidas a seus maridos por tantas rúpias de joias — um homem com um B.A. poderia exigir tantas rúpias; um homem com um M.A., outras tantas; esta casta, tantas, e aquela casta, tantas. Dessa maneira, a quantidade de joias que uma mulher usava declarava a honra de seu marido, bem como a riqueza de sua família.

A própria Amy não usava joias de nenhum tipo. Sendo uma presbiteriana irlandesa restrita, a criação talvez proibisse essa vaidade. Por isso, seu desejo de se identificar com o estilo indiano não podia permitir que ela fosse tão longe. Amy também não usava óleo no cabelo, um fato que a tornou surpreendentemente notável. Ela cedeu uma vez e ungiu sua cabeça, a fim de esquivar-se de comentários inevitáveis, mas o “aroma” ela achou “proibitivo”. As pouquíssimas fotos que temos dela mostram um cabelo lindo, macio, ondulado e preto, em contraste nítido com o cabelo brilhante, partido bem definidamente e com maciez de cetim das indianas. O coque de Amy não era usado baixo, no pescoço, como o era o coque delas. É improvável que sua criação incluísse quaisquer sanções especiais relacionadas a óleo de coco ou à elevação exata de um coque de cabelo. É mais provável que o visual de roupas justas e atraentes não tenha impactado Amy como especialmente apropriado a ela. A vaidade (talvez não reconhecida) a fez desejar ser diferente aqui, como a noção de proteção física a fez ser diferente na questão de sapatos estrangeiros, capacete colonial e sombrinha, coisas que a identificavam como os colonos.

Gradualmente, à medida que procurávamos conhecer mais o nosso Senhor, o poder de sua ressurreição e a comunhão de seus sofrimentos, crescia em nós a convicção de que essas coisas (ou seja, joias) eram descabidas em seus obreiros escolhidos — seus separados — e que isso, conformando-se à lei da moda deste mundo, era da carne e não do Espírito.

Óleo no cabelo, estilos de cabelo e sapatos não eram, na opinião de Amy, uma indicação de conformação com a moda do mundo, como não o eram os capacetes coloniais e sombrinhas, os quais acreditavam ser indispensáveis para que o cérebro dos estrangeiros não derretesse.

Joias, por outro lado, estavam numa categoria separada.

Eu amo os costumes nativos. Não posso suportar o elemento de estrangeirização tão comum em muita obra missionária na Índia; por isso, eu o encarava totalmente na contramão. Mas neste assunto a Palavra de Deus segue numa direção, e o costume em outra. Não há nenhuma outra escolha nessa situação. Oramos no sentido de que, se Deus pretendesse que a questão fosse levantada, que ela fosse levantada entre nossos obreiros, afastada de nós mesmos, e ele o fez.

Um homem havia pedido que fosse permitido à sua esposa viajar com o grupo por um tempo a fim de aprender a servir aos outros. Eles consentiram, e um dia ele veio pedir à esposa que lhe desse suas joias. Ele não as achava apropriadas ao tipo de vida que desejava para ela. Ponnammal ouviu por acaso as palavras dele com grande interesse. Na noite anterior, ela tinha ouvido uma criança (referindo-se a Ponnammal) dizer: “Quando crescer, eu me unirei ao grupo para poder usar joias como aquela irmã.” Ponnammal falou com o Senhor sobre isso, e a resposta veio: “Serás uma coroa de glória na mão do Senhor, um diadema real na mão do teu Deus” (Is 62.3). A mensagem foi inconfundível. Ela se viu como o mundo indiano a veria — sem joias, uma mulher marcada, uma desgraça, uma ofensa. Retirar as joias era antinatural, ofensivo e até hipócrita. Mas, aos olhos do Senhor? Ele veria o amor que estava por trás da ação. Ela foi para casa, retirou as joias e as deixou aos pés do Senhor.

“Senhor, tu te esvaziaste por mim. Eu me esvazio por ti.” Uma após outra, as mulheres do grupo a seguiram. O “mundo cristão superficial” sorriu delas com zombaria, mas um pregador inglês, F. B. Meyer, veio oportunamente para fortalecer o grupo em sua convicção. Ele foi o primeiro que elas ouviram mencionar a questão das joias. Outra mulher, que o ouvira, entendeu-o como totalmente impossível. “Onde estaria a minha glória, se eu retirasse as joias?”, disse uma mulher. “Como ficaria o meu marido? As mulheres de Tinnevelly nunca farão isso!” Assim, o grupo se tornou um “povo peculiar”, unido em seu desejo de serem “de outro mundo, separados para Jesus”. Quando uma moça adolescente escapou de seu lar hindu e se uniu a eles, Amy teve uma conversa com ela sobre joias. A garota arrancou relutantemente duas joias dos pés. Não, disse Amy, Jesus era agora sua joia — ela não lhe daria tudo? A moça retirou todas as joias, exceto um anel. Ela olhou para os membros do grupo, sem joias, cantando “Jesus é minha joia”. Lá se foi o anel.

Anos mais tarde, a esquisitice se revelou como algo eminente prático quando um observador da casta dos ladrões disse: “Se essas moças, essas centenas de moças, usassem joias de acordo com o costume, nem todo o dinheiro do mundo poderia contratar um homem para proteger o lugar.”

Provisão financeira para o grupo vinha como tinha vindo quando Amy precisou de dinheiro para o Instituto Bem-Vindo em Belfast. Era pedida em oração. As próprias necessidades pessoais de Amy desde que saíra para o Japão tinham sido garantidas plenamente pelo Sr. Wilson, mas dinheiro para as necessidades do grupo e para as despesas de viagens (centenas de rúpias por mês) vinha de outras fontes. A Igreja da Inglaterra Zenana dava 25 rúpias para alugarem dois bois, e os leitores da carta Scrap enviavam dinheiro, que Amy chamou “os tendões da guerra”. Mas ela era escrupulosa em adotar os princípios aprendidos na Irlanda. Não mencionava uma necessidade para ninguém, mas somente a Deus, até que fosse atendida. Até isso tinha seus riscos. “O mero falar a respeito de como uma necessidade foi atendida é frequentemente como falar da própria necessidade, o que é pedir de maneira tortuosa, em vez de pedir de maneira direta”, ela escreveu na Scraps. “Mas eu também direi isto: para toda nova necessidade, vinha um novo suprimento.” As mulheres do grupo aprende- ram a lição, e, às vezes, uma pequena pilha de moedas aparecia na mesa de Amy com um bilhete dizendo que não fora necessário.

Eles procuravam oportunidades para falar às crianças pequenas, aos cules, aos homens educados, às mulheres cuja casta determinava que tinham de ajudar no assentamento de tijolos, a qualquer um que parecia minimamente inclinado a ouvir e, muitas vezes, aos que não eram minimamente inclinados. O “encarregado do ventilador” era um homem velho e magricela que se sentava numa banqueta de vime e pacientemente puxava a corda que ativava o enorme ventilador de teto. Na calma mortal do meio-dia, não é surpreendente que ele, às vezes, caísse no sono (Amy costurou em uma das suas Scraps uma foto dele com os olhos fechados e sua cabeça com turbante inclinada num tapete). Esperando fazer algum bem à pobre alma, Amy perguntou:

“Como você ora?”

“Pai nosso, que estás no céu.” “O que isso significa?”

“Como eu deveria saber? Eu lá sou um pároco para entender?”

Um dia, Amy parou uma procissão de casamento cristão, a fim de perguntar por que eles tinham ídolos nos cantos do carro de casamento. Não eram ídolos, disseram-lhe; eram apenas bonecas. Na verdade, eram ídolos pagãos, ela protestou, e não tinham lugar em qualquer coisa que se designava cristã. Houve uma grande argumentação, mas, no final, ela granjeou trocar alguns folhetos e bonecas feitas na Inglaterra pelos ídolos, os quais levou para casa, para servirem de lenha.

Acima de tudo, o grupo anelava por contato com mulheres brâmanes, que eram quase inalcançáveis e não mostravam nenhum interesse. Um dia, algumas delas estavam sentadas em uma varanda, olhando entediadas e cansadas. Amy perguntou se ela e seus auxiliares podiam cantar-lhes. Sim, disseram. Um grupo se reuniu. Elas ouviram talvez 20 minutos de “pregação clara”, ilustrada com figuras. Amy ficou no primeiro degrau da varanda e rogou que as mulheres lhe permitissem chegar mais perto. Elas ficaram horrorizadas e recusaram. Homens começaram a se reunir, centenas deles; por isso, ela se virou e lhes pediu por favor que fossem embora, porque poderiam ouvir em qualquer outro momento. Era para alcançar aquelas mulheres que os missionários tinham vindo. Mas os homens se aproximaram ainda mais, e as mulheres se afastaram. Por fim, Amy falou para os homens “tão francamente quanto pude”, tentando apresentar a realidade de modo tão simples que as mulheres entendessem, ao mesmo tempo que mantinha os homens quietos.

Vocês não têm a menor ideia de como é difícil conseguir uma oportunidade real com as mulheres brâmanes. Elas nunca nos deixam entrar em suas casas nestas cidades indianas. É quase impossível conseguirmos alguma quietude na rua, ainda que elas nos deixem falar, o que raramente acontecerá. Mulheres brâmanes estão tão fora de alcance como se vivessem na África Central, e até mais, às vezes.

O grupo visitou o vilarejo de Céu de Vishnu, onde havia um forte do qual nenhuma mulher jamais tivera permissão para sair. Homens entravam e saíam, como o faziam algumas mulheres-servas intocáveis, porém as mulheres do forte eram prisioneiras. Dizia-se que, certa vez, uma menina de quatro anos teve a audácia de olhar para fora através da porta na elevada muralha de barro. Ela foi morta imediatamente. Amy e suas irmãs indianas foram “ver a muralha” e orar para que, de algum modo, ela fosse rompida. E então veio um homem que se ofereceu a acompanhá-las para dentro. Obtiveram poucos minutos para falar às mulheres de uma das casas. Que esperança tinham aquelas mulheres?

As minhas palavras não lhes podem dar uma ideia da horrível dificuldade que cerca qualquer moça hindu ou muçulmana que ousa tomar uma posição firme. É terrível para os homens e os rapazes, porém infinitamente mais para as mulheres. Coisas que nenhuma caneta poderia escrever — pelo menos, a minha não poderia — acontecem por trás das muralhas daquela prisão. Elas estão completamente sob o poder de parentes cruéis. Nada, exceto um milagre, pode tirá-las de lá.

Uma moça que mostrou interesse no cristianismo foi assassinada; um rapaz foi drogado, e seu intelecto, arruinado pelo resto da vida. Por causa de suborno, a polícia está frequentemente no lado da família, em qualquer medida que escolham tomar. Quem desejou seguir a Cristo teve de deixar tudo para fazer isso.

Por que a horrível tristeza de sair e deixar tudo por Cristo? Porque é absolutamente impossível para um hindu ou muçulmano ser um cristão no lar. Em um lar bem tolerante, eles podem ler a Bíblia e orar. Em casos muito raros, a ausência em cerimônias idólatras lhes tem sido permitida, mas a confissão aberta e o batismo — Nunca.

“Ela será, primeiro, queimada até virar cinzas”, disse um dos homens. “Ela pode sair morta, se quiser. Ela sairá viva — nunca!” Não havia outra escolha, senão obediência a todo custo e a todo risco.

Para Amy, bem como para qualquer soldado leal, havia o elemento de emoção na batalha. A realidade do perigo energiza e aguça as faculdades.

Ouro [uma mulher de alta casta que mostrara interesse] sairá? Se isso acontecer, estaremos no próprio âmago da luta novamente — Aleluia! Deus moverá o coração de Linda para que encare sem medo a fúria de seu marido e a faca que ele já exibiu diante de seus olhos? Se isso acontecer, o nosso bangalô estará na parte violenta da tempestade, homens irados ao seu redor, e nós, em seu interior, guardados pelo poder de Deus!

Miraculosamente outra moça, além de Joia da Vitória, escapou. Houve o mesmo furor e a consequente necessidade de proteção em Palamcottah. Quando chegou o tempo para a viagem anual até às montanhas, Amy recebeu permissão da Sra. Hopwood para levar as moças. Isso foi sua oportunidade de gastar tempo ininterrupto com elas, ensinando-lhes o que o discipulado significava. Amy Carmichael nunca adocicou as palavras. Elas deviam aprender a amar o Senhor e a abandonar tudo — até sua querida Ammal (Amy) — para segui-lo. Ela via o perigo de elas se tornarem dependentes dela, apegando-se ao amor humano e não ao amor divino. Elas estavam desoladas. Uma delas disse que seria “como um toco murcho no campo”, se Amy a mandasse de volta para Palamcottah. O sentimento era mútuo. Ela sentia pelas moças o que Paulo sentira por Onésimo: “Eu queria conservá-lo comigo mesmo.” Todavia, para elas, Amy foi resoluta. Elas tinham de aprender a permanecer firmes. Uma delas, cujo nome significava Criança-Dama, quando tinha apenas quatro meses fora do “horrível abismo” de paganismo, confessou: “Quando me mandam fazer o que não gosto, algo brota em meu coração e diz: Não faça isso! Não, não! Eu ouço e penso: Não, eu não o farei.” Amy viu que algo do “tremedal de lama” ainda estava grudado nela. Um novo coração era aquilo de que a criança precisava, ela explicou.

Vitória ficou transbordante de alegria ao receber uma carta de seu irmão, mas o conteúdo causou lágrimas.

Muito querida e muito amada, preciosíssima e lindíssima, como a menina dos olhos, como a joia entre joias, como o rubi, como a pérola, como a nossa alegria e deleite, a nossa imaculada, instruída e avançada em toda a sabedoria, mas, apesar disso, a nossa irmã mais nova que despreza toda a sabedoria…

Depois, seguia uma série de histórias patéticas — um membro da família, doente; outro, fraco de esperar que Vitória retornasse ao lar; outro que tentara vê-la, mas não pôde nem mesmo conseguir um vislumbre “com o canto extremo dos olhos”.

“Na religião hindu”, a carta prosseguia, “à medida que você procura entender, casta e piedade são uma só coisa. Piedade é casta. Casta é piedade. Por que, então, você profana a sua casta? Você a profanou inteiramente?

Se o fez, profanou inteiramente a sua família. Se você resolver escrever, escreva, mas não sobre um assunto com o qual a minha mente não tem nenhuma afinidade.”

Uma cena gravou na mente de Amy, como nunca antes, os horrores da casta. Ela tinha visto um menino de três ou quatro anos que parecia sofrer dos olhos. Ele jazia num tipo de rede pendurada no teto e clamava penosamente durante todo o tempo em que eles estiveram na casa. Dois meses depois, ela visitou a mesma casa. Lá jazia ele, e continuava clamando, embora seus clamores fossem exaustos e muito mais fracos.

Eles o levantaram e o tiraram da rede. Eu não devia ter conhecido a criança — o lindo rosto curvado, cheio de dor, as mãozinhas pressionadas sobre os olhos ardentes. Somente aquele que a teve conhece as agonias da oftalmia. Disseram-me que ele não havia dormido “sequer o mínimo” por três meses. Noite e dia, chorava e chorava — “mas não faz muito barulho agora”. Não podia, pobre garotinho. Implorei que me deixassem levá-lo para o hospital em Palamcottah, mas eles disseram que ir para um hospital era contra a casta deles. A criança jazia gemendo tão lastimavelmente, que retorceu meu coração. Apelei e apelei com eles para que me deixassem levá-lo, se não o queriam levar. Ainda que sua vista não pudesse ser salva, algo poderia ser feito para aliviar a dor, eu sabia, mas não — ele poderia morrer longe de casa, e isso traria desgraça para a casta deles.

“Então, ele deve sofrer até que fique cego ou morra?”, e eu me senti meio furiosa com a crueldade fria da atitude deles. “O que podemos fazer?”, eles perguntaram. “Podemos destruir a nossa casta?” Oh! Eu me irritei por um momento. Não pude evitar — e, depois, ajoelhei-me entre todos eles, condoída com a miséria da situação, e orei com todo o coração e alma para que o Bom Pastor viesse e tomasse o cordeiro em seus braços. Quase não suporto escrever isto — mas vocês não viram as mãozinhas enfraquecidas e pressionadas sobre os olhos e, depois, caindo desamparadamente, tão fatigadas para continuarem erguidas, e vocês não viram nem ouviram os breves e frágeis lamentos. E pensar: não precisava ter sido assim! A última coisa que os ouvi dizer enquanto saíamos da casa foi: “Chore suavemente, ou colocaremos mais remédio!” As mãozinhas apertaram os pobres olhos enquanto ele tentava conter os soluços e “chorar suavemente”. […] Ó amigos, isso não é algo cruel, essa casta horrenda de cabeça de hidra? Aquelas mulheres não eram selvagens, mas preferiam ver seu filhinho morrer em tortura, aos poucos, a ofuscar com um sopro o brilho do brasão de bronze de sua casta!

Por sete anos, quase sem uma pausa, Amy trabalhou nas cidades e vilarejos do interior. Suas cartas contam, história após história, da batalha — casas hindus praticamente inexpugnáveis; um curioso ocasional que dá esperança, mas desaparece depois por trás das grossas muralhas; o drama de achar um rosto ávido e interessado em meio à multidão e de ter a admirável alegria de ensiná-lo por um tempo, e, depois, a tristeza de vê-lo voltar as costas.

Tesouro foi uma moça que parecia preparada por Deus para a semente da Palavra. A Palavra caiu em seu coração como em “boa terra”, brotou, foi cuidada, regada e produziu fruto. Então, de uma hora para outra, ela se recusou até a olhar para Amy ou para os outros. Uma mudança horrível lhe ocorrera em uma noite, e ela ficou além do alcance deles. Orações, abraços, leitura da Bíblia, todo o amor que ela recebera como uma alma faminta agora rejeitava de modo frio e definitivo. Amy acreditava que havia apenas duas explicações possíveis: Tesouro fora envenenada (drogas que destroem a mente eram bem-conhecidas lá) ou havia pecado de tal modo que se fechara totalmente para Deus.

Amy era como o semeador mencionado no Livro dos Salmos: ela saía chorando, levando semente preciosa. Orava e implorava a seus amigos na Irlanda que orassem, orassem, orassem. “Oh! você orará? Pare agora e ore, para que o desejo não se torne em sentimento, e o sentimento não evapore.” Muitas vezes, ela ministrava a cristãos professos. Porém, eles diziam, o tipo de cristianismo que ela apresentava tinha um custo muito alto. Para ser coerente, você não deve brigar, e eles amavam uma boa luta. “Sabemos o que significa agora, e é muito inconveniente”, disse alguém; e outro disse: “Se tenho de ser convertido, terei de perdoar a ela, e não posso fazer isso no momento presente — portanto…”

Além da pressão intensa dessa obra, Amy enfrentou dor e agonia que ela imaginava já estarem em repouso: o Querido Homem Velho lhe pediu que retornasse para ele. Ele citou as comoventes palavras de Paulo dirigi- das a Timóteo: “Apressa-te a vir antes do inverno.”1 No coração do Querido Homem Velho, não havia dúvida de que sua criança viria. “Era agonia (eu uso a palavra com cuidado) não voar para vê-lo. Mas eu não podia. Algo me detinha.” Por fim, o Sr. Wilson escreveu para Amy:

A Palavra do Senhor chegou a mim nesta manhã bem cedo. “Quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim.” “Atai a vítima da festa com cordas, até às pontas do altar.” Jamais retroceder. Que seja assim, na força que ele supre. É bom ter algum presente de valor para apresentar ao Senhor que deu tudo de si em favor de nossa redenção. Louvado seja.

Amy escreveu para suas crianças:

Daquele dia até o fim, não houve nenhum retroceder. A data da carta era julho de 1899. Conforta-me até agora saber que, depois daquele tempo com seu Senhor e Mestre, de manhã bem cedo, aquele amado homem idoso deve ter lido muitas palavras amorosas, porque um pequeno exemplar de Luz diária vivia sempre ao lado de sua pequena e velha Bíblia, que agora é minha. “Como alguém a quem consola sua mãe”, e sua mente correria para o final desta promessa: “Eu vos consolarei.” Durante seis longos anos, ele esperou com paciência, e, então, as últimas palavras na página daquele livro se cumpriram, e seu Deus enxugou de seus olhos toda lágrima.

O artigo acima é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Amy Carmichael: um legado de renúncia e entrega, de Elisabeth Elliot, Editora Fiel (em breve).

Para ler mais artigos que são trechos deste livro, clique aqui.


Autor: Elisabeth Elliot

Elisabeth Elliot (1926–2015) foi uma das mulheres cristãs mais influentes do século XX. Nascida na Bélgica, filha de missionários, ela inspirou, com sua fé corajosa, seguidoras de Cristo em todo o mundo através de suas experiências como esposa, mãe e missionária. Seu primeiro marido, Jim Elliot (1927–1956), foi morto, com outros quatro missionários, quando buscava dar testemunho de Cristo entre os Auca, atualmente conhecidos como Huaorani, no leste do Equador. Alguns anos depois dessa tragédia, Elisabeth, com sua filha ainda pequena, passou a viver entre os membros dessa mesma tribo, a fim de compartilhar com eles o precioso evangelho. Em seu retorno para os Estados Unidos, Elisabeth deu início ao seu ministério como palestrante e escritora, publicando mais de vinte livros que foram traduzidos para diversas línguas. Seu ministério continua a influenciar gerações de mulheres ao redor do mundo.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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